Lição 8
18 a 24 de agosto
O concílio de Jerusalém
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Jr 27–29
Verso para memorizar: “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At 15:11).
Leituras da semana: At 15; Gl 2:11-13; Êx 12:43-49; Rm 3:30; Lv 18:30; Ap 2:14, 20

Após mais de dois anos, Paulo e Barnabé retornaram para Antioquia da Síria. Visto que toda a igreja se envolvera em enviá-los como missionários, era natural que eles prestassem um relatório para a igreja. A ênfase do relatório, no entanto, não era o que eles haviam realizado, mas o que o próprio Deus fizera por meio deles.

O assunto do relatório foi o sucesso da missão entre os gentios, embora muitos judeus também tivessem se convertido à fé. Entretanto, desde o episódio na casa de Cornélio, a conversão de gentios incircuncisos se tornara um problema (At 11:1-18). E agora que muitos deles estavam sendo admitidos como membros da igreja, as coisas ficaram especialmente complicadas. Muitos cristãos em Jerusalém não estavam satisfeitos. Para eles, os gentios precisavam primeiramente ser circuncidados, ou seja, se tornar prosélitos judeus a fim de fazer parte do povo de Deus e ter comunhão com ele.

Atos 15 trata do problema dos gentios, que atingira um nível crítico, e também do trabalho conjunto da igreja para encontrar uma solução. O Concílio de Jerusalém representou uma reviravolta na história da igreja apostólica em relação à sua missão mundial.



Domingo, 19 de agosto
Ano Bíblico: Jr 30–32
O ponto em debate

Desde o início, a igreja de Antioquia consistia tanto em judeus helenistas quanto em gentios incircuncisos (At 11:19-21; Gl 2: 11-13) que, aparentemente, viviam em comunhão pacífica uns com os outros. Essa comunhão, no entanto, foi destruída pela chegada de um grupo de cristãos de Jerusalém.

1. De acordo com Atos 15:1-5, qual problema a igreja estava enfrentando? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Os judeus de Jerusalém queriam impor a circuncisão aos gentios.
B. (  ) A apostasia estava grande e muitos estavam desertando da fé.

Tradicionalmente chamados de “judaizantes”, esses indivíduos da Judeia eram possivelmente os mesmos identificados no versículo 5 como fariseus cristãos. A presença dos fariseus na igreja não deve nos surpreender, pois o próprio Paulo havia sido um fariseu antes de sua conversão (Fp 3:5). Esse grupo parece ter ido a Antioquia por iniciativa própria (At 15:24), embora outro episódio também ocorrido em Antioquia algum tempo depois revele que a maioria dos judeus cristãos de Jerusalém, inclusive os apóstolos, não estava muito à vontade com a presença de gentios incircuncisos na igreja (Gl 2:11-13).

Em sua epístola aos Gálatas, Paulo não fala coisas positivas sobre os judaizantes, rotulando-os como “perturbadores” (Gl 1:7; 5:10) e “falsos irmãos” (Gl 2:4), cuja verdadeira motivação era destruir gradativamente a liberdade espiritual do evangelho e levar os gentios conversos à escravidão do legalismo.

O argumento deles era bastante simples: a menos que os gentios fossem circuncidados e guardassem todas as demais leis cerimoniais judaicas, eles não poderiam ser salvos. A salvação – eles acreditavam – só podia ser encontrada na comunidade da aliança de Deus e, de acordo com o Antigo Testamento, não havia outra maneira de se tornar parte de Seu povo escolhido, a não ser por meio da circuncisão (Gn 17:9-14; Êx 12:48). Em suma, os gentios só poderiam ser salvos se eles se tornassem prosélitos judeus.

Paulo e Barnabé evidentemente não podiam concordar com esses requisitos, que iam contra a própria natureza do evangelho. A abordagem agressiva dos visitantes da Judeia gerou uma discussão acalorada; a palavra em Atos 15:2 (stasis) tem o sentido de “conflito” ou “dissensão”. Não obstante, o assunto era muito importante para ser tratado apenas localmente. A unidade da igreja estava em risco. Os irmãos de Antioquia então decidiram enviar diversos delegados a Jerusalém, inclusive Paulo e Barnabé, com o propósito de encontrar uma solução.

Coloque-se no lugar dos que tiveram que dialogar com os judaizantes. Quais argumentos você usaria para defender seu ponto de vista?


Segunda-feira, 20 de agosto
Ano Bíblico: Jr 33–35
Circuncisão

Uma das grandes questões nesse conflito era a circuncisão. Ela não era uma ordenança humana (compare com Mt 15:2, 9). Em vez disso, a circuncisão havia sido estabelecida por Deus como sinal de Sua aliança com os descendentes de Abraão, Seu povo (Gn 17:9-14).

2. Leia Êxodo 12:43-49. Além dos filhos de Israel, quem deveria ser circuncidado?

As bênçãos da aliança não estavam restritas aos filhos de Israel, mas eram estendidas a qualquer escravo ou estrangeiro que desejasse experimentá-las, desde que fosse circuncidado. Após a circuncisão, o estrangeiro teria o mesmo status diante de Deus de um israelita nato: ele seria “como o natural da terra” (Êx 12:48).

A circuncisão, portanto, era indispensável (para um homem) ser membro pleno da comunidade da aliança de Deus. E visto que Jesus era o Messias de Israel, parecia natural aos judaizantes insistir que nenhum gentio poderia se beneficiar de Sua salvação sem antes se tornar judeu.

3. Leia Romanos 3:30; 1 Coríntios 7:18; Gálatas 3:28; 5:6. Como Paulo compreendia a circuncisão?

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Ao afirmar que nenhum gentio poderia ser salvo sem primeiramente se unir ao judaísmo, os judaizantes estavam misturando dois conceitos distintos: aliança e salvação. Ser membro da comunidade da aliança de Deus não garantia a salvação (Jr 4:4; 9:25). Além disso, o próprio Abraão foi salvo (justificado) pela fé, o que ocorreu antes da circuncisão, e não por causa dela (Rm 4:9-13). A salvação sempre foi pela fé, enquanto a aliança foi uma provisão graciosa por meio da qual Deus revelaria a Si mesmo e Seu plano salvífico ao mundo inteiro. Israel havia sido escolhido para esse propósito (Gn 12:1-3).

No entanto, o problema era que, ao associar de maneira muito próxima a aliança e a salvação, esses cristãos judeus vieram a considerar a circuncisão como algo meritório. Contudo, a graça salvadora de Deus não age onde as obras humanas atuam. Portanto, impor a circuncisão aos cristãos gentios como meio de salvação era distorcer a verdade do evangelho (Gl 1:7; 2:3-5), anular a graça de Deus (Gl 2:21) e tornar Jesus de nenhum proveito (Gl 5:2). Além disso, era negar o caráter universal da salvação (Cl 3:11; Tt 2:11). Paulo jamais poderia concordar com esse tipo de pensamento.

Qual é o perigo de pensar que a salvação é resultado de, simplesmente, ser membro da igreja certa?


Terça-feira, 21 de agosto
Ano Bíblico: Jr 36–38
O debate

4. De acordo com Atos 15:7-11, qual foi a contribuição de Pedro para o debate em Jerusalém?

Lucas não informa todo o conteúdo da reunião. Seria interessante saber os argumentos dos judaizantes (At 15:5), bem como as respostas de Paulo e Barnabé (At 15:12). O fato de que temos apenas os discursos de Pedro e Tiago mostra a importância desses homens entre os apóstolos.

Pedro se dirigiu aos apóstolos e anciãos, lembrando-­lhes de sua experiência anterior com Cornélio. Seu argumento era o mesmo que usara diante dos irmãos em Jerusalém (At 11:4-17). Deus mostrara Sua aprovação quanto à conversão de Cornélio (embora ele fosse um gentio incircunciso), dando a ele e à sua família o mesmo dom do Espírito que havia concedido aos apóstolos no Pentecostes.

Em Sua divina providência, Deus usara ninguém menos que Pedro para convencer os cristãos da Judeia de que Ele não faz distinção entre judeus e gentios em relação à salvação. Mesmo que eles não possuíssem os benefícios da purificação por meio das regras e regulamentos da antiga Aliança, os gentios cristãos não podiam mais ser considerados impuros, pois o próprio Deus havia purificado seu coração. A declaração final de Pedro muito se assemelha ao que esperaríamos de Paulo: “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At 15:11).

5. Leia Atos 15:13-21. Qual foi a solução proposta por Tiago para o problema dos gentios? Complete as lacunas:

“Não devemos ____________ aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das ______________ dos ídolos, bem como das relações sexuais ____________, da carne de ____________ sufocados e do sangue” (At 15:19, 20).

O discurso de Tiago sugere que ele estava em uma posição de autoridade (compare com At 12:17; 21:18; Gl 2:9, 12). Independentemente do que ele possa ter entendido pela “reedificação do tabernáculo de Davi”, que na profecia de Amós se refere à restauração da dinastia davídica (Am 9:11, 12), o propósito principal de Tiago era demonstrar que Deus já havia estabelecido que os gentios se unissem, em certo sentido, ao “povo de Deus” reconstituído, e assim eles poderiam ser incorporados a Israel.

Por isso, sua decisão foi que não deveriam ser impostas aos gentios conversos outras restrições, além daquelas que normalmente seriam exigidas de estrangeiros que desejavam viver na terra de Israel.



Quarta-feira, 22 de agosto
Ano Bíblico: Jr 39–41
O decreto apostólico

6. Leia Atos 15:28, 29. Quais são as quatro proibições que o concílio decidiu impor aos gentios conversos?

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O principal problema pelo qual o concílio havia sido convocado foi resolvido. Visto que a salvação é pela graça, os gentios seriam isentos da circuncisão quando se unissem à igreja. No entanto, deviam se abster de quatro coisas: (1) carne oferecida em sacrifício aos ídolos em rituais pagãos e servida em uma festa do templo ou vendida no mercado; (2) consumo de sangue; (3) carne de animais estrangulados, ou seja, a carne cujo sangue não tinha sido drenado; e (4) imoralidade sexual nas suas várias formas.

A maioria dos cristãos hoje trata as proibições dietéticas (as três primeiras proibições) como recomendações temporárias. Como essas coisas eram especialmente repugnantes para os judeus, as proibições – argumentam eles – visavam apenas transpor o abismo entre cristãos judeus e gentios. Frequentemente se diz que todas as outras leis do Antigo Testamento, inclusive as leis levíticas alimentares (Lv 11) e o mandamento do sábado (Êx 20:8-11), que estão ausentes da lista, não são mais obrigatórios.

O chamado “decreto apostólico”, porém, não era nem temporário nem um novo código de ética cristão que excluía tudo o mais em relação ao Antigo Testamento. Na verdade, sob a direção do Espírito Santo (At 15:28), os apóstolos e anciãos da igreja apenas reproduziram os regulamentos de Levítico 17 e 18 no que diz respeito aos estrangeiros residentes em Israel.

No contexto de Levítico, essas proibições significavam a renúncia ao paganismo. Todo estrangeiro que desejasse viver em Israel deveria renunciar às práticas pagãs (Lv 18:30). Da mesma forma, todo gentio que desejasse se unir à igreja era obrigado a assumir uma posição contra o paganismo.

No entanto, isso era apenas o primeiro passo. Uma vez aceito, esperava-se que ele cumprisse a vontade de Deus, obedecendo aos mandamentos universais, pré-mosaicos e não intrinsecamente cerimoniais, como o sábado (Gn 2:1-3), e seguindo a distinção entre alimentos puros e impuros (Gn 7:2).

Que o decreto não era temporário pode ser visto em Apocalipse 2:14 e 20, em que a primeira e a última proibições são repetidas, contemplando também implicitamente as outras duas. Evidências históricas mostram que o decreto ainda era considerado normativo pelos cristãos muito tempo depois do período do Novo Testamento.

Quando surgem conflitos, podemos nos sentar juntos, escutar um ao outro e, com um espírito de respeito e humildade, superar os problemas?


Quinta-feira, 23 de agosto
Ano Bíblico: Jr 42–44
A carta de Jerusalém

7. Leia Atos 15:22-29. Quais medidas adicionais foram tomadas pela igreja de Jerusalém sobre a decisão do concílio?

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A primeira medida foi escrever uma carta aos cristãos gentios para informá-los sobre o que havia sido decidido. A carta, escrita em nome dos apóstolos e anciãos de Jerusalém, era um documento oficial que refletia a autoridade da igreja de Jerusalém (certamente por causa da liderança dos apóstolos) sobre as outras comunidades cristãs. Escrita em 49 d.C., data mais provável do concílio, essa carta é um dos primeiros documentos cristãos que temos.

A igreja de Jerusalém também decidiu nomear dois delegados, Judas Barsabás e Silas, para acompanhar Paulo e Barnabé até Antioquia. A tarefa deles era levar a carta e confirmar seu conteúdo.

8. Leia Atos 15:30-33. Como a igreja em Antioquia reagiu à carta? Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Ficou muito feliz e confortada pela decisão do concílio.
B. (  ) Não ficou satisfeita com as proibições.

Quando a carta foi lida, a igreja transbordou de alegria por causa da mensagem encorajadora: a circuncisão não deveria ser exigida dos gentios conversos. Eles também não impuseram nenhuma objeção às exigências da carta (o decreto apostólico de quatro itens). A primeira discordância mais grave na igreja primitiva foi, portanto, resolvida, pelo menos em teoria.

Ao final do concílio, o evangelho de Paulo foi plenamente reconhecido pelos líderes da igreja em Jerusalém, que estenderam a ele e a Barnabé a mão direita como sinal de comunhão, aceitação e confiança (Gl 2:9). Contudo, aqueles cristãos judeus que continuavam a viver pela lei judaica ainda consideravam muito problemático ter comunhão com os gentios que, para todos os efeitos, permaneciam ritualmente impuros.

Isso pode ser demonstrado, por exemplo, pelo incidente envolvendo Pedro (Gl 2:11-14). Ellen G. White declara: “Até mesmo os discípulos não estavam todos preparados para aceitar de boa vontade a decisão do concílio” (Atos dos Apóstolos, p. 197).

Seja honesto consigo mesmo: É difícil ter comunhão com cristãos de outras etnias, culturas e até mesmo de outras classes sociais? Como você pode ser purificado dessa atitude que vai contra o evangelho?


Sexta-feira, 24 de agosto
Ano Bíblico: Jr 45–48
Estudo adicional

Em geral, os conversos judeus não estavam dispostos a mudar na mesma velocidade em que a providência de Deus abria o caminho. Do resultado do trabalho dos apóstolos entre os pagãos, ficou evidente que o número dos conversos gentios seria bem maior que o dos conversos judeus. Os judeus temiam que, se as restrições e cerimônias de sua lei não se tornassem obrigatórias aos não judeus como condição para serem membros da igreja, as peculiaridades da nação judaica, que até então os haviam mantido como um povo distinto de todos os outros povos, acabariam desaparecendo dentre os que recebiam a mensagem do evangelho” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 189).

“Vivendo nas imediações do templo, os cristãos judeus tinham, naturalmente, a atenção voltada aos privilégios peculiares dos judeus como nação. Quando viram a igreja cristã se afastando das cerimônias e tradições do judaísmo e perceberam que a peculiar santidade que revestia os costumes judaicos seria logo perdida de vista à luz da nova fé, muitos se indignaram com Paulo, entendendo que ele era a pessoa que, em grande medida, havia provocado essa mudança. Até mesmo os discípulos não estavam todos preparados para aceitar de boa vontade a decisão do concílio. Alguns eram zelosos com relação à lei cerimonial, e discordavam de Paulo, pois achavam que seus princípios referentes às obrigações da lei judaica não eram firmes” (Ibid., p. 197).

Perguntas para discussão

1. Como entender o fato de que pertencer à “igreja certa” não garante a salvação? Por exemplo, certamente o antigo Israel era o povo escolhido, mas isso não significa que todos nele foram salvos. Se estar na igreja verdadeira não garante a salvação, então, qual é a vantagem de fazer parte dela?

2. Aceitar gentios incircuncisos na comunidade de fé foi uma das primeiras questões administrativas mais importantes enfrentadas pela igreja primitiva. Existem problemas similares em nossa igreja hoje? Como o exemplo de Atos 15 nos ensina a lidar com eles?

3. Peça que alguns alunos assumam a posição dos judeus que insistiam que os gentios se tornassem prosélitos judeus antes de se unirem à igreja, que era vista (e com razão) como uma extensão das promessas da aliança feitas a Israel. Quais seriam os argumentos deles e como você poderia respondê-los? Por que problemas que hoje parecem tão claros poderiam, em um momento diferente, ter sido muito mais difíceis do que parecem hoje?

Respostas a atividades da semana: 1. A. 2. Escravos e estrangeiros que desejassem se unir a Israel e participar da Páscoa. O que impomos aos que desejam fazer parte da igreja? Isso é bíblico? 3. Peça a participação dos alunos. 4. Falou que foi enviado aos gentios, que receberam o Espírito Santo e foram salvos pela fé, sendo iguais aos judeus diante de Deus. 5. Perturbar – contaminações – ilícitas – animais. 6. Eles deviam se abster das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas. 7. Peça que um dos alunos leia o texto e responda à pergunta. 8. A.



Resumo da Lição 8
O concílio de Jerusalém

TEXTO-CHAVE: Atos 15:8, 9

O ALUNO DEVERÁ

Saber: Como a mudança dos critérios para fazer parte da família da aliança de Deus pode ser uma experiência desafiadora.

Sentir: Entender a luta espiritual dos que não aceitam na família de Deus as pessoas que eles julgavam que deviam rejeitar.

Fazer: Aplicar as lições que aprendemos com o Concílio de Jerusalém e que se alinham tanto com a inclusão do evangelho quanto com a manutenção da santidade.

ESBOÇO

I. Saber: Os gentios podem permanecer gentios.

A. Como o Concílio de Jerusalém molda nossa teologia de missão aos grupos de pessoas radicalmente diferentes de nós?

B. Quais situações hoje se assemelham à questão da circuncisão dos gentios na igreja primitiva? Quais comparações são inválidas?

II. Sentir: Nenhuma distinção entre nós e eles

A. Como adventistas, como podemos evitar um “complexo de superioridade” e ainda nos considerarmos pessoas privilegiadas?

B. Sabendo que a mudança é difícil, como podemos deixar que o Espírito mantenha nossas emoções sob controle?

III. Fazer: Acompanhando os passos de Deus

A. Alguns cristãos dificultam a missão da igreja em nome da pureza. Qual resposta pode ser dada a essa armadilha sutil?

B. Para manter a unidade, quais foram as respectivas responsabilidades dos “vencedores” e dos “perdedores” no Concílio de Jerusalém?

RESUMO

A igreja de Deus deve sempre se esforçar para estar em harmonia com Ele, a fim de ser uma extensão da Sua vontade. Aplicações desatualizadas e egos devem ser abandonados por amor à atuação salvadora do Espírito.

Ciclo do aprendizado

1 Motivação

Focalizando as Escrituras: At 15:1-21

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Mesmo em meio à crise, a vontade de Deus pode triunfar por meio de Seu povo, à medida que ele dá ouvidos ao testemunho da atuação do Espírito Santo e à confirmação dos escritos proféticos

Para o professor: Ocorreu algo notável no Concílio de Jerusalém, algo que você, como professor, deve se esforçar para transmitir à classe. Práticas e princípios teológicos, bíblicos e sociológicos já enraizados, que haviam sido reforçados por milênios, estavam agora prestes a mudar “oficialmente”. Deus vinha modificando progressivamente a visão de Seu povo a respeito do mundo gentílico desde os dias do ministério de Jesus até os testemunhos de Pedro e Paulo do batismo dos gentios no Espírito. Pode-se dizer que o Concílio de Jerusalém é o milagre culminante de como Deus muda (e continua a mudar) o coração de um povo.

Discussão inicial: Se pudéssemos ler a Bíblia inteira de uma só vez, ficaríamos mais cientes de como Deus e o ser humano se relacionaram de maneiras diferentes ao longo da História: contato direto no Jardim do Éden; oferta de sacrifícios em altares construídos; extinção dos sacrifícios em altares construídos (Lv 17: 3, 4); encontro com Deus em Seu Templo; fim de todos os serviços do templo, desde a antiga aliança até a nova aliança; a revelação de Deus sobre Si mesmo em Jesus, substituindo assim todas as revelações passadas; e a lista continua. A mudança que Deus realizou ao pôr um fim à circuncisão como requisito da aliança para os gentios não foi inapropriada à luz da história da salvação. As questões que levaram ao Concílio de Jerusalém, e os pontos que ali foram aprovados, demonstram como as intenções mais amplas de Deus influenciam a prática da igreja.

Pergunta para discussão

Quais princípios de Atos 15 nos ajudam a entender o que é permanente e o que é temporário nas Escrituras?

2 Compreensão

Para o professor: O capítulo 15 de Atos pode apresentar alguns temas desafiadores para os alunos da Escola Sabatina. Há ordens explícitas no Antigo Testamento para circuncidar os gentios (e, evidentemente, os de origem hebraica). O fato de que esses mandamentos foram abolidos na era do Novo Testamento revela que as Escrituras não devem ser entendidas simplesmente como uma compilação de mandamentos. Ajude sua classe a compreender como a perspectiva mais ampla da história de Israel influenciou a decisão do Concílio de Jerusalém.

Comentário bíblico

I. O debate

(Recapitule com a classe At 15:1-7.)

Podemos quase ouvir a lista de passagens bíblicas que os fariseus cristãos devem ter reunido enquanto debatiam a questão da circuncisão dos gentios (At 15:5, 7). Os textos sobre a circuncisão são claros, imperativos e, muitas vezes, incluem especificamente o “estrangeiro” (Gn 17:12-14, 27; Êx 12:44, 48; Js 5:4-9). Não há textos que declarem o contrário. Textualmente, o argumento deles parecia ser incontestável. Além disso, de acordo com o senso comum, poderia haver o argumento de que Jesus era o Messias judeu, que viera à nação judaica conforme havia sido predito nas escrituras proféticas da religião judaica. Seria tão descabido assim dizer que é preciso se tornar judeu para se beneficiar de um Salvador judeu? O rito da circuncisão realizaria exatamente isso.

Pense nisto: Se os fariseus fossem protestantes, eles poderiam ter apelado para o princípio da sola scriptura para sustentar seu argumento. Como você responderia a esse raciocínio?

II. Testemunho, Escrituras e a história de Israel

(Recapitule com a classe At 15:7-21.)

Para os judeus do primeiro século, a inauguração do reino de Deus na Terra nos últimos dias coincidiria com a vinda do Messias (Mc 1:14, 15; Hb 1:1, 2), a restauração da monarquia davídica (Is 9:6, 7; Mt 21:9), a renovação da aliança (Jr 31:31-34) e a salvação espiritual e nacional de Israel (Is 66:17-24; At 1:6). A atuação do Espírito Santo no tempo do fim era parte integrante desse conjunto de eventos (Is 32:14-18; Lc 4:17-21; compare com Is 61:6; At 2:17). Portanto, quando Pedro testemunhou da concessão do Espírito Santo aos gentios (At 15:8), isso reforçou a ideia de que a salvação final de Deus para Israel estava em vigor e alcançava miraculosamente as nações (isto é, os gentios) conforme havia sido profetizado. A atração e a vinda de gentios para Israel (Is 49:6; 60:1-3; Jr 33:9, Mq 4:2, etc.), e, portanto, para a relação de aliança salvadora com Yahweh, são confirmadas pelos profetas. Portanto, embora Pedro não tenha citado nenhum texto específico, seu testemunho sobre a concessão do Espírito Santo aos gentios evoca toda a história de salvação de Israel e contextualiza o evento. De fato, a história de Israel havia ido muito além da circuncisão ocasional de um gentio, ou de rodear “o mar e a terra para fazer um prosélito” (Mt 23:15). O reino de Deus estava prestes a se tornar um fenômeno mundial, rompendo os limites de quaisquer fronteiras étnicas ou nacionais (At 1:8), e os fariseus ainda estavam persistindo no fato de que Abraão circuncidou todos os que estavam em sua casa. Deus estava iniciando o “ato final” do grande drama do destino profético de Israel. Por outro lado, alguns cristãos ainda estavam teologicamente presos em “Ato 1”.

A salvação é expressa histórica e profeticamente, mas também interiormente. Ela sempre foi planejada para incluir o coração. Pedro pediu a presença de Deus nos procedimentos e ações do concílio porque só Ele pode testemunhar a respeito do coração. Deus “deu testemunho [aos gentios], concedendo o Espírito Santo a eles” (At 15:8). Mas o que o Senhor estava testemunhando a respeito deles? Precisamente que o coração deles tinha sido purificado “pela fé” (At 15: 9). Essa “purificação do coração”, juntamente com a questão da circuncisão, ecoa o antigo chamado à circuncisão do coração (Dt 10:16; 30:6; Jr 4:4). Paulo já havia destacado essa relação ao se referir ao verdadeiro judeu como aquele que possui um coração circuncidado “no Espírito” (Rm 2:29). Mas se Deus já havia testemunhado que o coração dos gentios tinha sido circuncidado/purificado, e a evidência dessa circuncisão espiritual não tinha sido menos do que um Pentecostes gentílico, não é de admirar que Pedro tivesse advertido contra “pôr Deus à prova” (At 15:10, NTLH) como se Ele não tivesse revelado Suas intenções quanto ao assunto.

Pedro terminou sua fala com o tema com o qual havia começado. Deus não fez “distinção alguma entre nós [judeus circuncidados] e eles [gentios não circuncidados]” ao conceder o Espírito. Da mesma forma, tanto os circuncidados quanto os incircuncisos serão salvos “pela graça do Senhor Jesus” (At 15:9, 11).

A evidência havia sido dada. Pedro, Paulo e Barnabé testemunharam que o drama profético de Deus entre os gentios estava sendo cumprido no ministério deles. Foi Tiago, no entanto, que confirmaria, ao citar os profetas, que o testemunho deles estava de acordo com o roteiro profético. Deus reuniria dentre os gentios “um povo para o Seu nome” (At 15:14, NVI).

Pense nisto: O testemunho, as Escrituras e a história de Israel estavam sendo apresentados no debate em Jerusalém. Há duas abordagens para entender as Escrituras: 1. Uma leitura narrativa do Antigo Testamento (isto é, ler o Antigo Testamento como uma história). 2. A abordagem do “tudo ou nada”, que defende que, ou todos os requisitos do Antigo Testamento ainda estão em vigor ou nenhum deles está. Qual dessas abordagens seria melhor?

3 Aplicação

Para o professor: Alguns cristãos confiam mais em uma experiência espiritual subjetiva para conhecer a vontade de Deus. Outros tomam uma abordagem objetiva e confiam mais na Bíblia. Atos 15 nos mostra que esses dois princípios precisam estar em harmonia. Embora os fariseus provavelmente tivessem textos mais explícitos sobre a circuncisão dos gentios, os apóstolos tinham tanto o testemunho do batismo espiritual dos gentios quanto as Escrituras para contextualizar e interpretar essa experiência. Desafie a classe a refletir profundamente sobre como devemos equilibrar a experiência pessoal com a interpretação bíblica e vice-versa.

Pergunta para reflexão

Imagine que você está no Concílio de Jerusalém, ouvindo atentamente os argumentos. Faça de conta que você não conhece a posição “certa”. Seja honesto: sua visão da relação entre as Escrituras e a experiência se encaixa melhor com o partido pró ou anti-circuncisão? O que essa visão revela sobre você mesmo?

4 Criatividade

Para o professor: Visto que nos apegamos ao sábado e às leis dietéticas que a maioria do mundo cristão considera obsoletas, estaremos continuamente em posição de propor e defender uma hermenêutica que mostre que estamos manejando “bem a palavra da verdade” (2Tm 2:15). Compreender a vontade de Deus em termos do desenvolvimento da história do povo de Deus (uma abordagem narrativa) é útil para esclarecer a difícil questão da aplicação da lei do Antigo Testamento. A abordagem do “tudo ou nada” à lei do Antigo Testamento é impossível de ser sustentada. Isso se torna claro por meio de uma leitura honesta do uso que o Novo Testamento faz do Antigo. Embora Tiago julgasse que a circuncisão fosse obsoleta, em Atos 15 ele confirmou outros quatro requisitos da Torá como válidos aos gentios convertidos (At 15:20). Os múltiplos pontos de vista que emergem do Concílio de Jerusalém apoiam a hermenêutica adventista. Pergunte aos alunos se algum princípio discutido aqui os teria ajudado em seu testemunho passado.

Atividade

Sábado, carne de porco, joias, dízimos, Ellen G. White, o santuário celestial [...]. Convenhamos, os adventistas acreditam em muitas coisas que os outros cristãos não creem. Pense em uma discussão que você teve ao defender uma posição excepcionalmente distintiva ou polêmica defendida pela Igreja Adventista. Como você poderia ter usado as lições aprendidas com o Concílio de Jerusalém para fortalecer sua posição?


Atraído pelo amor

Aoki nunca tinha conhecido um cristão nem aberto a Bíblia quando se inscreveu na única faculdade da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Japão. Quando seus pais pagaram antecipadamente dois anos letivos, ele nem sabia que o Colégio Saniku Gakuin era uma instituição cristã. Aoki só sabia que queria aprender inglês, e a faculdade tinha uma boa reputação. No internato, com 18 anos, Aoki ficou surpreso quando, em sua primeira

noite no residencial masculino, ouviu o anúncio do alto-falante: “É hora do culto vespertino. Por favor, dirijam-se à capela!” Aoki seguiu os outros estudantes até a capela. Ele não conhecia Bíblia nem hinário e, obviamente, não os tinha. Ele achou muito estranho ouvir as pessoas cantarem e abrir as Bíblias. “Todos conheciam os hinos, exceto eu”, ele disse. “Todos sabiam como encontrar os versos, exceto eu. Eu não entendia nada!” Terminado o culto, ele já estava decidido a voltar para casa. Mas, então, lembrando-se de que os pais haviam pago dois anos de mensalidades, resolveu esperar. “Aquele foi meu primeiro contato com o cristianismo”, Aoki diz.

Evangelho da amizade

Muitos japoneses, como Aoki, nunca tiveram contato com algum cristão. Somente 1% de 127 milhões da população japonesa e, desses, somente 15.151 pertencem à igreja adventista. O país é amplamente budista.

Aoki não era budista quando começou a estudar na instituição adventista. Ele simplesmente não se interessava por nada espiritual. Mas seus colegas e professores eram bondosos. Eles explicaram o cristianismo. “Por causa da amizade demonstrada”, diz, “minha impressão dos cristãos foi ótima.” Ele gostava de ir à igreja e conversar com os novos amigos, começou a namorar uma garota adventista, mas não pensava em batismo. Após dois anos, recebeu a licença para lecionar língua inglesa e decidiu ensinar na mesma instituição. Porém, sabia que deveria se tornar cristão, o que significava estudar a Bíblia.

Imediatamente Aoki se inscreveu no curso de Teologia. Ele não queria se tornar pastor; apenas queria estudar a Bíblia para que pudesse ensinar. Assim que preencheu os formulários da matrícula, o capelão da faculdade o chamou ao escritório. “O que você está pensando?”, o capelão perguntou. “Qual é seu plano para o futuro? Você quer se tornar cristão?” “Talvez eu me torne cristão algum dia”, respondeu Aoki. “Mas, não agora.”

O capelão examinou atentamente Aoki. “Se você for batizado algum dia, você deve ser batizado agora”, disse ele. “Por que adiar? Ninguém sabe o que reserva o futuro. Você deve ser batizado agora.”

Decisão pelo batismo

Ele e Aoki conversaram sobre o assunto por várias horas. Entendendo a posição do capelão, Aoki finalmente disse: “Por favor, dê-me tempo. Preciso pensar.” Disposto a não permitir que Aoki saísse da sala sem mais um apelo, o capelão insistiu: “Quando voltar na próxima semana, deve decidir a data do seu batismo.”

Aoki telefonou para a namorada adventista, que ensinava em uma escola primária em outra cidade e explicou a situação. Então, perguntou quando ela poderia participar de seu batismo. Havia apenas um dia livre nos meses seguintes. Esse foi o dia escolhido para o batismo.

Hoje, Aoki tem 42 anos e é líder da União Japonesa. Ele também é o pastor da única igreja adventista jovem do país, a Igreja Setagaya de Tóquio, que treina os jovens para ser obreiros evangélicos. Parte da oferta deste trimestre ajudará a igreja a expandir seu trabalho. Aoki disse que o segredo para apresentar Cristo aos jovens japoneses é o amor – o mesmo princípio que o atraiu para Cristo na faculdade adventista. “Não foi a Bíblia que me ensinou que Deus é amor”, disse ele. “Meus amigos e professores me ensinaram que Deus é amor através de suas palavras e ações.”

Assista ao vídeo sobre Aoki no link: bit.ly/stranded-at-adventist-college

Conhecendo o Japão

• Era habitual no antigo Japão que as mulheres manchassem os dentes com tinta, pois dentes brancos eram considerados feios. Essa prática persistiu até o final dos anos 1800.

• Há três escolas adventistas de enfermagem no Japão. Todas incluem a palavra Saniku com seu nome. O nome "Saniku" (? ?), é uma combinação de ? (san, “three”) e ? (iku, “nutrir, abrir”). Significa “tornar as pessoas completas” nos aspectos físicos, intelectuais e espirituais.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018
Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos
Lição 8: 18 a 25 de agosto

O concílio de Jerusalém

Cristian Piazzetta
Capelão da Escola Adventista
Cachoeirinha, RS

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

Supervisor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Esboço da lição da semana

I. O desenvolvimento do concílio (At 15:1-5)

  1. O ponto em debate
  2. O testemunho de Pedro
  3. O parecer de Tiago

II. O resultado do concílio (At 15:6-35)

  1. A decisão dos apóstolos
  2. A carta de Jerusalém
  3. A reação da igreja

I. O desenvolvimento do concílio (At 15:1-5)

O texto de Atos 15:1-35 está localizado exatamente no centro do livro. Além de estar numa posição central, a seção também é de suma importância para a história da igreja apostólica, pois foi no concílio de Jerusalém que a igreja conseguiu dar um importante passo para resolver a questão da admissão de gentios na comunidade cristã.

1. O ponto em debate

Quando regressaram de sua primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé fizeram questão de relatar à igreja de Antioquia as experiências que haviam tido e como Deus abriu a porta da fé aos gentios. No entanto, nem todos estavam satisfeitos com o sucesso da missão gentílica e, quando as notícias chegaram a Jerusalém, um grupo de crentes desceu até Antioquia para criar contenda sobre o assunto. Eles afirmavam que nenhum gentio poderia ser salvo sem primeiro se submeter à circuncisão. Para Paulo, a questão era muito simples. Todos, tanto judeus como gregos, pecaram e carecem da graça de Deus (Rm 3:9, 23). O meio de acesso à graça divina é única e exclusivamente a fé (Rm 5:1; Gl 2:16; Ef 2:8). Se todos pecaram e a salvação é pela fé, logo, ela está igualmente disponível a todos (2Co 5:15; 1Tm 2:4). Portanto, conforme Paulo ensinava, os gentios não precisavam se submeter à circuncisão para depois aceitarem a Cristo. Eles poderiam fazê-lo diretamente.

Provenientes da Judeia, os oponentes de Paulo, também chamados de judaizantes, argumentavam o contrário. A menos que os gentios fossem circuncidados e guardassem todas as demais leis cerimoniais judaicas, eles não poderiam ser salvos. Para eles, a salvação só poderia ser encontrada na comunidade da aliança de Deus, por meio da circuncisão (Êx 12:48). Em suma, os gentios só poderiam ser salvos se eles primeiramente se convertessem ao judaísmo. Após acalorada discussão entre Paulo e esse grupo, decidiu-se enviar um grupo a Jerusalém para que a questão fosse resolvida na presença dos líderes da igreja. A vinda de Paulo, Barnabé e outros a Jerusalém ensejou o chamado concílio de Jerusalém, a primeira reunião formal da história eclesiástica.

2. O testemunho de Pedro

Havendo grande discussão em torno da questão, seria natural que os apóstolos tomassem a palavra para direcionar o debate. Pedro foi o primeiro. Ele foi enfático ao relembrar que muito tempo antes Deus o havia escolhido para pregar o evangelho aos gentios – uma clara referência a sua experiência na casa de Cornélio (At 10). Embora o encontro houvesse ocorrido havia algum tempo, provavelmente mais de dez anos, a experiência havia deixado uma impressão indelével no apóstolo. Deus havia aberto as portas para os gentios e eles também poderiam ser incorporados à fé. Pedro aprendeu naquela ocasião que Deus não faz acepção de pessoas; ao contrário, em qualquer nação, aquele que O teme pode ser aceito (cf. At 10:34, 35). Segundo o apóstolo, uma prova disso foi que naquele mesmo momento o Espírito foi derramado sobre os gentios, exatamente como havia acontecido com os apóstolos (At 10:45). Para Pedro, a questão era óbvia: Se Deus havia aceitado os gentios da casa de Cornélio por meio da fé, sem a circuncisão, por que a igreja deveria colocar esse fardo sobre os demais gentios?

3. O parecer de Tiago

Ao final do discurso de Pedro, Paulo e Barnabé se pronunciaram, relatando aquilo que eles haviam testemunhado no campo missionário. Terminado o relato, foi a vez de Tiago, o próprio irmão de Jesus, emitir seu parecer. Em suma, ele seguiu a mesma posição de Pedro, mas com uma abordagem diferente. Enquanto o argumento de Pedro centrou-se primariamente na sua experiência pessoal na casa de Cornélio, Tiago recorreu às Escrituras, conferindo solidez bíblica à compreensão de Pedro.

Valendo-se de conceitos do Antigo Testamento, Tiago argumentou que a adesão de gentios à fé demonstrava o interesse de Deus em constituir um povo (laos) para o Seu nome (At 15:14). O uso do termo laos, que era geralmente aplicado a Israel, para falar dos gentios, demonstra a visão mais inclusiva de Tiago. Em Zacarias 2:11, a Septuaginta (tradução grega do AT) também aplica o termo laos aos gentios que no dia final viriam para habitar em Sião e seriam parte do povo de Deus. Ao citar outros textos dos profetas como Amós 9:11, 12, e mesmo Zacarias 2:11, Tiago deixou evidente que a inclusão de gentios ao povo de Deus tinha embasamento escriturístico e, portanto, não deveria haver obstáculos desnecessários para a adesão deles. No entanto, tendo em vista que os gentios conversos passariam agora a se relacionar com os outros membros da comunidade de fé, especialmente os de origem judaica, e que havia a necessidade de romper completamente com o contexto pagão do qual eles vinham, Tiago propôs que os gentios se abstivessem de quatro coisas: (1) consumo de carne oferecida a ídolos em rituais pagãos; (2) consumo de sangue; (3) uso de carne de animais estrangulados; e (4) prática de relaxões sexuais ilícitas.

II.  O resultado do concílio (At 15:6-35)

Tiago havia proposto uma solução adequada que não colocaria em risco a missão gentílica nem a comunhão entre cristãos judeus e gentios. Na realidade, a decisão alcançada sob a orientação do Espírito Santo (At 15:28) foi um reflexo dos regulamentos encontrados em Levítico 17–18 sobre estrangeiros residentes – estrangeiros que escolhessem morar em Israel. Seguir essas regulamentações significava que os estrangeiros haviam renunciado ao paganismo (Lv 18:30), e essa certamente foi a questão central por trás da decisão do concílio. No mundo greco-romano, o paganismo permeava quase todos os aspectos da vida, e assim, como no antigo Israel, qualquer gentio que quisesse se unir à igreja teria que tomar uma posição clara contra isso. No entanto, esse era apenas o começo da vida como cristão. Uma vez tomada a decisão de abrir mão de todas as convenções e contaminações pagãs e seguir a Jesus, o crente deveria viver uma vida segundo a vontade de Deus (Rm 6:15-19, 22; Tt 2:11, 12). Com os estrangeiros no antigo Israel, não era diferente. Uma vez admitidos na comunidade, eles deveriam guardar o sábado (Êx 20:10; 23:12; Dt 5:14), participar das festividades religiosas (Dt 16:11, 14) e jejuar no Dia da Expiação (Lv 16:29). Eles podiam inclusive entrar na relação de aliança com Deus (Dt 29:10-15; 31:12) e oferecer holocaustos (Lv 17:8; 22:18; Nm 15:14-16). Em suma, eles, não menos que os israelitas, deveriam ser leais a Deus (Lv 20:2; cf. Ez 14:6-8).

1. A decisão dos apóstolos

Todas as partes parecem ter ficado satisfeitas com a sugestão de Tiago (At 15:22). Assim, a igreja decidiu redigir uma carta descrevendo a solução encontrada e enviar dois delegados de Jerusalém junto com Paulo e Barnabé para notificar a igreja de Antioquia. Os delegados foram Judas, chamado Barsabás, e Silas, alguém que se tornaria ajudante de Paulo posteriormente (At 15:40; 2Co 1:19). Ambos os representantes eram homens extremamente virtuosos (v. 22, 32), que possuíam a confiança necessária para cumprir essa missão.

2. A carta de Jerusalém

Os versos seguintes (v. 23-29) apresentam o conteúdo da carta. Ela foi escrita em estilo formal, seguindo a introdução típica das cartas greco-romanas. Primeiro uma referência aos remetentes, depois aos destinatários, e em seguida uma saudação habitual. A mensagem em si apenas reproduziu em palavras a decisão alcançada em comum acordo pela igreja. Para obter o status de membro, os gentios deveriam se abster de quatro práticas que demonstravam sua renúncia ao paganismo (ver acima).

3. A reação da igreja

Após a chegada da comitiva de Jerusalém, a igreja foi reunida e a carta foi lida na presença de todos. A reação da comunidade de Antioquia foi bastante positiva. Ao tomarem conhecimento da resolução do concílio, os cristãos se regozijaram pelo conforto recebido (v. 31), pois sua prática de aceitar os gentios sem exigir deles a circuncisão e outras obrigações cerimoniais havia sido sancionada pela igreja de Jerusalém. A resolução final alcançada pelo concílio foi, sem dúvida, um importante avanço na compreensão soteriológica da igreja primitiva, mas o problema era por demais complexo para ser resolvido nas poucas linhas de uma carta. Dificuldades relacionadas a esse assunto logo viriam à tona novamente (cf. At 21:20-25; Gl 2:11-14), o que exigiria de Paulo uma forte reação em suas cartas (cf. Gl 1:9; 3:1; Ef 2:11-14; Fp 3:2; Tt 1:10-12).

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A controvérsia em torno da circunicisão

– A decisão de resolver problemas em conjunto

– A salvação pela graça

– A validade dos requisitos solicitados aos gentios

– A forte condenação Paulina à visão da salvação pelas obras

Supervisor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).