Muitas pessoas parecem desesperadas para encontrar paz e quietude. Estão dispostas a pagar por isso. Em cidades grandes, há quartos sem internet, que podem ser alugados por hora. As regras são rígidas – não pode haver barulho nem visitantes. As pessoas pagam para se sentar em silêncio e apenas pensar ou tirar uma soneca. Cápsulas de dormir são alugadas em aeroportos. Fones de ouvido com redução de ruído são itens populares. Há até capuzes de lona ou divisórias dobráveis para colocar sobre a cabeça e o torso para uma pausa no local de trabalho.
O verdadeiro descanso também tem um custo. Embora os “promotores” da autoajuda queiram nos fazer acreditar que podemos determinar nosso próprio destino e que o descanso é apenas uma questão de escolha e planejamento, quando consideramos isso honestamente, percebemos nossa incapacidade de trazer o verdadeiro descanso ao nosso coração. Agostinho, um pai da igreja no século IV, fez uma colocação sucinta em seu famoso Confissões (Livro 1), ao considerar a graça de Deus: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração enquanto não repousar em Ti”.
Nesta semana, examinaremos a vida do homem segundo o coração de Deus e como esse servo do Senhor descobriu o custo do descanso espiritual.
Em uma agradável noite de primavera, o inquieto rei Davi caminhava no terraço de seu palácio. Ele deveria estar junto de seu exército, do outro lado do Jordão, liderando o povo de Deus para derrotar os amonitas e, finalmente, trazer paz ao reino.
1. O fato de que Davi não estava onde deveria estar abriu a porta da tentação para ele. Leia a história em 2 Samuel 11:1-5. O que aconteceu e que grande pecado Davi cometeu?
Davi viu uma mulher “muito bonita” tomando banho na casa dela. Seus impulsos pecaminosos venceram naquela noite, e ele dormiu com Bate-Seba, esposa de um oficial de confiança do exército. Como todos os reis antigos, Davi tinha poder absoluto. Ele não precisava seguir as regras que governavam as outras pessoas. Contudo, a dolorosa história da família de Davi após esse momento nos lembra que, mesmo sendo rei, ele não estava acima da lei de Deus.
A lei existe como proteção, salvaguarda e, quando até mesmo o rei a transgride, ele enfrenta terríveis consequências. Logo após transgredir os limites da lei, Davi começou a sentir os efeitos em todos os aspectos de sua vida. Ele pensou que sua impetuosa aventura havia passado despercebida; no entanto, Bate-Seba estava grávida, e seu marido, bem longe.
2. Leia 2 Samuel 11:6-27. Como Davi tentou encobrir seu pecado?
Falharam até mesmo os esquemas mais complicados de Davi para fazer com que Urias voltasse para sua esposa Bate-Seba. Urias era um homem de reputação excelente que respondeu às dicas sutis de Davi assim: “A arca, Israel e Judá ficam em tendas. Joabe, meu senhor, e os servos de meu senhor estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e beber e me deitar com a minha mulher?” (2Sm 11:11). Por fim, Davi, desesperado, recorreu a um assassinato por “controle remoto” para encobrir seu pecado.
Num momento sombrio da vida de Davi, havia boas-novas: Deus enviou o profeta Natã, que tinha aconselhado Davi em seus planos de construir um templo (2Sm 7). Então, o profeta foi enviado ao rei com uma tarefa diferente.
3. Por que Natã preferiu contar uma história, em vez de envergonhar Davi imediatamente? 2Sm 12:1-14
Natã soube o que dizer, e o fez de uma forma que Davi entendesse. Ele contou uma história com a qual Davi, o antigo pastor, se identificou. Ele conhecia o senso de justiça e integridade de Davi. Em certo sentido, Natã “armou uma armadilha”, e Davi caiu nela.
Quando Davi inadvertidamente pronunciou sua própria sentença de morte, Natã lhe disse: “Esse homem é você” (2Sm 12:7). Há modos diferentes de dizer “esse homem é você”. Podemos gritar, acusar e colocar o dedo no rosto da pessoa, ou podemos expressar preocupação. Natã misturou suas palavras com graça. Davi sentiu a dor que Deus sente quando Seus filhos abandonam Sua vontade. Algo fez Davi cair em si. Algo quebrantou seu coração.
4. Por que Davi respondeu: “Pequei contra o Senhor”, em vez de dizer: “pequei contra Bate-Seba” ou “sou homicida”? 2Sm 12:13; Sl 51:4
Davi reconheceu que o pecado, que inquieta o coração, afronta principalmente a Deus. Ao nos ferirmos, afetamos outras pessoas. Trazemos desgraça para a família e a igreja. Mas ferimos também a Deus e colocamos outro prego na cruz que, no Gólgota, apontou para o Céu.
“A repreensão de Natã tocou o coração de Davi, despertou sua consciência, e a terrível gravidade de seu crime veio à tona. Seu ser se curvou arrependido diante de Deus. Com lábios trêmulos, disse: “Pequei contra o Senhor!” (v. 13). Todo mal que é feito a alguém se reflete em Deus. Davi tinha cometido um grave pecado contra Urias e Bate-Seba e sentiu isso profundamente. No entanto, seu pecado contra Deus era infinitamente maior” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 722).
Depois que Davi involuntariamente pronunciou juízo sobre si mesmo (2Sm 12:5, 6), Natã o confrontou com a enormidade de seu pecado. O coração de Davi foi quebrantado, e ele confessou sua transgressão. Imediatamente Natã lhe assegurou: “Também o Senhor perdoou o seu pecado” (2Sm 12:13). Ele estava perdoado. Não há prazo de espera para o perdão de Deus. Davi não precisou provar que estava sendo sincero antes que o perdão fosse concedido. No entanto, Natã, que já tinha predito as consequências do pecado de Davi em 2 Samuel 12:10-12, afirmou que aquele filho morreria.
5. Deus tirou o pecado de Davi. Isso significa que Ele simplesmente esqueceu o passado? As pessoas costumam esquecer o que passou? 2Sm 12:10-23
Davi também deve ter pensado nessas questões ao ver seu mundo desmoronar – o bebê morto, sua família em desordem (as histórias de Amnom e Absalão são dois exemplos de problemas familiares), seu futuro incerto. Contudo, apesar das consequências desse pecado, que afetou inocentes como Urias e a criança recém-nascida, Davi entendeu que a graça de Deus cobriria seu pecado, e que um dia todas as consequências seriam eliminadas. Enquanto isso, ele encontraria na graça de Deus o descanso para sua consciência atribulada.
6. Na opinião de Davi, do que ele precisava? Pelo que ele ansiava? Sl 51:1-6
No Salmo 51, Davi abriu seu coração e confessou seus pecados. O clamor por misericórdia foi um apelo ao amor de Deus e à Sua compaixão. Ele ansiava por renovação.
Quando consideramos o custo do descanso em Jesus, devemos primeiramente reconhecer que precisamos de ajuda; somos pecadores e necessitamos do Salvador; confessamos nossos pecados e clamamos ao Único que pode nos lavar e renovar. Quando fazemos isso, somos encorajados. Mesmo sendo um adúltero, manipulador, assassino, que tinha transgredido pelo menos cinco dos Dez Mandamentos, Davi suplicou o perdão de Deus.
7. Davi confessou seu pecado sem tentar desculpá-lo nem encobri-lo. Depois, o que ele pediu a Deus? Sl 51:7-12
Ao se referir à purificação com hissopo, Davi utilizou a terminologia conhecida pelos israelitas que visitavam o santuário. Ao se referir aos rituais de purificação descritos na Lei de Moisés (Lv 14:4), ele reconheceu o poder do Sacrifício que viria para tirar os pecados do mundo. Davi também pediu “júbilo” e “alegria”. Diante da enormidade de seu pecado, esse pedido não era um pouco audacioso?
Talvez seja proveitoso observar esta paráfrase: “Diga-me que estou perdoado para que eu possa entrar novamente no santuário, onde possa ouvir o júbilo e a alegria daqueles que Te adoram”.
8. Quando Adão e Eva pecaram, eles se esconderam de Deus (Gn 3:8). Por que o pedido de Davi, mesmo depois de seu pecado, foi tão diferente? Sl 51:11, 12
Davi não desejava perder a consciência de viver na presença de Deus. Ele percebia que sem o Espírito Santo, ele era fraco. Sabia que, com a mesma facilidade com que tinha caído em pecado com Bate-Seba, poderia pecar novamente. Sua autoconfiança foi destruída.
Davi entendia que as vitórias futuras não viriam dele, mas apenas de Deus, à medida que ele dependesse totalmente do Senhor.
A essência da vida cristã vitoriosa não está em nós, mas em Jesus. Ansiamos por Sua presença; desejamos Seu Espírito; queremos a alegria da salvação. Precisamos de renovação, restauração e descanso – um ato divino de recriação. O descanso da criação não está longe do perdão. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sl 51:10). Esse verso usa a terminologia da criação. No Antigo Testamento, somente Deus podia “criar” (bara’) – e, uma vez que somos recriados, podemos descansar.
Depois de superar um fracasso embaraçoso e experimentar o perdão, a coisa mais natural a fazer é tentar esquecer que o evento aconteceu. Lembranças de derrotas podem ser dolorosas.
9. O que Davi desejava fazer com sua experiência dolorosa? Sl 51:13-19
Quando uma tigela ou um vaso precioso cai e se quebra, normalmente suspiramos e jogamos fora os cacos inúteis. No Japão, existe uma arte tradicional chamada kintsugi, especializada em recriar cerâmica quebrada. Um metal precioso, como ouro ou prata líquida, é usado para colar as peças quebradas e transformar o item destruído em algo de beleza e valor.
Cada vez que Deus perdoa nossas transgressões e nos recria, algo muda. O precioso perdão de Deus cola nossos pedaços, e as fissuras visíveis podem chamar a atenção para Sua graça. Podemos nos tornar os alto-falantes de Deus. “A minha língua exaltará a Tua justiça” (Sl 51:14). Não tentamos nos consertar nem melhorar por nós mesmos. Nosso espírito quebrantado, nosso coração contrito, são louvores suficientes a Deus – e são raios de luz que o mundo pode ver. Nossa experiência de ter sido perdoados atrai aqueles que buscam o perdão.
10. Que relação existe entre o Salmo 51 e 1 João 1:9?
O texto de 1 João 1:9 é um resumo do Salmo 51. Assim como Davi sabia que Deus não desprezaria um coração quebrantado e contrito (Sl 51:17), João nos assegurou que, “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1:9). Podemos crer na palavra de Deus.
Davi não conseguiu consertar o tremendo dano que havia causado à sua família por meio de seus atos e exemplo. Ele sofreu as consequências de suas decisões e ações. Mesmo assim, Davi sabia que havia sido perdoado. Ele sabia que, pela fé, precisava crer que um dia o verdadeiro Cordeiro de Deus viria e tomaria seu lugar.
“O arrependimento de Davi foi sincero e profundo. Não houve esforço para atenuar seu delito. Sua oração não foi inspirada em nenhum desejo de escapar dos juízos que o ameaçavam. [...], percebeu a contaminação de sua alma e sentiu repugnância por si mesmo em consequência de seu pecado. Não era unicamente pelo perdão que ele orava, mas pela pureza de coração. [...] Nas promessas de Deus aos pecadores arrependidos, ele via a prova de seu perdão e aceitação. ‘[...] Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; Coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus’ (Sl 51:16, 17). [...] Embora Davi tivesse caído, o Senhor o levantou. [...] Davi se humilhou e confessou seu pecado, enquanto Saul desprezou a reprovação e endureceu o coração na impenitência. Esse episódio da história de Davi [...] é uma das mais fortes ilustrações que nos são dadas sobre as lutas e tentações da humanidade, do arrependimento genuíno [...].”
“Em todos os séculos, [...] milhares dos filhos de Deus, quando traídos pelo pecado [...], têm se lembrado [... do] arrependimento e [... da] confissão sincera de Davi [e] essas pessoas têm encontrado ânimo para se arrependerem e para andar novamente no caminho dos mandamentos de Deus. “Todos aqueles que [...] se humilharem em confissão e arrependimento, como fez Davi, podem ter certeza de que existe esperança para eles. [...] O Senhor nunca rejeitará uma pessoa verdadeiramente arrependida” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 725, 726).
Perguntas para consideração 1. Como equilibrar a consciência do pecado com a certeza do perdão? 2. Por que todo pecado, em última instância, é contra Deus? O que significa isso? 3. O que dizer às pessoas que não aceitam que os inocentes sofram? Como explicar o amor de Deus nessas situações? O grande conflito oferece uma perspectiva proveitosa? 4. A Bíblia narra a sórdida história de Davi e Bate-Seba. Qual é o propósito desse relato? 5. O pecado nos separa de Deus (Sl 51:11, 12). Como isso acontece? Por que essa separação é tão desconfortável? Por que a promessa da graça é o único remédio para a culpa?
Respostas e atividades da semana: 1. Davi adulterou com Bate-Seba. 2. Mandou Urias voltar da guerra e dormir com a esposa. Depois, mandou matá-lo. 3. Davi não teria ouvido uma acusação direta. 4. Em última instância, o pecado foi contra Deus. 5. O pecado de Davi trouxe graves consequências. Deus o perdoou, mas feriu a criança de morte e toda a família de Davi acabou sofrendo posteriormente. 6. Perdão. Ele desejava ser purificado do pecado. 7. Que o purificasse do pecado. 8. Comente com a classe. 9. Torná-la um testemunho dos caminhos do Senhor. 10. Ambos os textos falam de arrependimento e perdão.
ESBOÇO
A lição desta semana se concentra em um dos capítulos mais tristes da vida de Davi. O rei de Israel abusou da autoridade que lhe foi dada por Deus e levou a esposa de um de seus soldados ao pecado de adultério. Urias era um guerreiro do exército de Davi e lutava em uma batalha por seu rei, que tirou vantagem de sua ausência.
Quando Davi que Bate-Seba estava grávida, o rei tentou encobrir seu terrível pecado. Ele chamou Urias de volta da ferocidade da batalha para passar um tempo com sua esposa. Urias revelou seu excelente caráter ao se recusar a ir para casa enquanto o exército lutava contra o inimigo.
Quando o plano inicial de Davi não funcionou, ele pediu a Joabe, o capitão do exército, que colocasse Urias na linha de frente da batalha para que enfrentasse a morte certa. O olhar lascivo de Davi o levou a um ato pecaminoso, que resultou em uma trama enganosa para matar um homem inocente. As tentações do diabo são projetadas para atingir cada um de nós em nosso ponto mais fraco. Se houver um ponto vulnerável em nosso caráter, o diabo vai explorar esse ponto para nos levar ao pecado.
Por meio de uma parábola que o profeta Natã contou a ele, Davi reconheceu sua culpa. Com o coração partido, o rei desabou em uma confissão agonizante. Seu arrependimento foi profundo, genuíno e sincero. O Salmo 51 reproduz seu sincero apelo por perdão e um coração transformado. Deus respondeu à oração de Davi. O rei foi perdoado, mas o perdão não evita as trágicas consequências do pecado. Ao longo de sua vida, Davi experimentou, de uma forma ou de outra, as terríveis consequências de seu ato pecaminoso. Como um filho perdoado de Deus, ele entrou no descanso do Céu, ainda que experimentasse a angústia causada por seu ato pecaminoso.
COMENTÁRIO
Um dos questionamentos que podem vir à mente quando estudamos o caso ilícito de Davi com Bate-Seba é sobre a razão de Deus ter colocado uma história tão sórdida na Bíblia. Por que revelar os detalhes íntimos da vida de Davi? Por que não dizer apenas que ele pecou e foi perdoado e encerrar a história? Vamos explorar o que Deus está nos ensinando por meio dessa narrativa.
Há pelo menos quatro lições profundamente significativas nesse relato. O texto de 2 Samuel 11:1 é revelador. Em poucas palavras, o profeta aponta uma falha no caráter de Davi. Era primavera, e Israel estava em sério conflito contra seus inimigos. Os reis lideravam seus exércitos para a batalha, mas Davi enviou Joabe, um de seus capitães, para lutar. O texto afirma: “Mas Davi ficou em Jerusalém”. Reis corajosos lutam ao lado de seus exércitos e inspiram suas forças exauridas e cansadas a seguirem lutando. Davi escolheu permanecer em seu palácio, desfrutando das delícias da realeza, enquanto seus homens sofriam e morriam na guerra. Aqui está a primeira lição da queda de Davi. Quando deixamos de cumprir nosso dever, quando nos entregamos a desejos no lugar de fazer o que é certo, tornamo-nos vulneráveis às tentações sedutoras de Satanás.
A segunda lição é uma consequência da primeira. Os ataques de Satanás vêm quando menos esperamos. Ao andar no terraço de seu palácio naquela tarde, Davi não esperava ser cativado pela beleza da esposa de outro homem. Provérbios 4:23 diz: “De tudo o que se deve guardar, guarde bem o seu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Salomão, o segundo filho de Davi com Bate-Seba, escreveu essas palavras. Já adulto, ele deve ter sido informado do pecado de Davi. Quando nos descuidamos, Satanás ataca. Por isso, Jesus disse aos Seus discípulos: “Vigiem e orem, para que não caiam em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14:38). Esse era precisamente o problema de Davi. Em um momento de descuido, a fraqueza da carne o levou a um pecado que mudaria todo o curso de sua vida.
Pensamentos pecaminosos levam a atos pecaminosos
O pecado começa na mente. O olhar lascivo de Davi levou ao próximo passo, em que ele se entregou à sua fantasia sensual. Ele se aventurou no terreno de Satanás quando agiu de acordo com seus pensamentos e enviou seus servos para perguntar sobre Bate- Seba. Seus impulsos, não controlados pelo Espírito Santo, levaram a uma indagação inadequada para satisfazer seus desejos por um ato pecaminoso.
Isso nos leva à terceira lição. Davi tentou acobertar o adultério com Bate-Seba, mas o pecado nunca pode ser encoberto por muito tempo. As palavras de Moisés aos israelitas séculos antes se tornaram realidade em sua experiência: “Porém, se vocês não fizerem isso, estarão pecando contra o Senhor. E fiquem sabendo que esse pecado certamente os encontrará” (Nm 32:23). Atos pecaminosos cometidos sob o manto da escuridão um dia se manifestarão sob a resplandecente luz do dia, pois “todas as coisas estão descobertas e expostas aos olhos Daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4:13).
O ato pecaminoso de Davi não seria escondido por muito tempo. Bate-Seba estava grávida. Urias estava morto. O profeta Natã confrontou Davi com o curso pecaminoso de Suas ações. O pecado cometido na escuridão um dia seria revelado. Ecoando e repetindo ao longo dos séculos estão as palavras de Moisés: “[...] esse pecado certamente os encontrará” (Nm 32:23).
A quarta lição que aprendemos nessa primeira parte da história é que embora Davi chorasse, confessasse seu pecado, se arrependesse de sua má ação e fosse perdoado por Deus, as consequências do pecado permaneceram.
O pecado é um câncer que destrói tudo o que toca
“Edwin Cooper era famoso em toda a América, mas quase ninguém sabia seu nome verdadeiro. Vindo de uma família de palhaços de circo, Cooper começou a se apresentar para o público quando tinha apenas nove anos. Depois de uma passagem pelo Barnum and Bailey Circus, ele se tornou presença constante na televisão na década de 1950 como Bozo, o palhaço. Além de entreter jovens e idosos, Cooper tinha uma mensagem para seus 'amigos e parceiros' todas as semanas: faça um exame de câncer. Ainda assim, Cooper estava tão ocupado trabalhando que se esqueceu de seguir seus próprios conselhos. Quando seu câncer foi descoberto, era tarde demais para ser tratado. Edwin Cooper morreu com apenas 41 anos de idade de uma doença sobre a qual alertou os outros para que tomassem cuidado. O pecado é muito mais mortal do que o câncer mais agressivo e maligno. O pecado mata e destrói tudo que toca. Desde a queda de Adão no Jardim do Éden até agora o pecado não brinca em serviço. Esse é o propósito por trás de tudo que Satanás faz. Jesus disse: ‘O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância’” (Jo 10:10; “No Laughing Matter”, em Reading Eagle, 5 de julho de 1961. Acessado em 4 de fevereiro de 2020 em bit.ly/3rd7JvK).
O pecado de Davi teve consequências mortais
Os resultados do pecado de Davi são vistos ao longo de sua vida e em sua própria família. A criança que teve com Bate-Seba adoeceu e morreu. Seu filho Amnom forçou sua meia-irmã Tamar a deitar-se com ele e a contaminou. Furioso, dois anos depois, Absalão, irmão de Tamar, mandou assassinar Amnom. A vida de Davi foi cheia de tristeza, sofrimento e decepção. Absalão, seu terceiro filho, cuja mãe era Maaca, era favorito de seu pai. Bonito, extrovertido, aventureiro e charmoso, ele conquistou o coração de Israel. Finalmente, rebelou-se contra a liderança de seu pai e foi morto em batalha. O coração de Davi despedaçou-se. O pecado, como um câncer, havia atormentado sua vida, e, embora tenha sido perdoado por Deus, as consequências pesaram sobre ele. Uma das grandes lições dessa história é que o pecado tem consequências trágicas. Apesar disso, Deus está sempre pronto a nos perdoar e a reconstruir nossa vida. Uma das orações mais poderosas de toda a Bíblia encontra-se no Salmo 51.
Analisando o Salmo 51, a súplica de Davi por perdão
O Salmo 51 é o apelo sincero de Davi por perdão após seu pecado com Bate-Seba. Ao ler a oração, ficamos imediatamente impressionados com a autenticidade da confissão do rei. Ele é dolorosamente honesto, não se desculpa por seu pecado, apela a Deus por misericórdia, perdão e restauração ao favor divino. Observe os verbos na oração. Eles são indicadores poderosos da sua motivação. Ele orou: “Compadece-Te de mim [...] apaga as minhas transgressões” (Sl 51:1). “Lava-me [...] purifica-me” (Sl 51:2). “Eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51:3). “Purifica-me [...] lava-me” (Sl 51:7). “Faze-me ouvir júbilo e alegria” (Sl 51:8). “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” (Sl 51:10). “Não me lances fora da Tua presença” (Sl 51:11). “Restitui-me a alegria da Tua salvação” (Sl 51:12). Lendo a prece de Davi, quase podemos ouvir seu apelo sincero. Nosso coração é tocado por sua sincera confissão. A maravilhosa notícia é que Deus honra um “coração quebrantado e contrito” (Sl 51:17). Como diz Ellen G. White: “Jesus deseja que nos cheguemos a Ele como estamos, pecaminosos, desamparados e dependentes. Devemos ir com toda a nossa fraqueza, leviandade e pecaminosidade e, arrependidos, lançar-nos a Seus pés. Ele Se alegra ao envolver-nos em Seus braços de amor, curar nossas feridas e purificar-nos de toda impureza” (Caminho a Cristo, p. 52). Davi experimentou o poder regenerador do perdão de Cristo. Seu relacionamento com Deus foi restaurado, e seu espírito, renovado. Mais uma vez seguiu uma vida de serviço para o Cristo que o amou, perdoou, purificou e transformou.
APLICAÇÃO PARA A VIDA
O pecado é uma espada de dois gumes. Traz não apenas culpa, vergonha e condenação, mas desespero e desânimo. Quando somos vencidos pela tentação e caímos na armadilha de Satanás, seu próximo passo é nos fazer sentir como se não houvesse esperança. O desânimo é uma de suas armas mais poderosas. A seguir estão três fatos que todos devemos lembrar ao cair em tentação:
• Cristo deseja que possamos ir a Ele assim como estamos. Se, como Davi, formos a Ele com o coração sincero, sem dar desculpas pelos pecados, também experimentaremos o perdão de Deus.
• Cristo jamais expulsou ou rejeitou alguém que sinceramente buscou Sua graça. Ele garante: “o que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37).
• As promessas de restauração e graça são tão certas quanto o trono eterno de Cristo. Os nossos sentimentos não são o critério para saber se estamos perdoados. Podemos não nos sentir perdoados e ainda podemos ter sentimento de culpa; contudo, precisamos ter a certeza de que, com base na Palavra divina, nossos pecados estão perdoados e somos filhos de Deus.
Cercada de amor
Nota: Esta história deve ser apresentada, na primeira pessoa, por uma jovem.
Shanel Draper. Esse é o meu nome. Tenho 24 anos e, embora tenha crescido com a família em uma cidade pequena, presenciei o alcoolismo, as drogas e outros eventos violentos quase diariamente. Era algo comum. Lembro-me de ter visto pessoas colocarem cercas nas escolas, mas isso não impedia que o álcool, drogas e violência chegassem às salas de aula. Durante o Ensino Médio, as gangues passaram a brigar e levar drogas e bebidas alcóolicas. Algumas vezes, andar do ponto de ônibus até minha casa era perigoso. Talvez, essa foi uma das razões que minha mãe e minha tia decidiram me tirar da escola pública para uma escola particular.
A primeira escolha da minha mãe foi uma escola particular no Estado Americano do Novo México, mas fui colocada em uma lista de espera. Então, consideramos outra escola no Novo México. Mas eu não consegui estudar, porque era uma escola em tempo integral e não tinha dormitório. Finalmente, minha mãe entrou em contato com um casal de parentes cujos filhos estudavam na Escola Adventista Indígena de Holbrook no Arizona. A escola ficava um pouco distante de casa, mas minha mãe e minha tia decidiram que seria o melhor para mim.
Eu entrei no nono ano em agosto de 2010. Foi a primeira vez que fiquei longe da familia. Eu não tinha problemas de fazer as minhas tarefas, como lavar roupas, limpar o quarto e cuidar de mim mesma. A única coisa para a qual não estava preparada era a aula de religião. Anteriormente, eu havia frequentado a igreja com vários tios, mas somente porque não era permitido ficar em casa sozinha. Minhas tias me levaram para várias igrejas e até para a Escola Cristã de Férias. Mesmo assim, eu não sabia como ler a Bíblia.
Na Holbrook, foi constrangedor não saber ler a Bíblia. Mas, lentamente comecei a aprender sobre Jesus e como Ele atua em nossa vida. Finalmente, decidi entregar a Ele o meu coração.
Depois de quatro anos, eu me formei na Escola Adventista, em seguida, fiz faculdade por dois anos, mas a vida me levou para outras coisas. Minha vida tornouse atribulada, perdi Jesus de vista e deixei de ser adventista. Enquanto visitava um amigo no Texas, soube que minha tia, que era como uma mãe para mim, estava muito doente e havia sido internada muitas vezes no hospital em Phoenix, Arizona. Eu peguei um voo do Texas até o Arizona no meu aniversário a fim de fazer surpresa para ela. Passei seus últimos dias fazendo-lhe companhia.
Depois de sua morte, fugi de casa e voltei para o Texas. Mas não estava feliz. Quando um amigo de Holbrook informou sobre uma vaga de trabalho na escola aproveitei a chance. Quando voltei, trabalhei com os estudantes e isso me trouxe muita alegria. No ano seguinte, a escola pediu para retornar como coordenadora de bolsas. Voltar a Holbrook mudou minha vida de muitas maneiras e foi incrível estar cercada de amor.
Muito agradecemos pelas ofertas generosas que, há três anos, ajudaram a dar início ao ginásio e centro de saúde “Center New Life” (Centro Vida Nova). Ele está ligado à mesma Escola Adventista Indígena de Holbrook. Neste trimestre, sua oferta permitirá finalizar a segunda fase do centro. Então, a escola disponibilizará tratamento contra a obesidade, doenças coronárias, diabete, depressão e suicídio entre crianças e jovens nativos americanos.
Informações adicionais
• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Para outras histórias missionárias e informações sobre a Divisão Norteamericana, acesse: bit.ly/NAD-2021.
Esta história ilustra os componentes seguintes do plano estratégico do “I Will Go” da Igreja Adventista: Objetivo de Crescimento Espiritual nº 6 – “aumentar a adesão, retenção, recuperação e participação de crianças, jovens e jovens adultos", e Objetivo de Crescimento Espiritual No. 7 – “ajudar jovens e adultos a colocar Deus em primeiro lugar e exemplificar uma cosmovisão bíblica”, encorajando “jovens e adultos a abraçar a crença (FB 22) de que o corpo é o templo do Espírito Santo, abstendo-se de álcool, tabaco, uso recreativo de drogas e outros comportamentos de alto risco. Abraçar os ensinamentos da igreja (FB 23) sobre o casamento, e manter pureza sexual” (KPI 7.2). Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2021
Tema Geral: Descanso em Cristo
Lição 4 – O custo do descanso
17 a 23 de julho
Autor: Weverton Castro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Introdução
Davi é descrito na Bíblia como o homem segundo o coração de Deus (1 Samuel 13:14). Porém, sua vida foi marcada por altos e baixos, com momentos de vitórias e fracassos, de intensa consagração e de completa depravação. Diante de tantos capítulos distintos, sua vida se levanta como uma prova de que, na jornada espiritual, as quedas não precisam definir o destino de uma pessoa. Diante de seus tropeços, Davi aprendeu a segurar na mão de Deus e se levantar do poço do pecado em busca de um recomeço.
1. Davi X Saul
Os dois primeiros reis de Israel são dois paradigmas para a vida cristã. Tanto Saul quanto Davi foram escolhidos por Deus, foram ungidos pelo profeta, receberam o Espírito Santo, venceram batalhas e cometeram diversos erros graves. Histórias tão semelhantes tomam direções diferentes por uma diferença entre ambos no que diz respeito à capacidade de reconhecer a própria falha e buscar a ajuda de Deus.
Saul, após seus erros, sempre buscava uma forma de se justificar. No episódio em que fez sacrifícios sem a autorização de Deus, ao ser repreendido por Samuel, ele se justificou acusando o atraso do profeta como motivo de seu erro (1 Samuel 13). Em outro episódio, em que ele deveria ter destruído todos os amalequitas, inclusive seus animais, Saul poupou a vida do rei e permitiu que os soldados israelitas pegassem os animais como despojo. Novamente, ao ser confrontado, em vez de reconhecer que errou, ele se justificou afirmando que suas decisões estavam de acordo com a vontade de Deus (1 Samuel 15).
Davi também errou muito. Talvez seu pecado mais grave tenha sido o adultério com Bate-Seba, seguido pelo assassinato do esposo dela, Urias. Assim como o primeiro rei, Davi também recebeu a visita de um profeta que mostrou o desagrado de Deus diante de suas escolhas erradas. Nesse momento se revelou a diferença entre os monarcas. Davi não se justificou nem minimizou seu erro. Sua primeira declaração foi “Pequei contra o SENHOR” (2 Samuel 12:13, ARA).
O Salmo 51 foi escrito no contexto do arrependimento de Davi em relação ao seu pecado com Bate-Seba. Em toda a canção é possível perceber como o rei se derramou diante de Deus, reconhecendo profundamente sua pecaminosidade e clamando por misericórdia. Sem escusas, justificativas ou falsidades, o monarca pecador assumiu sua culpa e não fugiu das consequências de seu terrível erro. Por causa da coragem para abrir o coração ao arrependimento, Davi se tornou um símbolo do recomeço na jornada espiritual.
2. Um coração puro
O verso 10 do Salmo 51 declara: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10, ARA).
O verbo criar (bara’) é o mesmo que aparece no primeiro verso da Bíblia ao descrever Deus criando o planeta Terra. Uma curiosidade sobre esse verbo é que todas as vezes que ele aparece na Bíblia, somente Deus é o sujeito da ação. Ou seja, somente Deus bara’. Quando é o ser humano que cria alguma coisa, o hebraico usa outros verbos.
A criação de Deus é diferente, pois Ele é o único que pode criar a partir do nada. E de certa forma, Davi escolheu justamente esse verbo para se referir ao tipo de mudança que só Deus poderia fazer em sua vida. Uma renovação sobrenatural, a qual nenhum ser humano poderia realizar.
Outro aspecto importante é que em sua oração Davi não pediu apenas o perdão, mas também a libertação do pecado. Ele não desejava apenas se livrar da culpa, mas clamou pela purificação. Esse aspecto de sua oração aponta para a necessidade de santificação, a qual é um processo que dura a vida toda.
3. Alegria da salvação
O Salmo 51 contém outro texto que me chama muito a atenção. No verso 12, Davi declarou: “Restitui-me a alegria da Tua salvação [...]” (Salmo 51:12, ARA).
Se entendermos esse texto como uma resposta ao sentimento de Davi, após o adultério com Bate-Seba, percebemos que, em sua busca do prazer pecaminoso, Davi perdeu a alegria verdadeira. Essa é a incoerência do pecado: ele se apresenta como uma estrada brilhante que conduz ao prazer total, porém suas luzes apenas escondem o mundo sombrio, triste e solitário encontrado no fim da jornada.
Pense na Cracolândia, localizada no coração da grande cidade de São Paulo, a qual conta com uma população em situação de rua, estimada em 1.680 indivíduos, composta, na sua maioria, por dependentes químicos e traficantes, geralmente de crack. Uma breve olhada em locais como esse revela o triste fim de indivíduos que se autodestroem na louca jornada em busca dos prazeres oferecidos pelo pecado.
A oração de confissão de Davi revela que a salvação é o ingrediente capaz de restaurar a alegria verdadeira tirada pelo pecado. No verso 8, encontramos também seu anseio pela satisfação interior: “Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste” (Salmo 51:8, ARA).
Se pensarmos na vida de Davi, perceberemos que, mesmo um monarca, vivendo no conforto de seu castelo, não tinha paz no coração, pois a culpa e a vergonha do pecado traziam sofrimento ao seu coração. Isso mostra que todas as riquezas deste mundo não podem trazer ao ser humano a alegria celestial que só um salvo pode experimentar.
4. Pecador por natureza
Em sua confissão, Davi aponta para uma realidade acerca do pecado que vai muito além de nossas ações, mas chega ao nível da nossa essência, de nossa natureza. No verso 5, ele disse: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmo 51.5, ARA).
O texto aponta para o real problema do pecador: sua natureza. Ou seja, não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. Uma ilustração bem simples, que nos ajuda a entender essa questão, está no seguinte questionamento: um cachorro, late porque é cachorro, ou é cachorro porque late? Em outras palavras, um cachorro que para de latir, continua sendo cachorro?
A resposta é: Sim! Não é o latido que faz com o que o cachorro seja cachorro. Ele é cachorro por natureza. E porque é cachorro, ele manifesta quem é através do latido.
Transportando esse mesmo princípio para a vida espiritual, um pecador não é pecador porque peca, mas peca porque é pecador. Ou seja, mesmo que fosse possível a um pecador deixar de pecar (praticar ações pecaminosas), ele continuaria sendo pecador, pois sua natureza é de pecador.
Assim, a solução para nosso problema real não está no nível das ações, do que fazemos ou deixamos de fazer, mas está em um nível muito mais profundo. Precisamos de uma renovação de vida, o que a Bíblia chama de conversão. E é justamente essa completa transformação que Davi clama em sua oração de confissão.
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Weverton de Paula Castro é pastor e professor de Teologia no Seminário Adventista da Faculdade Adventista da Amazônia (FAAMA). Ele é casado com a enfermeira Jozy Anne e é pai do pequeno André, nascido no início de 2021. Graduado em Teologia e Filosofia, tem mestrado intracorpus em Interpretação Bíblica (FADBA) e em Ciências da Religião (UEPA). Atualmente é doutorando em Educação Religiosa (Andrews University).