Lição 1
24 de junho a 01 de julho
Paulo: apóstolo dos gentios
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Sl 56–61
Verso para memorizar: “Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: ‘Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios!’” (At 11:18, NVI).
Leituras da semana: At 6:9-15; 9:1-9; 1Sm 16:7; Mt 7:1; At 11:19-21; 15:1-5

Não é tão difícil entender Saulo de Tarso (também conhecido como apóstolo Paulo, após sua conversão), e por que ele fez o que fez. Sendo judeu devoto, ensinado durante toda a sua vida sobre a importância da lei e sobre a futura redenção política de Israel, a ideia de que o tão aguardado Messias tinha sido vergonhosamente executado, como o pior dos criminosos, era demais para ele tolerar.

Portanto, não é de admirar que ele estivesse convencido de que os seguidores de Jesus estavam sendo desleais para com a Torá e, assim, prejudicando o plano de Deus para Israel. Suas alegações de que o Jesus crucificado era o Messias e de que Ele tinha ressuscitado, acreditava ele, eram terrível apostasia. Não poderia haver tolerância para com esse “absurdo” nem para quem se recusasse a abandonar essas ideias. Saulo estava determinado a ser o agente de Deus para livrar Israel dessas crenças. Assim, ele aparece pela primeira vez nas páginas das Escrituras como perseguidor violento dos seus compatriotas judeus que acreditavam que Jesus fosse o Messias.

Porém, Deus tinha planos bem diferentes para Saulo, planos que ele nunca poderia ter esperado: esse judeu não apenas pregaria que Jesus é o Messias, mas faria isso entre os gentios!


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Domingo, 25 de junho
Ano Bíblico: Sl 62–67
Perseguidor dos cristãos

Saulo de Tarso aparece pela primeira vez em Atos como um dos envolvidos no apedrejamento de Estêvão (At 7:58) e, em seguida, em conexão com a ampla perseguição que irrompeu em Jerusalém (At 8:1-5). Pedro, Estevão, Filipe e Paulo desempenharam papel significativo no livro de Atos, pois estiveram envolvidos nos episódios que levaram à propagação da fé cristã para além do mundo judaico. Estevão é especialmente importante porque sua pregação e martírio parecem ter exercido influência profunda sobre Saulo de Tarso.

Estevão, um judeu que falava o idioma grego, era um dos sete diáconos (At 6:3-6). De acordo com Atos, alguns judeus estrangeiros que foram morar em Jerusalém (At 6:9) entraram em discussão com Estevão acerca do conteúdo de sua pregação sobre Jesus. É possível, talvez até provável, que Saulo de Tarso estivesse envolvido nesses debates.

1. Leia Atos 6:9-15. Quais foram as acusações apresentadas contra Estevão?
Assinale a alternativa correta:

A.( ) Traição e suborno.

B.( ) Blasfêmia contra Deus, Moisés, a lei e o templo.

C.( ) Blasfêmia contra o Espírito Santo.

A hostilidade feroz para com a pregação de Estevão parece ter resultado de duas coisas diferentes. Por um lado, Estevão atraiu a ira de seus adversários por não dar importância primária à lei judaica e ao templo, que haviam se tornado o foco do judaísmo e eram símbolos preciosos da identidade religiosa e nacional. Mas Estevão fez mais do que simplesmente menosprezar esses dois valiosos ícones; ele proclamou vigorosamente que Jesus, o Messias crucificado e ressurreto, era o verdadeiro centro da fé judaica.

Portanto, não é de admirar que ele tivesse irritado o fariseu Saulo (Fp 3:3-6), cujo zelo contra os cristãos primitivos indica que ele provavelmente pertencesse a uma ala rigorosa e militante dos fariseus, cheia de fervor revolucionário. Saulo entendia que as grandes promessas proféticas do reino de Deus ainda não tinham se cumprido (Dn 2; Zc 8:23; Is 40–55). Ele provavelmente acreditava que era sua tarefa ajudar Deus a tornar aquele dia uma realidade, o que se poderia fazer purificando Israel da corrupção religiosa e da ideia de que esse Jesus era o Messias.

Convencido de que estava certo, Saulo estava disposto a matar os que considerava errados. Embora precisemos ter zelo e fervor pelo que cremos, como temperar nosso zelo com a compreensão de que, às vezes, podemos estar equivocados?

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Segunda-feira, 26 de junho
Ano Bíblico: Sl 68–71
A conversão de Saulo

“Ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu Sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões” (At 9:5, ARC).

Embora a perseguição de Saulo contra a igreja primitiva tivesse começado de maneira bastante discreta (no momento em que ele segurou as vestes dos assassinos de Estevão), ela rapidamente se intensificou (veja At 8:1-3; 9:1, 2, 13, 14, 21; 22:3-5). Várias palavras que Lucas usou para descrever Saulo revelam a figura de uma criatura selvagem, feroz, ou de um soldado saqueador, determinado a destruir seu oponente. A palavra traduzida por “devastava” em Atos 8:3 (NVI), por exemplo, é usada na tradução grega do Antigo Testamento (Sl 80:13) para descrever o comportamento descontrolado e destrutivo de um javali selvagem. A cruzada de Saulo contra os cristãos evidentemente não era um assunto de conveniência tratado com indiferença; era um plano determinado e sustentado para exterminar a fé cristã.

2. Examine as três descrições da conversão de Saulo (At 9:1-18; 22:6-21 e 26:2-19). Qual papel a graça de Deus teve nessa experiência? Saulo mereceu a bondade que o Senhor mostrou para com ele? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) Foi a graça de Deus que alcançou Saulo e o transformou.

B.( ) Deus olhou para Saulo e viu que ele merecia a graça.

Da perspectiva humana, a conversão de Saulo deve ter parecido impossível (essa foi a razão do ceticismo que muitos manifestaram quando ouviram falar dela pela primeira vez).

A única coisa que Saulo merecia era a punição, mas, em vez disso, Deus concedeu graça a esse judeu fervoroso. Contudo, é importante notar que a conversão de Saulo não aconteceu num vácuo, nem foi forçada.

Saulo não era ateu. Ele era religioso, embora seriamente equivocado em sua compreensão de Deus. As palavras de Jesus a Paulo, “resistir ao aguilhão só lhe trará dor!” (At 26:14, NVI), indicam que o Espírito estivera convencendo Saulo. No mundo antigo, o “aguilhão” era uma vara com uma ponta afiada utilizada para cutucar bois, sempre que se recusavam a puxar o arado. Saulo havia resistido ao aguilhão de Deus por algum tempo, mas finalmente, em sua viagem para Damasco, por meio de um encontro miraculoso com o Jesus ressuscitado, ele decidiu parar de lutar.

Sua conversão também foi uma experiência dramática, como a de Paulo? Se não, de que maneira a graça de Deus mudou sua vida? Por que é importante não esquecer o que recebemos em Cristo?

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Terça-feira, 27 de junho
Ano Bíblico: Sl 72–77
Saulo em Damasco

Durante seu encontro com Jesus, Saulo ficou cego e foi instruído a ir à casa de um homem chamado Judas. Ali ele deveria aguardar a visita de Ananias. Sem dúvida, a cegueira física de Saulo foi um poderoso lembrete da cegueira espiritual, mais ampla, que o havia levado a perseguir os seguidores de Jesus.

Quando Jesus Se manifestou a ele na estrada de Damasco, tudo mudou. Nas questões sobre as quais Saulo pensava que tinha toda a razão, ele estava completamente equivocado. Em vez de trabalhar para Deus, havia trabalhado contra Ele. Quando entrou em Damasco, Saulo era um homem diferente do orgulhoso e zeloso fariseu que havia saído de Jerusalém. Em vez de comer e beber, passou seus primeiros três dias em Damasco jejuando, orando e refletindo sobre tudo o que tinha acontecido.

Leia Atos 9:10-14. Imagine o que deve ter passado na mente de Ananias: Saulo, o perseguidor, não era apenas um seguidor de Jesus, mas também se tornou Paulo, o apóstolo escolhido por Deus para levar o evangelho aos gentios (At 26:16-18)!

Não é de admirar que Ananias estivesse um tanto confuso. Se a igreja em Jerusalém estava hesitante em aceitar Paulo cerca de três anos após sua conversão (At 9:26-30), podemos imaginar as dúvidas e preocupações que enchiam o coração dos fiéis em Damasco, somente alguns dias depois do evento!

Observe também que Ananias recebeu uma visão do Senhor, mostrando-lhe a notícia surpreendente e inesperada sobre Saulo de Tarso. Talvez nenhuma outra coisa que não fosse uma visão o tivesse convencido de que aquelas informações acerca de Saulo eram verdadeiras e de que o inimigo dos cristãos judeus havia se tornado um deles.

Saulo tinha saído de Jerusalém com poder e autorização dos principais sacerdotes para acabar com a fé cristã (At 26:12). No entanto, Deus tinha uma missão bastante diferente para Saulo, apoiada numa autoridade muito maior. Saulo devia levar o evangelho ao mundo gentílico, uma ideia que, para Ananias e os outros fiéis judeus, deve ter sido ainda mais chocante do que a própria conversão de Saulo.

Onde Saulo havia procurado impedir a propagação da fé cristã, Deus o usaria para disseminá-la muito além do que os cristãos judeus poderiam imaginar.

3. Leia 1 Samuel 16:7, Mateus 7:1 e 1 Coríntios 4:5. Por que devemos ter cuidado ao avaliar a experiência espiritual de outras pessoas? Que erros temos cometido em nosso julgamento sobre os outros? O que temos aprendido com esses erros?



Quarta-feira, 28 de junho
Ano Bíblico: Sl 78–80
O evangelho vai aos gentios

4. Onde foi estabelecida a primeira igreja gentílica? Quais acontecimentos ocasionaram a ida dos cristãos para lá? Qual lembrança do Antigo Testamento essa história traz? At 11:19-21, 26; Dn 2

A perseguição que irrompeu em Jerusalém após a morte de Estêvão fez com que muitos cristãos judeus fugissem para Antioquia, a 501 quilômetros ao norte. Sendo capital da província romana da Síria, Antioquia era inferior em importância apenas a Roma e Alexandria. Sua população, estimada em 500 mil pessoas, era extremamente cosmopolita, o que a tornava um local ideal não só para uma igreja de gentios, mas como ponto de partida para a missão universal da igreja primitiva.

5. De acordo com Atos 11:20-26, o que aconteceu em Antioquia, que resultou na visita de Barnabé à cidade e sua decisão posterior de convidar Paulo para se juntar a ele ali? Que descrição é apresentada da igreja daquela comunidade? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Alguns de Cirene e Chipre foram a Antioquia e começaram a pregar para os gregos. Muitos se converteram por meio de sua pregação. 

B.( ) Houve um grande incêndio em Antioquia, motivando Barnabé e outros a irem até lá e oferecerem auxílio.

Traçar uma cronologia da vida de Paulo é difícil, mas parece que cerca de cinco anos se passaram entre sua visita a Jerusalém depois da conversão (At 9:26-30) e o convite de Barnabé para que Paulo se juntasse a ele em Antioquia. O que Paulo fez em todos esses anos? É difícil dizer com certeza. Mas, com base em seus comentários em Gálatas 1:21, possivelmente ele tivesse pregado o evangelho nas regiões da Síria e da Cilícia. Alguns têm sugerido que, talvez, durante essa época ele tivesse sido deserdado por sua família (Fp 3:8) e sofrido uma série de dificuldades, como ele descreve em 2 Coríntios 11:23-28. A igreja em Antioquia floresceu sob a orientação do Espírito Santo. A descrição em Atos 13:1 indica que a natureza cosmopolita da cidade logo foi refletida na diversidade étnica e cultural da própria igreja (Barnabé era de Chipre, Lúcio de Cirene, Paulo da Cilícia, Simeão presumivelmente da África; pense também em todos os gentios convertidos). O Espírito procurava levar o evangelho a outros gentios, usando Antioquia como base para mais atividades missionárias de longo alcance, além da Síria e da Judeia.

Leia Atos 11:19-26. O que aprendemos com a diversidade cultural e étnica da igreja de Antioquia? Isso pode ajudar nossa igreja a imitar o bem que existia ali?


Quinta-feira, 29 de junho
Ano Bíblico: Sl 81–85
Conflitos dentro da igreja

Tudo que é humano é imperfeito, e não demorou muito para que começassem os problemas na primitiva comunidade de fé. Para começar, nem todos ficaram satisfeitos com a entrada dos gentios cristãos na igreja primitiva. A divergência não foi sobre o conceito de missão entre os gentios, mas sobre a base em que eles deveriam ser autorizados a se unirem à igreja. Alguns achavam que a fé em Jesus não seria suficiente como sinal característico do cristão; eles argumentavam que a fé devia ser complementada com a circuncisão e a obediência à lei de Moisés (em Atos 10:1–11:18, podemos ver a extensão da divisão entre judeus e gentios na experiência de Pedro com Cornélio).

As visitas oficiais de Jerusalém, que observaram a obra de Filipe entre os samaritanos (At 8:14) e o trabalho com os gentios em Antioquia (At 11:22) podem sugerir alguma preocupação acerca da inclusão dos não judeus na comunidade cristã. No entanto, a reação que ocorreu quando Pedro batizou Cornélio, um soldado romano incircunciso, foi um claro exemplo da discordância que existia entre os primeiros cristãos sobre a questão dos gentios. A inclusão de um gentio como Cornélio pode ter feito com que alguns se sentissem desconfortáveis, mas os esforços intencionais de Paulo para abrir totalmente as portas da igreja aos gentios com base na fé unicamente em Jesus resultou em tentativas deliberadas, por parte de alguns, de prejudicar o ministério de Paulo.

6. De acordo com Atos 15:1-5, como alguns fiéis da Judeia tentaram dificultar o trabalho de Paulo com os cristãos gentios em Antioquia? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A.( ) Começaram a ameaçar de morte os gentios convertidos.

B.( ) Disseram aos cristãos gentios que eles precisavam ser circuncidados.

Embora o concílio de Jerusalém, em Atos 15, finalmente tivesse se unido a Paulo na questão da circuncisão, a oposição ao ministério do apóstolo continuou. Cerca de sete anos mais tarde, durante a última visita de Paulo a Jerusalém, muitos ainda desconfiavam do evangelho de Paulo. De fato, ao visitar o templo, ele quase perdeu a vida quando os judeus da Ásia clamaram: “Israelitas, socorro! Este é o homem que por toda parte ensina todos a serem contra o povo, contra a lei e contra este lugar” (At 21:28; 21:20, 21).

Coloque-se na posição desses fiéis judeus preocupados com o ensino de Paulo. Por que sua preo­cupação e oposição tinham algum sentido? Como nossas ideias preconcebidas, bem como as noções culturais e religiosas, podem nos desviar do caminho correto, apesar das nossas boas intenções? Como evitar esse tipo de erro?


Sexta-feira, 30 de junho
Ano Bíblico: Sl 86–89
Estudo adicional

Sobre a relação entre conversão pessoal e a Igreja, leia de Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 430-434: “Independência individual”; para uma proveitosa descrição do início da vida de Paulo e um comentário sobre sua conversão, leia o Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 226-234.

“Anteriormente, Paulo havia sido reconhecido como zeloso defensor da religião judaica e implacável perseguidor dos seguidores de Jesus. Corajoso, independente, perseverante, seus talentos e preparo o teriam capacitado a servir quase em qualquer atividade. Era capaz de arrazoar com clareza extraordinária, e por seu fulminante sarcasmo podia colocar o adversário em posição nada invejável. E agora, os judeus viam esse jovem extraordinariamente promissor unido com aqueles a quem antes havia perseguido, pregando destemidamente no nome de Jesus!

“Um general que tomba em combate está perdido para seu exército, mas sua morte não acrescenta força ao inimigo. Mas quando um homem preeminente se une às forças opositoras, não apenas se perdem seus serviços como ganham decidida vantagem aqueles com quem ele se uniu. Saulo de Tarso, no caminho para Damasco, podia facilmente ter sido fulminado pelo Senhor, e muita força se teria retirado do poder perseguidor. Deus, porém, em Sua providência, não apenas poupou a vida de Saulo, mas o converteu, transferindo assim um campeão do campo do inimigo para o lado de Cristo. Orador eloquente e crítico severo, Paulo, com seu decidido propósito e inquebrantável coragem, tinha as qualificações necessárias à igreja primitiva” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 124).

Perguntas para reflexão

1. Que lição aprendemos do fato de que alguns dos mais duros opositores de Paulo eram judeus que acreditavam em Jesus?

2. Como você pode defender princípios religiosos e, ao mesmo tempo, ter certeza de que não está lutando contra Deus?

Resumo: O encontro de Saulo com o Cristo ressuscitado na estrada de Damasco foi o momento decisivo em sua vida e na história da igreja primitiva. Deus mudou o antigo perseguidor da igreja e fez dele Seu apóstolo escolhido para levar o evangelho ao mundo gentílico. Entretanto, alguns tiveram dificuldade de aceitar a iniciativa de Paulo em relação à inclusão dos gentios na igreja unicamente pela fé – um poderoso exemplo de como o preconceito e a discriminação podem dificultar a missão.

Respostas e atividades da semana: 1. B. 2. A. 3. Promova um debate em classe a respeito dessa questão. Peça aos alunos que contem suas experiências pessoais ao terem julgado mal alguém. 4. Com uma semana de antecedência, escolha um aluno para responder a essa questão na classe. 5. A. 6. B.



Resumo da Lição 1
Paulo: apóstolo dos gentios

TEXTO-CHAVE: Atos 11:18

O ALUNO DEVERÁ

Saber: Quais acontecimentos desafiadores levaram à pregação do evangelho aos gentios.

Sentir: As tensões em torno da transformação de Paulo, de zeloso fariseu a dedicado pregador do evangelho aos gentios.

Fazer: Oferecer a Deus seus talentos e a vida a fim de ser habilitado para o serviço.

ESBOÇO

I. Saber: Ir a todo o mundo

A. Quais circunstâncias envolveram o desenvolvimento do ministério da recém-
formada igreja para os gentios?

B. Por que pregar o evangelho aos gentios foi uma prática tão revolucionária para os cristãos da igreja primitiva? Como eles reagiram a esse desafio?

II. Sentir: Desafios e tensões

A. Qual efeito as perseguições de Saulo tiveram sobre a igreja primitiva?

B. Quais foram as reações dos líderes da igreja primitiva ao chamado que transformou Paulo em pregador do evangelho?

C. Como aquela igreja iniciante resolveu as tensões que surgiram pela expansão da pregação do evangelho aos gentios?

III. Fazer: Aptos para o serviço

A. Quais transformações precisam ocorrer para que estejamos aptos para o ministério?

B. Como podemos nos adaptar às variadas formas de pregação do evangelho, como fez a igreja primitiva?

C. Quais desafios diferentes enfrentamos, sendo uma igreja mais experiente? De quais transformações necessitamos?

RESUMO: No início, a nova igreja enfrentou a oposição determinada do fanático Saulo de Tarso, mas a transformação desse homem, em resposta ao chamado de Deus, resultou no desenvolvimento de um forte ministério aos gentios.

Ciclo do aprendizado

Motivação

Focalizando as Escrituras: Atos 11:18

Conceito-chave para o crescimento espiritual: Assim como Saulo de Tarso, podemos ter certeza do que acreditamos, mas estar absolutamente equivocados. Estar aberto à direção de Deus significa ser receptivo às surpresas, mesmo quando elas não são fáceis nem agradáveis.

Para o professor: Enfatize o fato de que tanto Saulo/Paulo quanto a igreja cristã primitiva necessitavam permitir que Deus lhes abrisse a mente. Paulo precisava perceber que aquilo que, em sua concepção, não poderia ser verdade era, de fato, a verdade. Os primeiros cristãos judeus, por sua vez, tinham que ser despertados para o fato de que o evangelho era para todos, mesmo os gentios.

Você quer se tornar realmente mau? Não apenas alguém “incompreendido” ou considerado um “diamante bruto”, mas uma das pessoas mais perversas do mundo? Então comece convencendo a si mesmo de que é bom. Tão bom que se considere melhor do que os outros. Imagine que não pode fazer nada de errado. Acredite que, se Deus está ao seu lado, quem se opõe a você se opõe a Deus.

Blaise Pascal, filósofo e matemático francês, escreveu: “Os homens nunca fazem o mal de maneira tão completa e alegre como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa”. Poderia ser você. Poderia ser qualquer um de nós se, em nossa devoção equivocada, assumíssemos o lugar de Deus e parássemos de ouvir o verdadeiro Deus.

Nesta semana, estudaremos sobre alguém que estava seguindo esse caminho: Saulo de Tarso. Ele prosseguia em seu caminho para se tornar, como ele disse mais tarde, o principal dos pecadores (1Tm 1:15). Mas Deus tinha outros planos para ele.

Discussão inicial: É importante ter certeza, de maneira sensata, do que acreditamos e por que temos essa crença. Como podemos harmonizar essa exigência com a necessidade de humildade para perceber que nossas ideias e percepções são falíveis e poderemos precisar de mudança, à medida que aprofundamos nosso relacionamento com Deus e nosso entendimento de Sua Palavra?

Compreensão

Para o professor: Nos evangelhos, conhecemos Jesus Cristo. Ficamos familiarizados com Sua personalidade, Sua natureza, Sua missão e Sua relação com as coisas que haviam ocorrido antes, as quais Ele veio cumprir. Em Atos, vemos como os primeiros discípulos prosseguiram na luz da missão e da mensagem de Jesus. Vemos antigas formas desafiadas, transformadas, e vidas renovadas. Em nenhum lugar esse processo é mais claro do que na vida e carreira de Saulo/Paulo. Enfatize como esse processo de provação e transformação se repete em nossa vida pessoal.

Comentário bíblico

I. Espectador culpado

(Recapitule com a classe At 7:58; 8:1-5.)

Há uma expressão em inglês que diz: “I’ll hold your coat for you” [Eu seguro seu casaco]. Como muitas outras expressões na língua inglesa, essa poderia ter vindo da Bíblia; nesse caso, de Atos 7:58. Ela pode ser usada em uma das duas seguintes maneiras: pode ser a aprovação de um ato de violência ou agressão, sem que a pessoa esteja muito disposta a praticá-lo por si mesma; ou pode ser um comentário mordaz dito a uma pessoa que apoia o derramamento de sangue, mas nunca assume realmente os riscos pessoais.

Como cristãos e estudantes da Bíblia, vemos Saulo de Tarso como um grande perseguidor. Mas pouco sabemos sobre ele ou suas atividades antes dos eventos descritos nesses versos. Ele tinha opiniões fortes sobre os cristãos primitivos, antes de assistir à pregação de Estêvão? Obviamente, a pregação de Estêvão foi suficiente para motivá-lo a algum tipo de ação, mas por quê? Ele se sentia atraído pela mensagem, ao mesmo tempo em que tinha aversão a ela? Ele sabia que ela era verdadeira, mesmo quando tentava forçar a si mesmo e a outros a acreditar que não era?

Considere as ações de Saulo. Ele não foi um participante ativo na morte de Estevão, a julgar pela passagem bíblica. Seja como for, o autor, possivelmente, não tivesse se dado ao trabalho de mencionar isso, exceto para apresentar Saulo como um personagem que depois se tornaria importante para a narrativa de Atos. Se tudo que Paulo houvesse feito tivesse sido agir como espectador inocente, teria sido difícil culpá-lo – muito menos lançar sobre ele a responsabilidade – de algum crime, com base nas informações dadas no texto. Talvez ele tivesse incitado os assassinos de Estêvão, mas isso não está registrado. Ao contrário da expressão mencionada antes, ele nem sequer segurou as vestes. Ele viu seus companheiros apedrejarem Estêvão. Dois versos depois, é mencionado que ele aprovava a morte de Estêvão. Mas podemos supor que isso provavelmente não tivesse sido ideia dele.

Isso significa que Paulo não era culpado da morte de Estêvão? Ele mesmo sentia que era, e carregou essa culpa pelo resto da vida. Temos boas razões para acreditar que o relato dos acontecimentos de Atos foram contados a Lucas (geralmente considerado o autor de Atos, bem como do evangelho que leva seu nome) pelo próprio Paulo, e que este tivesse insistido bastante para que Lucas mencionasse seu papel e seu consentimento. Vários versos à frente, em Atos 8:1-5, foi demonstrado que ele era o perseguidor sanguinário que todos conhecemos.

Por que Paulo não teve um papel mais ativo no apedrejamento de Estêvão? Ele era um manipulador nos bastidores ou estava esperando para ver o que fariam as autoridades que ele venerava e cujo exemplo seguia? Em todo caso, sua decisão de facilitar esse ato de violência coletiva, disfarçada de justiça teocrática, tornou-o culpado como se ele mesmo tivesse recolhido e jogado todas as pedras, embora, aparentemente, não tivesse praticado nenhuma ação. Somente a graça de Deus poderia desviá-lo do caminho que ele livremente havia escolhido para si.

Pense nisto: Você já tomou uma decisão errada, que teve repercussões muito além das circunstâncias imediatas, ao deixar de agir, ou agindo passivamente para facilitar uma injustiça ou irregularidade? Como você acertou a situação?

II. A conversão de Saulo

(Recapitule com a classe At 9:1-18; 22:6-21; 26:12-19; 1Co 9:1; 15:3; Gl 1:11, 12, 15, 16.)

Mencionar o evento relatado nas passagens acima como uma conversão é correto, mas não é de fato adequado. As palavras bíblicas que geralmente traduzimos como “conversão” (sub em hebraico e epistrophe em grego) se referem a uma virada ou um retorno a Deus ou ao caminho que conduz a Ele. Por isso, é um ato da vontade, auxiliado por Deus ou Seu Espírito.

Saulo, por outro lado, não se converteu por si mesmo; mais do que isso, ele foi convertido. Até o momento em que o Cristo vivo apareceu e o incapacitou, não vemos nenhum sinal de mudança no coração de Saulo. As passagens dos capítulos 8 e 9 não dizem nada sobre seu estado interior. Vemos bastante sobre seu estado exterior, vividamente descrito em termos que lembram um animal feroz e predador (At 8:3). O Espírito Santo estava trabalhando nele? Sem dúvida, mas para ver isso seria preciso fé maior do que a maioria tinha naquele tempo e do que muitos têm hoje.

A experiência de Saulo foi uma conversão que resultou em uma mudança dramática em sua trajetória. E, por mais irresistível que a experiência e o chamado tenham sido, e por mais absurda que seja esta ideia ao leitor, Saulo poderia ter rejeitado o chamado – pelo menos em teoria. Mas o que aconteceu ali? Em primeiro lugar, Saulo foi privado de suas faculdades, incluindo a visão. Deus tirou as coisas das quais Saulo dependia. Tudo que ele pôde fazer então foi sentar-se e ouvir. E, quando Deus finalmente obteve toda a atenção do perseguidor, Ele deu a Saulo uma revelação, que ele descreveu mais tarde, em diversos lugares, como uma visão do Cristo ressuscitado. Por mais incrédulos que os outros tenham sido, Paulo não hesitou em comparar essa experiência com a dos apóstolos, que haviam andado e falado pessoalmente com Jesus Cristo, durante Seu ministério terrestre.

Jesus Cristo deu o Seu melhor a Saulo, o homem que menos merecia. Para alguns, essa generosidade pode ter sido desconcertante ou até mesmo revoltante. No entanto, se alguém tem consciência de que é um pecador necessitado da graça, a conversão de Saulo demonstra que a graça é ilimitada e poderosa.

Pense nisto: Embora afirmemos crer na graça de Deus, algumas vezes podemos ser tentados a imaginá-Lo distribuindo Sua graça em colheradas medidas com rigor. Por que somos tentados a pensar dessa maneira? Chegamos até mesmo a desejar que as coisas sejam assim?

Aplicação

Para o professor: Use as seguintes perguntas para ajudar seus alunos a ver o que a conversão de Saulo de Tarso nos ensina sobre a graça de Deus e como devemos reagir a ela.

Perguntas para reflexão

Na realidade, pouca coisa é dita sobre o início da vida de Saulo e as influências que o moldaram. Em sua opinião, quais motivos ele teve para perseguir os cristãos?

Em Atos 9:5, a voz misteriosa se refere a Saulo como se ele estivesse dando pontapés contra os aguilhões. Como exatamente Deus estava “ferindo Saulo com o aguilhão”, mesmo quando ele parecia agir de maneira muito contrária à vontade de Deus?

Perguntas para aplicação

1. Todos nós conhecemos ou ouvimos falar sobre pessoas com histórias espetaculares de conversão, e talvez a nossa seja um pouco mais comum. De que maneira você percebeu a graça de Deus sendo manifestada em sua história, talvez no próprio fato de que você não teve que experimentar todas aquelas coisas?

2. Como você reage quando alguém de quem você desconfia, ou tem motivos para temê-lo ou rejeitá-lo, parece ter mudado para melhor?

Criatividade e atividades práticas

Para o professor: A história de Saulo é, acima de tudo, uma história de graça. Deus lhe mostrou a graça quando ele não a estava buscando nem sentia necessidade dela. E aqueles a quem Saulo perseguiu, ou poderia ter perseguido, aprenderam como uma pessoa pode ser verdadeiramente transformada por essa graça e como podem manifestar a graça em sua vida. A atividade seguinte tem o objetivo de incentivar os alunos a tornar a graça parte da sua vida e pensamentos diários.

Atividade

Todos enfrentamos situações ou pessoas difíceis. Como reagimos? Será que temos um ataque de fúria? Dizemos certas palavras e frases quando pensamos que ninguém pode ouvi-las? Será que nutrimos silenciosamente nossos ressentimentos?

Na próxima semana, medite sobre a graça ao se deparar com situações ou relacionamentos desafiadores. Considere isso como oportunidades para aprender e demonstrar graça. Quando os pensamentos habituais entrarem em sua mente e, talvez, saírem de sua boca, conscientemente pense – e diga – algo diferente. Proteja seus pensamentos com um verso bíblico relevante. Leve um relatório para a classe na próxima semana. Como a experiência com a graça mudou sua maneira de agir e sentir em situações como essas?


Novo centro de treinamento na Índia

Já começou, na Índia, a construção do primeiro centro de treinamento evangelístico da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

O prédio terá três andares, o que tornará mais fácil para os líderes da igreja organizar grandes reuniões. Os alunos dizem que isso permitirá que eles convidem amigos não adventistas para ir à igreja, situada no mesmo local em que o centro de treinamento está sendo construído.

O centro é um dos cinco projetos que receberão parte da oferta da Escola Sabatina deste trimestre.

O nome completo do centro é Pioneer Memorial Discipleship Training Center (Centro de Treinamento e Discipulado Memória dos Pioneiros). Esse nome é uma homenagem aos primeiros missionários adventistas na Índia central, que deram início ao trabalho cerca de cem anos atrás. Esses missionários não vieram dos Estados Unidos nem da Europa. Eles fizeram parte da primeira geração de adventistas indianos e lançaram a base para o adventismo na Índia central.

O Centro de Treinamento e Discipulado Memória dos Pioneiros terá um amplo auditório, salas para seminários, refeitório e quartos. Fica situado no extenso complexo da Seção da Igreja Adventista do Sul de Andhra. O centro de treinamento estará disponível para os membros da igreja em toda a Divisão Sul-Asiática.

Vara Prasad Jacob, presidente da Seção do Sul de Andhra, está entusiasmado com o centro de treinamento. Ele diz: “Nós não temos um centro de treinamento em toda a Divisão. Temos faculdades e escolas, mas não um centro de treinamento.”

Ele está muito animado com o fato de que o prédio terá uma sala de reuniões com mil lugares, quartos e local para alimentação. Atualmente, os membros da igreja que chegam para as reuniões de treinamento têm que ficar em hotéis. A locomoção deles a partir dos hotéis para a sala de conferências e para fazer refeições em um restaurante aumenta muito o custo de qualquer grande reunião.

O custo da construção dos dois primeiros andares do centro de treinamento está sendo pago por um doador. Essa parte do edifício está programada para ser concluída até o fim deste trimestre. Parte da oferta da Escola Sabatina de cada sábado ajudará a construir o terceiro andar, que incluirá quartos e completará o centro.

No total, a construção do centro de treinamento custará 50 milhões de rúpias [cerca de 730 mil dólares].

Os líderes da Igreja dizem que o local é ideal para o centro de treinamento. O complexo da seção do Sul de Andhra cobre 60 acres (24 hectares) em uma parte da Índia relativamente acessível ao cristianismo. Eles dizem que muitas reuniões evangelísticas acontecem nessa região. Em comparação com algumas partes da Índia, é fácil pregar o evangelho ali.

O complexo está localizado a cerca de uma hora de carro de uma grande cidade e é facilmente acessível por ônibus, trem e avião.

A igreja planeja manter o centro de treinamento aberto durante todo o ano.

Benefício para os alunos da escola

Na mesma propriedade em que o centro de treinamento está localizado funciona uma escola. Talvez os alunos da escola estejam entre os mais ansiosos para receber o centro.

A escola tem 700 estudantes e a maioria é adventista. Não há uma igreja grande o suficiente para acomodar a todos. O atual prédio da igreja comporta apenas 250 pessoas. Todos os sábados, outros 250 alunos se reúnem no apertado espaço da lanchonete da escola para adorar a Deus. Quando o centro de treinamento não estiver sendo usado para reuniões de treinamento, haverá espaço para todos os alunos adorarem juntos. Os estudantes dizem que será mais fácil convidar amigos não adventistas para os cultos.

João tem 16 anos e cursa o 9° ano. Ele diz: “Quero que todos nós adoremos juntos.” João não era adventista. Ele aprendeu a respeito de Deus e sobre o sábado na escola adventista. Ele é um dos 450 alunos da escola que vivem no dormitório.

Quando João ia visitar a família, ele contava ao pai sobre o que estava aprendendo na escola. Quando estava no 8º ano, seu pai decidiu ser batizado. O próprio João foi batizado um ano depois.

João não é o único aluno que quer adorar no novo centro de treinamento. Vinutna, que tem 17 anos, gosta de cantar. Ela diz que a igreja atual é tão pequena que o diretor do coral tem que limitar a 35 o número de alunos que podem cantar no coral aos sábados, porque não há espaço para mais pessoas. Quando os alunos puderem se encontrar no novo centro de treinamento, muitos outros poderão glorificar a Deus com suas vozes. “Estou muito feliz por saber que um salão comunitário está sendo construído”, ela diz. “Poderemos ter um coral maior, cantando e louvando a Deus aos sábados.”

Por favor, em suas orações, lembrem-se do Centro de Treinamento Evangelístico Memória dos Pioneiros e sejam generosos ao participar da oferta da Escola Sabatina a cada sábado.

Resumo missionário 

• A Índia é o sétimo maior país em extensão, com um terço do tamanho dos Estados Unidos. Contudo, é o lar que abriga mais pessoas do que qualquer outro país, exceto a China, com cerca de 1,3 bilhão de pessoas.

• A Índia tem dez mil grandes cidades, incluindo 50 com uma população de mais de um milhão de pessoas. No entanto, muitas pessoas ainda vivem em mais de 600 mil cidades e aldeias do país.

• Embora a economia da Índia esteja crescendo rapidamente, muitas pessoas ainda vivem abaixo do nível de pobreza. Quase metade das pessoas na Índia não sabe ler nem escrever. Muitos sofrem de doenças e os alimentos são de má qualidade.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º trimestre de 2017
Tema geral: “O evangelho em Gálatas”
Lição 1: 24 de junho a 1º de julho
Paulo: apóstolo dos gentios

 

Autor: Pr. Nilton Aguiar

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

 

Introdução

Seguramente, Paulo é uma das figuras mais importantes do mundo antigo e, à exceção de Jesus, é o nome mais influente do cristianismo. É impossível calcular quantos artigos, livros e dissertações foram escritos ao longo da história sobre sua vida e ensinos. De fato, há tanto para se dizer sobre quem foi Paulo, que sua vida e obra têm sido abordadas sob múltiplos aspectos. Seus biógrafos o identificam como Paulo, o apóstolo; Paulo, o escritor de cartas; Paulo, o teólogo; Paulo, o missionário; Paulo, o pastor; Paulo, o apóstolo da graça. E, certamente, ele foi tudo isso. Porém, ele se tornou mais conhecido no mundo cristão simplesmente como o apóstolo dos gentios. Ele mesmo se apresentou dessa forma (Rm 11:13). Porém, ele tinha a consciência de que havia recebido de Deus esse ministério (At 9:15; 22:21; 26:17-18).

Perseguidor dos cristãos

A cidade em que Paulo nasceu (At 21:39) era a capital da província romana da Cilícia, na Ásia Menor (At 22:27) e um grande centro intelectual da época, a ponto de superar mesmo Atenas e Alexandria em alguns aspectos. Seus habitantes eram “apaixonados estudantes de filosofia, das artes e de todo tipo de conhecimento”. Em resumo, Tarso “era o que poderíamos chamar de cidade universitária”, que ostentava uma florescente escola de filosofia. Então, por que Paulo teria saído de Tarso e se estabelecido em Jerusalém? Possivelmente, a resposta para essa pergunta esteja em Filipenses 3:3-5, onde encontramos a mais abrangente de todas as declarações autobiográficas de Paulo.

A partir de Filipenses 3:3-5, é possível perceber quanto Paulo era zeloso em relação à religião de seus pais. Por essa razão, é possível conjecturar que ele teria se estabelecido em Jerusalém a fim de ter um conhecimento mais amplo das raízes de sua religião. Nessa passagem, é possível identificar sete traços biográficos. A partir deles, Paulo nos dá algumas informações de como era sua vida religiosa antes de se converter ao cristianismo. Os quatro primeiros traços retratam o orgulho de sua identidade judaica, enquanto os três últimos nos informam que ele foi um radical religioso antes de sua conversão. Como os demais fariseus, ele se orgulhava de seu conhecimento preciso das leis patriarcais e se vangloriava de sua adesão à lei. Portanto, quando Estevão colocou Jesus como o centro da fé judaica em vez de focalizar a lei e o templo, isso deve ter despertado o ódio de Paulo, levando-o a fazer da perseguição aos cristãos uma missão “divina”. Porém, Deus o estava preparando para uma missão muito maior.

A conversão de Saulo

Embora Paulo tenha sido um radical religioso antes de sua conversão, não se pode negar que ele era sincero em suas crenças. Entre outras razões, sua história está na Bíblia para que nós aprendamos com ela. Precisamos ser pacientes com as pessoas assim como Deus foi paciente com Paulo. Do ponto de vista humano, quem poderia crer que um dia o perseguidor se tornaria um perseguido? A conversão de Saulo foi fruto da ação insistente e sobrenatural de Deus.Deus viu em Saulo algo que nós jamais perceberíamos: uma sinceridade de propósito guardada em seu coração a sete chaves. O Espírito Santo insistiu em alcançar seu coração até romper suas defesas. Finalmente, Jesus veio pessoalmente para Se encontrar com ele na estrada para Damasco. “O que aconteceu ali, naquele dia, é um sinal de que a graça desconhece limites para alcançar um pecador. O orgulho, o ódio e o preconceito de Paulo e mesmo todas as forças do mal reunidas não seriam capazes de ofuscar o brilho do amor de Deus, estampado na face e nos olhos de Jesus Cristo. A conversão de Saulo é um exemplo vívido da imagem que precisamos ter de Deus, de Seu caráter e da maneira como Ele lida com o pecador: simplesmente, Deus não desiste”.

Saulo em Damasco

Paulo continuou sua viagem rumo a Damasco em obediência à ordem que Jesus lhe deu na visão: “Levanta-te e entra na cidade. Lá te será dito o que te convém fazer” (At 9:6). Nas circunstâncias em que estava, cego e em estado de choque, o natural seria que ele tivesse retornado a Jerusalém e buscasse ajuda médica. No entanto, o sinal de que ele havia se rendido a Cristo é que ele obedeceu à ordem que lhe foi dada. “A vida inteira Paulo estava acostumado a dizer aos outros o que deviam fazer. A primeira lição apreendida é que, a partir de agora, Alguém lhe diria o que fazer. Como disse William Barclay, ‘o cristão é um homem que cessou de fazer o que quer fazer e começou a fazer o que Cristo quer que ele faça’”.

É interessante a maneira pela qual Lucas descreveu a cegueira repentina de Paulo: “Abrindo os olhos, nada podia ver” (At 9:8). E mais interessante ainda é o fato de que, enquanto estava cego, Paulo teve uma visão de que recuperaria a vista (At 9:12). Que Paulo estava fisicamente cego é um fato, mas Lucas também quis destacar a cegueira espiritual anterior. Ao mesmo tempo, parece claro que Lucas enfatizou que foi a partir da cegueira física provocada pela visão na estrada de Damasco que, finalmente, Paulo pôde enxergar a vida de Cristo da maneira correta. De fato, ele nunca tinha “enxergado” tanto em toda a sua vida! Sua nova visão a respeito de Cristo foi tão clara que, após receber a visita de Ananias e recuperar a visão, “começou imediatamente a anunciar Jesus nas sinagogas, dizendo: “Jesus é o Filho de Deus” (At 9:20 NTLH).

O Evangelho vai aos gentios

A maneira com que Deus conduziu a pregação do evangelho para os gentios demonstra que Ele está no controle da história humana e do plano da salvação. Quanto a isso, dois pontos precisam ser destacados. Primeiro, Deus permitiu que uma terrível perseguição irrompesse sobre os cristãos a fim de que eles se espalhassem por diversas partes do império romano e, nesses lugares, anunciassem o evangelho (At 8:4). Segundo, o fato de que Antioquia era uma florescente cidade do mundo antigo, com um porto (At 13:4), e estrada que ligava Jerusalém a Roma, fez com que ela se tornasse uma espécie de quartel-general da igreja primitiva. Foi ali que os discípulos foram chamados de cristãos pela primeira vez (At 11:26).

Com uma boa liderança (At 13:1), a igreja de Antioquia já havia alcançado gentios em sua própria cidade (At 11:20-21). Porém, ao buscarem direção divina, o Espírito Santo os impressionou a enviar missionários para pregar em outras cidades (At 13:2-3). Essa é uma lição que cada congregação contemporânea precisa aprender. Primeiro, a igreja trabalhou com os que estavam dentro de sua geografia, para então trabalhar com aqueles que estavam fora dela. Além disso, a igreja de Antioquia também patrocinou as três viagens missionárias de Paulo”. Isso significa que ela era uma igreja completamente engajada com a obra missionária.

Conflitos dentro da igreja

O assunto da circuncisão foi, seguramente, a mais séria controvérsia que já havia ocorrido dentro da igreja até aquele momento. Por trás dessa questão, em certo sentido residia o pensamento exclusivista de que a salvação só era possível dentro do judaísmo. Assim, os proponentes dessa ideia acreditavam que os gentios deviam primeiro tornar-se judeus antes de tornar-se cristãos. Eles viam o cristianismo, portanto, apenas como uma espécie de extensão do judaísmo. Paulo se preocupou tanto com essa questão, que, em sua carta aos Gálatas, ele tratou o assunto duas vezes. E isso é um sinal de que as igrejas da Galácia enfrentaram problemas dessa natureza.

Em Gálatas 5:2-6, Paulo enfatizou que só existe uma forma de se obter justificação, que é por meio de Cristo e não da circuncisão (verso 3). Ele chegou a dizer que, aqueles que tentam se justificar na lei se desligaram de Cristo (verso 4). Nos versos 5 e 6, ele enfatizou o papel da fé. Em Gálatas 6:12-15, “ele resumiu efetivamente as questões de toda a carta ao contrapor a soberba daqueles que instigaram a circuncisão aos Gálatas à cruz de Cristo e à nova criação que começa quando uma pessoa se torna crente”.

Conclusão

Paulo tinha consciência clara de seu chamado. Na verdade, ele acreditava que havia sido separado por Deus para uma missão especial aos gentios mesmo antes de seu nascimento, como vemos em Gálatas 1:15-16. Nessa passagem, encontramos uma forte alusão a Isaías 49:1 e Jeremias 1:5. Ao fazer uso de Isaías 49, Paulo mostrou que estava seguindo o exemplo de Cristo, que veio ao mundo para ser luz aos gentios (Is 49:6) e, ao usar Jeremias 1:5, ele demonstrou sua consciência de que tinha sido chamado para ser um pregador às nações. No Novo Testamento, o texto de Isaías 49:6 é aplicado a Cristo (Lc 2:32), mas também aos Seus mensageiros (At 13:47). Isso demonstra que os mensageiros de Jesus devem continuar a obra que Ele iniciou. Foi exatamente isso que Paulo fez. Ao dizer que Deus o separou antes de nascer, Paulo também deu a entender que sua missão aos gentios estava fundamentada no chamado divino e não na vontade humana (Gl 1:1).

Notas

Walter A. Elwell and Barry J. Beitzel, “Tarsus,” Baker Encyclopedia of the Bible (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1988), 2037.

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F. F. Bruce, Paulo: o apóstolo da graça (São Paulo: Shedd Publicações, 2003), p. 29.

T. Paige, Philosophy. In.: HAWTHORNE, G. F; MARTIN, R. P; REID, D. G. (Orgs). Dictionary of Paul and His Letters. Downers Grove: InterVarsity Press, 1993. P. 713.

 J. B. Polhill, Paul and His Letters (Nashville: Broadman & Holman, 1999), p. 29.

 James Dunn, A nova perspectiva sobre Paulo (Santo André/São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2011), 669-679.

 M. R. Vincent, A Critical and Exegetical Commentary on the epistles to the Philippians and to Philemon. New York: C. Scribner´s sons, 1897, p. 97; Jerome Murphy O’Connor, Paulo, biografia crítica, 2 ed. (São Paulo: Edições Loyola, 2004), p. 50-53; F. F. Bruce, Paulo: o apóstolo da graça (São Paulo: Shedd Publicações, 2003), p. 37-39; James Dunn, A nova perspectiva sobre Paulo (Santo André/São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2011), p. 673.

 Adenilton Tavares de Aguiar, O Deus de toda a graça: a reação divina diante da fragilidade humana (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 152.

 Idem, p. 152-153.

 Allen C. Myers, The Eerdmans Bible Dictionary (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1987), p. 61.

John B. Polhill, “Acts,” in Holman Concise Bible Commentary, ed. David S. Dockery (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1998), p. 514.

 H. D. M. Spence-Jones, ed., Acts of the Apostles, v. 2, The Pulpit Commentary (London; New York: Funk & Wagnalls Company, 1909), p. 1.

David S. Dockery, “The Pauline Letters,” in Holman Concise Bible Commentary, ed. David S. Dockery (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1998), p. 573.

Ronald Y. K. Fung, The Epistle to the Galatians (Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1953), p. 63-64.