Uma das tarefas mais difíceis de uma comunidade cristã é manter a unidade quando surgem diferenças de opinião em questões relativas à identidade e à missão da igreja. Essas diferenças podem levar a consequências devastadoras.
As comunidades cristãs de hoje não são diferentes das que vemos no Novo Testamento. Pessoas são pessoas, e as diferenças surgirão mesmo em questões importantes. Os primeiros cristãos enfrentaram alguns conflitos em decorrência de preconceitos interpessoais e de sérias diferenças de interpretação das histórias e práticas fundamentais do Antigo Testamento. Esses conflitos poderiam ter destruído a igreja logo em seu início, se não fosse pelos apóstolos e líderes zelosos que buscaram a orientação do Espírito Santo e das Escrituras para resolver essas tensões.
Há algumas semanas estudamos como a igreja primitiva experimentou sua unidade. Nesta semana, examinaremos como ela resolveu os conflitos internos que enfraqueciam sua unidade e ameaçavam sua sobrevivência. Quais foram esses conflitos? Como a igreja resolveu essas questões? E o que aprendemos com essas experiências?
1. Leia Atos 6:1. Que problema na igreja primitiva fez com que o povo reclamasse da distribuição de alimentos às viúvas? Assinale a alternativa correta:
A.( ) As viúvas helenistas estavam sendo esquecidas.
B.( ) Havia falta de alimento em Israel.
Alguns cristãos da igreja primitiva tinham preconceito contra as viúvas de tradição grega no meio deles e lhes forneciam menos alimentos do que às viúvas de tradição hebraica. Esse favoritismo percebido causou uma divergência na comunidade cristã primitiva. O texto não revela se o favoritismo era ou não real. Ele afirma apenas que algumas pessoas acreditavam que fosse. Esse conflito ameaçou a unidade da igreja logo no início. É impressionante como essa divisão étnica foi vista tão rapidamente na igreja!
2. Leia Atos 6:2-6. Que medida simples foi tomada pela igreja primitiva para resolver esse mal-entendido? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Os apóstolos pararam de pregar e passaram a servir às mesas.
B.( ) Os apóstolos escolheram sete homens para servir às mesas.
A igreja primitiva estava crescendo rapidamente, e esse crescimento trouxe encargos cada vez mais pesados aos apóstolos. A nomeação desses sete homens, tradicionalmente chamados de “diáconos” (embora o Novo Testamento não os chame assim), aliviou a tensão na igreja de Jerusalém e permitiu o envolvimento de mais pessoas no ministério da igreja.
Os apóstolos ouviram atentamente as queixas dos cristãos de fala grega e pediram-lhes uma solução. A seleção dos sete homens que se tornariam associados dos apóstolos foi deixada nas mãos desse grupo, e eles recomendaram sete discípulos, todos de origem grega. A Bíblia declara que esses homens eram “de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6:3). O ministério dos apóstolos, que até então tinha sido pregar a Palavra de Deus e distribuir alimento para as viúvas, foi dividido em dois grupos, cada um igualmente valioso à proclamação do evangelho. Lucas usou a mesma palavra, “ministério” ou “serviço” (diakonia), para se referir tanto ao ministério dos apóstolos na pregação da Palavra (At 6:4) quanto ao ministério dos diáconos na distribuição de alimentos (At 6:1).
A conversão dos gentios ao evangelho de Jesus Cristo, descrita no livro de Atos, preparou o cenário para o maior conflito na igreja primitiva, ameaçando sua existência e missão.
3. Leia Atos 10:1-23. Quais elementos indicam que o Espírito Santo estava atuando no coração de muitas pessoas, preparando o caminho para que os gentios recebessem o evangelho?
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A visão deve ter parecido muito grotesca para Pedro. Ele ficou chocado porque, sendo um judeu fiel, ele nunca havia comido alimentos impuros nem contaminados, conforme a exigência da lei (veja Lv 11; Ez 4:14; Dn 1:8). No entanto, essa visão não foi concedida para tratar de dieta, mas das barreiras entre judeus e gentios que estavam atrapalhando a propagação do evangelho. Essas barreiras eram pelo menos tão predominantes no mundo antigo como são hoje.
Nas primeiras décadas, o cristianismo era basicamente constituído por judeus que haviam aceitado Jesus como o Messias prometido das profecias do Antigo Testamento. Esses primeiros cristãos eram judeus fiéis que obedeciam a lei como haviam sido ensinados. Eles consideravam que o evangelho de Jesus Cristo havia mantido as prescrições do Antigo Testamento (veja Mt 5:17-20).
4. Leia Atos 10:28, 29, 34, 35. Como Pedro entendeu a visão que recebeu em Jope? O que o levou a essa interpretação? Complete as lacunas:
“Reconheço, por verdade, que Deus não faz _________ de pessoas; pelo contrário, em qualquer________, aquele que O _____ e faz o que é justo Lhe é _____” (At 10:34, 35).
Em Atos, vemos que o Espírito Santo preparou o caminho para que os gentios fossem recebidos na comunhão cristã. Eles poderiam fazer isso sem ter que passar pela circuncisão e primeiramente se tornar judeus. O que convenceu Pedro e seus amigos de que essa era a vontade de Deus foi o derramamento do Espírito Santo a Cornélio e à sua família de maneira semelhante ao que os discípulos de Jesus haviam experimentado no dia do Pentecostes (At 10:44-47). Se os gentios podiam receber o Espírito Santo da mesma forma que os judeus O haviam recebido, era evidente que ser circuncidado não era um pré-requisito para se tornar um crente em Jesus como o Messias. Essa conclusão preparou o cenário para um grande conflito teológico entre os primeiros cristãos.
Os relatos do que havia ocorrido com Cornélio em Cesareia logo chegaram aos líderes da comunidade cristã em Jerusalém, e eles pediram a Pedro que explicasse o que tinha acontecido. Eles ficaram ofendidos com o que Pedro havia feito, pois, de acordo com sua compreensão judaica da Lei de Moisés, os judeus fiéis não podiam comer com gentios (At 11:3).
5. Leia Atos 11:4-18. Como Pedro explicou a obra do Espírito Santo e Sua direção nesse evento? Qual foi o argumento principal que ele apresentou em seu relato?
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Embora alguns tivessem levantado questões sobre a legitimidade das ações de Pedro e sua decisão de batizar esses gentios, testemunhas suficientes (At 11:12) atestaram que o Espírito Santo realmente tinha Se manifestado da mesma forma que no Pentecostes. A orientação e direção do Espírito Santo nesse caso foi incontestável e o dom, reconhecido. “Ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At 11:18).
6. Leia Atos 11:19-24. O que aconteceu depois na vida da igreja primitiva?
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Talvez alguns em Jerusalém pensassem que o que tinha acontecido com Cornélio e sua família seria uma exceção, e que essa experiência não seria repetida. Mas não era esse o plano do Espírito Santo. Quando os discípulos de Jesus se dispersaram para além de Jerusalém e da Judeia por causa da perseguição que surgiu após a morte de Estêvão (At 8:1), e foram para Samaria, Fenícia, Chipre e Antioquia, mais e mais gentios aceitaram Jesus como seu Salvador. Foi isso que Jesus havia predito (At 1:8). Por mais maravilhosa que fosse essa afluência de gentios, se nos colocarmos no lugar desses judeus, não é difícil perceber que eles não estavam muito seguros quanto à maneira de reagir.
7. De acordo com Atos 15:1, 2 e Gálatas 2:11-14 duas questões causaram sérios conflitos na igreja primitiva. Quais foram elas? Assinale a alternativa correta:
A.( ) A imposição da circuncisão aos gentios e a separação entre judeus e gentios, como vimos no comportamento reprovável de Pedro.
B.( ) Adultério e embriaguez entre os membros da igreja.
A ameaça à unidade da igreja enfrentada pelos primeiros cristãos era real e difícil. Alguns cristãos judeus pensavam que a salvação só era possível aos que pertenciam ao povo da aliança de Deus, o que implicava a circuncisão como requisito. E, como parte de um estilo de vida fiel, esses cristãos judeus também acreditavam que deviam evitar qualquer contato com os gentios que pudesse impedir sua própria salvação.
Os judeus tinham tradições rigorosas em relação à sua associação com os gentios. Quando os apóstolos começaram a alcançar os gentios que desejavam seguir Jesus, essas tradições se tornaram um obstáculo à nova comunidade cristã. Visto que o Messias era o Salvador do povo da aliança, como previu o Antigo Testamento, os gentios não deveriam se tornar judeus antes de seguir as mesmas regras da aliança, se quisessem ser salvos?
8. Leia Atos 15:3-22. Quais foram algumas questões apresentadas durante o Concílio de Jerusalém?
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Nessa passagem, a questão estava fundamentada em conflitos sobre interpretações fortemente defendidas das histórias do Antigo Testamento sobre a circuncisão e a relação com os gentios. Quando se reuniram os apóstolos, anciãos e representantes de Antioquia, parece que o debate prosseguiu por um longo período sem nenhuma resolução.
Entretanto, Pedro, Barnabé e Paulo fizeram discursos. O discurso de Pedro fazia referência à visão que Deus lhe havia concedido e ao dom do Espírito Santo, que abriu o caminho para a missão aos gentios. Em seguida, Paulo e Barnabé compartilharam suas histórias sobre o que Deus tinha feito por meio deles pelos gentios. Como resultado, muitos abriram os olhos para a nova verdade. Pedro disse: “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles [os gentios] o foram” (At 15:11). Séculos de longa tradição estavam sendo esclarecidos à luz do evangelho.
Foi necessário certo nível de confiança por parte da igreja de Antioquia para enviar representantes a Jerusalém a fim de buscar a melhor solução para seu conflito. No entanto, depois de horas de debate entre os apóstolos e os anciãos, Tiago, o irmão de Jesus, que parecia ser o líder da assembleia, apresentou seu julgamento sobre o que deveria ser feito (At 15:13-20). Evidentemente o concílio decidiu que os gentios não precisavam se tornar judeus, obedecendo a todos os aspectos das leis cerimoniais, inclusive a circuncisão, para se tornar cristãos.
9. Leia Amós 9:11, 12 e Jeremias 12:14-16. O que esses profetas do Antigo Testamento predisseram em relação às nações vizinhas de Israel? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Elas seriam para sempre destruídas.
B.( ) Deus Se compadeceria delas e as ajuntaria ao Seu povo.
Embora Tiago tenha citado Amós 9, vemos alusões à salvação das nações em outros profetas do Antigo Testamento. A intenção de Deus era salvar todo o mundo mediante o testemunho e a experiência de Israel. Na verdade, o chamado de Deus a Abraão incluía uma bênção a todas as nações por meio dele e de seus descendentes (Gn 12:1-3). A direção do Espírito Santo, o ministério de Pedro, Barnabé e Paulo entre os gentios e a conversão de muitos gentios eram evidências que não podiam ser desprezadas. Esses testemunhos ajudaram os líderes da comunidade cristã em Jerusalém a perceber que muitas profecias do Antigo Testamento agora estavam sendo cumpridas. Na verdade, Deus já havia decretado leis que orientavam a presença dos gentios em Israel e as restrições que se aplicavam a eles (Lv 17–18). Tiago também se referiu a essas leis em sua decisão (At 15:29). Tornou-se óbvio para todos que Deus estava chamando os gentios para se juntarem ao Seu povo e receber a salvação em Jesus. O Espírito Santo lhes deu uma compreensão mais profunda das Escrituras e revelou-lhes verdades cruciais que eles não tinham visto antes.
A reação dos cristãos de Antioquia ao que foi decidido em Jerusalém encontra-se em Atos 15:30-35: eles “se alegraram pelo conforto recebido” (At 15:31).
Em Atos, vemos um exemplo poderoso de como a igreja primitiva, mediante a submissão à Palavra de Deus, juntamente com uma mentalidade de amor, unidade e confiança, evitou, sob a orientação do Espírito Santo, o que poderia ter sido uma enorme crise de unidade.
Leia, de Ellen G. White, “Um Perseguidor da Verdade”, p. 131-142, e “Judeus e Gentios”, p. 188-200, em Atos dos Apóstolos.
“O concílio que decidiu esse caso era composto pelos apóstolos e mestres que se haviam destacado no trabalho de fundar igrejas cristãs judaicas e gentílicas [...]. Estavam presentes anciãos de Jerusalém e de Antioquia, e as igrejas mais influentes estavam representadas. O concílio se conduziu de acordo com os ditames de iluminado juízo e com a dignidade de uma igreja estabelecida pela vontade divina. Como resultado de suas deliberações, todos eles viram que o próprio Deus tinha dado resposta à questão, concedendo aos gentios o Espírito Santo; e sentiram que era sua parte seguir a orientação do Espírito.
“Não foram convocados todos os crentes para votar sobre a questão. Os ‘apóstolos e anciãos’ (At 15:23), homens de influência e bom senso, redigiram e expediram a resolução, que foi logo aceita pelas igrejas cristãs. Entretanto, nem todos ficaram contentes com a decisão. Havia uma facção de irmãos ambiciosos e possuídos de presunção que a desaprovaram. Esses homens pretensiosamente tomaram a decisão de se empenhar na obra sob a própria responsabilidade. Entregaram-se a muita murmuração e crítica, propondo novos planos e procurando desfazer a obra dos homens a quem Deus ordenara que ensinassem a mensagem [...]. Desde o início a igreja teve tais obstáculos a enfrentar, e há de tê-los até a consumação do tempo” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 196, 197).
Pergunta para discussão
Na Lição desta semana, estudamos medidas para resolver conflitos. Elas podem ser aplicadas hoje? Embora a igreja estivesse lidando com uma questão teológica, como esses relatos nos ajudam quando questões culturais, políticas ou étnicas ameaçam a unidade da igreja?
Resumo: A igreja primitiva foi ameaçada por conflitos internos sobre uma série de questões que poderiam ter desencadeado um efeito devastador. Sob a orientação do Espírito Santo e em submissão à Palavra de Deus, a igreja conseguiu resolver esses conflitos e evitar divisões.
Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. F; V. 3. O relacionamento de Cornélio com Deus; a atuação do Espírito Santo para colocar Cornélio em contato com Pedro, quebrando o preconceito étnico. Quais são as barreiras enfrentadas em sua igreja? Como vocês podem vencê-las? 4. Acepção – nação – teme – aceitável. 5. Contou sobre a visão do lençol com animais imundos, o anjo que apareceu a Cornélio e o dom do Espírito concedido aos gentios. Estamos excluindo pessoas da nossa comunidade por razões contrárias à direção divina? 6. A perseguição espalhou a igreja, e o evangelho alcançou os confins da Terra, os judeus e os gentios. 7. A. 8. A circuncisão e a observância da lei de
Moisés como requisitos para a salvação dos gentios; o dom do Espírito concedido aos gentios; justificação pela fé. 9. B.
TEXTO-CHAVE: Atos 11:17
O ALUNO DEVERÁ
Saber: Explicar os princípios usados pela igreja primitiva para solucionar conflitos internos.
Sentir: Perceber que conflitos internos minam a unidade e o testemunho da igreja.
Fazer: Buscar a direção do Espírito Santo e das Escrituras quando surgirem conflitos.
ESBOÇO
I. Saber: Princípios para resolução de conflitos
A. Qual era o fundamento dos conflitos que a igreja primitiva enfrentava?
B. Que princípios de resolução de conflitos estão presentes em todos as questões observadas nesta lição? Existem princípios específicos para os exemplos individuais observados? Explique.
C. Que fatores contribuíram para o êxito dos apóstolos nas tentativas de solucionar conflitos?
II. Sentir: Protegendo o testemunho da igreja
A. Com frequência conflitos na igreja são ignorados por longos períodos de tempo. Qual é a importância de solucioná-los rapidamente, e por quê?
B. Que indícios é possível apontar em cada exemplo de conflito para demonstrar que a unidade e o testemunho da igreja estavam em risco?
III. Fazer: A direção do Espírito Santo
A. Como podemos estar seguros da direção do Espírito Santo ao tentarmos solucionar conflitos?
B. Como podemos evitar que nossas preferências nos desviem da direção para a qual o Espírito Santo está nos conduzindo?
RESUMO: Os conflitos teológicos e de relacionamento enfrentados pela igreja primitiva eram prontamente solucionados pelos seus líderes quando estes se submetiam aos ensinos dos apóstolos e reconheciam a direção do Espírito Santo.
CICLO DO APRENDIZADO
Motivação
Focalizando as Escrituras: Atos 15:1-22
Conceito-chave para o crescimento espiritual: Embora seja melhor evitar conflitos, nossa reação diante das controvérsias na igreja proporciona oportunidades para que reconheçamos a direção do Espírito Santo e cresçamos juntos.
Para o professor: Conflitos e divergências teológicas são uma característica constante na história da igreja cristã. Contudo, um exame da história sugere que é possível alcançar resultados positivos a partir de situações que podem causar divisão. Ao refletir sobre a história a seguir, ajude os alunos a reconhecer que ocorreu um crescimento quando a desarmonia fez com que a igreja se voltasse ao estudo das Escrituras em busca de soluções.
Discussão inicial: Marcião foi um cristão do segundo século que desenvolveu crenças sobre Deus que o colocaram em conflito direto com a igreja. Ele separou Jesus e Seu Pai do Deus do Antigo Testamento, em parte porque não era capaz de conciliar um Deus de justiça com um Deus de amor. Também negava que Cristo era de fato humano, e afirmava que Ele não sofreu na cruz. Utilizou suas crenças sobre Deus como base para sua doutrina e compilou escritos que considerava inspirados e úteis para o cristão. Ele não considerava as Escrituras hebraicas úteis para o cristão, e compôs seu cânon a partir de epístolas selecionadas de Paulo e de uma versão do evangelho de Lucas. Em resposta à teologia de Marcião, os eruditos da igreja usaram as Escrituras hebraicas e os escritos dos apóstolos para esclarecer o caráter e a natureza divinos, mostrando que Deus podia ser tanto justiça quanto amor. A teologia de Marcião também ajudou a igreja a reconhecer que os cristãos ainda precisavam das Escrituras hebraicas e, além disso, precisavam identificar quais escritos cristãos foram inspirados e, portanto, deviam ser considerados palavra divina.
Perguntas para discussão
A história de Marcião mostra que conflitos e até mesmo heresias podem criar oportunidades para a igreja estudar e esclarecer suas crenças. De que forma a Igreja Adventista do Sétimo Dia cresceu a partir de controvérsias teológicas e conflitos? Você consegue pensar em conflitos dos quais a igreja parece não ter encontrado uma saída para o crescimento? Por que alguns acontecimentos levaram ao crescimento, ao passo que outros só devastaram a igreja?
Compreensão
Para o professor: Ao analisar as histórias dos conflitos em Atos, ajude a classe a entender por que os apóstolos tiveram êxito na resolução dessas controvérsias. Ressalte a função do Espírito Santo e como podemos deixar de lado nossas próprias inclinações.
COMENTÁRIO BÍBLICO
I. Buscando uma solução
(Recapitule com a classe At 6:1-6; 11:1-18; 15:1-22.)
Pode parecer surpreendente que tenham surgido conflitos logo após o estabelecimento da igreja cristã, mas a realidade é que onde há pessoas, existe a possibilidade de conflitos. Os problemas na igreja primitiva incluíam tanto dilemas teológicos quanto questões de relacionamento devido às diferentes origens e culturas daqueles que aceitavam a Cristo. Os apóstolos não ignoraram os conflitos que surgiram em seu meio, mas buscaram solucioná-los a fim de que nada atrapalhasse a missão da igreja. Podemos observar vários princípios importantes no modo como eles lidavam com os conflitos.
a. Admitiam os problemas abertamente. Com frequência, ignoram-se os conflitos na esperança de que assim desapareçam sozinhos, porém, eles precisam ser admitidos e trabalhados imediatamente.
b. Uma ou mais pessoas eram indicadas para buscar uma solução para o problema. Os escolhidos eram pessoas bem conhecidas e dignas de confiança.
c. Todos os envolvidos no conflito eram ouvidos.
d. As Escrituras eram consultadas. Por exemplo, no concílio de Jerusalém os líderes consideraram tanto a lei de Moisés, que falava sobre a circuncisão, como também os profetas, que prediziam que haveria crentes gentios.
e. Apresentavam-se e buscavam-se evidências da direção divina.
f. Finalmente, a decisão era comunicada, juntamente com as razões para ela. Quando isso não podia ser feito diretamente pelos líderes que tinham tomado a decisão, enviava-se uma mensagem por meio de alguém digno de confiança.
Por meio desse processo, evitavam-se grandes divisões e havia transparência e definição de responsabilidades.
Pense nisto: É possível utilizar todos esses princípios na igreja do século 21? Explique. Qual dos princípios acima causa mais dificuldades nas tentativas de solucionar conflitos? Por que você acredita que o princípio apontado é problemático?
II. Seguindo a direção do Espírito Santo
(Recapitule com a classe At 11:12-17.)
O Espírito Santo aparece de forma notável na história de Pedro e Cornélio e no concílio de Jerusalém. Pedro tinha plena certeza de que Deus havia preparado o caminho para seu encontro com Cornélio. Ele declarou: “Então, o Espírito me disse que eu fosse com eles, sem hesitar” (At 11:12). Depois que o Espírito Santo foi derramado sobre os gentios de forma visível, Pedro concluiu: “Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (At 11:17). Embora a manifestação visível do Espírito Santo tenha sido uma evidência incontestável da direção divina, Pedro já havia notado que Deus o estava dirigindo a Cornélio. De forma semelhante, no concílio de Jerusalém, Tiago notou a mão divina intervindo para mostrar que o Senhor aprovava os crentes gentios. Os apóstolos estavam convencidos de que o Espírito Santo os estava guiando, assim como Jesus havia prometido antes de Sua morte (Jo 16:13, 14).
Pense nisto: Como Pedro sabia que o Espírito Santo o estava guiando mesmo antes da Sua manifestação visível? Os apóstolos seguiram a direção do Espírito sem hesitar. Qual é a sua reação quando crê que Deus o está guiando para fazer algo?
III. Mudando percepções
(Recapitule com a classe At 11:18; 15:1, 2, 13-20.)
Seguir a direção do Espírito nem sempre é fácil, pois corremos o risco de ter que abandonar nossas estimadas percepções, admitir que estamos errados, e ajustar nossa vida aos planos de Deus. Esse ajuste é particularmente difícil numa situação conflituosa, pois temos a necessidade de evitar constrangimento. Em Atos, os crentes judeus tiveram que abrir mão de crenças firmemente consolidadas sobre a circuncisão e os gentios que atingiam o âmago de sua identidade. Houve oposição, como previsto, porém Lucas também registrou que quando os crentes ouviram como o Espírito Santo havia sido derramado sobre os gentios, perceberam que de fato Deus estava dirigindo (At 11:18). A forma visível como Deus havia aceitado os gentios ajudou a facilitar a transição das práticas da igreja.
Pense nisto: Por que o grupo que viajava para Jerusalém em Atos 15 tirou tempo para contar a história da conversão dos gentios às pessoas da Fenícia e Samaria? Por que Pedro se demorou no tema da escolha divina dos gentios? Existiram outros fatores, além da natureza visível da presença do Espírito Santo, que ajudaram a igreja primitiva a aceitar o fato de que os crentes não precisavam se tornar judeus para se tornarem cristãos?
Aplicação
Para o professor: Embora a lição tenha recapitulado conflitos da igreja em vez de conflitos pessoais, os membros são inevitavelmente impactados pelos problemas da igreja em geral. Esta seção se concentra em como os membros reagem de forma individual quando estão rodeados por conflitos. Encoraje os membros a examinar pessoalmente suas inclinações culturais e a buscar a vontade divina quando surgirem desentendimentos.
Perguntas para reflexão
1. Qual é a sua reação quando surgem conflitos ao seu redor? Você se intromete, ou faz o possível para evitar desentendimentos? Qual deve ser a sua reação quando surgirem discórdias na igreja?
2. Como podemos identificar a vontade de Deus em meio à discórdia?
3. A maneira pela qual os primeiros cristãos entendiam sua herança judaica foi um entrave para a compreensão de que os gentios podiam fazer parte da igreja. Como nossa cultura pode ser um obstáculo para o reconhecimento da direção divina, e como ela pode influenciar nossa interpretação da Palavra de Deus? Peça ajuda a Deus para identificar algumas de suas inclinações que podem servir de obstáculo para a correta interpretação das Escrituras.
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: A seção das atividades contém opções para comunicar as ideias-chave da lição ou para ir mais fundo em um estudo de caso na história adventista. Cada atividade foi planejada para reforçar a importância de se reconhecer a direção divina na igreja.
Atividades
1. Elabore uma palestra ou apresentação visual para os jovens de sua igreja que resuma como um cristão pode identificar a direção divina na sua vida na igreja.
2. Peça que a classe apresente uma peça improvisada na qual você demonstre saber como a igreja primitiva solucionava conflitos.
3. Analise o conselho de Ellen G. White aos participantes da Assembleia da Associação Geral de 1888 que se envolveram num conflito emocional sobre a lei em Gálatas. Um bom ponto de partida é o Manuscrito 15, que pode ser encontrado nas páginas 163-175 do The Ellen G. White 1888 Materials [Materiais de Ellen G. White sobre 1888]. Busque os princípios que ela esboçou para que eles avançassem e compare-os com os padrões usados pelos apóstolos.
Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?
Médicos evangelistas
Esta é uma atualização sobre o Hospital Adventista Manado, que recebeu parte da oferta trimestral em 2012.
Todos os anos, Jay separa algumas semanas em sua lotada agenda como médico e presidente do hospital indonésio para liderar uma campanha evangelística, e também incentiva a equipe do hospital a fazer o mesmo. O doutor Jay descobriu que o evangelismo público o mantém e a seus colegas unidos na missão de tratar os pacientes e prepará-los para a vinda de Jesus. “O evangelismo é meu desjejum e meu almoço”, disse o doutor Jay, numa entrevista em seu escritório no Hospital Adventista Manado, uma instituição com 150 leitos na ilha de Sulawesi.
A campanha evangelística de 2017, organizada em parceria com a Associação local, resultou em 69 batismos. Outras 53 pessoas haviam sido batizadas em 2016. Nessas duas campanhas, somente os médicos pregavam. Mas, em 2018, houve mudanças no projeto. Em vez de uma, passaram a ser realizadas três campanhas: uma liderada por médicos, outra liderada por enfermeiras e uma terceira liderada por administradores do hospital.
“Precisamos de união antes de tratar o mundo exterior, e nos unimos em nossa visão quando participamos do evangelismo público”, diz o doutor Jay. Essa foi a experiência dele como diretor do Hospital Adventista de Bandung na ilha indonésia de Java Oeste. Em cinco anos, quatro mil pessoas foram batizadas, como resultado das reuniões evangelísticas desse hospital. A Igreja Adventista administra quatro hospitais na Indonésia; os outros dois são o Hospital Adventista Bandar Lampung e o Hospital Adventista Medan, ambos na ilha de Sumatra.
O Hospital Adventista de Manado tinha 50 leitos quando começou a funcionar na antiga sede da União, em dezembro de 2007. Com a ajuda da oferta do trimestre, arrecadada em 2012, o hospital expandiu para 150 leitos em 2013. De acordo com o doutor Jay, o hospital enfrenta uma grave falta de especialistas qualificados em tempo integral, particularmente médicos. Tem 384 membros da equipe, 90% dos quais são adventistas e cuidam de 700 mil pacientes por ano.
Antes de chegar ao Hospital Manado, em 2015, ele não esperava trabalhar para o sistema de saúde adventista. Como médico ginecologista/obstetra, havia trabalhado por sete anos para o governo, até enfrentar o conflito sobre a guarda do sábado. Então, deixou o emprego e logo foi contratado para trabalhar no Hospital Adventista de Bandung, onde fez do evangelismo público o principal meio de chamar atenção da sociedade para a instituição.
O doutor Jay elogia o evangelismo público como forma de não apenas compartilhar o evangelho, mas também fortalecer a fé dos funcionários do hospital. Os membros da equipe pregam ou participam de atendimento médico gratuito, e seminários de saúde oferecidos simultaneamente com as reuniões evangelísticas.
“Quando saímos e fortalecemos os outros, somos os maiores beneficiados”, ele diz. O Hospital de Manado tem quatro capelães e supervisionam um programa espiritual dinâmico, incluindo duas semanas de oração todos os anos, uma programação de dez dias especiais de oração e culto diário em todos os departamentos. Nove pacientes foram batizados em 2016 e outros dois foram batizados em 2017. “Mateus 28:19-20 é nossa prioridade”, Doutor Jay disse, mencionando a ordem do Mestre Jesus: “Vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que Eu lhes ordenei.”
“Reconhecemos que Jesus em breve voltará”, disse o doutor Jay. “Sim, Jesus em breve virá!” Agradecemos muito pelas ofertas missionárias.
Dicas
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2018
Tema Geral: Unidade em Cristo
“Quando surgem os conflitos”
Lição 7: 10 a 16 de novembro
Autor: Fernando Beier
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega
Sábado
Fico impressionado com a quantidade de pessoas que me procuram com a ideia de que, na igreja, todos devam concordar com tudo. Nessas ocasiões, a mesma pergunta sempre me ocorre: Como seria isso possível?
A igreja é um local em que se reúnem pessoas com a mesma fé e esperança, mas com temperamentos diferentes e bagagens culturais distintas. Dependendo do problema, a mesma questão pode encontrar muitas interpretações, e isso dentro de um grupo que nem precisa ser muito numeroso. Não se trata, portanto, de concluir que a igreja seja o grande problema. Onde quer que seres humanos estejam agrupados, haverá divergências e demandas.
Espera-se que o cristão maduro reconheça sua natureza errante, e contribua para que o bom senso e a Palavra de Deus direcionem os conflitos na igreja.
Domingo, 11 de novembro
O preconceito é uma escolha humana, um problema da alma. Todos os grupos, em todos os lugares e contextos, enfrentam esse problema. A igreja cristã também teve que lidar com esse desafio muitas vezes. Martin Luther King fez uma afirmação contundente: “Há pouca esperança para nós até que sejamos determinados o bastante para nos desvencilharmos dos grilhões dos preconceitos, das meias-verdades e da completa ignorância.”
A igreja precisa se lembrar constantemente de que Jesus veio quebrar a barreira étnica ou racial que viceja entre os homens. Veio para colocar todos debaixo da mesma salvação, pois todos necessitam dela, ao mesmo tempo em que todos são indignos dela. Diante de Deus, somos filhos que se afastaram da casa do Pai, e que depois de serem libertos, tornam-se irmãos no corpo de Cristo. Cada vez que chamamos alguém na igreja de “irmão” ou “irmã”, deveríamos lembrar quem somos.
Segunda-feira, 12 de novembro
Para quebrar o preconceito de um dos principais líderes da igreja primitiva, Deus teve que impressionar sua mente com um sonho bizarro. O apóstolo Pedro descobriria depois que aquela visão revelava o plano de Deus para a salvação dos gentios, e que se alguém é “imundo”, pode ser purificado pela fé em Jesus Cristo.
A arma mais eficaz contra o preconceito que está dentro de mim é meu desejo de não ser vítima do preconceito de outros. Quando julgo que alguém, seja quem for, não é digno diante de Deus, ou que não mereça a consideração divina, deixo-me escorregar para o buraco da desunião, onde existe a clara acepção de indivíduos.
O relato da visão de Pedro ainda deve falar com força aos crentes modernos. A etnia, a cor, a cultura – nada disso torna alguém indigno da graça redentiva de Cristo. Por natureza, todos somos “filhos da ira”, mas em Jesus somos resgatados para a posição de “sacerdócio santo”.
Terça-feira, 13 de novembro
A igreja é composta de seres humanos que possuem falhas e limitações. Isso significa que todos nós estamos, mais ou menos, na mesma situação. Jesus é o bálsamo para nossas feridas. Antes de esperar que a igreja realize algo por mim, tenho que ir a Cristo do jeito que me encontro e reconhecer diante Dele minha necessidade e meu desamparo. De forma enfática, Thomas Merton explica a questão: “Esse encontro com Cristo jamais é sincero se não for mais que uma fuga para fora de nós. Muito ao contrário, ele não pode ser uma evasão. Deve ser uma consumação. Não posso descobrir Deus em mim nem a mim em Deus, se não tenho a coragem de enfrentar-me exatamente como sou, com todas as minhas limitações, e de aceitar os outros como são, com todas as suas limitações. A solução religiosa não será religiosa se não for plenamente real”.
Necessitamos da direção do Espírito Santo em todo tempo, para que a igreja reflita o ambiente da graça que encontramos em Jesus. Mais importante do que saber quem estará comigo na igreja é decidir a quem levaremos a mensagem do Salvador.
Quarta-feira, 14 de novembro
Uma senhora me disse que, em meio a uma crise espiritual, foi diversas vezes à igreja para encontrar conforto e ânimo. Mas cada vez que contava seus problemas para alguém, ouvia frases do tipo:
“Você precisa ter mais fé!”
“Considere a possibilidade de Deus estar irado por algum pecado que você cometeu.”
“Talvez você precise ser exorcizada!”
Ela logo notou que todos apresentavam uma versão para o problema, mas ninguém de fato a ajudou, visitando-a e orando com ela. Por fim, a mulher se afastou da igreja e nunca mais voltou.
Infelizmente, o drama daquela senhora não é um caso isolado. Quantas vezes defendemos firmemente nossas opiniões pessoais, esquecendo de consultar a revelação da Palavra de Deus? É sempre bom lembrar que, antes de oferecer “sugestões” doutrinárias ou teológicas, deveríamos primeiramente permitir que a verdade bíblica faça o trabalho de transformação em nosso coração.
Quinta-feira, 15 de novembro
Volta e meia penso no tempo em que eu era apenas um espectador na igreja. Minhas opiniões, reivindicações e críticas acerca da igreja ainda estão frescas em minha memória. Para mim, muitas vezes, tudo tinha que funcionar da maneira que eu achava ser a correta, até o dia em que passei a liderar a igreja. Então, tudo mudou. Como disse alguém, deixei de ser pedra para me tornar vidraça.
Hoje, como líder da igreja, as reclamações e críticas que ouço me fazem relembrar meu tempo de espectador. Algumas são pertinentes, principalmente quando percebo que o problema é real e precisa ser resolvido. Percebo como é bom ouvir apenas o que nos é agradável. Mas, isso é possível todo o tempo? É claro que não!
Quando sou confrontado com uma dessas reclamações, procuro imediatamente a fonte de tal descontentamento. Vejo-me então com o desafio de ajudar a curar uma mágoa que, embora a igreja possa ser culpada de causá-la, não será superada sem que a própria igreja ministre o remédio em nome de Jesus. Eis a oportunidade que não podemos deixar passar.
Sexta-feira, 16 de novembro
Quando pensamos nos desafios e crises enfrentados pela igreja primitiva, fica evidente que as dificuldades envolvem mais a nós – como seres errantes – do que a igreja como instituição divina. Convém lembrar que:
• A igreja é um corpo e nela todos são importantes, mesmo quando seus componentes são pessoas com educação e cultura diversificada.
• O ser humano tende a ceder à tentação do preconceito, mas a igreja deve vacinar seus membros contra esse erro através da constante busca da graça de Cristo.
• Sempre haverá divergências dentro de qualquer agrupamento em que pessoas estejam envolvidas. Mas diferenças não precisam terminar em separações. O que une os cristãos é o evangelho de Jesus.
A identidade da igreja cristã não deve estar fundamentada no que temos de diferente, mas no que nos torna iguais perante Deus – o perdão e a liberdade que nos unem, oferecidas a nós por Jesus mediante Seu sacrifício no Calvário.
Conheça o autor dos comentários deste trimestre: Fernando Beier é Mestre em Teologia, escritor e conferencista. Autor dos livros Crise Espiritual e Experimente um Recomeço, ambos da CPB. É pastor na Associação Paulista Sudoeste.