Poucos capítulos da Bíblia têm criado mais polêmica do que Romanos 7. No que diz respeito às questões envolvidas, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo diz: “O significado [de Romanos 7:14-25] tem sido um dos problemas mais discutidos em toda a epístola. As principais questões se concentram em definir se a descrição dessa intensa luta moral seria autobiográfica e, em caso afirmativo, se a passagem se refere à experiência de Paulo antes ou depois de sua conversão. A partir do mais simples significado de suas palavras, parece evidente que Paulo fala de sua luta com o pecado (compare Rm 7:7-11; Caminho a Cristo, p. 19; Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 475). Também é verdade que ele descreve um conflito experimentado por toda pessoa que se confronta com as reivindicações espirituais da santa lei de Deus e é despertada por elas” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 608).
Os estudiosos da Bíblia diferem ao definir se Romanos 7 retrata a experiência de Paulo antes ou após sua conversão. Seja qual for a posição tomada, o importante é que a justiça de Jesus nos cobre e nela permanecemos perfeitos perante Deus, que promete nos santificar, dar-nos vitória sobre o pecado e nos moldar “à imagem de Seu Filho” (Rm 8:29). Esses são os pontos cruciais para conhecermos e vivenciarmos enquanto buscamos espalhar “o evangelho eterno” a “cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:6).
1. Leia Romanos 7:1-6. Qual ilustração Paulo usou para mostrar aos seus leitores a relação deles com a lei? O que ele defendeu com essa ilustração? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) A lei conjugal. A lei moral não tem mais validade hoje.
B.( ) A lei cerimonial. Ainda estamos sujeitos à lei cerimonial.
A ilustração de Paulo em Romanos 7:1-6 é um pouco complexa, mas uma análise cuidadosa da passagem nos ajudará a seguir seu raciocínio.
No contexto geral da carta, Paulo estava tratando do sistema de culto estabelecido no Sinai; foi isso que ele quis dizer muitas vezes com a palavra lei. Os judeus tiveram dificuldade em compreender que esse sistema, dado a eles por Deus, devia terminar com a vinda do Messias. Paulo estava lidando com cristãos judeus que ainda não estavam prontos para abandonar o que tinha sido uma parte tão importante de sua vida.
Em essência, a ilustração de Paulo é a seguinte: uma mulher é casada com um homem. A lei a liga ao marido enquanto ele viver. Durante sua vida, ela não pode ter relações com outros homens. Mas quando ele morre, ela fica livre da lei que a ligou ao marido (Rm 7:3).
2. De acordo com Romanos 7:4, 5, como Paulo aplicou a ilustração da lei do casamento ao sistema do judaísmo?
Assim como a morte do marido livra a mulher da lei de seu marido, também a morte da velha vida na carne, por meio de Jesus Cristo, libertou os judeus da lei que eles deviam guardar até que o Messias cumprisse seus tipos.
Os judeus então estavam livres para “se casar novamente”. Eles foram convidados a se “casar” com o Messias ressuscitado e, assim, dar frutos para Deus. Essa ilustração foi mais um instrumento usado por Paulo para convencer os judeus de que eles agora estavam livres para abandonar o antigo sistema.
Novamente, considerando todas as outras coisas que Paulo e a Bíblia declaram sobre a obediência aos Dez Mandamentos, não faz sentido afirmar aqui que Paulo estava dizendo a esses cristãos judeus que os Dez Mandamentos não eram mais obrigatórios. Aqueles que usam esses versos para tentar defender esse argumento – de que a lei moral foi abolida – não desejam na verdade defender isso; o que eles realmente querem dizer é que só o sábado foi extinto, não o restante da lei. Interpretar que Romanos 7:4, 5 ensina que o quarto mandamento foi abolido, rejeitado ou substituído pelo domingo é dar-lhe um significado jamais concebido pelo apóstolo.
Se Paulo estava falando sobre todo o sistema legal do Sinai, o que dizer de Romanos 7:7, no qual ele mencionou especificamente um dos Dez Mandamentos? Isso não refuta a posição tomada ontem, de que Paulo não estava falando sobre a abolição dos Dez Mandamentos?
A resposta é não. Devemos ter em mente, novamente, que a palavra lei para Paulo significava todo o sistema introduzido no Sinai, que incluía a lei moral, mas não se limitava a ela. Portanto, a fim de defender seu argumento, Paulo poderia citá-la, assim como qualquer outra seção de todo sistema judaico. No entanto, quando o sistema expirou com a morte de Cristo, isso não incluiu a lei moral, que já existia mesmo antes do Sinai e continua existindo depois do Calvário.
3. Leia Romanos 7:8-11. O que Paulo disse sobre a relação entre a lei e o pecado? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Sem lei, não há pecado, pois a lei mostra o pecado.
B.( ) O pecado e a lei não possuem nenhuma relação.
Deus Se revelou aos judeus, mostrando-lhes detalhadamente o que era certo e errado em questões morais, civis, cerimoniais e de saúde. Ele também explicou as penalidades para a violação das várias leis. A transgressão da vontade revelada de Deus é definida como pecado.
Portanto, conforme explicou Paulo, ele não saberia que cobiçar é pecado se a “lei” não o tivesse informado desse fato. O pecado é a violação da vontade revelada de Deus e quando Sua vontade é desconhecida, não há nenhuma consciência do pecado. Mas quando essa vontade revelada é anunciada a uma pessoa, ela passa a reconhecer que é pecadora e está sob condenação e morte. Nesse sentido, a pessoa morre.
Nessa linha de argumentação e ao longo dessa seção, Paulo estava tentando construir uma ponte para levar os judeus, que reverenciavam a “lei”, a ver Cristo como seu cumprimento. Ele estava mostrando que a lei era necessária, mas que sua função era limitada. O propósito da lei era revelar a necessidade de salvação; ela nunca foi planejada para ser o meio de obter essa salvação.
“O apóstolo Paulo […] apresenta uma importante verdade a respeito da obra a ser efetuada na conversão. Ele diz: ‘Outrora, sem a lei, eu vivia’ (ele não sentia nenhuma condenação); ‘mas, sobrevindo o preceito’ (quando a lei de Deus exortou a sua consciência), ‘reviveu o pecado, e eu morri’. Então ele se viu como pecador, condenado pela lei divina. Observem que foi Paulo, e não a lei, quem morreu” (Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1197, 1198).
4. Leia Romanos 7:12. Como entendemos esse verso no contexto do que Paulo estava discutindo? Assinale a alternativa correta:
A.( ) A lei é santa, justa e boa, pois revela o caráter de Deus e nossa necessidade de Jesus.
B.( ) A lei é transitória. No Céu não haverá lei.
Visto que os judeus reverenciavam a lei, Paulo a exaltou de todas as maneiras possíveis. A lei é boa pelo que ela faz, mas não pode realizar aquilo que nunca foi seu propósito: salvar-nos do pecado. Para isso precisamos de Jesus, pois a lei (seja todo o sistema judaico ou a lei moral em particular) não pode trazer salvação. Somente Cristo e Sua justiça, que recebemos pela fé, podem salvar.
5. Leia Romanos 7:13. O que Paulo culpou por sua condição de “morte” e o que ele isentou? Essa distinção é importante? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) A lei foi culpada e o pecado foi isento.
B.( ) O pecado foi culpado e a lei foi isenta.
Em Romanos 7:13, Paulo apresentou a “lei” no melhor sentido possível. Ele culpou o pecado, não a lei, por sua condição pecaminosa; isto é, o pecado desperta “toda sorte de concupiscência [desejo, cobiça]” (Rm 7:8). A lei é boa, pois é o padrão divino de conduta. Porém, Paulo estava condenado diante dela.
6. De acordo com Romanos 7:14, 15, por que o pecado teve tanto êxito em mostrar que Paulo era um terrível pecador?
Carnal significa “relacionado à carne”. Portanto, Paulo precisava de Jesus Cristo. Somente Ele poderia livrá-lo da condenação (Rm 8:1) e da escravidão do pecado.
Paulo se descreveu como “vendido à escravidão do pecado”. Não conseguia fazer o que gostaria de fazer.
Por meio dessa ilustração, Paulo estava tentando mostrar aos judeus a necessidade que tinham do Messias. Ele já havia indicado que a vitória só era possível debaixo da graça (Rm 6:14). Esse pensamento é ressaltado em Romanos 7. Viver sob a “lei” significa ser escravo do pecado, um mestre impiedoso.
7. “Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:16, 17). Qual luta é apresentada nesse texto?
Usando a lei como um espelho, o Espírito Santo convence a pessoa de que ela está desagradando a Deus por não cumprir os requisitos da lei. Mediante os esforços para satisfazer essas exigências, o pecador mostra que aceita o fato de que a lei é boa.
8. Quais argumentos Paulo repetiu a fim de enfatizá-los? Rm 7:18-20
Para impressionar alguém quanto à sua necessidade de Cristo, o Espírito Santo muitas vezes o conduz através de um tipo de experiência da “antiga aliança”. Ellen G. White descreveu a experiência de Israel: “O povo não compreendia a pecaminosidade de seus corações, e que sem Cristo lhes era impossível guardar a lei de Deus; e prontamente entraram em aliança com Deus. Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria justiça, declararam: ‘Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos’ (Êx 24:7) […]. Apenas algumas semanas se passaram antes que violassem sua aliança com Deus e se curvassem para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o favor de Deus mediante uma aliança que tinham quebrado; e agora, vendo sua índole pecaminosa e a necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do Salvador revelado na aliança abraâmica” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 371, 372).
Infelizmente, por não renovarem sua devoção a Cristo diariamente, muitos cristãos estão, de fato, servindo ao pecado, por mais que detestem admiti-lo. Eles racionalizam e argumentam que, na realidade, estão passando pela experiência normal da santificação e que simplesmente ainda têm um longo caminho a percorrer. Assim, em vez de levarem a Cristo pecados conhecidos e pedir a vitória sobre eles, essas pessoas se escondem atrás de Romanos 7, que lhes diz, pensam elas, que é impossível fazer o que é certo. Na verdade, esse capítulo revela que é impossível fazer o certo quando uma pessoa é escrava do pecado, mas a vitória é possível em Jesus Cristo.
9. Leia Romanos 7:21-23. Você tem experimentado essa mesma luta em sua vida?
Nessa passagem, Paulo equiparou a lei em seus membros (seu corpo) à lei do pecado. Ele disse que serviu, “segundo a carne”, à “lei do pecado” (Rm 7:25). Porém, servir ao pecado e obedecer à sua lei significa morte (veja Rm 7:10, 11, 13). Portanto, enquanto seu corpo funcionava em obediência ao pecado, ele podia ser descrito adequadamente como “o corpo desta morte”.
A lei da mente é a lei de Deus, a revelação da Sua vontade. Sob a convicção do Espírito Santo, Paulo consentiu com essa lei. Sua mente decidiu guardá-la, mas quando ele tentou fazer isso, não conseguiu porque seu corpo desejava pecar. Quem já não sentiu essa mesma luta? Em sua mente, você sabe o que deseja fazer, mas seu corpo clama por algo diferente.
10. De acordo com Romanos 7:24, 25, como podemos ser resgatados dessa situação difícil em que nos encontramos? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Mediante nossas boas obras.
B.( ) Por meio de Jesus Cristo.
Alguns têm se perguntado por que, depois de alcançar o glorioso clímax na expressão “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor”, Paulo se referiu mais uma vez às lutas espirituais das quais, aparentemente, ele tinha sido libertado. Alguns entendem a expressão de ação de graças como uma exclamação entre parêntesis. Eles acreditam que essa exclamação segue naturalmente o clamor: “Quem me livrará”? Sustentam que, antes de prosseguir com uma discussão prolongada sobre a gloriosa libertação (Rm 8), Paulo resumiu o que ele havia dito nos versículos anteriores e reconheceu, mais uma vez, o conflito contra as forças do pecado.
Outros têm sugerido que, com a expressão “eu, de mim mesmo” Paulo quis dizer “entregue a mim mesmo, deixando Cristo fora da questão”. Seja qual for o entendimento de Romanos 7:24, 25, um ponto deve permanecer claro: sozinhos, sem Cristo, somos impotentes contra o pecado. Com Cristo, temos nova vida nEle, e embora o eu sempre apareça, as promessas de vitória são nossas se escolhermos reivindicá-las. Assim como ninguém pode respirar, tossir ou espirrar por você, ninguém pode escolher se render a Cristo por você. Só você pode fazer essa escolha. Não há outra maneira de obter as vitórias prometidas a nós em Jesus.
“Não há segurança nem repouso nem justificação na transgressão da lei. O homem não pode esperar colocar-se inocente diante de Deus e em paz com Ele, mediante os méritos de Cristo, se ao mesmo tempo continua em pecado” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 213).
“Paulo desejava que seus irmãos vissem que a grande glória de um Salvador que perdoa o pecado era o que dava significado a todo o sistema judaico. Desejava que vissem também que, quando Cristo veio ao mundo e morreu como sacrifício pelo homem, o tipo encontrou o antítipo.
“Depois que Cristo morreu na cruz como oferta pelo pecado, a lei cerimonial não podia mais ter vigência. Todavia, achava-se ligada à lei moral e era gloriosa. O todo trazia o sinete da divindade, e exprimia a santidade, justiça e retidão de Deus. E se era glorioso o ministério da dispensação que devia terminar, quanto mais não deveria ser gloriosa a realidade, quando Cristo fosse revelado, concedendo a todos os que criam Seu Espírito vitalizante e santificador?” (Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1220).
Pergunta para discussão
1. “Romanos 7:25 […] é a passagem mais clara de todas, e dela aprendemos que um mesmo homem (crente) serve, ao mesmo tempo, à lei de Deus e à lei do pecado. Ele é, ‘ao mesmo tempo, justificado e ainda continua sendo pecador’ (em latim, simul iustus et peccat); pois não diz: ‘Minha mente é escrava da lei de Deus’; nem diz: ‘Minha carne é escrava da lei do pecado’; mas sim: “Eu, de mim mesmo’. Ou seja, o homem completo, uma única e a mesma pessoa, está nessa escravidão dupla. […] Ele agradece a Deus por ser escravo da Sua lei e pede misericórdia por servir à lei do pecado. Mas ninguém pode dizer que uma pessoa carnal (não convertida) é escrava da lei de Deus. O apóstolo quis dizer: Veja, é exatamente como eu disse antes: os santos (crentes) são, ao mesmo tempo, pecadores e justos. […]. Eles são como doentes tratados por um médico. Esperam melhorar e estão começando a se recuperar. Estão prestes a reaver a saúde. Esses pacientes sofreriam o maior prejuízo se afirmassem arrogantemente que estão bem, pois sofreriam uma recaída pior (do que sua doença inicial)” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 114, 115). Você concorda com o que Lutero escreveu? Comente com a classe.
Respostas e atividades da semana: 1. F; F. 2. Divida a classe em duplas. Peça aos alunos que estudem o texto e, juntos, formulem a melhor resposta. No final da atividade, pergunte se alguma dupla gostaria de compartilhar sua resposta. 3. A. 4. A. 5. F; V. 6. Escolha um aluno para responder a essa questão. Peça que compartilhe sua resposta com a classe. 7. Incentive os alunos a tomar nota de suas lutas. Solicite que eles levem as lutas descritas nas anotações a Deus em oração. 8. Enumere os argumentos de Paulo em uma folha de papel. Pergunte aos alunos quais desses argumentos eles consideram difíceis de entender. Como eles podem simplificá-los? 9. Resposta pessoal. 10. B.
TEXTO-CHAVE: Romanos 7:4-6
O ALUNO DEVERÁ
Saber: Que Paulo nos convida a deixar a velha identidade, descrita pelos termos lei–pecado–morte, e assumirmos a nova identidade de pessoas unidas a Cristo.
Sentir: Celebrar a realidade da nossa união matrimonial com Cristo e o conhecimento de que o Espírito será plenamente ativo nessa união.
Fazer: Dar frutos para Deus de um modo que jamais foi possível fora da união com Cristo.
ESBOÇO
I. Saber: Jesus não aceita que fiquemos divididos entre Ele e a lei
A. Se a lei é santa, justa, boa e espiritual, por que Paulo continua incentivando seus leitores a se identificarem mais uma vez com Cristo e não com a lei?
B. Por que não podemos estar casados com os dois: Cristo e a lei? O que Paulo temia, caso tentássemos viver entre os dois?
II. Sentir: morte e novo casamento
A. O que significa “morrer” para algo a fim de “viver” para outra coisa ou outra Pessoa?
B. Por que o casamento é uma metáfora adequada para descrever a união com Cristo?
III. Fazer: Obediência pelo Espírito
A. Qual é a diferença entre servir no novo modo do Espírito e servir segundo a velha forma da Lei escrita (Rm 7:6)?
B. Em relação à questão anterior, a natureza dessa obediência é a mesma, é diferente ou é um pouco de cada?
RESUMO: O capítulo 7 de Romanos amplia os contrastes de Romanos 6, mas explica de modo mais completo como a luta entre as duas experiências – lei/pecado/morte versus Cristo/Espírito/obediência/vida – se desenrola em nossa vida.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Romanos 7:1-14
Conceito-chave para o crescimento espiritual: Por melhor que seja a lei, ela falha em produzir a obediência e a vida que se espera do povo de Deus. Em certo sentido, ela parece agravar o problema do pecado. Paulo cuidadosamente começou a substituir a lei como fonte primária de identidade, ao mesmo tempo em que a confirma e a defende. Porém, em vez da lei, conecta seus leitores à nova identidade em Cristo. Os resultados são Espírito, vida e, ironicamente, verdadeira obediência à lei.
Para o professor: Como igreja, repetimos muitas das afirmações paulinas acerca da lei, mas, às vezes, temos dificuldade para explicar suas avaliações negativas sobre a lei. Preste muita atenção na maneira pela qual Paulo descreveu o fenômeno da lei em Romanos 7 e oriente os alunos para que permitam que o apóstolo explique a si mesmo.
Discussão inicial: Se você é adventista do sétimo dia, as críticas de outros cristãos podem ser firmes e furiosas. Eles dizem: “Você ainda vive debaixo da antiga aliança”; “Somos salvos pela graça, não pela lei”; “Os mandamentos foram cravados na cruz”; “Você é legalista”; “Paulo diz isso e aquilo”, e assim por diante. Qual é a nossa resposta?
Quando os outros usam os comentários negativos de Paulo acerca da lei contra nós, somos tentados a bombardear as pessoas com versos que apoiam a lei nos textos de Paulo, João e Tiago, e nas declarações de Jesus. No entanto, essa estratégia apenas coloca partes da Bíblia contra a própria Bíblia. O que pode deixar uma impressão mais duradoura em nossos ouvintes é aproveitar os mesmos textos que as pessoas estão usando contra nós e explicar dentro do seu contexto o que eles realmente significam. Essa abordagem é especialmente crucial para lidar com Romanos 6 e 7.
Perguntas para discussão
1. Ao tratar de controvérsias a respeito da lei, por que é mais eficaz permanecer com os argumentos de Paulo, em vez de usar versos de outros livros?
2. Embora Romanos 7 esteja envolvido em controvérsia atualmente, será que houve polêmica quando a epístola foi lida aos romanos pela primeira vez? Explique.
Compreensão
Para o professor: Romanos 7 é uma expansão de Romanos 6. Por isso, procure ideias paralelas que Paulo repetiu e ampliou. Dê uma olhada em Romanos 8, porque várias linhas de pensamento de Paulo aparecem juntas ali, e você precisa ter certeza de que suas conclusões estejam de acordo com Romanos 8.
Comentário bíblico
I. Um funeral e um novo casamento
(Recapitule com a classe Romanos 7:1-4.)
Paulo une duas metáforas – morte e casamento – para explicar uma profunda transição que ocorreu em resultado da chegada da era messiânica. A ilustração mostra dois maridos e uma esposa, mas a interpretação é conceitualmente complicada porque aquele que morre (“Vós morrestes”) é a mesma pessoa que se casa novamente (“Para pertencerdes a outro”). Esse significado contém a ideia de que o pronome “vós” representa a esposa casada com um marido. O outro esposo é o que “ressuscitou dos mortos” (Rm 6:9), ou seja, Jesus. Juntando tudo, Paulo diz que você morreu para que você possa se casar novamente. Nesse contexto, aquele que morreu é o mesmo que “morreu para o pecado”, pois o “velho homem foi crucificado” para que o “corpo do pecado” fosse destruído (Rm 6:2, 6). No entanto, da mesma forma que morremos com Cristo em Sua crucifixão, também vivemos por meio de Sua ressurreição (Rm 6:4). Assim, já foi mencionado que a mesma pessoa pode morrer e também viver novamente. Portanto, ser uma esposa morta que torna a viver não é tão estranho.
Alguns erroneamente concluíram que a lei é um dos maridos mortos. No entanto, é para a lei que o indivíduo morre. A lei não morre, mas morre o nosso relacionamento com ela. Na ilustração, a lei é o vínculo que mantinha a mulher ligada ao primeiro marido. A morte foi o meio pelo qual esse laço foi quebrado para que houvesse o novo casamento com Cristo. Essa é uma diferença sutil e crucial.
O que significam todas essas nuances sutis, e qual é a mensagem principal de Paulo? Em primeiro lugar, note a quem ele se dirigiu: “Falo aos que conhecem a lei” (Rm 7:1). Esses são judeus e/ou prosélitos judeus. A identidade deles, tanto étnica quanto religiosa, estava completamente ligada à lei de um modo que a maioria de nós, gentios do século 21, teria dificuldade para entender. No entanto, nesse Homem de Nazaré, Deus apresentou a maior revelação de Sua justiça salvífica, e embora testemunhada pela lei, essa revelação é “independente da Lei” (Rm 3:21, NVI).
Em certo sentido, a luta de Paulo era que o “bom estava se tornando inimigo do melhor”, por assim dizer. Provou-se difícil fazer a transição da observância da lei como fonte da identidade nacional (com os seus rituais no templo, os tipos e os sinais da aliança [como a circuncisão, etc.] para uma nova identidade que girava em torno de um Messias morto e ressurreto. Mas Paulo sabia que o povo de Deus está agora na era messiânica, do Novo Testamento, e a história de Israel passou para o último capítulo. Ele queria encorajá-los a acompanhar os dinâmicos movimentos proféticos de Deus.
Pense nisto: Conservar em mente a história de Israel pode nos ajudar a compreender alguns dos argumentos de Paulo? Pensando nos ensinos de Cristo acerca da lei, que tipo de vida pode o cristão esperar quando se “casa” com Ele?
II. O pecado explora a lei
(Recapitule com a classe Rm 7:5-14.)
Outro motivo, pouco enfatizado, que Paulo apresenta aos leitores para a necessidade de morrer “para a lei” (Rm 7:4) é o tema que está sendo desenvolvido, de que o pecado tira vantagem da lei para seus próprios objetivos. Observe a progressão dos versos nesse sentido: “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa”; “as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte”; “o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência”; “o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”; “porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou” (Rm 5:20; 7:5, 8, 10, 11). Como algo tão bom e santo como a lei (Rm 7:12) poderia parecer cúmplice do pecado e da morte?
A resposta está na pressuposição que Paulo apresenta claramente em pelo menos três versos: (1) “Quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte” (Rm 7:5, itálicos acrescentados); (2) “Bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7:14, itálicos acrescentados); (3) “O que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus (Rm 8:3, itálicos acrescentados). Quando a carne – ou a natureza carnal que é radicalmente oposta à lei (Rm 8:7, 8) – é confrontada com a lei, o resultado é o pecado e a morte, e pode parecer que a lei esteja causando os dois. No entanto, essa conclusão não é verdadeira, e Paulo enfaticamente negou que a lei seja culpada. Paulo declarou: “É a lei pecado? De modo nenhum!” “Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum!” (Rm 7:7, 13). Toda a culpa deve estar à porta do pecado; embora a lei tenha um papel na dinâmica entre o pecado e a morte, ela é inocente.
Paulo previu que essas conexões inesperadas entre pecado e lei escandalizariam alguns. Por causa disso, Romanos 7 permanece como a mais forte apologia (defesa) da lei em todos os escritos de Paulo.
Pense nisto: Em suas palavras, explique a dinâmica da lei, pecado, morte e carne que atua em Romanos 7. Por que Paulo precisou defender a lei com tanto vigor à luz dos seus próprios argumentos?
Aplicação
Para o professor: Se há um forte grupo legalista em sua igreja, é essencial que a identidade das pessoas passe a ser fundamentada no relacionamento com Cristo, e não nas regras. Por outro lado, para o período antinomiano em que estamos inseridos, a defesa que Paulo fez da lei é bem apropriada. Conheça seu público e ministre de acordo com a necessidade dele.
Perguntas para reflexão
1. Quais conexões você vê entre os dois maridos do início do capítulo e a luta interior descrita no final do capítulo?
2. O que Romanos 7 tem a dizer para a pessoa que se sente dominada pelo pecado?
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: Nem sempre é fácil compreender os escritos de Paulo. No entanto, muitas vezes ele gostava de dizer a mesma coisa de diferentes maneiras. Se não entendermos de uma forma, há esperança de percebermos o ensino em outras partes de seus textos. Mostre um exemplo dessa repetição e reafirmação nos escritos paulinos e motive os alunos a perseverar com Paulo.
Atividades
1. Pense em Romanos 7 como um comentário sobre o capítulo 6, ou vice-versa, e veja quantos versos você encontra de um capítulo que influenciam versos do outro capítulo.
2. Leia Romanos 1–8 de uma só vez com alguns amigos. Compartilhem as ideias que surgirem ao observar o quadro mais amplo, em vez de uma leitura de versos isolados.
Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?
Futebol e evangelismo
Os meninos do bairro que jogam futebol no time de um treinador adventista do sétimo dia, no Tajiquistão, têm mais preocupações do que os cartões amarelo e vermelho. Eles também tentam evitar o cartão especial azul. O treinador, Bakhriddin [pronuncia-se
Baquiridin], mostra o cartão azul quando escuta um jogador falar palavrões. Se um jogador recebe dois cartões azuis, ele está fora do jogo.
Os pais gostam da disciplina que Bakhriddin exige de seus jogadores. Eles notam que seus filhos ajudam mais em casa por causa da disciplina que aprendem no campo de futebol. Os meninos falam cada vez menos palavrões e não desperdiçam mais tanto tempo em jogos de computador.
Um novo modelo de evangelismo
O time de futebol é parte dos esforços da igreja adventista para alcançar os vizinhos no Tajiquistão, um país sem litoral na Ásia Central e que é predominantemente muçulmano. Existem ali somente 204 irmãos adventistas. Mais de 1.000 membros da Igreja deixaram o Tajiquistão na última década devido à instabilidade. Os líderes da Igreja dizem que é difícil compartilhar Jesus com a população porque o evangelismo público é proibido.
No entanto, os líderes da Igreja estão esperançosos porque 18 pessoas foram batizadas em 2016, como resultado das orações e de programas de evangelismo. Eles trabalham para desenvolver mais programas de evangelismo, como o time de futebol. Planejam estabelecer uma escola de inglês, realizar feiras de saúde e exposições sobre família, além de apoiar um pequeno, mas popular, clube de ciclismo. Esses programas criam oportunidades para desenvolver amizades com vizinhos e contribuem para o desenvolvimento da sociedade.
Parte da oferta deste trimestre será destinada a realizar programas de evangelismo como o time de futebol no Tajiquistão.
Missão inesperada
O time de futebol joga em um campo próximo à única igreja adventista na capital do Tajiquistão, Dushanbe. O time foi formado em 2015, quando as crianças da vizinhança viram um membro da igreja adventista jogando no campo e pediram que ele fosse o seu técnico. Imediatamente, Bakhriddin abraçou a ideia de trabalhar com as crianças e criar laços de amizade que pudessem se estender aos seus pais. Esse projeto não requeria muitos gastos – somente três bolas de futebol, um apito e um cronômetro. Bakhriddin recebeu o certificado da Confederação Asiática de Futebol, o órgão dirigente do esporte na Ásia, para ser treinador de futebol infantil.
Atualmente, Bakhriddin dirige dois ou três jogos por semana. De cada sessão de treinamento de 90 minutos, 15 minutos são reservados para aulas sobre princípios morais. Os meninos, com idades entre 11 e 13 anos, têm que parar de usar drogas e outras substâncias nocivas quando passam a se envolver com o esporte.
Como resultado desse trabalho, durante um jogo de futebol, nenhum cartão azul como punição para os palavrões foi mostrado. Os rapazes correram atrás da bola com determinação mesmo sob leve chuva. Eles sorriam sempre que o treinador se dirigia a eles. Meia dúzia de rapazes assistiu ao jogo, desejando fazer parte do time. O treinador disse que os espectadores teriam a oportunidade de se juntar à equipe.
Depois do futebol, os pais convidam o técnico para visitar suas casas para beber chá e conversar.
“Os pais estão felizes, pois as crianças estão comprometidas com o esporte”, disse o técnico. “Eles falam: ‘Estamos felizes que o senhor organizou esse time para colocar nossos filhos no bom caminho.’”
Por favor, orem pelo time de futebol, não para que ganhe os jogos, mas para que conquiste mais pessoas para Jesus. E ajudem o evangelismo no Tajiquistão e ao redor do mundo com as suas ofertas missionárias para a Escola Sabatina.
Mensagem missionária
• O Tajiquistão se considera um Estado secular. A Constituição provê liberdade religiosa, mas 98% da população são muçulmanos.
• Os primeiros adventistas, Ivan e Vasily Kosmjinin, viajaram para o Tajiquistão em 1929.
• Existem apenas 204 adventistas no Tajiquistão, um adventista para cada grupo de 39.215 habitantes. Eles buscam novas ideias para alcançar as pessoas em seu país de maneira prática, e Deus está abrindo portas.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 8: 18 a 25 de novembro
Quem é o homem de Romanos 7?
Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Introdução
Romanos 7 é o coração da grande seção da Epístola aos Romanos que inicia no capítulo 6 e vai até o capítulo 8. A controvérsia sobre a identidade do homem descrito ali basicamente se divide em quatro posicionamentos. O homem de Romanos 7 é: a) O próprio Paulo antes da conversão; b) O próprio Paulo depois da conversão; c) Qualquer cristão antes da conversão ou d) Qualquer cristão após a conversão. As variadas interpretações, na maioria das vezes, estão condicionadas a diferentes entendimentos sobre o papel da santificação na vida do cristão. Outra maneira de enxergar o capítulo é ver nele a discussão de Paulo sobre o papel da lei na vida do cristão.
Morto para a lei
Paulo traça uma analogia entre a vida do crente e a instituição do casamento. Os pontos de contato entre a vida cristã e o casamento se alternam ao longo da discussão apostólica. Num primeiro momento, o crente é identificado com a esposa cujo marido faleceu e, assim, está livre para contrair novas núpcias. Em seguida, em Romanos 7:4, Paulo diz que foram os cristãos que morreram para a velha vida, vivendo agora não para o pecado, mas para Deus.
Por mais complexo que isso possa parecer, a grande conclusão do apóstolo está em Romanos 7:6. Paulo diz que estamos libertos da lei uma vez que morremos para aquilo a que estávamos sujeitos. Como veremos no verso 7, Paulo não estava descartando a lei. Sua ênfase é que, uma vez que a lei mostra o pecado e me condena, se eu morri para a velha vida, a lei já não exerce sua função condenatória sobre mim. Vivo em novidade de vida, livre das amarras cerimoniais da lei e apto a cumprir os preceitos étnicos da lei por amor.
Pecado e lei
O apóstolo inicia declarando taxativamente que, apesar de mostrar o pecado, a lei em si mesma não é o pecado. O propósito da lei é detectar o que está errado em nossa vida. Note que o mandamento citado por Paulo é o último do decálogo (Êx 20:3-17). Se você analisar os outros nove mandamentos, todos eles implicam numa ação externa; o décimo mandamento lida com os pensamentos e intenções. Assim, a lei detecta o que há de errado comigo não só exteriormente, mas internamente também.
Outro aspecto que deve ser lembrado é a ampliação feita por Jesus, no Sermão do Monte, quanto ao sentido mais profundo da lei. Ali, Cristo mostra que o pecado tem uma raiz mais profunda do que simplesmente o ato exterior. Por exemplo, o mandamento “não adulterarás” não acontece só quando há uma relação sexual ilícita. O adultério já acontece na mente, quando ocorre a intenção impura do coração. O ato físico é mera expressão do pecado que antes havia brotado no interior. Portanto, não é só a cobiça que está ligada aos pensamentos e intenções, mas todos os pecados.
Romanos 7:11 muitas vezes deixa os leitores de Paulo com a impressão de que ele culpa a lei de enganar o crente. Contudo, o que acontece é que o pecado é que engana através do mandamento: “o pecado [...], pelo mesmo mandamento, me enganou [...]”. O apóstolo parece ter em mente aqui a história da Queda. Em grego, a expressão paulina ecoa Gênesis 3:13. Além disso, o verbo exapata? (“enganar”) é usado constantemente na literatura paulina com referência ao primeiro pecado (2Co 11:3; 1Tm 2:14). Na ocasião, a serpente usou o mandamento de Deus (Gn 2:17) para enganar Eva. O pecado em nossa natureza caída faz a mesma coisa, usa aquilo que é bom, a lei, para nos fazer transgredir. No contexto da Epístola aos Romanos, isso parece estar ligado à tentativa de ser salvo pela prática da lei. Nesse sentido, o pecado usa a lei santa para enganar a pessoa quando ela pensa que observar os mandamentos é o que a salva.
A lei é santa
Em Romanos 7:12, Paulo chega à conclusão de que, em nossa relação com a lei, o problema está conosco e não com ela. A lei e seus mandamentos são santos, justos e bons. A questão é que ao nos depararmos com a lei, ela mostra a malignidade do pecado em nós. Assim, ela cumpre sua função de nos levar a Cristo.
O “portanto” que inicia Romanos 7:12 é importante. O apóstolo havia acabado de mostrar como a lei amplia a percepção do pecado. Sua conclusão é que apenas algo santo, justo e bom poderia fazer isso. Note a lógica apostólica: se a lei fosse pecado (um pensamento com o qual Paulo já lidou anteriormente na carta), como ela poderia mostrar a malignidade do pecado? O real caráter da pecaminosidade humana só pode ser revelado quando contrastado com algo que lhe é extremamente oposto. É por isso que, tendo demonstrado que a lei realça o pecado, o apóstolo pode concluir que ela é exatamente o contrário do pecado.
O homem de Romanos 7
Paulo continua desenvolvendo seu argumento sobre o conflito entre nossa natureza corrompida pelo pecado e a santa lei do Senhor. O apóstolo declara, no verso 16, em outras palavras, que não é natural fazer a vontade de Deus. Isso é contrário à nossa constituição natural. Já no verso 17, levando em conta que o cristão entende o papel da lei em sua vida, Paulo afirma que seus deslizes se devem, não à sua vontade consciente, mas à natureza pecaminosa que ainda não foi erradicada, dado que, de vez em quando, ela irrompe, mesmo que não queiramos.
Os versos 18-20 são a descrição apostólica dessa luta. É importante ressaltar aqui que, pelo contexto, Paulo está discutindo o conflito que se estabelece na vida daquele que entendeu e abraçou a vontade de Deus. Além disso, o apóstolo está escrevendo para cristãos, pessoas que tinham um relacionamento com Cristo. Assim, mesmo os justificados pela fé, que estão crescendo em santidade, terão que lidar constantemente com sua natureza pecaminosa até o dia em que sejam revestidos com a incorruptibilidade (1Co 15:53-57).
Um ponto importante que precisa ser ressaltado nesse contexto é uma expressão que ocorre nos versos 17 e 20. Paulo usa a expressão “o pecado que habita em mim”. A palavra que foi traduzida pela expressão “que habita” é o particípio oiko?sa. Em grego, esse particípio está no tempo presente, o que poderia ser traduzido pela expressão “que está habitando”, enfatizando a continuidade do pecado. O destaque de Paulo parece ser a condição pecaminosa e não simplesmente os atos externos. O apóstolo está descrevendo um aspecto às vezes negligenciado nas discussões atuais sobre a pecaminosidade humana. O pecado não é simplesmente um ato, mas uma condição; o pecado “habita”, “está habitando” em nós.
Embora de maneira imprecisa, poderíamos ilustrar a ênfase do apóstolo da seguinte maneira: por alguma razão, após fazer um exame de sangue, você é diagnosticado com AIDS. A partir daí você é um portador do vírus. Se você tomar o coquetel de remédios fornecido pelo ministério da saúde, sua doença, na melhor das hipóteses, não se manifestará, mas isso não mudará sua condição: você ainda é um portador do vírus. Do mesmo modo, somos pecadores; o pecado habita em nós. O evangelho faz com que essa natureza caída não tome conte de nós, mas nossa condição pecaminosa permanece. A boa notícia é que ela será extirpada de nós na volta de Jesus. Então, não só a atuação do Espírito Santo em nós, mas nossa própria natureza, transformada, terá anseio constante apenas pela santidade e não mais para o pecado.
Salvo da morte
A imagem culminante em Romanos 7:21-24 é a frase “Quem me livrará do corpo desta morte”. Alguns intérpretes têm advogado que a imagem usada por Paulo se refere a um tipo de castigo ou suplício implementado pelos romanos. Um corpo em estado de putrefação era amarrado a um prisioneiro; assim, à medida que o cadáver apodrecia ele ia apodrecendo também o corpo do condenado.
No artigo intitulado “Quem me livrará do corpo desta morte? Paulo e a necroforia em Romanos 7:24”, o Dr. Milton Torres (2010) explica que há três possíveis fontes para essa ideia. Uma seria um acontecimento ligado à história dos gregos, no qual piratas etruscos supostamente teriam infligido tal tortura a prisioneiros gregos. Outra possibilidade seria o uso da palavra grega necroforia, que basicamente se referia ao transporte de cadáveres e poderia ser usada figurativamente para referir-se a esse tipo de castigo. Por fim, a fonte dessa interpretação seria a explicação dada pelos primeiros cristãos.
Contudo, Torres demonstra que não há indícios de que os etruscos tenham realmente se valido desse expediente e, mesmo que o tivessem, a prática estava associada a eles e não aos romanos. Depois, o uso da palavra grega necroforia estava mais associado ao ensino do dualismo grego entre corpo e alma, o que não parece ser o caso da argumentação apostólica. Por fim, o uso que os primeiros cristãos fizeram do verso não tem qualquer relação com essa prática.
A explicação mais simples parece ser a seguinte: Paulo está desesperado ao perceber que, deixado ao seu próprio querer, o seu corpo, por estar impregnado pelo pecado, inevitavelmente o levará à morte. Contudo, a exclamação de Romanos 7:25 é a solução para esse problema: graças a Deus por Jesus Cristo. Por Sua graça, não preciso mais ser escravo da minha tendência pecaminosa. Posso viver a lei de Deus em minha vida porque ela está gravada em minha mente, na sede de comando do meu corpo. Pela graça de Jesus, não ando mais como escravo, mas livre para cumprir Sua vontade em minha vida.
Conclusão
Três coisas parecem claras a partir do estudo de Romanos 7. Primeira, a graça não anula a lei; o que ela faz é mudar a relação do cristão em relação à vontade de Deus. Segunda, nós todos passamos pelo conflito entre nossa natureza pecaminosa caída, nossa tendência para o mal, e o padrão perfeito da lei do Senhor. Esse é um conflito que só terá seu fim definitivo na volta de Jesus. Por fim, a grande solução para esse dilema não está em nossos esforços, mas na pessoa maravilhosa de Cristo. Que exclamemos todos como Paulo: “Graças a Deus por Jesus Cristo”!
TORRES, Milton L. Quem me livrará do corpo desta morte? Paulo e a necroforia em Romanos 7:4. Hermenêutica, Cachoeira, v. 10, n. 1. p. 5-22, 2010.