Lição 1
24 a 29 de setembro
Rebelião em um Universo perfeito
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Mq 5-7
Verso para memorizar: “Veja como você caiu do Céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Veja como você foi lançado por terra, você que debilitava as nações!” (Is 14:12).
Leituras da semana: 1Jo 4:8, 16; 4:7-16; Ez 28:12-19; Is 14:12-15; Ap 12

Muitos pensadores têm tentado explicar a origem do mal. Alguns sugerem que ele sempre tenha existido porque, em sua opinião, o bem só pode ser apreciado em contraste com o mal. Outros acreditam que o mundo tenha sido criado perfeito, mas, de alguma forma, o mal surgiu. Por exemplo, na mitologia grega, o mal teve início quando Pandora, curiosa, abriu uma caixa lacrada da qual saíram todos os males do mundo (esse mito, porém, não explica a origem dos males supostamente escondidos nessa caixa).

Por outro lado, a Bíblia ensina que nosso Deus amoroso é todo-poderoso (1Cr 29:10, 11) e perfeito (Mt 5:48). Tudo o que Ele faz é, igualmente, perfeito (Dt 32:4), o que inclui a forma como o Senhor criou nosso mundo. Como, então, o mal e o pecado surgiram em um mundo perfeito? De acordo com Gênesis 3, a queda de Adão e Eva trouxe pecado, mal e morte a este mundo.

Mas essa resposta levanta outra questão. Mesmo antes da queda, o mal já existia, manifestado pela “serpente”, que enganou Eva (Gn 3:1-5). Por isso, precisamos voltar, até mesmo para um tempo anterior à queda, a fim de encontrar a fonte e as origens do mal que domina nossa existência e que, às vezes, pode torná-la bastante miserável.

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Domingo, 25 de setembro
Ano Bíblico: Naum
Criação, uma expressão de amor

Em sua condição atual, a natureza carrega uma mensagem ambígua que combina o bem e o mal. As roseiras podem produzir rosas lindas e perfumadas, mas também espinhos nocivos e dolorosos. Os seres humanos, que em um momento demonstram bondade, podem ser cruéis, odiosos e violentos no momento seguinte. Não é à toa que, na parábola do trigo e do joio, os servos perguntaram ao dono do campo: “Patrão, o senhor não semeou boa semente no seu campo? De onde, então, vem o joio?”. E o proprietário respondeu: “Um inimigo fez isso” (Mt 13:27, 28). Deus criou o Universo perfeito, mas um inimigo o profanou com as misteriosas sementes do pecado.

1. Leia 1 João 4:8, 16. O que a certeza de que “Deus é amor” nos diz sobre a natureza de Suas atividades criadoras?

O fato de que “Deus é amor” (1Jo 4:8, 16) transmite três implicações básicas. Primeiro, o amor, por sua própria natureza, não pode existir fechado em si mesmo; ele deve ser expresso. O amor de Deus é compartilhado internamente entre as três Pessoas da Divindade e externamente em Seu relacionamento com todas as Suas criaturas. Segundo, tudo o que Deus faz é uma expressão de Seu amor incondicional e imutável. Isso inclui Suas obras de criação, Suas ações redentivas e até as manifestações de Seus juízos punitivos. “O amor de Deus se expressa em Sua justiça não menos do que em Sua misericórdia. A justiça é o fundamento de Seu trono e o fruto de Seu amor” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 614). E, terceiro, visto que Deus é amor e tudo o que Ele faz expressa esse sentimento, Ele não pode ser o originador do pecado, o qual se opõe diretamente ao próprio caráter divino.

Deus precisava ter criado o Universo? Da perspectiva de Sua soberania, pode-se dizer que “não”, mas da perspectiva de Sua natureza amorosa, Ele queria um Universo como meio de expressar Seu amor. É incrível que o Senhor tenha criado algumas formas de vida, como os humanos, que não só são capazes de responder ao amor de Deus, como também de compartilhar e expressar amor a Deus e aos outros (Mc 12:30, 31).

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Olhe ao redor. Você vê reflexos do amor de Deus, apesar dos estragos do pecado?


Segunda-feira, 26 de setembro
Ano Bíblico: Habacuque
O livre-arbítrio, a base para o amor

2. Leia 1 João 4:7-16. O que essa passagem nos diz sobre o livre-arbítrio como uma condição para se cultivar o amor?

Flores artificiais são lindas, mas não florescem como as reais. Os robôs são pré-programados para falar e realizar muitas tarefas, mas não têm vida, nem emoções. A vida e o livre-arbítrio são condições indispensáveis para receber, cultivar e compartilhar amor. Assim, nosso amoroso Deus criou anjos (incluindo Lúcifer) e seres humanos com liberdade para fazer suas próprias escolhas, incluindo a possibilidade de seguir um caminho errado. Em outras palavras, Deus criou todo o Universo como um ambiente perfeito e harmonioso para Suas criaturas crescerem em amor e sabedoria.

Em 1 João 4:7-16, o apóstolo ressalta que “Deus é amor” e que manifestou Seu amor enviando Seu Filho para morrer pelos nossos pecados. Como resultado, devemos expressar gratidão amando uns aos outros. Esse amor divino é a evidência mais convincente de que Deus permanece em nós e nós permanecemos Nele. Esse apelo para refletir o amor de Deus só tem sentido se for dirigido a criaturas que podem escolher cultivar esse amor ou, ao contrário, escolher uma vida egocêntrica. No entanto, a liberdade pode ser mal utilizada, um fato demonstrado na rebelião de Lúcifer no Céu.

Mesmo reconhecendo a importância do livre-arbítrio, alguns ainda se perguntam: Se Deus sabia que Lúcifer se rebelaria, por que o criou? A criação de Lúcifer não torna Deus responsável pela origem do pecado?

Especular a esse respeito pode ser complicado, pois depende de muitos fatores, incluindo o significado da palavra “responsável”. A origem e a natureza do pecado são mistérios que ninguém pode explicar completamente.

Deus não ordenou a existência do pecado; apenas permitiu sua existência e, na cruz, tomou sobre Si a punição máxima pelo pecado, o que O habilitou a erradicá-lo em definitivo. Nas dolorosas reflexões sobre o mal, nunca devemos esquecer que o próprio Deus pagou o preço mais alto pela existência do pecado (Mt 5:43-48; Rm 5:6-11) e sofreu em decorrência deste mais do que jamais sofreremos.

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O livre-arbítrio é sagrado, mas nossa maneira de usá-lo traz consequências poderosas. Que decisões importantes você precisa tomar usando esse dom? Quais serão os resultados?


Terça-feira, 27 de setembro
Ano Bíblico: Sofonias
Ingratidão misteriosa

3. Leia Ezequiel 28:12-19. O que podemos aprender desta passagem sobre a misteriosa origem do mal?

Grande parte do livro de Ezequiel foi escrita em linguagem simbólico-apocalíptica. Em muitos casos, entidades específicas (pessoas, animais, objetos) e eventos locais são usados para representar e descrever realidades cósmicas e/ou históricas mais abrangentes. Em Ezequiel 28:1-10, o Senhor falou do rei de Tiro (antiga e próspera cidade portuária fenícia) como um governante rico e orgulhoso que era apenas um “homem”, mas que afirmava ser um deus que se assentava sobre a cadeira de um deus.

Em Ezequiel 28:12-19, essa realidade histórica se tornou uma analogia para descrever a queda de Lúcifer nas cortes celestiais. Assim, o rei de Tiro, um ser humano que vivia “no coração dos mares”, passou a representar “um querubim [...] que foi ungido” e vivia “no Éden, jardim de Deus”, e “no monte santo” (Ez 28:2, 8, 13, 14).

Uma declaração crucial no relato se encontra em Ezequiel 28:15: “Você era perfeito nos seus caminhos, desde o dia em que foi criado até que se achou iniquidade em você”. A perfeição de Lúcifer incluía o potencial para o mal, e isso porque, como ser moral, ele possuía livre-arbítrio, o que faz parte da essência da perfeição.

Lúcifer foi criado perfeito, e isso incluía sua capacidade de escolher livremente. No entanto, ao abusar dessa perfeição pelo mau uso de seu livre-arbítrio, corrompeu-se por se considerar mais importante do que de fato era.

Não mais satisfeito com a forma como Deus o criou e o honrou, Lúcifer perdeu sua gratidão para com o Criador e desejou receber mais reconhecimento do que merecia. Como isso pôde acontecer com um ser angelical perfeito, que vivia em um universo perfeito, como já mencionado, é um mistério.

“O pecado é algo misterioso e inexplicável. Não havia razão para sua existência; tentar explicá-lo é procurar uma razão para ele, e isso seria justificá-lo. O pecado apareceu num Universo perfeito, algo que se revelou inescusável” (Ellen G. White, A Verdade Sobre os Anjos, p. 30).

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Paulo disse que devemos dar graças “em tudo” (1Ts 5:18). Como essas palavras podem nos ajudar a superar a ingratidão e autopiedade, especialmente em tempos difíceis?


Quarta-feira, 28 de setembro
Ano Bíblico: Ageu
O preço do orgulho

Nas Escrituras há dois grandes temas ou assuntos predominantes que competem entre si. Um é o tema de Salém, Monte Sião, Jerusalém e a Nova Jerusalém, que representa o reino de Deus. O outro é o tema de Babel e Babilônia, que representa o domínio falsificado de Satanás.

Por exemplo, Abrão (que passou a ser chamado Abraão) foi convidado a sair de Ur dos Caldeus para ir à terra de Canaã (Gn 11:31–12:9). Os judeus, no fim de seu exílio, deixaram a Babilônia e retornaram a Jerusalém (Ed 2). E, no Apocalipse, o povo de Deus é chamado para sair da Babilônia do tempo do fim (Ap 18:4) para habitar com Ele, finalmente, no Monte Sião e na Nova Jerusalém (Ap 14:1; 21:1-3, 10).

4. Leia Isaías 14:12-15. Quais consequências de longo alcance o orgulho de Lúcifer, enquanto estava no Céu, trouxe ao Universo e à Terra?

Na Bíblia, a cidade de Babilônia representa um poder em oposição direta a Deus e ao Seu reino; e o rei de Babilônia (com alusão especial a Nabucodonosor) é símbolo de orgulho e arrogância. Deus havia revelado a Nabucodonosor que Babilônia era apenas a cabeça de ouro da estátua de impérios sucessivos (Dn 2:37, 38). Desafiando a revelação divina, ele fez uma estátua toda de ouro, simbolizando que seu reino duraria para sempre, e exigiu que todos a adorassem (Dn 3). Como no caso do rei de Tiro (Ez 28:12-19), o rei de Babilônia também se tornou um símbolo de Lúcifer.

Isaías 14:3-11 descreveu a queda do arrogante e opressor rei de Babilônia e, em seguida, se deslocou do reino histórico para as cortes celestiais e apontou que um espírito semelhante, orgulhoso e altivo, havia gerado a queda de Lúcifer (Is 14:12-15). Ele planejava exaltar seu trono acima de todas as hostes celestiais e tornar- se “semelhante ao Altíssimo” (Is 14:14). Esse foi o início de uma situação nova e hostil em que o amor e a cooperação altruístas de Deus seriam desafiados pelo egoísmo e competição de Lúcifer. O inimigo não teve medo de acusar Deus daquilo que ele mesmo era e de espalhar mentiras para os anjos. Aí estão as origens misteriosas do mal no Universo.

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Por que é tão fácil orgulhar-se e vangloriar-se em razão de posições ou conquistas, ou de ambos? Manter a cruz diante de nós nos previne de cair em tal armadilha?


Quinta-feira, 29 de setembro
Ano Bíblico: Zc 1-4
A disseminação da descrença

5. Leia Apocalipse 12. O que o capítulo ensina sobre a disseminação da rebelião do Céu para a Terra?

A queda de Lúcifer não foi um simples choque de ideias conflitantes. Apocalipse 12 nos diz que uma grande guerra eclodiu no Céu entre Lúcifer e seus anjos de um lado e Cristo e Seus anjos do outro. Lúcifer é chamado de “o grande dragão”, a “antiga serpente”, “diabo e Satanás” e “acusador de nossos irmãos” (Ap 12:9, 10). Cristo é referido como “Miguel” (Ap 12:7), que significa “quem é como Deus”.

Com base na alusão ao “Arcanjo Miguel” (Jd 9), alguns intérpretes acreditam que se trate apenas de um ser angelical. Mas, no livro de Daniel, cada visão principal culmina com Cristo e Seu reino eterno, como a pedra cortada sem o auxílio de mãos (Dn 2:34, 45), o Filho do Homem (Dn 7:13), o Príncipe do exército e Príncipe dos príncipes (Dn 8:11, 25), e Miguel, o grande Príncipe (Dn 12:1). Assim, como o Anjo do Senhor é o próprio Senhor (Êx 3:1-6; At 7:30-33, etc.), Miguel deve ser a mesma Pessoa Divina, ou seja, o próprio Cristo.

Apocalipse 12 apresenta uma visão geral dessa controvérsia em andamento, que (1) começou no Céu com a rebelião de Lúcifer e um terço dos anjos celestiais, (2) culminou com a vitória decisiva de Cristo na cruz e (3) ainda continua contra o povo remanescente de Deus no fim dos tempos.

Ellen G. White explicou que, “em Sua grande misericórdia, Deus suportou Satanás por muito tempo. Ele não foi imediatamente expulso de sua posição elevada ao alimentar o espírito de descontentamento, nem mesmo quando começou a apresentar suas falsas alegações diante dos anjos fiéis. Permaneceu ainda por muito tempo no Céu. Várias vezes lhe foi oferecido o perdão, sob a condição de que se arrependesse e se submetesse” (O Grande Conflito, p. 414, 415).

Não sabemos quanto tempo durou essa guerra nos domínios celestiais. Independentemente de sua intensidade e duração, o aspecto mais importante dessa luta foi que Satanás e seus anjos “não conseguiram sair vitoriosos e não havia mais lugar para eles no Céu” (Ap 12:8; Lc 10:18). O problema foi que eles vieram para a Terra.

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É real essa batalha na Terra? Qual é a nossa única esperança de vencer o inimigo?


Sexta-feira, 30 de setembro
Ano Bíblico: Zc 5-8
Estudo adicional

Textos de Ellen G. White: Patriarcas e Profetas, p. 9-19 (“A origem do mal”); O Grande Conflito, p. 412-421 (“A origem do mal”). “Não havia [...] esperança de redenção para estes que haviam testemunhado e compartilhado da glória inexprimível do Céu, tinham visto a terrível majestade de Deus e, em face de toda essa glória, ainda se rebelaram contra Ele. Não haveria novas e maravilhosas revelações do exaltado poder de Deus que os pudessem impressionar tão profundamente como aquelas que já haviam testemunhado. Se foram capazes de se rebelar justamente na presença de inexprimível glória, não poderiam ser colocados em nenhuma condição mais favorável para ser provados. Não havia reserva de poder, nem grandes alturas ou profundezas da glória infinita, para sobrepujar suas apreensivas dúvidas e murmurantes rebeliões. Sua culpa e castigo deveriam ser proporcionais aos seus exaltados privilégios” (Ellen G. White, No Deserto da Tentação, p. 25, 26).

“Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás e da queda do ser humano mediante o poder enganador [...]. Deus não determinou a existência do pecado, mas previu-a e tomou providências para enfrentar a terrível situação. Seu amor pelo mundo era tão grande que decidiu entregar ‘Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’” (Jo 3:16; Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 11).

Perguntas para consideração

  1. Como responder à acusação de que Deus é responsável pela origem do mal?
  2. Por que a cruz é central na compreensão da origem do mal e de sua erradicação?

  3. Considerando que Satanás está consciente das consequências de sua rebelião, por que ele persiste em sua luta contra Deus?

  4. Leia Mateus 5:43-48. Como refletir esse padrão de amor na família e na igreja?
  5. “O diabo anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8; leia também Ef 6:10-20). Como prevalecer contra as “ciladas do diabo”?

Respostas e atividades da semana: 1. Tudo o que Deus fez foi por amor. Ele é amor. Por isso, não pode ter originado o mal. 2. Cultivar e expressar amor só faz sentido se for uma decisão livre. 3. Lúcifer, embora perfeito, tinha o potencial para fazer o que era errado, pois, como ser moral, possuía livre-arbítrio. 4. O inimigo acusou Deus, desencadeou a descrença e, consequentemente, o grande conflito. continua entre Satanás e o povo remanescente de Deus no fim dos tempos.

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Resumo da Lição 1
Rebelião em um Universo perfeito

TEXTOS-CHAVES: Is 14:12-15; Ez 28:11-19

ESBOÇO

Deus é amor. A partir desse amor, Ele criou um Universo cheio de harmonia, paz, alegria e mais amor. Ele preencheu o espaço do Universo com seres criados para crescer em felicidade, serviço e amor. No entanto, essa ordem perfeita foi perturbada por uma rebelião ilógica no Céu contra o Criador, que foi acusado de exigir obediência estrita. Além disso, os altos padrões do Criador foram interpretados como petições de um tirano. A lei do amor foi apresentada erroneamente como uma restrição à liberdade. O resultado foi a guerra no Céu (Ap 12:7).

O que antes era inacreditável tornou-se uma trágica realidade. A criatura sábia e bela, o querubim da guarda ungido (hebraico: kerub mimshakh hasokek; Ez 28:14), chamado “Lúcifer, filho da alva” (hebraico: helel ben shakhar; Is 14:12) – traduzido também como “o resplandecente”, “a estrela da manhã” ou “o filho da manhã” –, levantou-se contra o Criador eterno, santo, afetuoso e amoroso e apresentou acusações injustificáveis para se exaltar. O egocentrismo, a sedução, as mentiras, o engano e o egoísmo de Lúcifer dividiram os anjos e destruíram a perfeita paz do Céu.

Deus, em Sua infinita sabedoria, reagiu respeitando a escolha de Lúcifer, permitindo assim que todos os seres inteligentes entendessem a natureza destrutiva do mal, que à primeira vista poderia parecer atrativo. Por fim, um ser criado atacou seu Criador, e a desordem nasceu. Aquele que deveria ter protegido o governo de Deus e Sua lei estava subvertendo seus princípios de respeito e amor de maneira tão astuta que até os anjos ficaram confusos em sua lealdade a Deus. O Criador, ao aceitar a escolha individual, demonstrou que respeitava a liberdade pessoal, mas não podia tolerar a destruição da vida e de seus valores e princípios de bondade.

COMENTÁRIO

O mistério da origem do mal

A origem do mal é cercada por um dos maiores enigmas. De um lado está “o mistério da iniquidade” em ação (2Ts 2:7), e do outro lado está “o mistério da piedade” (1Tm 3:16), trazendo uma solução para o problema do mal. O orgulho de Lúcifer foi derrotado pela humildade do Senhor Jesus Cristo na forma de carne humana (Fp 2:6-11). Por causa de Seu poder moral e amor altruísta, Ele obteve vitória sobre Satanás, apesar de ter Se tornado fisicamente mais fraco.

O mal é irracional e cheio de desordem. Assim, é impossível encontrar uma explicação lógica para sua existência. Não há razão para ele. Isaías 14 descreve as circunstâncias da queda de Satanás (não sua causa), ou seja, o orgulho, e Ezequiel simplesmente afirma que o querubim ungido era perfeito/irrepreensível desde sua criação até que “se achou iniquidade” nele (Ez 28:15). Ao se desconectar de Deus, Satanás rompeu seu relacionamento com Ele e, consequentemente, se separou da única Fonte da vida, o que resulta em morte. Todas as criaturas, incluindo anjos no Céu e humanos na Terra, foram feitas em total dependência de Deus. Somente mantendo esse relacionamento de amor e cultivando a presença divina é eliminado o risco de desobediência e rebelião, e a vida abundante é assegurada. O caminho a seguir é conhecer a Deus e Seu caráter, nutrir uma apreciação por Sua bondade e promover uma atitude de gratidão.

Não havia motivo para rebelião no Universo perfeito governado pelo amor. Não havia nenhum defeito que tornasse necessário o aprimoramento do estilo de governo divino. Podemos descrever as circunstâncias, quando e o que aconteceu, mas nunca conseguiremos encontrar uma justificativa para a rebelião, porque não existia justificativa para ela. Deus permitiu o mal porque não escolheu criar seres autômatos ou robôs, mas seres com livre-arbítrio para que pudessem amar livremente.

Nenhum dualismo do bem e do mal

Não cremos que o Universo seja governado por dois deuses rivais: por um lado, o Deus vivo, que é o Deus do bem; e, por outro lado, Lúcifer, o deus do mal. Esse dualismo é estranho à revelação bíblica e incompatível com seu ensino. As Escrituras atestam que Deus criou um ser excepcionalmente glorioso e sábio (“Você era o modelo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura” [Ez 28:12]) que mais tarde se rebelou contra Deus. Assim, Lúcifer, a criação irrepreensível de Deus, se tornou Satanás. O apóstolo João descreve o adversário nos seguintes termos: “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo” (Ap 12:9). Pensamento incrível e chocante! Aquele que estava na presença do próprio Deus, que estava no Éden celestial, no santuário celestial, essa mesma pessoa se rebelou contra o Deus amoroso. Suas ações impressionantes contra seu Criador parecem irreais: a criação ousou se opor ao seu Rei e Comandante-Chefe.

"Então, algo misterioso aconteceu. Aquele que tinha sido criado perfeito, dotado de muitos talentos, que ocupava a posição mais elevada no Céu depois de Cristo, voltou-se contra seu Criador. O profeta Ezequiel declarou: “Você era perfeito nos seus caminhos, desde o dia em que foi criado, até que se achou iniquidade em você” (Ez 28:15). Que paradoxo! O querubim da guarda, em vez de proteger a ordem estabelecida por Deus, derrubou Sua lei. Lembre-se de que, na Bíblia, encontramos querubins em Ezequiel 1 e 10 (quatro seres viventes são querubins; veja Ez 10:4, 5; 11:22, 23). No tabernáculo, os querubins guardiões estavam no lugar santíssimo, acima do propiciatório, sob o qual estava localizado o decálogo (Êx 25:18-22). Os querubins simbolizavam a proteção da ordem e da lei de Deus. Lúcifer, porém, usou mal sua posição privilegiada para lutar contra a autoridade divina."

Atividades de Lúcifer

Ezequiel 28:15 afirma que no querubim ungido se achou “iniquidade” (NAA) ou “maldade” (NVI). O termo hebraico é ‘avelah, que significa “injustiça” ou “impiedade”. Aquele que era perfeito e que deveria guardar a integridade da lei de Deus para assegurar o governo do Céu estava acusando Deus de não ser bom e correto, ou seja, de ser injusto. Acusações muito injustas! O termo “comércio” (Ez 28:16) em hebraico é rekulah e deriva da raiz rakal, que significa “ir por aí” ou “ir de um a outro”, seja para (1) comércio ou (2) fofoca/ calúnia. O contexto torna evidente que, nesse caso, o termo não se refere a comércio ou negócios porque esse seria o único lugar na Bíblia hebraica em que o comércio seria algo pecaminoso, e isso não faz sentido. Portanto, a palavra sugere que o querubim guardião estava circulando e fofocando sobre Deus, acusando-O de injustiça, maldizendo Seu caráter e espalhando mentiras. Lúcifer semeou desconfiança e incredulidade e desviou outros de acreditar no Deus amoroso e de segui-Lo. Isaías descreve os motivos de Lúcifer com base no orgulho. Sua arrogância foi tão grande que ele quis ser igual a Deus, sentar-se no trono de Deus, tornar-se rei e elevar-se à posição de divindade (Is 14:13). Que arrogância inacreditável!

O profeta Isaías descreve a queda de Lúcifer do Céu no tempo passado (Is 14:12). Ezequiel afirma que ele foi lançado “em desgraça para longe do monte de Deus” e expulso (Ez 28:16, NVI). Então Ezequiel revela o que aconteceu no coração de Lúcifer, ou seja, como ele pecou em sua mente por cultivar o orgulho. Observe cuidadosamente a natureza de suas cinco grandes declarações do “eu”: (1) “Subirei ao Céu”; (2) “Exaltarei o meu trono”; (3) “me assentarei no monte da congregação”; (4) “Subirei acima das mais altas nuvens”; e (5) “serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:13, 14). Essa autoexaltação no coração de Lúcifer é confirmada em Ezequiel 28:17: “Você ficou orgulhoso por causa da sua formosura; corrompeu a sua sabedoria por causa do seu resplendor”. Finalmente, após essa autoglorificação, sua completa destruição foi apresentada no tempo futuro: “Mas você descerá ao mundo dos mortos, no mais profundo do abismo” (Is 14:15). O profeta Ezequiel confirma que o Senhor exterminará Lúcifer, que se tornou Satanás, o adversário. Sua aniquilação é tão certa que Ezequiel usou o tempo profético perfeito para expressar essa certeza: “você se tornou objeto de espanto e deixará de existir para sempre” (Ez 28:18, 19).

Somente a dependência de Deus traz vitória

Lembre-se: Satanás não pode ser derrotado por argumentos ou poder, mas apenas por Alguém “mais fraco” do que ele. Essa é a razão da encarnação. No livro do Apocalipse, o dragão e diferentes bestas foram derrotados pelo Cordeiro, o que é totalmente inédito no mundo natural. Mas a força moral do amor e da verdade de Cristo conquistou o mundo e foi vitoriosa sobre Satanás e seus poderes. Jesus, que nasceu como um ser humano frágil, derrotou Satanás por Sua pureza, obediência e entrega total ao Pai. Sua vida altruísta e sem pecado, Seu sofrimento em nosso favor e Sua morte vitoriosa na cruz condenaram e destruíram Satanás. Agora é apenas uma questão de tempo até que Satanás seja executado e o grande conflito termine.

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Reflita sobre as seguintes perguntas e comente com a classe:

  1. Sobre a origem do mal: Por que um Deus amoroso e cuidadoso permitiu a existência do mal? Deus é responsável pelo surgimento do mal? Explique. Por que o Senhor decidiu em Sua infinita sabedoria não destruir Lúcifer de imediato quando pensamentos malignos se originaram no coração dele? Ou por que não o destruiu logo depois que ele começou a trabalhar em segredo contra o governo divino, impedindo assim que a rebelião se espalhasse amplamente?
  2. Em relação à descrição do que aconteceu no Céu: Em quais outros termos você pode descrever o orgulho e as ações de Lúcifer? Quem sofreu mais nessa situação de rebelião? Deus poderia ter reagido a Satanás de forma diferente para garantir uma solução duradoura contra a existência do mal? Justifique sua resposta. Como Satanás foi derrotado?
  3. Sobre vencer o orgulho: a história de Lúcifer é um sério aviso para não cairmos em atividades e comportamentos errados. Se o orgulho é tão enganoso, como podemos ficar em guarda para não cair em sua armadilha mortal, nem ser enganados por sua “glória” e sucesso? Explique como a inveja, o egoísmo e o orgulho andam de mãos dadas na destruição de relacionamentos significativos.
  4. Sobre mudar o comportamento de alguém: Como você pode ajudar pessoas orgulhosas – que não ouvem a razão, que são possuídas por autoexaltação e egoísmo e veem apenas a si mesmas e seus próprios interesses – a se humilharem? Como você pode ser um pacificador ou um agente de reconciliação para transformar uma atmosfera venenosa ao seu redor e trazer resolução em meio a tensões, invejas, mal-entendidos e acusações?

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Encontrando esperança

Christie

Nova Zelândia | 1º de outubro

Christie cresceu em uma família sem nenhuma crença religiosa na Ásia. Quando adolescente, ela se perguntou: “Qual é o sentido da vida?” Ela pensou que se uma pessoa tivesse apenas uma vida para viver, então a melhor maneira de viver era comer, beber e ser feliz. Mas tal vida parecia sem sentido para ela.

Em um verão, Christie teve aulas de inglês. O professor era dos Estados Unidos e tinha doutorado em teologia. No início da primeira lição, ele se apresentou compartilhando um milagre sobre como Deus havia poupado sua vida em um acidente de carro. Seu carro havia sido gravemente danificado no acidente, mas ele sentiu como se tivesse sido coberto por um copo enorme, permitindo que ele escapasse ileso do acidente. Christie ficou impressionada com a história do milagre e compartilhou- a com seus pais imediatamente após a aula.

Uma década se passou, e Christie pensou novamente em Deus quando foi para o Canadá de férias. Havia uma igreja perto de seu hotel na cidade de Vancouver. Ela viu um homem parado no portão da igreja, segurando uma placa que dizia: “Volte para casa”. Mais tarde naquele dia, ela passou pela igreja novamente e viu o mesmo homem ainda segurando a placa que dizia: “Volte para casa”. O vento soprava forte naquele dia, e ela se perguntou por que o homem estava disposto a enfrentar o tempo para segurar a placa. A imagem do homem segurando a placa permaneceu em sua mente por meses. Ela decidiu que deveria haver algo especial nas crenças cristãs.

Voltando para casa, Christie se matriculou em estudos de pós-graduação. Ela ficou surpresa quando um professor deu de presente um livro devocional para ela e outros alunos. Ela ficou impressionada com o livro, porque ele respondia a algumas de suas perguntas sobre o sentido da vida. Ela escreveu um e-mail para o professor para agradecer pelo livro e disse que queria saber mais sobre Jesus. O professor a apresentou a outra professora que liderava um grupo semanal de adoração à noite em sua casa. Christie se sentiu amada e aceita pelo grupo de adoração e começou a ler a Bíblia diariamente. Depois de um tempo, ela entregou seu coração a Deus.

Christie visitou várias igrejas e eventos da igreja, mas sentiu que algo não estava certo em seu relacionamento com Deus.

Dois anos se passaram, e Christie descobriu o Hope Channel na televisão durante uma viagem à Nova Zelândia. Ao voltar para casa, ela pesquisou on-line e encontrou o programa Hope Sabbath School (Escola Sabatina da Esperança) no YouTube.

Ela começou a assistir à Hope Sabbath School e não conseguia parar. Assistir à Hope Sabbath School tornou-se o momento mais feliz de seu dia. Em apenas alguns meses, ela assistiu a três anos da Hope Sabbath School – todos os episódios on-line que estavam disponíveis na época. Os participantes da classe tornaram a Bíblia fácil para ela entender, e ela adorava seus sorrisos.

Ao assistir, ela atingiu uma imagem mais clara de Deus. Ela percebeu que Deus é cheio de misericórdia, ansioso para chamar as pessoas de volta a Ele para salvá-las e sempre disposto a perdoar. Pela primeira vez, ela se sentiu completa em seu relacionamento com Deus. Ela decidiu se unir à Igreja Adventista do Sétimo Dia e ser batizada por imersão.

“Graças a Deus por ter trazido a Hope Sabbath School para minha vida para que minha espiritualidade pudesse crescer”, diz ela. “Agora estou disposta a dar toda a minha vida a Jesus e desejo viver uma vida que glorifique a Deus. Esse é o verdadeiro sentido da vida.”

Obrigado por sua oferta do décimo terceiro sábado em 2016, que ajudou o Hope Channel a se tornar um canal aberto que cobre toda a Nova Zelândia. Por causa do amplo alcance do Hope Channel, Christie pôde assistir no mesmo canal quando visitou a Nova Zelândia por alguns dias em 2016 – o mesmo ano em que sua cobertura foi aberta em todo o país. Sua oferta do décimo terceiro sábado deste trimestre ajudará a expandir a TV Hope Channel e a Rádio FM Hope para Papua-Nova Guiné.

Por Andrew McChesney

 Dicas para a história 

  • Baixe as fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.

  • Baixe publicações e fatos rápidos sobre a missão da Divisão do Pacífico Sul: bit.ly/spd-2022.

  • Esta história de missão é baseada em um relato em primeira pessoa que apareceu na Adventist Record da Divisão do Pacífico Sul.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2022

Tema Geral: Vida, morte e eternidade

Lição 1 – 24 de setembro a 1º de outubro de 2022

Rebelião em um Universo perfeito

 

Autor: Sérgio H. S. Monteiro

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Rosemara Santos

 

Alcançamos mais um trimestre em nossa existência. Em meio ao cenário que vivemos nos últimos anos, certamente podemos olhar para este momento de duas formas: primeiro, com tristeza, podemos olhar para um passado recente e sofrer a saudade de tantos que foram tomados pela pandemia do coronavírus, pela criminalidade crescente, ou pelos conflitos e guerras entre as nações. Certamente, podemos! Não obstante, podemos também olhar para esses momentos e, sem desonrar a memória dos que se foram, agradecer porque aqui estamos e, no mesmo olhar, fixar-nos no futuro e sorrir com uma esperança que enche a alma: a de que os que se foram, não se foram para sempre, mas descansam no Senhor.

Em outras palavras, vivemos um paradoxo constante entre a tristeza e a alegria, entre vida e morte, dor e esperança. Sentimentos antagônicos que são maximizados pelo desconhecimento comum que nos apequena diante das realidades que os geram. E isso não é verdade apenas em relação aos sentimentos negativos, mas também acerca da esperança que nos move, mesmo entre cristãos e crentes em geral. Se é verdade que cremos que há um futuro, uma vida maior, ainda há discussões quanto à natureza dessa vida e o alcance dessa esperança. Os seres humanos não concordam nem mesmo quanto ao passado e à origem das situações do dia a dia, das suas alegrias e mazelas, sorrisos e choros, bondade e maldade. Em meio à essa confusão, buscamos explicações que muitas vezes apenas repetem o óbvio.

É certo que razão maior de dúvidas e incertezas jazem na busca de explicações meramente humanas, racionalizadas e imediatistas para os fenômenos observados de vida e morte, bem e mal. Essas explicações, por mais filosóficas que sejam, por mais que agradem à mente humanista moderna, estão longe de proporcionar real razão para o que se observa. Não é possível, por exemplo, apenas dizer que o mal é a ausência de boas ações, como a sociologia explica, sem, contudo, explicar porque existem boas ações, ou por que o ser humano escolhe não praticar essas boas ações ou decide praticar aquelas “más” ações. A explicação não explica. É preciso ir além do lugar comum do positivismo humanista e reconhecer que há algo maior.

É preciso reconhecer também que a vida não pode ser apenas uma sucessão de eventos sem propósito algum e que a morte é o destino inevitável e final do ser humano, simplesmente porque somos mecanismos celulares com prazo de validade, findo o qual, a continuidade é impossível e apenas nos resta ser sucatas no ferro velho do Universo. Há algo muito maior do que isso. É preciso haver! E há!

De fato, como veremos na lição deste trimestre, nada do que hoje vivemos é definitivo e final. Mas apenas transitório e passageiro. Vamos observar também que nada disso foi planejado originalmente e que não fazem parte do futuro, porque o futuro é o retorno àquele plano criado por Deus, para o qual não existem atalhos ou plano B. Teremos também respondida a dúvida maior de toda a existência e que está na base das questões primárias levantadas no início deste comentário: Por quê?

Na primeira lição temos o primeiro “por quê”: Por que existe o mal? Para responder a essa questão, o professor Timm não busca a filosofia ou a sociologia, ou antropologia, que dariam apenas respostas quanto aos efeitos que o mal verdadeiro causou na humanidade. De fato, o autor, profundo conhecedor das Escrituras, busca nelas uma causa real que proporcione não apenas justificativa para as ações, mas a raison d’etrê [razão de ser] da natureza que gera essas ações.

A pesquisa bíblica revela que o mal não é uma força antagônica equivalente ao bem, porque o bem é, em última instância, o Deus todo-poderoso do Salmo 91 e de Apocalipse 1. Em Gênesis 1, Ele é apresentado como o Criador dos céus de da Terra, e em Êxodo 34, apresenta a Si mesmo como Deus misericordioso. As Escrituras não reconhecem a existência de outro ser que exista no mesmo nível desse Deus, mas declara que mesmo os anjos, seres espirituais poderosos, são apenas fogo (Hb 1:7) e não imortais ou existentes por si mesmos, como Ele o é (1Tm 6:16). Portanto, o mal não pode ser visto como o resultado inexorável do equilíbrio cósmico, balllet celestial, ou conflito entre deuses. Mas, então, o que é o mal e como ele surgiu em nosso mundo?

A resposta é mais simples e avassaladora do que pode parecer a princípio: o mal é o resultado de um afastamento de Deus, por parte não do ser humano, mas de outra criatura, que optou (isso mesmo, optou) por viver não apenas sem Deus, mas em rebelião contra Deus. Essa rebelião é descrita em Isaías 14, Ezequiel 28 e Apocalipse 5. Um anjo de magnífica beleza pensou que poderia ser maior que o próprio Criador e resolveu colocar-se acima Dele, o que efetivamente o colocou diretamente em oposição a Ele. O estarrecedor dessa escolha é que não houve absolutamente ninguém ou nada que lhe fosse externo forçando-o a tomar essa atitude, mas foi uma escolha totalmente livre desse anjo, que nos acostumamos a chamar de Lúcifer. E, por isso, podemos estranhamente dizer que, na escolha de prestar atenção a si mesmo e não a Deus está a origem do mal como natureza e não apenas como ação.

Essa resposta simples dada pelas Escrituras, que coloca a origem do mal fora da realidade humana, e em um ato de liberdade de uma criatura, não na Divindade, contrasta diretamente com as perspectivas sobre a origem do mal encontradas em várias religiões do mundo e mesmo no humanismo moderno.

 

A origem do mal no hinduísmo

No hinduísmo, por exemplo, coexistem três principais noções sobre a origem do mal: (1) perspectiva védica, que ensina que o mal é basicamente a falha humana em cumprir os mandamentos e rituais das leis védicas (Rig Veda 4,5; 10,10), sendo Indra a personificação demoníaca do mal, contra quem o ser humano deve lutar por toda sua existência; (2) perspectiva panteísta, que preconiza que a ignorância é a raiz do mal e que esse é compensado através do karma, em um infinito reencarnacional, porque o mal não possui um princípio nem um fim definidos; (3) a perspectiva dos puranas, que mescla a responsabilidade humana sobre o mal da perspectiva panteísta com uma noção de responsabilidade divina na criação do próprio mal e nas ações malignas. Krishna, por exemplo, que é a encarnação do deus Vishnu, no Bhagavata Purana, não apenas adultera e seduz a esposa de Gotana, como justifica seus atos, declarando ser natural (Bhagavata Purana 10, 33, 35).

 

A origem do mal no budismo

O budismo ensina que o mal é perpétuo e necessário para a própria existência. No Samyutta Nikaya 56, 11, Buda declarou que o todo da existência é o sofrimento, e que o mal é a perpetuação da imaginação de ser, de buscar ser, de personalização, sendo o abandono da personalidade a única forma para que o mal abandone você, mas jamais para que deixe de existir.

 

A origem do mal no zoroastrismo

No zoroastrismo, o mal é parte de uma batalha eterna entre dois deuses supremos, Ahuramazda e Anrimaniu, como declarado no Yasna 30 e no Vidvadad 1:3-5. Tudo o que um pode fazer o outro pode contrapor, igualar e mesmo ampliar. O ser humano, no centro desse conflito, fortalece, por suas escolhas, um lado ou o outro. Essa noção, chamada de dualismo cósmico, influencia de forma determinante muitas filosofias cristãs conhecidas coletivamente como gnosticismo, tais como maniqueísmo, bolomirismo, marcionismo e catarismo, dentre outros que buscaram no dualismo meios de explicar o mal, sua existência e ações, mesclando, agora, conceitos bíblicos com as noções encontradas no politeísmo grego e no dualismo zoroastrista. Um ponto em comum dessas perspectivas gnósticas dentro do cristianismo é a ideia de que o Deus da Bíblia Hebraica é a personificação do mal, sendo um enganador, ainda que tenha sido sim o Criador, ou o demiurgo, chamado Yaldabaot, mas que cria apenas para destruir ou escravizar, enquanto Jesus é o Libertador, enviado pelos Aeons, deuses superiores, para libertar os seres que foram aprisionados na criação da matéria, mas que tinham por origem a existência celestial.

Como pode ser visto, a busca pela explicação sobre o mal é fundamental em todas as religiões do mundo em várias épocas, incluindo a tradição judaico-cristã, que encontra nas Escrituras os elementos para construção da resposta a essa pergunta, ainda que reconheça que muitas peças faltam ainda no quebra-cabeças.


Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Bíblica, cursa doutorado em Bíblia Hebraica pela Theologische Universiteit Apeldoorn. Pastor da Brazilian Adventist Community Church na Associação do Norte da Nova Zelândia e membro da Adventist Theological Society, International Organization for the Study of the Old Testament, Society for Biblical Literature e Associação dos Biblistas Brasileiros.