Lição 1
30 de junho a 07 de julho
“Sereis Minhas testemunhas”
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Sl 86–89
Verso para memorizar: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis Minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da Terra” (At 1:8).
Leituras da semana: At 1:6-26; Lc 24:25, 44-48; Dt 19:15; Pv 16:33

missão de Jesus na Terra estava concluída. Em breve Deus enviaria o Espírito Santo que, ao confirmar os esforços dos discípulos com muitos sinais e maravilhas, iria capacitá-los e guiá-los em uma missão que alcançaria os confins da Terra. Jesus não poderia permanecer com eles para sempre em corpo humano. Não somente Sua encarnação Lhe impunha uma limitação física no contexto de uma missão mundial, mas também Sua ascensão e exaltação no Céu seriam necessárias para que o Espírito viesse.

Até a ressurreição de Jesus, no entanto, os discípulos não entendiam claramente nenhuma dessas coisas. Quando deixaram tudo para segui-Lo, eles acreditavam que Ele era um libertador político que um dia expulsaria os romanos do país, restabeleceria a dinastia de Davi e restauraria Israel à sua glória passada. Para eles, era difícil pensar de maneira diferente.

Esse é o assunto principal das instruções finais de Jesus aos discípulos em Atos 1. A promessa do Espírito ocorre nesse contexto. O capítulo também descreve o retorno de Cristo ao Céu e como a igreja primitiva se preparou para o Pentecostes.


Estamos iniciando o mês de julho, tempo de Missão Calebe. Desafie os jovens de sua igreja a ter uma experiência missionária nestas férias!

Domingo, 01 de julho
Ano Bíblico: Sl 90–99
A restauração de Israel

Existem dois tipos de profecias messiânicas no Antigo Testamento: o primeiro prevê um Messias soberano que governaria para sempre (Sl 89:3, 4, 35-37; Is 9:6, 7; Ez 37:25; Dn 2:44; 7:13, 14); o outro prediz que o Messias morreria pelos pecados do povo (Is 52:13–53:12; Dn 9:26). Essas profecias não se contradizem. Elas apenas apontam para duas fases consecutivas do ministério do Messias: primeiramente Ele sofreria, e depois Se tornaria Rei (Lc 17:24, 25; 24:25, 26).

A expectativa judaica no 1o século acerca do Messias, no entanto, era unilateral. A esperança de um Messias soberano, que traria libertação política, acabou obscurecendo a noção de um Messias que sofreria e morreria.

A princípio, os discípulos compartilhavam dessa esperança de um Messias soberano. Eles acreditavam que Jesus era o Messias (Mt 16:16, 20) e, às vezes, eram surpreendidos disputando entre si sobre quem se assentaria à Sua esquerda e à Sua direita quando Ele subisse ao trono (Mc 10:35-37; Lc 9:46). Apesar das advertências de Jesus sobre o destino que O aguardava, eles simplesmente não conseguiam entender o que Ele queria dizer. Então, quando Ele morreu, ficaram confusos e desanimados, e declararam: “Esperávamos que fosse Ele quem havia de redimir a Israel” (Lc 24:21).

1. De acordo com Atos 1:6 e 7, o que os discípulos ainda não compreendiam? Como Jesus lhes respondeu? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Cristo primeiramente viria para morrer/Não lhes competia saber os tempos e épocas.

B.(  ) Cristo estabeleceria o reino de Israel em Sua primeira vinda/Jesus lhes deu a data em que isso ocorreria.

Se a morte de Jesus representou um golpe fatal à esperança dos discípulos, Sua ressurreição a reacendeu, aumentando suas expectativas políticas, possivelmente a um nível sem precedentes. Parecia natural conceber a ressurreição como um forte indicador de que o reino messiânico seria finalmente estabelecido.

Contudo, Jesus não deu nenhuma resposta direta aos discípulos. Ele não rejeitou a premissa por detrás da pergunta deles a respeito de um reino iminente, mas também não a aceitou. Ele não solucionou a questão, lembrando-lhes de que o tempo das ações de Deus pertence ao próprio Deus e, portanto, é inacessível ao ser humano.

 

De acordo com Lucas 24:25, qual foi o verdadeiro problema dos discípulos? Por que é fácil acreditar no que desejamos, em vez de crer no que a Bíblia realmente ensina? Como podemos evitar essa armadilha?


Segunda-feira, 02 de julho
Ano Bíblico: Sl 100–105
A missão dos discípulos

2. Leia Atos 1:8. Em lugar de se envolver com especulações proféticas, o que os discípulos deveriam fazer?

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Existem quatro elementos importantes nessa passagem a respeito da missão dos discípulos:

1. O dom do Espírito. O Espírito Santo sempre estivera ativo entre o povo de Deus. De acordo com os profetas, no entanto, haveria um derramamento especial do Espírito no futuro (Is 44:3; Jl 2:28, 29). Quando o próprio Jesus foi ungido, o Espírito Santo já estava atuando durante o período de Seu ministério (Lc 4:18-21), mas a era do Espírito não seria oficialmente inaugurada senão após a exaltação de Cristo no Céu (Jo 7:39; At 2:33).

2. A função do testemunho. Um testemunho é um relato em primeira mão. Os discípulos estavam plenamente qualificados a dar esse testemunho (At 1:21, 22; 4:20; compare com 1Jo 1:1-3) e foram incumbidos de compartilhar com o mundo sua experiência singular com Cristo.

3. O plano da missão. Os discípulos deveriam testemunhar primeiramente “em Jerusalém”, depois “em toda a Judeia e Samaria e”, por fim, “até aos confins da Terra”. Era um plano progressivo. Jerusalém era o centro da vida religiosa judaica, o lugar em que Jesus havia sido condenado e crucificado. Judeia e Samaria eram regiões vizinhas onde Jesus também tinha ministrado. Os discípulos, no entanto, não deviam se limitar apenas a essas localidades. O escopo de sua missão era mundial.

4. A orientação da missão. Nos tempos do Antigo Testamento, as nações deveriam ser atraídas a Deus (veja Is 2:1-5) – não era Israel que deveria “levar” Deus às nações. As poucas exceções (por exemplo, Jonas) não invalidam a regra geral. Agora, a estratégia era diferente. Jerusalém ainda era o centro, mas em vez de ficar e criar raízes ali, os discípulos deveriam sair para os confins da Terra.

3. Leia Lucas 24:44-48. Qual era a mensagem central que os discípulos deveriam pregar?

Nos quarenta dias em que passou com os discípulos após a ressurreição (At 1:3), Jesus deve ter lhes explicado muitas verdades sobre o reino de Deus, embora houvesse muitas coisas que ainda não compreendessem, conforme revela a pergunta deles em Atos 1:6. Eles estavam familiarizados com as profecias, mas agora finalmente podiam vê-las sob uma nova luz, a luz que emanava da cruz e do túmulo vazio (veja At 3:17-19).



Terça-feira, 03 de julho
Ano Bíblico: Sl 106–110
Ele voltará

4. Leia Atos 1:9-11. Como Lucas descreve a ascensão de Jesus? Nessa ocasião, dois anjos falaram com os discípulos. O que isso significa? (Veja Dt 19:15.)

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O relato de Lucas sobre a ascensão de Cristo é muito breve. Jesus estava com os discípulos no Monte das Oliveiras e, enquanto ainda os abençoava (Lc 24:51), foi levado para o Céu. É claro que a linguagem é fenomenológica; isto é, a cena foi retratada como pareceu aos olhos humanos, não como realmente foi. Jesus estava partindo desta Terra, e não havia outra maneira de fazê-lo de forma visível senão indo para cima.

A ascensão de Jesus foi um ato sobrenatural de Deus, um dos muitos ao longo da Bíblia. Isso fica implícito pela maneira como Lucas a descreveu, com a voz passiva ep?rth? (“Ele foi elevado às alturas”; At 1:9). Embora seja utilizada apenas nesse verso do Novo Testamento, essa forma verbal é encontrada diversas vezes na versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta), todas elas descrevendo ações de Deus, o que sugere que Deus mesmo elevou Jesus até o Céu, assim como Ele O ressuscitara dos mortos (At 2:24, 32; Rm 6:4; 10:9).

Lucas relata, apenas no livro de Atos, o episódio das duas figuras vestidas de branco que estavam ao lado dos discípulos, após Cristo ter sido encoberto por uma nuvem. A descrição coincide com a de anjos em suas vestes brilhantes (At 10:30; Jo 20:12). Eles vieram assegurar aos discípulos que Jesus voltaria da mesma maneira pela qual havia subido. Além disso, apenas o livro de Atos nos informa que Cristo subiu “à vista deles” (At 1:9).

Portanto, a ascensão visível se tornou a garantia do retorno visível, que também ocorrerá em uma nuvem, embora com “poder e grande glória” (Lc 21:27). Não será mais um evento reservado, pois “todo olho O verá” (Ap 1:7), e Ele não estará sozinho (Lc 9:26; 2Ts 1:7). A glória da segunda vinda de Jesus excederá em muito a da ascensão.

Como podemos manter a promessa da segunda vinda de Cristo sempre diante de nós? De que maneira essa poderosa verdade deve impactar todas as áreas de nossa vida, como as finanças, nossas prioridades e escolhas morais?


Quarta-feira, 04 de julho
Ano Bíblico: Sl 111–118
Preparação para o Pentecostes

Em Sua resposta em Atos 1:7, 8, Jesus nada prometeu em relação ao tempo de Sua segunda vinda. No entanto, a implicação natural de Suas palavras era que logo depois que o Espírito viesse e os discípulos completassem sua missão, Ele retornaria (veja Mt 24:14). O comentário dos anjos (At 1:11) também não respondeu à pergunta sobre o momento da vinda do reino, mas podia ser entendido como se esse acontecimento não fosse demorar. Isso parece explicar por que os discípulos “voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo” (Lc 24:52). A promessa da segunda vinda de Jesus em um tempo não especificado (o que deveria dar-lhes incentivo adicional para a sua missão) foi entendida como se o fim estivesse próximo. Novos acontecimentos em Atos evidenciarão esse ponto.

5. Leia Atos 1:12-14. Quem mais estava no cenáculo, e como eles se prepararam para a vinda do Espírito? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A. (  ) Moisés, Enoque e Abraão. Eles estavam conversando.

B. (  ) Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Eles perseveravam em oração.

Tendo retornado do Monte das Oliveiras, os discípulos se reuniram num quarto de hóspedes do pavimento superior (em latim, cenaculum) de uma casa particular em Jerusalém. Algumas seguidoras de Jesus (Lc 8:1-3; 23:49; 24:1-12), bem como Sua mãe e Seus irmãos, estavam ali com os discípulos.

Os irmãos de Jesus (Mc 6:3) eram filhos mais novos de José e Maria (Mt 1:25; Lc 2:7) ou, mais provavelmente, filhos do primeiro casamento de José (nesse caso, ele era viúvo quando tomou Maria como esposa). A presença deles entre os discípulos é uma surpresa, visto que sempre haviam sido bastante céticos em relação a Jesus (Mc 3:21; Jo 7:5). No entanto, a ressurreição de Cristo e Sua aparição especial a Tiago (1Co 15:7) parece ter feito toda a diferença. Mais tarde, Tiago aparentemente até substituiria Pedro na liderança da comunidade cristã (At 12:17; 15:13; 21:18; Gl 2:9, 12).

Constantemente em oração (At 1:14) e louvando a Deus no templo (Lc 24:53), todos eles certamente estavam envolvidos na confissão, arrependimento e abandono do pecado. Mesmo que, em sua mente, a vinda do Espírito seria imediatamente seguida do retorno de Jesus, sua atitude espiritual estava em plena harmonia com o que estava para acontecer, pois o Espírito Santo vem em resposta à oração.

Em nossas escolhas diárias, como podemos preparar o caminho para a obra do Espírito em nossa vida?


Quinta-feira, 05 de julho
Ano Bíblico: Sl 119
O décimo segundo apóstolo

A primeira ação administrativa da comunidade cristã primitiva, que somava cerca de 120 fiéis (At 1:15), foi escolher o sucessor de Judas.

6. Leia Atos 1:21, 22. Quais requisitos o sucessor de Judas deveria ter? Por que isso era tão importante?

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Havia a necessidade de uma testemunha da ressurreição de Jesus (compare com At 4:33). Isso é essencial porque, com frequência, a ressurreição é vista como uma evidência poderosa da messianidade de Cristo e da verdade de toda a fé cristã.

Eles deveriam, no entanto, escolher alguém dentre os que haviam acompanhado os apóstolos em todo o ministério de Jesus. Paulo posteriormente insistiria que, apesar de não ter estado com o Jesus terrestre, ele tinha direito ao ofício apostólico porque seu encontro com Cristo na estrada de Damasco o qualificava a testemunhar de Sua ressurreição (1Co 9:1). Embora admitisse ser como “um nascido fora de tempo” (1Co 15:8), Paulo se recusava a considerar-se menos qualificado do que os outros apóstolos (1Co 9:2; Gl 2:6-9). Somente os doze e Paulo, portanto, eram “apóstolos” no sentido técnico e autoritativo (At 1:25, 26); no sentido básico e geral de “enviado” ou “mensageiro”, porém, o termo também poderia ser usado para designar outros obreiros evangélicos (At 14:4, 14; Gl 1:19).

7. Leia Atos 1:23-26. Como Matias foi escolhido?

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O método que eles usaram para escolher Matias pode parecer estranho, mas o lançamento de sortes era uma maneira de tomar decisões já há muito tempo estabelecida (por exemplo, Lv 16:5-10; Nm 26:55). Além disso, a escolha era entre dois candidatos previamente reconhecidos e de qualificações equivalentes, e não um passo rumo ao desconhecido. Os fiéis também oraram a Deus, acreditando que o resultado refletiria a Sua vontade (compare com Pv 16:33). E não há evidência de que a decisão tenha jamais sido contestada. Após o Pentecostes, o lançamento de sortes tornou-se desnecessário em razão da orientação direta do Espírito (At 5:3; 11:15-18; 13:2; 16:6-9).



Sexta-feira, 06 de julho
Ano Bíblico: Sl 120–134
Estudo adicional

Todo o período entre o Pentecostes e a Parousia [segunda vinda de Cristo] (seja longo ou curto) deve ser preenchido com a missão mundial da igreja no poder do Espírito. Os seguidores de Jesus deviam anunciar o que Ele realizou em Sua primeira vinda e chamar o povo para arrepender-se e crer, preparando-se para a Sua segunda vinda. Eles deviam ser Suas testemunhas ‘até aos confins da Terra’ (At 1:8) e ‘até à consumação do século’ (Mt 28:20) […]. Não temos a liberdade de parar até que ambos os fins sejam alcançados” (John R. W. Stott, A Mensagem de Atos: Até aos Confins da Terra, São Paulo: ABU, 1994, p. 43).

“A comissão do Salvador aos discípulos incluía todos os que creem. Abrange todos os que confiam em Cristo até o fim dos tempos. É um grave erro supor que a obra de salvar pessoas depende apenas do pastor ordenado. Todos aqueles que receberam a inspiração celestial são depositários do evangelho. Todos os que recebem a vida de Cristo são mandados a trabalhar pela salvação de seus semelhantes. Para essa obra foi estabelecida a igreja, e todos os que tomam sobre si seus sagrados votos comprometem-se, assim, a ser colaboradores de Cristo” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 822).

Perguntas para discussão

1. Atos 1:7 relembra Marcos 13:32: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no Céu, nem o Filho, senão o Pai.” Ellen G. White afirmou: “Nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo. Não devemos saber o tempo definido nem para o derramamento do Espírito Santo nem para a vinda de Cristo” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 188). Ela acrescentou: “Qualquer que comece a anunciar a hora, dia ou ano da aparição de Cristo assume um jugo e proclama uma mensagem que o Senhor nunca lhe deu” (Advent Review and Sabbath Herald, 12 de setembro de 1893). Qual é a relevância dessas declarações hoje?

2. Alguém disse: “Deus precisa de testemunhas mais do que de advogados”. O que você acha dessa afirmação?

3. Qual foi o papel da oração na igreja primitiva? Seria coincidência o fato de que, em quase todos os momentos decisivos da vida da igreja primitiva, encontramos uma referência à oração (At 1:24; 8:14-17; 9:11, 12; 10:4, 9, 30; 13:2, 3)? Qual é o papel da oração em nossa vida?

Respostas e atividades da semana: 1. A. 2. Testemunhar em Jerusalém, na Judeia, em Samaria e nos confins da Terra. 3. O arrependimento para a remissão dos pecados. 4. Peça que um dos alunos leia o texto bíblico. Discuta a pergunta com a classe. 5. F; V. 6. Ele deveria ter andado com os discípulos desde o começo e testemunhado a ressurreição de Jesus. 7. Peça que um aluno leia o texto e apresente a resposta. Compartilhe a experiência de seu “chamado”



Resumo da Lição 1
“Sereis Minhas testemunhas”

TEXTOS-CHAVE: Atos 1:1-8; Lucas 24:50-53

O ALUNO DEVERÁ

Conhecer: A continuidade da missão redentiva de Jesus.
Sentir: Perceber como a missão de pregar sobre a salvação teve início na igreja e como ela obteve seu poder e ímpeto.
Fazer: Examinar em que medida nós, como seguidores de Cristo, estamos comprometidos com a proclamação do evangelho.

ESBOÇO

I. Conhecer: A continuidade da missão redentora de Deus

Como sabemos que as boas-novas da salvação são uma história contínua da missão redentiva de Deus em favor dos pecadores?

II. Sentir: O poder da igreja primitiva

A. O que significa dizer que a propagação do evangelho não dependeu de inteligência nem de planejamento humanos, mas do poder do Espírito Santo?

B. A expansão histórica da igreja não foi apenas o resultado da obra humana, mas do poder do Espírito Santo. Podemos dizer que, neste trimestre, estamos estudando mais os “Atos do Espírito Santo” do que os “Atos dos Apóstolos”. Como o livro de Atos confirma essa avaliação?

III. Fazer: Nossa participação no crescimento da igreja

Visto que os Atos dos Apóstolos são uma crônica inacabada do crescimento da igreja que requer nossa participação, quanto estamos comprometidos com esse objetivo?

RESUMO

A ordem do Jesus ressuscitado a Seus seguidores é que eles deem testemunho de Sua mensagem salvífica. Ele também nos capacita a cumprir essa ordem. “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” (At 1:8). Como você recebeu essa ordem? Você tem sido dominado por esse poder?

Ciclo do aprendizado

1 Motivação

Focalizando as Escrituras: Lucas 24:50-52; Atos 1:6-8

Conceito-chave para o crescimento espiritual: O livro de Atos constantemente nos lembra de que o crescimento espiritual não ocorre de maneira isolada. Tudo que é realizado em nossa vida individual ou na vida coletiva da igreja é resultado do ministério de Jesus, e é realizado pelo poder do Espírito Santo. Talvez nenhum outro livro da Bíblia seja tão claro e, em um espaço tão breve, narre o nascimento, o crescimento, a missão e a continuação da vida cristã, como o livro de Atos. O resumo inicial dos cinco pontos de Lucas em Atos é notável: (1) esteja convicto da missão de Jesus [At 1:1-3]; (2) fique alerta e aguarde o recebimento do Espírito Santo [At 1:4-5]; (3) preocupe-se mais com o que e não com o quando do reino [At 1:4-7]; (4) esteja pronto para receber o Espírito [At 1:8]; (5) seja uma testemunha em todos os lugares, desde a sua casa até o mundo [At 1:8].

Para o professor: Sem o livro de Atos dos Apóstolos, nosso conhecimento e compreensão dos primórdios da igreja cristã seriam muito pobres. Embora o título do livro contenha a palavra “Apóstolos” no plural, apenas dois apóstolos desempenham um papel importante no livro. Pedro (At 1-15) percorre a história da igreja desde o Pentecostes até o Concílio de Jerusalém, testemunhando eventos muito importantes como o Pentecostes, a conversão dos gentios, o Concílio de Jerusalém, e assim por diante. Paulo (At 13-28) é o personagem principal do livro de Atos, desenhando o mapa missionário da igreja, de Jerusalém a Roma. Ao mencionar João e Tiago algumas vezes, juntamente com outros representantes da igreja (Estêvão, Filipe, Cornélio, Barnabé, João Marcos, Priscila e Áquila, Dorcas, Lucas, etc.), o livro de Atos apresenta uma dupla certeza: (1) todo aquele que leva o nome de Cristo tem uma função na missão cristã; e (2) o evangelho do reino será pregado “com toda a intrepidez” (At 28:31) a todo o mundo.

Discussão inicial: Em Atos 28:24, Lucas fez uma declaração notável: Alguns “ficaram persuadidos [...] outros, porém, continuaram incrédulos”. Essas poucas palavras proclamam ao Universo que Jesus é o Juiz supremo da humanidade. Aceite-O e você terá a vida eterna. Rejeite-O e será condenado. Mediante essa conclusão, Lucas encerrou sua narrativa sobre a igreja com um desafio àqueles que aceitam Jesus: preguem o reino de Deus e ensinem sobre Jesus com confiança. Por que podemos afirmar que, como cristãos, essa é nossa maior responsabilidade?

2 Compreensão

Para o professor: De acordo com Atos 1:1, antes que o livro fosse escrito, seu autor havia escrito um “primeiro livro”. Ambos os relatos – o terceiro evangelho e o livro de Atos (Lc 1:3; At 1:1) – foram dirigidos a Teófilo, um nobre grego que tinha muitos recursos e cultura. Teófilo era amigo de Lucas e possivelmente um recém-convertido à fé cristã. Visto que tanto o livro de Atos quanto o terceiro evangelho foram dirigidos a Teófilo, a igreja primitiva considerou que ambos os relatos haviam sido escritos por um único autor, Lucas. Juntos, os dois relatos de Lucas podem ser chamados de “ origem e história da igreja cristã”. O primeiro trata da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo. O segundo trata da propagação do evangelho de Jerusalém a Roma.

Comentário bíblico

Quando Jesus ensinou Seus discípulos a orar “venha o Teu reino” (Mt 6:10), Ele semeou uma expectativa urgente no coração não apenas dos doze, mas das gerações de Seus seguidores.

O reino é o tema que motiva Sua mensagem. Estar com Deus; viver em comunhão com os santos de todas as épocas; retirar-se para sempre do reino do mal e entrar no reino da justiça é o desejo de todo seguidor de Jesus. Assim, envolvidos pela glória do poder da ressurreição, novamente preenchidos pelo imensurável poder do Salvador ressurreto, os discípulos perguntaram algo que estava perturbando seu coração: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel? (At 1:6, NVI). A Palavra de Deus responde à pergunta com uma certeza e uma missão.

I. A pergunta dos discípulos

Tendo Satanás sido derrotado na cruz e a morte sido vencida na manhã da ressurreição, os discípulos tinham uma pergunta para a qual ainda aguardavam uma resposta: quando o reino seria estabelecido? O reino de Deus é o tema central dos ensinamentos de Cristo. A palavra “reino” e suas palavras associadas – “reino de Deus” e “reino dos Céus” – ocorrem repetidas vezes nos evangelhos: 50 vezes em Mateus, 13 em Marcos, 37 em Lucas e 5 em João. Sempre que ocorre uma referência ao reino, há um senso de novidade, urgência e expectativa. Novidade porque a entrada de Jesus na história introduziu um elemento novo e dinâmico: Deus entrou no espaço e no tempo humanos e realizou uma mudança singular na ordem criada. Urgência porque, com Jesus, o tempo assume uma nova qualidade. De Belém em diante, o tempo deve ser medido do ponto de vista de um novo evento. Tanto a história humana quanto a história pessoal devem ser datadas em termos de um relacionamento – a.C. ou d.C. A esperança humana é segura e certa apenas dentro da dinâmica do reino de Deus. Daí a expectativa: quando o reino virá?

Pense nisto: “Este reino não é, como esperavam os ouvintes de Cristo, um domínio temporal e terrestre. Cristo estava a abrir aos homens o reino espiritual de Seu amor, Sua graça, Sua justiça” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 8). O que deve caracterizar aquele que vive no espírito do reino de Deus?

II. A certeza e a missão de Cristo

(Recapitule com a classe Jo 14:2, 3 e At 1:11.)

À pergunta inquieta dos discípulos sobre quando o reino viria, Jesus lhes deu uma certeza e uma missão:

Certeza: O Cristo ressuscitado não deixou dúvidas sobre a realidade do reino. Ele disse: “Vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, estejais vós também” (Jo 14:2, 3). Para lembrar e reforçar essa certeza, após a ascensão de Jesus, Deus enviou Seus anjos com palavras de garantia aos discípulos: “Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como O viram subir” (At 1:11, NVI).

Missão: A certeza de que Cristo virá uma segunda vez para estabelecer Seu reino envolve uma missão – a mensagem de Seu reino e o meio para entrar nesse reino devem ser proclamados até os confins da Terra. Embora não saibamos o dia nem a hora da vinda do reino, temos a missão de proclamá-lo (At 1:8).

Pense nisto: “A comissão do evangelho é a Carta Magna missionária do reino de Cristo. Os discípulos deviam trabalhar fervorosamente pelas pessoas, estendendo a todas o convite de misericórdia. Não deviam esperar que o povo viesse a eles; deviam eles ir ao povo com a mensagem” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 28). Quanto e de que maneira você está envolvido nessa missão?

3 Aplicação

Para o professor: No estudo de Atos 1, observamos até agora três verdades sobre o reino: (1) Os discípulos de Cristo desejavam o estabelecimento de Seu reino. (2) O Jesus ressuscitado afirmou que o reino não admite demora nem incerteza. (3) A proclamação do reino e sua mensagem salvífica envolve todo o mundo. Em Atos 1, há um aspecto que ainda precisava ser esclarecido na missão global do reino: o preenchimento das posições de liderança.

Discussão: Como preenchemos uma vaga que surge na liderança da igreja? Atos 1:15-26 estabelece duas qualificações principais. (1) Ter uma experiência pessoal com Jesus: um potencial líder devia ter vivido com Jesus “começando no batismo [...], até ao dia em que dentre [eles havia sido] levado às alturas” (At 1:22). Educação, teologia, cultura, administração e persuasão são qualificações que a igreja pode usar, mas nenhuma delas substitui o conhecimento pessoal de Jesus. (2) Ser uma “testemunha [...] da Sua ressurreição” (At 1:22): a ressurreição não pode ser isolada da cruz. A cruz vindica o plano redentivo de Deus para o pecado, e a ressurreição oferece a esperança da novidade. Não se pode ser um cristão, que dirá um líder cristão, sem experimentar o poder da cruz e do túmulo vazio. Experimentar o poder da ressurreição é indispensável para a proclamação do evangelho (1Co 15:8).

4 Criatividade

Para o professor: “Deus toma os homens tais quais são, e os educa para Seu serviço, uma vez que se entreguem a Ele [...]. O caráter fraco e vacilante muda-se em outro forte e firme. A devoção contínua estabelece uma relação tão íntima entre Jesus e Seu discípulo, que o cristão se torna como Ele em espírito e caráter” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 251).

1. Tendo em mente a citação acima, peça a voluntários em sua classe que contem a história de líderes da igreja, seja ao longo da história ou no ministério atual, que sejam exemplos de como Deus transforma pessoas comuns em líderes.

2. Quais personagens bíblicos refletem o princípio de que Deus atua na escolha de Suas testemunhas? Tenha sempre em mente que, à parte do poder transformador de Cristo na vida, os indivíduos escolhidos não estão suficientemente aptos.


Dominada por espíritos

Quando Si-Woo [pronuncia-se: She-oo] era criança, sofria de enxaquecas crônicas em Daegu, uma grande cidade da Coreia do Sul. Mesmo depois de ter crescido, ter-se formado na faculdade, ter-se casado e se tornado mãe de uma menina, a vida era uma constante luta devido às enxaquecas. Para agravar a situação, os médicos não conseguiam descobrir a causa. Ela visitou templos budistas, para se consultar com monges e encontrar alívio, mas eles sempre a enviavam de volta para casa, sem solução.

Até que, certo dia, Si-Woo visitou um xamã, uma pessoa que acreditava comunicar-se com espíritos bons e maus. Ele disse a Si-Woo que uma criança fantasma havia entrado na sala antes dela, que o tal espírito era irmão dela e a causa da enxaqueca era que esse irmão havia falecido por causa de doenças da cabeça.

De fato, Si-Woo tinha um irmão falecido, mas sabia pouca coisa sobre ele, porque ele nascera antes dela. Ao voltar para casa, a mãe confirmou a história do irmão. Então, Si-Woo retornou ao xamã, em busca de mais conselhos. O xamã disse que ela devia ser possuída por um espírito e se tornar xamã. Se recusasse, disse o religioso, sua filha mais nova seria atormentada pelo espírito. Isso a convenceu a se tornar xamã.

Iniciação e desfecho 
Para ser possuída, ela precisava recitar uma reza durante cem dias e fazer uma peregrinação nas montanhas, acompanhada do marido e o xamã que a iniciara. Seria necessário que ela rezasse durante três horas à noite, duas horas pela manhã, e tomasse banho gelado para purificar o corpo. No fim do processo, ela estava possuída não por um, mas por vinte espíritos.

Si-Woo abriu um santuário para esses espíritos e, sob a influência deles, passou os vinte anos seguintes fazendo fortuna e oferecendo cura de doenças. Devido às possessões, ela era bem requisitada. Se uma pessoa estivesse estava com dor de barriga e a procurasse, ela acertava o diagnóstico. Caso estivesse com problema cardíaco, ela curava a dor. Prescrevia amuletos, rezas, exorcismo e os sintomas desapareciam. Com isso, fez fortuna, mas não estava feliz. As enxaquecas desapareceram, mas sofria de dor no corpo e psicose crescente, uma desordem mental onde pensamentos são tão prejudiciais que a pessoa perde o senso de realidade. O marido e filhos a desertaram e ela tentou cometer suicídio várias vezes.

Então, certo dia, ela sofreu um acidente de carro e precisou ficar hospitalizada por um mês. O acidente a deixou perplexa, perguntando-se como poderia ter previsto o futuro das pessoas, mas não previu o próprio infortúnio. “Por que os deuses aos quais tenho servido há vinte anos não me protegeram?”, pensou. “Se eles não conseguem me proteger, como confiarei neles?” Si-Woo rezou para que a fé fosse fortalecida, mas nada aconteceu. Frustrada, ateou fogo no seu santuário e anunciou que não serviria mais aos deuses. Finalmente, os vinte espíritos a deixaram.

Vazio preenchido 
Mas, sem o santuário, Si-Woo se sentia vazia e amedrontada. Começou a perguntar se existia um Deus mais poderoso que outros deuses. Lembrou-se de uma mulher adventista que certa vez lhe falara sobre Jesus e decidiu telefonar para ela. A senhora adventista lhe apresentou um pastor aposentado, que se dispôs a estudar a Bíblia com ela. Si-Woo descobriu o verdadeiro estado dos mortos e percebeu que estivera servindo a Satanás. Terminados os estudos, ela foi batizada em 2016.

Decidida a não deixar o inimigo comandar sua vida novamente, She-Woo confiou na mensagem de Lucas 11:24: “Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso, e não o encontrando, diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí.’” Por isso, lê a Bíblia e ora todas as manhãs. Pela primeira vez na vida, sente alegria e paz.

Quando Jesus expulsou os demônios de um homem, deu a ele esta instrução: “Vá para casa, para a sua família e anuncie-lhes quanto o Senhor fez por você e como teve misericórdia de você” (Mc 5:19). Seguindo essa orientação, Si-Woo testemunha, nas igrejas da Coreia do Sul, o que Jesus fez por ela. E todos os que ouvem ficam maravilhados!

 

Conhecendo a Coreia do Sul

  • Os coreanos adoram o kimchi, um tradicional prato coreano condimentado feito de vegetais. Kimchi de repolho, kimchi de rabanete e kimchi de pepino, existem cerca de 250 tipos diferentes dessa iguaria.
  • Em vez de aquecedores de ar, os sul-coreanos têm piso aquecido. Chamado “ondol” (pedra quente), o calor é passado através de tubos subterrâneos. É uma tecnologia antiga, e mais de 90% das casas coreanas ainda utilizam.
  • O número “4” é considerado número de azar na Coreia. Nos elevadores, o botão do quarto andar é frequentemente mostrado com a letra "F", ou não aparece.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018

Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos

Introdução ao Livro de Atos 

Autor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

O Livro de Atos, ou Atos dos Apóstolos, é o quarto livro do cânon do Novo Testamento (NT), e o segundo em tamanho. Com 18.450 palavras (no original grego), ele é menor apenas que o Evangelho de Lucas, que tem 19.482 palavras. O terceiro é Mateus, com 18.346 palavras.

Autor. Assim como os evangelhos, Atos não traz o nome de seu autor. Segundo a tradição cristã, o autor foi Lucas, identificado em Colossenses 4:14 como médico de formação e assistente evangelístico de Paulo. A mesma passagem (Cl 4:10-15), deixa claro que Lucas era gentio, ou seja, não judeu, visto que ali Paulo não o inclui entre aqueles que são “da circuncisão”, no caso, judeus étnicos ou conversos à religião judaica. Fora isso, o Novo Testamento pouco ou nada informa a respeito de Lucas, embora deixe implícito que ele esteve com Paulo em pelo menos duas de suas viagens missionárias, a segunda e a terceira, além do período de seu aprisionamento em Jerusalém, encarceramento em Cesareia e subsequente viagem a Roma, após haver ele apelado ao imperador. Em Atos, a primeira pessoa do plural (“nós”) é utilizada nessas partes do relato (At 16:10-17; 20:5–21:18; 27:1–28:16), o que sugere que o autor tenha participado dos eventos que narrou. Em 2 Timóteo 4:11, Paulo também se referiu a ele em seu aprisionamento final em Roma.

A tradição da igreja também diz que Lucas era natural de Antioquia da Síria, mas não há como comprovar a veracidade dessa informação. Seja como for, ao que tudo indica, Lucas foi o único não judeu a contribuir para a formação do cânon bíblico. E, visto que ele também deve ter sido o autor do evangelho que leva seu nome, o “primeiro livro” mencionado em Atos 1:1, ele acabou sendo o escritor que mais contribuiu para a formação do NT: 27% ao todo, superando o próprio apóstolo Paulo (23%).

Data. O último evento descrito em Atos é a prisão domiciliar de Paulo em Roma por dois anos (At 28:30, 31), o que, segundo as melhores estimativas, deve ter ocorrido entre os anos 61-63 d.C. Como Lucas nada falou sobre a libertação do apóstolo nem o que ele teria feito em seguida, imagina-se que o livro foi escrito, ou pelo menos concluído, naquele momento. O evangelho, por sua vez, o “primeiro livro” de Atos 1:1, deve ter sido escrito durante o cativeiro de Paulo em Cesareia, nos dois anos que precederam sua viagem a Roma e aprisionamento ali (At 24:27), ou seja, mais ou menos entre 58 e 60 d.C. Note que, no prólogo do evangelho, Lucas disse que seu conhecimento da vida e do ministério de Jesus chegou até ele por meio de “testemunhas oculares” (Lc 1:1-4). Como tais testemunhas se achavam principalmente na Palestina, e Lucas esteve na Palestina ao final da terceira viagem missionária de Paulo (At 21:18), exatamente a viagem que culminou com sua detenção em Jerusalém, é bem provável que tenha sido durante os dois anos em que o apóstolo esteve detido em Cesareia que o evangelho foi escrito. É desnecessário dizer que Lucas acompanhou o apóstolo em sua viagem a Roma para ser julgado pelo imperador – confira o uso da primeira pessoa do plural em At 27:1–28:16.

Destinatário. Ambos, o evangelho e Atos, foram dedicados a um certo Teófilo (Lc 1:3; At 1:1), de quem nada sabemos além do fato de que era um interessado na fé cristã, ou quem sabe um recém-converso (cf. Lc 1:4). Há quem pense que Teófilo fosse uma pessoa influente que poderia ajudar na divulgação tanto do evangelho quanto de Atos. Na antiguidade, talvez ainda mais que hoje, a produção de livros exigia tempo e recursos. Nesse caso, Teófilo seria o patronus libri de Lucas, o que era prática relativamente comum nos tempos de Lucas. Seja como for, a relevância de ambos os livros vai muito além das circunstâncias envolvendo Teófilo ou os leitores do primeiro século, e é por isso que dois mil anos depois continuamos a estudá-los com profundo interesse.

Lucas-Atos. Juntos, esses dois livros de Lucas descrevem os primórdios da igreja cristã, sua origem (a vida e o ministério de Jesus) e conquista do mundo greco-romano (os esforços evangelísticos dos apóstolos, principalmente Paulo). Visto que Lucas se referiu ao evangelho como “o primeiro livro” (At 1:1), é bem provável que esses dois volumes tenham inicialmente circulado juntos, como os volumes um e dois de uma mesma obra. A antiguidade produziu muitos livros assim. É interessante notar que Atos começa no mesmo ponto em que o evangelho termina, ou seja, com as aparições e instruções finais de Jesus aos discípulos, seguidas de Sua ascensão (Lc 24:36-53; At 1:1-11). Posteriormente, quando o cânon do Novo Testamento começou a ser organizado, talvez já no início do segundo século, esses dois livros acabaram sendo separados um do outro pelo Evangelho de João, o último evangelho a ser escrito.

Período. Atos narra os primeiros trinta anos da história da igreja, desde a ascenção de Jesus no ano 31 d.C até o final do primeiro aprisionamento de Paulo em Roma, em 63 d.C. Esse período inclui episódios como o derramamento do Espírito (Pentecostes), a conversão de Paulo e o início das missões gentílicas, sob a liderança do apóstolo. Foram três viagens missionárias ao todo, mais uma quarta viagem a Roma como prisioneiro, o que não impediu o apóstolo de testemunhar de Jesus (At 28:16-31). Foi no decurso de suas viagens (segunda e terceira) e aprisionamento em Roma que Paulo escreveu a maioria de suas epístolas. Após ser liberto pelo imperador, ele ainda voltaria a empreender pelo menos mais uma viagem, dessa vez ao redor do Mar Egeu, e a escrever suas últimas epístolas, 1 e 2 Timóteo e Tito (1Tm 1:3; Tt 1:5; 3:12; 2Tm 4:9-13), até ser preso novamente e executado em Roma por volta do ano 67 d.C. (2Tm 4:6-8). Esses anos finais do apóstolo (63-67 d.C.), porém, são posteriores ao período coberto pelo Livro de Atos.

Tema.  Atos foi escrito para mostrar o cumprimento da comissão evangélica deixada por Jesus aos discípulos (Lc 24:44-49; At 1:6-8). Fundamental nesse processo foi a vinda do Espírito Santo (At 2:1-4) e a posterior conversão de Paulo (At 9:1-19; 22:6-16; 26:9-18), o grande herói de Lucas, a quem ele dedica três quartos do livro. O evangelho é um só, tanto para judeus quanto para gentios (Rm 1:16; 3:29; cf. 2Co 5:15; Cl 3:11; 1Tm 2:4-6; Tt 2:11), e é por isso que ele não podia ficar circunscrito às fronteiras judaicas ou ao povo de Israel. As boas-novas da salvação em Cristo são para todos, independemente de raça, sexo ou posição social. Deus não faz acepção de pessoas e deseja salvar todos igualmente (At 1:8; 2:21, 39; 3:25; 10:28, 34-35). E o relato de Atos mostra como o evangelho saiu das dependências de uma residência qualquer em Jerusalém (At 1:12-14; 2:1) para conquistar o mundo da época, o mundo mediterrâneo, do qual os judeus faziam parte.

Essa conquista, porém, não foi fácil. Os triunfos da igreja apostólica não foram alcançados senão em meio a muitas dificuldades. As principais delas, porém, não vieram de fora, mas de dentro da própria comunidade de fé. Não devemos pensar nesse período como se tudo fosse mil maravilhas. Os apóstolos, inclusive Paulo, eram humanos e sujeitos a fraquezas e limitações. O Livro de Atos não esconde as enormes lutas e obstáculos que Paulo precisou superar da parte de seus próprios irmãos na fé em Jerusalém, incluindo-se os demais apóstolos. Havia muita incompreensão e tabus a ser quebrados. Esses foram anos de debates, controvérsias e superação quando a igreja buscava uma nova identidade que extrapolasse os limites do judaísmo e se tornasse o que é hoje: uma igreja mundial. Em Atos, aprendemos como foi que tudo começou.

 

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2018

Tema Geral: O Livro de Atos dos Apóstolos

Lição 1: 30 de junho a 6 de julho

“Sereis Minhas testemunhas” 

Autor: Wilson Paroschi
Professor de Novo Testamento
Southern Adventist University
Collegedale, TN, EUA

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

Esboço da lição da semana

  1. Instruções finais aos discípulos (At 1:1-8)
  2. A ascensão (At 1:9-11)
  3. O preparo para o Pentecostes (At 1:12-14)
  4. A escolha de Matias (At 1:15-26) 

I. As intruções finais aos discípulos (At 1:1-8)

O livro de Atos é a continuação do evangelho de Lucas, e começa no mesmo ponto em que o evangelho termina, ou seja, com as aparições de Jesus após a ressurreição e Suas instruções finais aos discípulos (cf. Lc 24:44-53). Apenas Lucas nos informa que o período entre a ressurreição e a ascensão foi de quarenta dias e que o foco dos ensinos de Jesus aos discípulos nesse período foi o reino de Deus (At 1:5).

1. A pergunta dos discípulos sobre o reino

O que levou Jesus a Se concentrar na questão do reino de Deus foi a enorme incompreensão dos discípulos quanto à Sua morte, como foi revelado na pergunta que eles Lhe fizeram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6; cf. Lc 24:21). O que é o reino de Deus? Em termos simples, o reino de Deus é o governo ou a soberania espiritual de Deus no Universo, e não uma área geográfica delimitada por fronteiras com um governo central e um grupo de súditos, como nos reinos terrestres, ainda que no Antigo Testamento (AT), por causa da eleição de Israel e do conceito de nação santa (cf. Êx 19:5, 6), o reino de Deus se confunda um pouco com um reino político. A noção de reino no ensino de Jesus tem que ser vista à luz do pecado e do fato de Satanás haver usurpado o domínio desta Terra das mãos de Adão (Jo 14:30) e lançado uma enorme sombra de dúvida sobre o caráter e o governo moral de Deus em todo o Universo.

Cristo veio para restabelecer o reino de Deus e Ele o fez por meio da Sua morte (Jo 12:31; 16:11; Ap 12:7-10). Por isso, a mensagem favorita de Jesus desde o início de Seu ministério foi: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus” (Mt 4:17), algo antecipado por João Batista (Mt 3:2).

Porém, por causa do cativeiro babilônico e das muitas ocupações estrangeiras que se seguiram, os judeus começaram a relacionar o reino de Deus com a esperança de um reino terrestre que restaurasse não só a soberania de Jeová sobre todos os deuses (das nações inimigas) como também a dinastia de Davi em Judá. No conturbado período de cerca de quatrocentos anos entre o retorno dos exilados de Babilônia e o nascimento de Jesus, a figura do Messias prometido começou a ser associada mais e mais a um rei que viria para libertar Israel das mãos dos opressores pagãos.

Infelizmente, era isso que os discípulos tinham em mente quando deixaram tudo para seguir Jesus (Mc 9:33, 34; 10:37). A despeito dos esforços Dele para prepará-los para a realidade da Sua morte (Mt 16:21; Mc 10:38; Jo 2:19-22; 10:11, 17, 18; 12:32), mesmo na noite anterior à crucificação (Jo 14:19, 20; 16:16-22), eles continuavam presos à ideia de um Messias e um reino políticos. Isso explica o estado de absoluta desolação em que ficaram em decorrência da cruz. Todos os seus sonhos de glória e independência ruíram completamente (Lc 24:18-21). A ressurreição, porém, fez com que tais sonhos se reavivassem, e foi por isso que eles se aproximaram de Jesus e perguntaram mais esperaçosos do que nunca: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6). 

2. A resposta de Jesus

Foi por causa da incompreensão dos discípulos que Jesus gastou boa parte do período pós-ressurreição instruindo-os quanto à natureza espiritual do reino (At 1:3) e como isso se relacionava com Sua morte, algo que os discípulos finalmente parecem ter compreendido (At 2:22-24, 32, 36; 3:18-26; 4:10, 33; 5:30, 31). É interessante, no entanto, ver como Lucas narra o episódio envolvendo a pergunta do verso 6 de Atos 1 e o que aconteceu em seguida. Em sua resposta, Jesus não tocou na questão do tempo, deixando-a em aberto e mudando o assunto do diálogo para a missão que os discípulos teriam que realizar (At 1:7, 8). Embora a princípio isso também os deixasse confusos quanto à sequência dos eventos finais (a questão do tempo do verso 6), Jesus sabia o que estava fazendo, como veremos na lição três. Ele sabia que, da perspectiva humana, o conceito de um breve retorno, presente na expectativa dos discípulos, principalmente após a ascensão, e o estabelecimento definitivo do reino de Deus no Universo não parecem se harmonizar com uma missão de caráter mundial, que requer tempo.

II. A ascensão (At 1:9-11)

Lucas é o único evangelista a narrar a ascensão de Jesus, e o faz de maneira muito breve (Lc 24:50-53). Em Atos, ela ocupa um versículo apenas (At 1:9). O principal interesse de Lucas parece ter sido a aparição dos anjos e a promessa da volta de Jesus (At 1:10, 11). Duas coisas aqui devem ser destacadas. Primeira, ao deixar os discípulos em suspense quanto ao tempo em que o reino seria restaurado, a promessa dos anjos naturalmente levaria os discípulos a concluir que, assim que cumprissem sua missão mundial, Jesus voltaria. E não havia nada de errado nisso (cf. Mt 24:14). Mas, o ponto é que desdobramentos posteriores em Atos mostram que, com o Pentecostes, os discípulos pensaram que Sua missão mundial já estivesse concluída e que Jesus voltaria num breve espaço de tempo, ainda em seus dias. Trataremos disso na lição três. A segunda coisa importante em relação às palavras dos anjos tem a ver com a maneira da volta de Jesus. Como a ascensão foi visível, Sua volta também seria visível. “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1:11; cf. Ap 1:7). Em nenhum lugar as Escrituras sugerem que Jesus voltará de forma invisível, como alguns afirmam. Ao contrário, Ele virá “com poder e grande glória” (Lc 21:27) e um número incontável de anjos (Mt 25:31; Lc 9:26). 

III. A preparação para o Pentecostes (At 1:12-14)

Empolgados com a possibilidade de um breve retorno de Seu amado Mestre, os discípulos retornam ao cenáculo em Jerusalém – a ascensão havia ocorrido do lado oriental do Monte das Oliveiras, nas cercanias de Betânia (Lc 24:50). Nunca é demais repetir que o cenáculo (em latim, cenaculum) era apenas um cômodo no segundo pavimento de uma casa qualquer, em geral das famílias mais abastadas. Tais cômodos costumavam ser alugados para atividades ou ocasiões específicas (Lc 22:7-13). A Bíblia não nos informa se esse foi o mesmo cenáculo em que Jesus tivera a última ceia com os discípulos ou outro qualquer (cf. Jo 20:19, 26). O essencial aqui é destacar como os discípulos e aqueles que os acompanhavam aguardaram a vinda do Espírito: com intensa oração (At 1:14), algo que eles certamente haviam aprendido com o próprio Jesus (Lc 3:21; 6:12; 9:28; 18:1; 22:39-46; cf. 11:1). Aqui há uma importante lição para nós. Não há outra forma de se receber o Espírito senão por meio de fervora oração. Na verdade, não há vida cristã saudável senão por meio da oração. O que a respiração é para o corpo, a oração é para a alma. Nada pode substituí-la como fonte de poder e vida. ¹ 

IV. A escolha de Matias (At 1:15-26)

Não está claro porque os apóstolos quiseram substituir Judas. Talvez porque Jesus havia escolhido doze (Lc 9:1-6) e prometido que eles se assentariam em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22:28-30). Os doze, com Matias agora no lugar de Judas (At 1:26), formavam um grupo único na igreja primitiva. Como aqueles que acompanharam Jesus em Seu ministério terrestre (Mc 3:14), eles eram testemunhas da Sua ressurreição (At 1:21, 22) e depositários de Seus ensinos (Mt 28:20), e, portanto, os responsáveis pelo doutrinamento da igreja (At 2:42; 5:42). Como tais, eles não deixaram substitutos. Ninguém que viesse depois deles poderia ser apóstolo no sentido técnico ou autoritativo como eles o foram. Ninguém sobre a Terra tem ou jamais teve a mesma prerrogativa que eles, à exceção de Paulo, que também foi uma testemunha da ressurreição e foi especialmente chamado por Deus para ser apóstolo aos gentios (1Co 9:1; 15:7; Gl 1:15, 16). A chamada sucessão apostólica, portanto, segundo a qual a autoridade eclesiástica foi transmitida pelos apóstolos de forma ininterrupta através dos séculos até os nossos dias, não tem qualquer base bíblica e é rejeitada pela grande maioria das igrejas protestantes. O legado dos apóstolos são seus escritos: os livros que formam o cânon do NT e que, juntamente com as Escrituras do AT, são nossa única regra de fé e prática.²

Conclusão

Pontos a ser enfatizados em classe:

– A natureza espiritual do reino de Deus
– O significado da morte de Jesus para o estabelecimento do reino de Deus
– A certeza da ressurreição (At 1:3)
– A missão de testemunhar a todo o mundo (At 1:8) e o que significa o ato de testemunhar
– A promessa da segunda vinda de Jesus (At 1:11)
– O papel da oração na vida cristã
– O legado dos apóstolos para a igreja

 

Autor do comentário:

Wilson Paroschi ensinou na Faculdade de Teologia do Unasp, Engenheiro Coelho, por mais de trinta anos. Desde janeiro deste ano, é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee, Estados Unidos. Ele é PhD em Novo Testamento pela Andrews University (2004) e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Heidelberg, na Alemanha (2011).

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¹ Ellen G. White, Mensagens aos Jovens, p. 228.
² Nisto Cremos, p. 289. Veja também Ellen G. White, Evangelismo, p. 256; Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 416; O Grande Conflito, p. 9, 595.