Lição 9
20 a 26 de fevereiro
Servir e salvar
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Nm 25-27
Verso para memorizar: “Eis aqui o Meu servo, a quem sustenho; o Meu escolhido, em quem a Minha alma se agrada; pus sobre Ele o Meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios” (Is 42:1).
Leituras da semana: Is 41; 42:1-7; 44:26-28; 45:1-6; 49:1-12

Muitos acham que seria um grande privilégio visitar os cenários da vida de Cristo na Terra, andar pelos lugares por Ele trilhados, contemplar o lago à margem do qual gostava de ensinar, as montanhas e vales em que Seus olhos tantas vezes pousaram. Mas não necessitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas junto ao leito dos doentes, nas casas humildes da pobreza, nos abarrotados becos das grandes cidades e em qualquer lugar onde houver um coração humano necessitado de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando esteve na Terra, andaremos em Seus passos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 640).

Isaías falou de um Servo do Senhor com uma missão semelhante de misericórdia: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega”; Ele viria “para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os cativos, e do cárcere, os que jazem em trevas” (Is 42:3, 7).

Nesta semana, examinaremos esse Servo. Quem é Ele, e o que Ele realizou?



Domingo, 21 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 28-30
Nação serva (Is 41)

1. Em Isaías 41:8 Deus disse que Israel era Seu servo e em Isaías 42:1 apresentou Seu servo. Quem é Ele?

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Seria esse servo Israel/Jacó, o antepassado dos israelitas? A nação de Israel? O Messias/Cristo, identificado no Novo Testamento como Jesus?

Existem dois tipos de referências a servos de Deus entremeadas em Isaías 41–53. Um servo é chamado de “Israel” ou “Jacó”, como vemos em Isaías 41:8; 44:1, 2, 21; 45:4; 48:20. Em virtude de Deus ter Se dirigido a Israel/Jacó no presente, fica claro que ele, Jacó, representava a nação que descende dele. Isso é confirmado pelo fato de que a redenção para o “Seu servo Jacó” é cumprida no momento em que ele sai de Babilônia (Is 48:20).

Em outros casos, como em Isaías 42:1; 50:10; 52:13; 53:11, o servo de Deus não é nomeado. Ao ser mencionado pela primeira vez, em Isaías 42:1, Sua identidade não é imediatamente aparente. Contudo, à medida que Isaías apresenta o perfil desse Servo em passagens posteriores, ­torna-se claro que Ele é Alguém que restaura as tribos de Jacó (Israel) a Deus (Is 49:5, 6) e que morre de modo sacrifical em favor dos pecadores (Is 52:13–53:12). Portanto, esse último Servo não pode ser o mesmo que a nação. Sendo assim, evidentemente Isaías falou de dois servos de Deus. Um é coletivo (a nação) e o outro é um indivíduo.

2. Qual era a função do servo como nação? (Is 41:8-20). Assinale a alternativa correta:

A. (  ) Fazer aliança com os inimigos do Senhor para evitar derrotas.
B.(  ) Servir a Deus e confiar em Seu poder para vencer os inimigos.

Deus assegurou a Israel que a nação ainda era o servo do Senhor: “Eu o escolhi e não o rejeitei” (Is 41:9). Em seguida, Deus deu a Israel uma das mais magníficas promessas: “Não tema, porque Eu estou com você; não fique com medo, porque Eu Sou o seu Deus; Eu lhe dou forças; sim, Eu o ajudo; sim, Eu o seguro com a mão direita da Minha justiça” (Is 41:10). Nesse verso e nos seguintes, uma das funções fundamentais de Israel era confiar no Deus verdadeiro para que Ele os salvasse (ao contrário do que fez Acaz), em vez de confiar em outros deuses e nas imagens deles, como as nações fizeram (Is 41:7, 21-24, 28, 29).

Observe como em Isaías 41:14 o Senhor chamou a nação de vermezinho. Que argumento Ele estava apresentando? Examine o texto para obter uma resposta melhor. O que isso nos ensina sobre nossa necessidade de depender totalmente do Senhor?


Segunda-feira, 22 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 31, 32
O Servo anônimo (Is 42:1-7)

3. Quais eram a função e o caráter do Servo anônimo de Deus, a quem Ele havia escolhido e em quem tinha colocado Seu Espírito? Is 42:1-7

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Escolha a melhor resposta ou combinação de respostas:

1. Ele promulgaria justiça para as nações.
2. Realizaria seus objetivos de modo silencioso e suave, mas bem-sucedido.
3. Seria um mestre.
4. Serviria como uma aliança entre Deus e o povo.
5. Concederia luz e esperança, ao curar a cegueira e libertar os cativos.
6. Todos os itens acima.

4. Como a função e o caráter desse Servo se comparam aos do “rebento de Jessé”, sobre o qual repousava também o Espírito do Senhor (Is 11)?

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Assim como em Isaías 42, o Governante da linhagem de Davi mencionado em Isaías 11 agiria em harmonia com o Senhor, promulgando justiça e libertação aos oprimidos, além de sabedoria e conhecimento de Deus. Esse “rebento” e “raiz” de Jessé é o Messias, o Filho divino que também traria “paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino”, mediante “o juízo e a justiça” (Is 9:6, 7). O Servo em Isaías 42 é, evidentemente, o Messias.

5. Como o Novo Testamento identifica o Servo de Isaías 42:1-7, que promulga justiça? Mt 12:15-21

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Mateus 12 cita Isaías 42 e aplica-o ao silencioso ministério de cura de Jesus, o Filho de Deus, em quem Sua alma Se compraz (Is 42:1; Mt 3:16, 17; 17:5), cujo ministério restabelece a aliança de Deus com o povo (Is 42:6; Dn 9:27).

Jesus e Seus discípulos obtiveram justiça para o povo, ao libertá-lo do sofrimento, da ignorância de Deus e da escravidão dos demônios, causados pela opressão satânica (Lc 10:19). Em seguida, Jesus morreu para confirmar a “nova aliança” (Mt 26:28) e obter justiça para o mundo ao expulsar Satanás, o estrangeiro que usurpara a posição de “príncipe deste mundo” (Jo 12:31-33; ARC).

Leia a descrição de Cristo em Isaías 42:1-4. Reflita sobre Jesus. Quais características de Seu ministério cumpriram essa profecia? Como devemos ministrar aos outros?


Terça-feira, 23 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 33, 34
Messias persa (Is 44:26–45:6)

6. Qual profecia impressionante aparece em Isaías 44:26–45:6?

O ministério de Isaías durou aproximadamente de 745 a.C. até 685 a.C. Depois de mencionar um conquistador do leste e do norte (Is 41:2, 3, 25) e sugerir que essa seria uma boa notícia para Jerusalém (Is 41:27), Isaías profetizou com precisão e nominalmente a vinda de Ciro e descreveu as atividades dele. Ciro veio do norte e do leste de Babilônia e a conquistou em 539 a.C.; ele realmente serviu aos propósitos de Deus ao libertar os judeus do exílio babilônico; e, de fato, autorizou a reconstrução do templo em Jerusalém (veja Ed 1).

Visto que existem aproximadamente cento e quarenta e seis anos desde a morte de Isaías até a queda de Babilônia, sua profecia estava um século e meio à frente de seu tempo. Seria como se George Washington previsse que um homem chamado General Dwight Eisenhower libertaria a Europa em 1945!

As ações de Ciro são comprovadas em fontes antigas, incluindo as crônicas babilônicas, o relatório de Ciro no “Cilindro de Ciro” e a Bíblia (2Cr 36:22, 23; Ed 1; Dn 5; 6:28; 10:1). A profecia é precisa! Os verdadeiros profetas recebem predições de Deus, Aquele que conhece o futuro com antecedência.

7. Por que Deus chamou Ciro de “Seu ungido” (Is 45:1)? Marque uma alternativa:

A.( ) Porque Ciro foi escolhido para cumprir os propósitos de Deus.
B.( ) Porque Ciro seria ungido rei de Judá, em Jerusalém.

A palavra hebraica para “ungido” é a mesma da qual obtemos a palavra ­“Messias”. Em outras passagens, essa palavra poderia se referir a um sumo sacerdote ungido (Lv 4:3, 5, 16; 6:22), a um rei israelita ungido (1Sm 16:6; 24:6, 10; 2Sm 22:51), ou ao Messias, futuro e perfeito Rei e Libertador da linhagem de Davi (Sl 2:2; Dn 9:25, 26). Ciro seria um futuro rei, enviado por Deus para libertar Seu povo. Mas ele seria um messias incomum, pois não seria israelita. Realizaria algumas obras do Messias, como derrotar os inimigos de Deus e libertar Seu povo, mas não poderia ser o Messias, pois não seria descendente de Davi.

Na predição sobre Ciro, Deus provou Sua divindade singular, ao demonstrar que somente Ele conhece o futuro (Is 41:4, 21-23, 26-28; Is 44:26). Ele também tocou o coração de Ciro: “E te darei os tesouros das escuridades e as riquezas encobertas, para que possas saber que Eu Sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo teu nome” (Is 45:3, ARC).

Pense em outras profecias que se cumpriram. Que esperança elas nos oferecem?


Quarta-feira, 24 de fevereiro
Ano Bíblico: Nm 35, 36
Esperança antecipada

O fato de Isaías ter profetizado com precisão e nominalmente a vinda de Ciro incomoda aqueles que não creem que os profetas recebem predições de Deus. Para lidar com essa frustração, essas pessoas aceitam a teoria de que outro profeta, um “segundo Isaías”, vivendo no tempo de Ciro, tivesse escrito Isaías 40–66. Portanto, o livro de Isaías é “serrado em dois”, o mesmo destino que tradicionalmente se entende ter ocorrido com o próprio profeta (Hb 11:37).

No entanto, não há evidência histórica da existência de um segundo “Isaías”. Se ele realmente existiu, é estranho que a Bíblia não o tenha mencionado, pois sua mensagem é profundamente importante, e sua arte literária é fenomenal! Mesmo o manuscrito mais antigo da Bíblia, o livro de Isaías nos Manuscritos do Mar Morto, não possui nenhum intervalo entre Isaías 39 e 40 que indique uma transição à obra de um novo autor.

A mensagem fundamental de Isaías é coerente em todo o seu livro: confie no Deus verdadeiro, inclusive em Seu Libertador messiânico, em vez de confiar em outros poderes. Os estudiosos enfatizam corretamente a mudança de foco do período assírio, em Isaías 1–39, para o período babilônico, a partir do capítulo 40. Mas descobrimos que Isaías 13, 14 e 39 já previam um cativeiro babilônico. De fato, Isaías 1–39 enfatiza o juízo, e Isaías 40–66 focaliza a consolação. Porém, nos capítulos anteriores, o consolo e segurança divinos também são abundantes, e passagens posteriores, como Isaías 42:18-25, 43:22-28 e 48:1-11, falam dos juízos de Deus sobre Judá porque a nação O havia abandonado. Na verdade, as profecias de Isaías sobre a consolação futura implicam sofrimento no período anterior.

8. Embora a nação tivesse enfrentado uma terrível calamidade por causa dos pecados do povo, alguns não perderam a esperança. Eles se apegaram às promessas de Deus, encontradas em Levítico 26:40-45. Leia esses versos cuidadosamente. Coloque-se no lugar dos hebreus que estavam vivos após a derrota de Judá para Babilônia. Que esperança encontramos nessas palavras?

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Que princípio espiritual está em atuação nesses versos de Levítico? O que o Senhor disse a Israel naquela ocasião? Como o mesmo princípio funciona em nossa vida?



Quinta-feira, 25 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 1-3
Um Servo compassivo e sofredor (Is 49:1-12)

9. Quem é o Servo de Deus em Isaías 49:1-12?

A.(  ) João Batista.
B.(  ) Jesus Cristo.

Deus O chamou e O nomeou antes que Ele nascesse, fez de Sua boca uma espada e Nele seria glorificado. Deus usou esse Servo para trazer a nação de Israel de volta a Si, para ser uma luz ao mundo, para ser uma aliança e para libertar cativos. Há muita coincidência entre essa descrição e a de Isaías 42, na qual identificamos o Servo como o Messias. Os atributos do Servo estão em Jesus, em ambas as Suas vindas: Mt 1:21; Jo 8:12; 9:5; 17:1-5; Ap 1:16; 2:16; 19:15.

10. Se esse Servo é o Messias, por que Deus O chamou de “Israel”? Is 49:3

Vimos que nessa seção de Isaías, o servo de Deus “Israel/Jacó” se refere à nação. Mas aqui o nome “Israel” (sem uma referência paralela a “Jacó”) se aplica claramente ao Servo individual, que restaura a nação a Deus (Is 49:5). O Servo individual torna-se a personificação ou Representante perfeito da nação cujo fracasso tinha comprometido o uso do nome “Israel” (Is 48:1).

11. Que novo elemento aparece em Isaías 49:4, 7?

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Há nesses versos o primeiro indício da difícil tarefa do Servo. Ele lamenta: “Tenho trabalhado em vão; gastei as Minhas forças por nada e à toa” (Is 49:4), uma ideia ecoada em Daniel 9:26: “o Ungido será morto e não terá nada”. Porém, Ele Se apega à fé: “Todavia, o Meu direito está diante do Senhor, a Minha recompensa está diante do Meu Deus” (Is 49:4). J. Alec Motyer observou: “Isaías profetizou sobre um Servo com uma natureza humana, testado como nós e que provou ser Ele o Autor e Consumador da fé, uma fé real e pessoal que ainda pode dizer ‘meu Deus’ quando nada mais parece valer a pena” (The Prophecy of Isaiah: An Introduction and Commentary; InterVarsity Press, p. 387).

Isaías 49:7 é incrível. O Servo é “desprezado”, “detestado pelas nações”, “Servo dos dominadores”, mas o Senhor Lhe diz: “Os reis O verão e se levantarão; os príncipes se inclinarão diante de você por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que O escolheu”.

Cristo foi fiel, apesar dos motivos para desanimar. Por que devemos fazer o mesmo?


Sexta-feira, 26 de fevereiro
Ano Bíblico: Dt 4-7
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: O Desejado de Todas as Nações, p. 252-261 (“Em Cafarnaum”).

“Grande tato e sabedoria são necessários no trabalho de ganhar pessoas. O Salvador nunca suprimiu a verdade, mas disse-a sempre com amor. Em Suas relações com outros, exercia o máximo tato, e era sempre bondoso e cheio de cuidado. Nunca foi rude, nunca proferiu desnecessariamente uma palavra severa, não ocasionou jamais uma dor desnecessária a um coração sensível. Não censurava a fraqueza humana. Denunciava destemidamente a hipocrisia, a incredulidade e a iniquidade, mas havia lágrimas em Sua voz ao proferir Suas esmagadoras repreensões. Nunca tornava a verdade cruel, porém manifestava profunda ternura pela humanidade. Toda pessoa era preciosa aos Seus olhos. Conduzia-Se com divina dignidade; inclinava-Se, todavia, com a mais terna compaixão e respeito para todo membro da família de Deus. Via em todos corações a quem tinha a missão de salvar” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 117).

Perguntas para consideração

1. Comente sobre essa citação de Ellen G. White. Sua igreja reflete os princípios ali descritos?

2. Você conhece uma “cana quebrada” ou um “pavio que fumega” (Is 42:3)? Como você pode ajudar essa pessoa sem “quebrá-la” nem “apagá-la”? De que maneira você pode levá-la a olhar para o Senhor? Na prática, o que você lhe diria para fazer a fim de obter cura e auxílio?

3. O argumento em defesa dos diferentes autores do livro de Isaías se originou da premissa de que não é possível prever o futuro como Isaías fez. Qual é o problema fundamental desse argumento e por que devemos, como cristãos, rejeitar completamente essa ideia?

Resumo: A libertação requer um Libertador. A nação que servia a Deus seria libertada por dois resgatadores: Ciro, que livraria os cativos do exílio babilônico, e um Servo anônimo, cuja identidade como o Messias é progressivamente revelada. Esse Servo restauraria a justiça e traria de volta a Deus a comunidade de sobreviventes.

 

Respostas e atividades da semana: 1. Esse servo ora pode ser considerado a nação de Israel, descendente de Jacó, ora pode ser considerado o Messias, Jesus Cristo. 2. B. 3. Esse Servo deveria abrir os olhos aos cegos, tirar da prisão o cativo, e do cárcere, os que jaziam em trevas (Is 42:7). 4. A função e o caráter de ambos são os mesmos, pois as passagens se referem à mesma Pessoa: Jesus Cristo. 5. Mateus cita Isaías 42 e aplica a passagem ao ministério de Jesus Cristo. 6. A profecia de que Ciro, o ungido do Senhor, seria usado para cumprir os propósitos de Deus de libertação e restauração do povo judeu. 7. A. 8. A esperança de que Deus Se lembraria da aliança que havia feito com eles por meio de Jacó. 9. B. 10. Porque Ele era a representação perfeita da nação que tinha falhado. 11. O elemento do Servo sofredor e da dificuldade que o Messias encontraria para cumprir Sua missão.



Resumo da Lição 9
Servir e salvar

Foco do estudo: Isaías 41

Esboço

Existe um elo entre Isaías 1 e 41. Vemos isso no chamado a Judá em Isaías 1:18: “Venham, pois, e vamos discutir a questão”. Isaías 41:1 expressa um convite semelhante: “Que se aproximem e, então, falem; vamos nos reunir para o julgamento”. Contudo, nesse caso, o convite abrange uma arena mais ampla e, por conseguinte, um evento maior: “os confins da Terra” (v. 5).

A expressão mišp??? (juízo, Is 41:1) na língua hebraica também pode ser traduzida como “disputa, caso”, “reivindicação legal” (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento], v. 2, p. 651). Esse conceito é bem semelhante ao significado da palavra hebraica niww???â (argumentar [em uma ação]) em Isaías 1:18 (ibid., p. 410). Isaías 41:21 reforça a ideia de uma disputa legal, e o verso é quase um eco de Isaías 1:18: “‘Exponham a sua causa’, diz o Senhor; ‘apresentem as suas razões’, diz o Rei de Jacó”.

Nos versos seguintes, as duas partes do caso são apresentadas: de um lado, o Senhor, e do outro lado, Israel, o servo.

O Senhor, no capítulo 41, é descrito de várias maneiras: “o Santo de Israel”, o Redentor, o Criador e o Rei. E Israel ou Judá é descrito como “Meu servo”; “Meu escolhido”; e “Meu amigo”, uma referência a Abraão.

Três tópicos principais são explorados neste estudo: (1) O Deus da aliança; (2) Deus e outros títulos; e (3) Israel, o servo.

Comentário

O Deus da aliança

Deus é retratado de várias maneiras em Isaías 41. Quando Deus é citado em relação ao Seu povo em um relacionamento de aliança, a Bíblia usa o nome YHWH, “o SENHOR”. Isaías usa esse nome cerca de quatrocentas e cinquenta vezes em seu livro. A expressão ocorre 6.828 vezes na Bíblia Hebraica (David J. A. Clines, The Dictionary of Classical Hebrew, v. 4, p. 122).

O relato do Pentateuco apresenta informações claras sobre esse nome. Este estudo revisa alguns versos relacionados ao personagem a quem Isaías faz referência: Abraão. Existem três momentos no relacionamento da aliança entre Deus e Abraão, e o nome divino usado é YWWH: (1) o Senhor (YHWH) chama Abrão e promete que fará dele uma grande nação (Gn 12:1-3), (2) o Senhor (YHWH) faz a aliança (Gn 15:1-21), e (3) o Senhor (YHWH) confirma a aliança (Gn 17:1-27). Várias expressões em Gênesis 12 revelam um relacionamento pessoal entre o Senhor e Abraão: “lhe mostrarei”; “o abençoarei”; “engrandecerei o seu nome” (Gn 12:1, 2).

A outra seção, Gênesis 15, também é introduzida com a expressão YHWH. A cena da aliança inclui a linguagem divina de cuidado pessoal para com Abrão: “Não tenha medo, Abrão, Eu sou o seu escudo” (Gn 15:1). Gênesis 15:2-6 descreve o diálogo de uma preocupação individual de Abrão diante do Senhor, em que ele declara suas preocupações sobre o cumprimento da aliança. Em Gênesis 15:7, o Senhor reitera a Abrão Seu nome. “Eu Sou o Senhor que o tirei de Ur dos caldeus, para lhe dar esta terra como herança” (Gn 15:7). E Gênesis 15:18 nos mostra claramente o elo entre o nome YHWH e a aliança. “Naquele mesmo dia, o Senhor fez aliança com Abrão, dizendo: – À sua descendência dei esta terra”.

Em Gênesis 17, o Senhor (YHWH) mais uma vez interage com Abrão. A narrativa denota um relacionamento pessoal, como vemos nas palavras “anda na Minha presença” (Gn 17:1), e nos diz que a aliança é real: “Farei uma aliança entre Mim e você” (Gn 17:2). Isso se repete em Gênesis 17:4, e também afeta o nome de um dos membros da aliança, Abrão: “O seu nome não será mais Abrão, e sim Abraão” (Gn 17:5).

Às vezes, nas fórmulas da aliança, a expressão ??l?him (Deus) é adicionada ao nome YWHW. Assim, nesse tipo de literatura, o tema de uma aliança é YHWH, e algumas vezes o Senhor Deus ou o Senhor seu Deus. Na experiência de Abraão, vimos que o nome está associado ao ato da aliança e ao relacionamento pessoal com YHWH, o Senhor. Existem elementos da aliança em Isaías 41. Deduzimos isso não apenas pelo uso do nome YHWH, mas também pelas referências a Israel: “Meu servo; você, Jacó, a quem escolhi” (Is 41:8). A alusão a Abraão, um grande nome na aliança com Israel, também é outro fator que sugere esses elementos. No entanto, como foi dito antes, o nome YHWH (o Senhor) está associado ao relacionamento pessoal de Deus com Seu povo. Isaías 41 torna clara a natureza pessoal desse relacionamento. O Senhor chama Abraão de amigo (Is 41:8), assim como a última das expressões de Isaías 41:4: “Eu, o Senhor, o primeiro, e Aquele que estará com os últimos; Eu mesmo”. A expressão “Eu mesmo” é explicada por John Oswalt nos seguintes termos: “Ele está conosco, para o bem ou para o mal, dependendo da nossa resposta a Ele. Não há outro igual ao Senhor; Ele é o único Ser não contingente (ou seja, Ele não é dependente nem condicionado nem causado por outros elementos) no Universo, o único que pode dizer ‘Eu Sou’” (The Book of Isaiah [O Livro de Isaías], cap. 40–66, The New International Commentary on the Old Testament [Novo Comentário Internacional sobre o Antigo Testamento]. Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1998, p. 84).

Oswalt também vê nesse caso alguma conexão com Isaías e o Novo Testamento. Ele diz: “A tradução regular da LXX de 'n?? h', 'Eu mesmo', é Ego? Eimi. O fato de Jesus aplicar tranquilamente essa frase a Si mesmo (compare com João 8:58; 18:5) fala muito sobre Seu senso de identidade própria” (ibid., p. 84, 85).

Deus e outros títulos

Isaías 41 destaca ainda outras características do Senhor. Ele é o Santo. “‘Eu o ajudarei’, diz o Senhor; ‘o seu Redentor é o Santo de Israel’” (Is 41:14). Ideia semelhante é expressa em Isaías 41:20: “Considerem e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isso, e que o Santo de Israel o criou”.

“O Santo” é um dos principais títulos do Senhor no livro de Isaías e constitui um dos principais temas do livro. A expressão “Santo” é usada 33 vezes por Isaías. Conforme mostrado na lição 2, “Santo” refere-se à “pureza, perfeição e glória oculta de YHWH”. Santidade é a essência do Seu ser. O título “Santo” implica o padrão moral da nação. Esse chamado à santidade está enraizado na lei mosaica, baseada na autoproclamação de Deus de Sua própria perfeição: “Fale a toda a congregação dos filhos de Israel e diga-lhes: Sejam santos, porque Eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo” (Lv 19:2).

O profeta Isaías usa o título “Santo” para unir duas outras características relacionadas a Deus: Deus como Criador e Redentor. A ideia de Deus como nosso Criador é expressa em um belo paralelismo em Isaías 41:20:

“Que a mão do Senhor fez isso,

E que o Santo de Israel o criou”.

O Senhor é apresentado como Redentor em Isaías 41:14: “o seu Redentor é o Santo de Israel”. A palavra hebraica comumente traduzida como Redentor significa “recuperar como seu próprio” ou “reivindicar para si” (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, v. 1, p. 169).

As características do Senhor como o Criador (neste caso, de Israel) e como o Redentor de Israel são evidentes nessa seção do livro. Um exemplo é Isaías 43:1:

“Assim diz o Senhor, que o criou, ó Jacó,

E que o formou, ó Israel:

‘Não tenha medo, porque Eu o remi;

Eu o chamei pelo seu nome; você é Meu’”.

Outro título que Isaías usa paralelamente ao Senhor é “o Rei de Jacó” (Is 41:21). Não há dúvida de que este é um título messiânico.

Assim, Isaías 41 revela diferentes nomes e títulos pelos quais Deus é descrito. Curiosamente, o autor usa em Isaías 43:15 quase a mesma expressão para se referir a Deus: “Eu sou o Senhor, o Santo Deus de vocês, o Criador de Israel e o seu Rei”.

Israel, o servo

O Senhor foi designado com diferentes títulos em Isaías 41. Israel em seu relacionamento de aliança com Deus também recebeu vários títulos. Por exemplo, Israel em relação a Deus é “o servo”, “o escolhido” e “o amigo”.

Em muitas seções do livro de Isaías, Israel, ou, mais particularmente, a nação de Judá, é o servo do Senhor. Dentre outros versos, compare Isaías 41:8, 9; 44:1, 21; 45:4; 48:20 e 49:3.

Isaías 41:8 indica muitas coisas importantes sobre o servo:

“Mas você, Israel, Meu servo,

Você, Jacó, a quem escolhi;

Você, descendente de Abraão, Meu amigo”.

Alec Motyer identifica quatro características do servo neste verso: “Primeiro, vemos que Israel passou a ser servo do Senhor por escolha divina (Is 41:8, 9; Ef 1:4); segundo, que o relacionamento começou com Abraão. Meu amigo (2Cr 20:7; Tg 2:23) é literalmente 'Meu amado'/'quem Me amou'; terceiro, que a extensão da promessa da aliança aos descendentes de Abraão (literalmente, 'descendência', Gn 17:7) ainda permanece (“Eu o escolhi e não o rejeitei”; Is 41:9); e, quarto, que em sua escolha e chamado de Abraão, o Senhor mostrou que Seu poder se estende até os “confins da Terra” e aos “seus cantos mais remotos”. Em tudo isso, não há nada sobre alguma função que o servo possa desempenhar; apenas é dito que Israel tem um status honrado” (J. Alec Motyer, Isaiah: An Introduction and Commentary [Isaías: Introdução e Comentário], Tyndale Old Testament Comments [Comentário do Antigo Testamento de Tyndale]. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1999, v. 20, p. 286).

Aplicação para a vida

1. Nosso Deus é apresentado na Bíblia de várias maneiras. Ele é o grande ??l?him, o Soberano do Universo e o Deus transcendente. No entanto, Deus também é um Deus pessoal e, para mostrar isso, os autores bíblicos usam o nome YHWH, o Senhor. YHWH é o Deus da aliança, o Deus da interação pessoal com os seres humanos.

Como você pode distinguir esses dois aspectos de Deus em relação às Suas criaturas? Leia Gênesis 1:1 e 12:1 para ajudá-lo a responder à pergunta.

2. Isaías 41 revela Deus de muitas maneiras diferentes. O livro se refere ao Senhor como “o Santo de Israel”, Redentor, Criador e Rei. Qual desses títulos é particularmente relevante para você em sua vida e por quê?


Agradecendo a Deus pela mesa

Dinara, uma garota de sete anos, inocentemente irritou a mãe durante o jantar. A menina olhou para o prato de macarrão com cebola frita e apontou a mesa de madeira. “Mamãe, você sabia que Deus nos deu essa mesa?”, perguntou. A mãe ficou chocada e protestou: “O que você está falando? Isso é um absurdo! Seu pai trabalhou muito e comprou essa mesa na loja. Pare de agir como uma garota boba.” Dinara insistiu: “Não, eles me disseram que foi Deus!” “Quem disse isso?”, perguntou a mãe, que como muitos do seu país não era cristã. “Onde e quando você ouviu que Deus nos deu essa mesa?”

A garota explicou que ela e outros colegas da primeira série aprenderam sobre bondade na escola pública. A professora, que era adventista, havia falado sobre Deus durante a aula. “Tudo o que temos em nossa casa vem de Deus”, a professora disse. “Devemos ser gratos.” Dinara pensou que estava sendo útil ao falar sobre esse novo conhecimento com a mãe. Mas, ela ficou furiosa e repreendeu a filha por não respeitar o pai que trabalhava arduamente para comprar a mesa. “Irei à escola amanhã para descobrir porque eles estão falando de Deus a nossas crianças”, ela disse.

No dia seguinte, a mãe criou uma tempestade e conseguiu que outros pais se envolvessem no protesto. O diretor prometeu que ninguém falaria de Deus na sala de aula novamente. O tumulto deixou Dinara muito impressionada. Embora não ouvisse falar sobre Deus novamente na escola, seus pensamentos estavam Nele constantemente.

Nove anos se passaram. Quando ela completou 16 anos, a família comprou uma nova casa e Dinara descobriu uma Bíblia infantil muito desgastada. O livro azul claro estava sem metade das páginas, mas Dinara leu as restantes com muito interesse. Ela não entendia muito o que lia, mas percebeu que era sobre Deus. Então, desejou ler uma Bíblia completa.

Três anos se passaram. Dinara começou a estudar inglês na escola adventista, e a professora convidou os alunos para o culto divino. “Se quiserem, venham ao culto no próximo sábado.” Dinara foi ao culto e o achou muito interessante. As pessoas oravam, falavam sobre a Bíblia e cantavam. Alguns estrangeiros frequentavam os cultos e ela praticou seu inglês com elas. Durante algum tempo, ela foi aos cultos todos os sábados. Durante essa época, ela se casou com um homem que era simpatizante da verdade sobre o sábado e ficava feliz em acompanhá-la nos cultos quando não estava trabalhando.

Porém, Dinara se sentia desconfortável. Certo sábado, enquanto estava sentada na igreja, um pensamento surgiu na mente: “Estou fazendo a coisa certa? “O que estou fazendo? Meu povo não é cristão.” E deixou de ir à igreja. Ela queria ir, mas sentiu medo. Ao perceber sua luta contínua, o marido, Nikolai, perguntou por que não mais frequentava a igreja no sábado. Dinara explicou sua confusão. “Meus pais acreditam que não existe outro Deus a não ser o deus deles!” O marido questionou: “Por que você está com medo? Existe um único Deus. Não precisa ter medo.”

Dinara disse que pensava que seu povo só podia ler o livro sagrado de sua familia, mas ela queria ler a Bíblia. Nikolai mostrou que o livro sagrado do seu povo e a Bíblia tinham pontos em comum. Em seguida, Dinara disse que se preocupava porque seu povo realiza os cultos em um templo tradicional, mas ela queria ir à igreja adventista. “Não thá problema”, Nikolai disse. “Você pode ir aos dois cultos. Sinta-se livre para ir à igreja adventista. Ninguém impedirá você.” Então, Dinara retomou os cultos com os adventistas e entregou o coração a Deus.

Hoje ela é feliz em poder ler a Bíblia quando quer, agradece a Deus por Sua Palavra e por todas as bençãos recebidas. “Eu agradeço todo o tempo!”, diz. “Desde o momento emque acordo até a hora que adormeço, agradeço a Deus pela vida, pelo alimento e até pela mesa. Todas as boas coisas provêm Dele.”

Muito obrigado por apoiar a educação adventista na Divisão Euroasiática com orações e ofertas missionárias.

 

Dicas da história
• Dinara é um pseudônimo. Ela vive em um “país velado”, que optamos por não identificar, devido às restrições regionais que envolvem o cristianismo.
• Para mais informações missionárias e outras notícias da Divisão Euroasiática, acesse o site: bit.ly/2021-ESD.


Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2021
Tema Geral: Isaías: consolo para o povo de Deus
Lição 9 – 20 a 27 de fevereiro de 2021

Servir e salvar

Autor: Sérgio Monteiro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Josiéli Nóbrega

A figura mais proeminente da segunda parte do livro de Isaías é a do Servo. Ele aparece em vários capítulos, começando pelo 41. Não obstante, esse “servo” abarca três personagens diferentes: Ciro, Israel e o Messias.

A ideia de servir é preeminente nesses capítulos. Se é verdade que nos capítulos anteriores de Isaías a principal preocupação parece ser a continuidade de Judá em meio aos ataques das nações estrangeiras e também em suas tribulações e dúvidas internas, a segunda parte de Isaías acentua para Israel sua permanência como servo de Deus. Em outras palavras, a continuidade daquele povo dependia, por um lado, de sua contínua obediência a seu Deus e, por outro lado, resultava nessa obediência característica de um servo.

Tanto Israel quanto Ciro são nominalmente chamados de servos, enquanto há uma figura fugidia também chamada de servo, mas que não é nomeada. Parece que, para além da clara intenção de distinguir os personagens, há também uma busca de contraste especial que acentua necessidade versus voluntariedade. Ciro nada sabia sobre servir ao Deus de Israel, mas ainda assim O serviu, aparentemente de maneira involuntária. Ao ser chamado por seu nome, novamente, parece haver quase um elemento determinístico, inescapável, associado à relação de Deus com Ciro.

Não obstante, a própria menção do nome de Ciro, centenas de anos antes de sua própria existência afasta o elemento de determinação e predestinação, invocando a ideia de chamado e convite, em vez de decreto. Saber que o Deus de outra nação o conhecia antes de seu nascimento, e que o havia chamado de Seu servo, havia impressionado a mente de Ciro com a realidade desse Deus, Sua grandiosidade e cuidado com Seu povo e também com ele mesmo. Ou seja, Ciro não foi obrigado a servir a Deus, mas convidado a fazê-lo ao considerar Seu conhecimento prévio e Seu poder sobre a história, não apenas observando-a a partir de uma perspectiva distante, em que as aproximações do Senhor resultavam em batalhas, algo tão comum nas divindades do oriente próximo de seu tempo, mas como um Deus verdadeiramente interessado nos destinos de Seu povo e da humanidade.

De igual forma, Judá e Israel são chamados de servos de Deus. Logicamente, de um ponto de vista histórico, há imediatamente a lembrança da promessa de Deus a Abraão, Isaque e Jacó, na qual seus descendentes herdariam a terra que mana leite e mel (Gn 12; Dt 26). Essa herança viria acompanhada da constante lembrança de que sua permanência na terra estava condicionada à sua permanência em lealdade à aliança cujo benefício maior era a habitação segura na terra (Lv 26; Dt 4). No contexto imediato do livro de Isaías, a ideia do servo aplicada a Judá e Israel serve como um reforço positivo por via de contraste. Judá e Israel haviam apostatado, haviam se corrompido, a ponto de “anular” a aliança (Is 1), mas ainda assim eram servos por necessidade e involuntários. A ideia, novamente, é transformar essa involuntariedade em vontade de servir, e não apenas em serviço inútil, por obrigatoriedade. É atração pela graça de aceitar o que reluta em ser servo. É salvação.

Do outro lado do espectro, temos um Servo não nomeado, cujas ações contrastam de forma acentuada com as dos servos cujos nomes são apresentados. E nisso, exatamente, reside Sua singularidade. O fato de que Seu nome não é mencionado serve, ao contrário dos convites implícitos das outras duas figuras, como um indicativo de que Ele não precisa ser convencido, nem atraído a servir. Ele é Servo, por Sua escolha. Esse Servo, cuja principal descrição está em Isaías 53, é primeiramente apresentado em Isaías 42, um texto cujo contexto ainda é a declaração primária de consolo do povo, iniciada no capítulo 40. Deus é Aquele que redime Seu povo, que o conforta, que o guia, que o sustenta e liberta. No capítulo 42, o Servo de Deus é Aquele sobre quem o Espírito do Eterno estaria e que anunciaria salvação e juízo aos gentios (42:1). Em outras palavras, esse Servo contrasta com Israel e Judá, cuja relação com os gentios seria de ocupação pelo exílio, sendo chamados das terras gentílicas. Esse Servo seria luz para os gentios (v. 1), abriria os olhos dos cegos (v. 7) e anunciaria a doutrina de Deus às ilhas (v. 4). Aqui vemos, de forma explícita, uma promessa de universalização da mensagem da aliança e da eleição apresentada na Bíblia hebraica. Não é possível, por mais que se tente, enxergar aqui Israel. De fato, esse Servo é posto como concerto para o povo (v. 6), o que, necessariamente, O torna uma figura independente e maior do que o próprio povo a que Ele seria dado como concerto.

Mesmo sendo uma figura independente e maior, o Servo é descrito com termos que O identificam com o povo de Jacó, que é servo. Ambos são sustentados e escolhidos por Deus (41:8-10; 42:1-5). Não obstante, as semelhanças não visam a promover a unificação das figuras, mas a demonstrar a semelhança das experiências de servir a Deus. Não há vantagem entre eles, no que diz respeito às características da servidão e da dependência de Deus e de Sua ação para que ambos pudessem ser servos. Jacó apenas poderia ser servo de verdade se lembrasse de que era um “bichinho”, e que era Deus que o sustentava. De igual maneira, o Servo não nomeado, somente poderia cumprir Sua missão se o Espírito estivesse sobre Ele e também estivesse disposto a Se submeter ao Eterno. Ademais, há, como já apontamos, diferenças essenciais. O Servo de Isaías 42:6 é dado para aliança (berit) do povo (‘am) e luz (‘or) das nações (goyim). O contraste entre povo e nações é singular. Esse binômio aponta para a forma pela qual Deus vinha falando nos capítulos anteriores, colocando Judá e Israel como um povo de um lado e as nações julgadas do outro, como vimos na primeira parte de Isaías. Pareceria, portanto, que o Servo, em Isaías 42, fosse uma figura de extensão da aliança primeiramente feita com Israel para as nações, levando a elas a luz da Berit.

Na próxima lição, veremos como essa percepção é fortalecida na leitura de Isaías 53.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: O Pr. Sérgio Monteiro é casado com Olga Bouchard de Monteiro. É pai de Natassjia Bouchard Monteiro e Marcos Bouchard Monteiro. É bacharel em Teologia, mestre em Teologia Bíblica e cursa doutorado em Bíblia hebraica. É pastor na Escola do Pensar e no Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer. É membro da Adventist Theological Society, International Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.