Lição 5
25 de abril a 01 de maio
Somente pelas Escrituras – Sola Scriptura
Sábado à tarde
Ano Bíblico: 2Rs 12-14
Verso para memorizar: “Porque a Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4:12).
Leituras da semana: 1Co 4:1-6; Tt 1:9; 2Tm 1:13; Mc 12:10, 26; Lc 24:27, 44, 45; Is 8:20

A declaração protestante “somente as Escrituras” (sola Scriptura) elevou a Bíblia como o único padrão e fonte decisiva para a teologia. Em contraste com a teologia católica romana, que enfatizava as Escrituras e a tradição, a fé protestante enfatizava a palavra-chave somente; isto é, somente as Escrituras são a autoridade final quando assuntos de fé e doutrina estão em discussão.

A Bíblia deu força e autoridade decisivas à Reforma Protestante e à sua revolta contra Roma e os erros que esta vinha ensinando durante ­séculos. Em oposição a uma interpretação alegórica das Escrituras, em que muitos significados diferentes eram atribuídos ao texto, os reformadores enfatizaram a importância de uma interpretação histórico-gramatical da Bíblia, que levava a sério o significado gramatical e literal do texto bíblico.

Nesta semana, examinaremos o princípio da sola Scriptura com mais detalhes. Descobriremos que sola Scriptura implica alguns princípios fundamentais de interpretação bíblica indispensáveis a uma compreensão apropriada da Palavra de Deus. Sendo protestantes, devemos manter a Bíblia como autoridade doutrinal suprema.


Peça a Deus que faça você sentir mais e mais necessidade de orar.

Domingo, 26 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 15-17
As Escrituras como a norma dominante

Desde o início de seu movimento, os Adventistas do Sétimo Dia têm se considerado um povo do “Livro”, isto é, cristãos que creem na Bíblia.
A fim de confirmar o princípio escriturístico da sola Scriptura (somente pelas Escrituras), reconhecemos a autoridade singular da Bíblia. Essa é
a norma dominante para nossa teologia e a autoridade suprema para a vida e a doutrina. Outras fontes, como a experiência religiosa, a razão humana ou a tradição, são subservientes à Bíblia. Na verdade, o princípio da sola Scriptura tinha a intenção de proteger a autoridade das Escrituras da dependência da igreja e de sua interpretação, e ele descartava a possibilidade de que o padrão de sua interpretação viesse de fora da Bíblia.

1. Em 1 Coríntios 4:1-6, especialmente o verso 6, Paulo disse que não devemos “ultrapassar o que está escrito”. Por que esse ponto é crucial para nossa fé?

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Não ultrapassar o que está escrito não exclui ideias de outros campos de estudo, como a arqueologia bíblica ou a história. Outros campos podem lançar luz sobre alguns aspectos bíblicos e sobre o contexto das passagens bíblicas, e assim podem nos ajudar a compreender mais o texto bíblico. Também não exclui o auxílio de outros recursos na tarefa da interpretação, como léxicos, dicionários, concordâncias e outros livros e comentários. No entanto, na interpretação correta da Bíblia, o texto das Escrituras tem prioridade sobre todos os outros aspectos, ciências e auxílios secundários. Outros pontos de vista devem ser avaliados cuidadosamente da perspectiva das Escrituras como um todo.

O que confirmamos positivamente quando praticamos o princípio da sola Scriptura é que, se surge um conflito na interpretação da nossa fé, então somente as Escrituras têm a autoridade que transcende e julga qualquer outra fonte ou tradição da igreja. Não devemos ultrapassar nem contrariar o que está escrito na Bíblia. O verdadeiro cristianismo e a pregação convincente do evangelho dependem de um firme compromisso com a autoridade das Escrituras.

“Somente as Escrituras são o verdadeiro senhor e mestre de todos os escritos e doutrinas da Terra” (Martin Luther, Luther’s Works, v. 32: Career of the Reformer II, ed. Jaroslav Jan Pelikan, Hilton C. Oswald e Helmut T. Lehmann [Philadelphia: Fortress Press, 1999], p. 11, 12).

Leia Atos 17:10, 11. Como esses versos esclarecem a primazia das Escrituras?


Segunda-feira, 27 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 18, 19
A unidade das Escrituras

A própria Bíblia afirma que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16) e que “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação”, e que “homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:20, 21). Tendo Deus como o Autor fundamental da Bíblia, podemos admitir uma harmonia e unidade básicas entre as várias partes das Escrituras em relação às principais questões ensinadas por ela.

2. Leia Tito 1:9 e 2 Timóteo 1:13. Por que a unidade da Bíblia é importante para a nossa crença?

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Somente com base em sua unidade interna, derivada de sua inspiração divina, as Escrituras podem funcionar como seu próprio intérprete. Se as Escrituras não tivessem uma unidade abrangente em seus ensinamentos, não poderíamos chegar a uma harmonia na doutrina sobre nenhum assunto. Sem a unidade da Bíblia, a igreja não teria meios para distinguir a verdade do erro e repudiar a heresia. Não teria base para aplicar medidas disciplinares nem corrigir desvios da verdade de Deus. As Escrituras perderiam seu poder de convencimento e libertação.

Jesus e os escritores bíblicos, porém, reconheceram a unidade das Escrituras, que está fundamentada na origem divina delas. Observamos esse fato em sua prática comum de citar livros do Antigo Testamento como tendo peso igual e harmonioso (Rm 3:10-18; aqui Paulo fez citações bíblicas de Eclesiastes 7:20; Salmos 14:2, 3; 5:9; 10:7 e Isaías 59:7, 8).

Os escritores da Bíblia consideravam as Escrituras um todo coerente, inseparável, no qual os principais temas são desenvolvidos. Não há discordância entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Novo Testamento não contém um novo evangelho nem uma nova religião. O Antigo Testamento é expandido no Novo, que se fundamenta no Antigo. Sendo assim, os dois Testamentos têm uma relação recíproca na qual ambos esclarecem um ao outro.

A unidade das Escrituras também implica que toda a Escritura (tota Scriptura) deve ser levada em consideração quando estudamos um assunto bíblico, em vez de desenvolvermos nosso ensino com base somente em declarações isoladas.

O que devemos fazer quando nos deparamos com textos ou conceitos bíblicos que parecem contraditórios entre si? Como trabalhar para resolvê-los?


Terça-feira, 28 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 20, 21
A clareza das Escrituras

Qualquer apelo em favor do princípio das “Escrituras somente” tem pouco sentido se o texto da Bíblia não for claro em seu significado.

3. Leia Mateus 21:42; 12:3, 5; 19:4; 22:31; 24:15; Marcos 12:10, 26; 13:14; Lucas 6:3. O que a repetida referência de Jesus às Escrituras sugere em relação à clareza de sua mensagem? Assinale a alternativa correta:

A.( ) Que elas não são claras à nossa compreensão.
B.( ) Que elas são claras ao nosso entendimento.

O testemunho bíblico é inequívoco: a Bíblia é suficientemente clara no que ensina. A Bíblia é tão clara que pode ser entendida tanto por crianças quanto por adultos, especialmente em seus ensinamentos mais ­básicos. No entanto, ainda existem oportunidades infinitas para que nosso conhecimento e compreensão se desenvolvam mais profundamente. Não precisamos que nenhum magistério eclesiástico nos apresente o significado da Bíblia. Em vez disso, seus ensinamentos fundamentais podem ser compreendidos por todos os cristãos. Ela admite o sacerdócio de todos os crentes, em vez de restringir sua interpretação a um grupo seleto, como o sacerdócio clerical. Portanto, a própria Bíblia nos encoraja a estudá-la por nós mesmos, pois somos capazes de entender a mensagem de Deus para nós.

Tem sido apropriadamente apontado que “o exemplo uniforme dos escritores da Bíblia mostra que as Escrituras devem ser tomadas em seu sentido literal, a menos que se trate, óbvia e claramente, de linguagem figurada [...]. Não é preciso retirar a ‘casca’ para alcançar o ‘miolo’ de um significado místico, secreto ou alegórico, que somente iniciados podem descobrir” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 75). Em vez disso, a clareza da Bíblia diz respeito à linguagem, sentido e palavras das Escrituras, pois há uma verdade definida pretendida pelos escritores bíblicos, em vez de múltiplos significados subjetivos e incontrolados do texto bíblico.

Isso não significa que, às vezes, não nos depararemos com textos e ideias que não captamos nem compreendemos completamente. Afinal, é a Palavra de Deus, e somos apenas seres humanos caídos. Contudo, as Escrituras são suficientemente claras acerca das coisas que realmente precisamos conhecer e entender, especialmente em relação à questão da salvação.

Você já teve dificuldade para compreender alguns textos, mas conseguiu esclarecêlos posteriormente? Como pode ajudar outras pessoas a lutar com algo semelhante?


Quarta-feira, 29 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 22, 23
As Escrituras interpretam as Escrituras

Unicamente porque existe uma unidade fundamental na Bíblia, ela pode funcionar como sua própria intérprete. Sem essa unidade, as Escrituras não poderiam ser a luz que revela seu próprio significado, em que uma parte da Bíblia interpreta outras partes e, portanto, torna-se indispensável para entender as passagens relacionadas.

4. Leia Lucas 24:27, 44, 45. Como Jesus Se referiu às Escrituras para explicar quem Ele é? Como podemos usar as Escrituras?

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A beleza de deixar as Escrituras interpretarem a si mesmas é que elas esclarecem ainda mais seu significado. Ao fazê-lo, não reunimos indiscriminadamente várias passagens para provar nossa opinião. Em vez disso, cuidadosamente levamos em consideração o contexto de cada passagem. Além do contexto imediato antes e após uma passagem sob investigação, devemos considerar o contexto do livro no qual a passagem se encontra. Além disso, uma vez que, de acordo com Paulo, “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito” (Rm 15:4), devemos estudar tudo o que as Escrituras declaram sobre determinado assunto.

“A Bíblia se autoexplica. Textos devem ser comparados com textos. O estudante deve aprender a ver a Palavra como um todo, e também a relação entre suas partes. Deve obter conhecimento de seu grandioso tema central, do propósito original de Deus em relação a este mundo, da origem do grande conflito, e da obra da redenção” (Ellen G. White, Educação, p. 190).

Ao compararmos as Escrituras com elas mesmas, é importante estudá-las completamente. Se possível, devemos fazê-lo em suas línguas originais, ou pelo menos com uma tradução bíblica apropriada, fiel ao significado contido nos originais hebraico e grego. Embora o conhecimento das línguas originais não seja necessário para se ter uma boa compreensão da Bíblia, certamente ajuda quando possível. Caso não haja essa possibilidade, estudar a Palavra fielmente e em espírito de oração, com atitude de humildade e submissão, certamente ainda renderá grandes frutos.

Ao pensar em uma doutrina, como o estado dos mortos, concentrar-se em poucas passagens escolhidas poderia levar ao erro. Por que é importante ler tudo o que a Bíblia diz sobre um assunto para entender melhor o que ela ensina?

Ore muitas vezes. Era assim que Enoque andava com Deus (Caminho a Cristo, p. 97).

Quinta-feira, 30 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 24, 25
Sola Scriptura e Ellen G. White

5. Leia Isaías 8:20. Por que é importante voltar à “Lei” e ao “Testemunho” bíblicos como as normas para nosso ensino e doutrina? O que isso significa para o ministério dos profetas que não se tornaram parte do cânon bíblico? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) Porque sem eles não há garantia de unidade na doutrina.

B.(  ) Porque o conhecimento da Lei nos salva do pecado.

Quando falamos da sola Scriptura (somente as Escrituras), os Adventistas do Sétimo Dia são inevitavelmente confrontados com a questão do que fazer com Ellen G. White, que também foi inspirada por Deus e serviu como mensageira do Senhor para Seu povo remanescente. Qual é
a relação de seus escritos com as Escrituras?

Mesmo uma leitura superficial dos escritos de Ellen G. White mostra claramente que, para ela, a Bíblia era fundamental e central em todo o seu pensamento e teologia. Ela repetidamente confirmou que a Bíblia é a autoridade superior, norma e padrão supremos para toda doutrina, fé e prática (veja O Grande Conflito, p. 595). Além disso, ela claramente apoiou e defendeu o grande princípio protestante da sola Scriptura (veja O Grande Conflito, p. 9).

Na visão de Ellen G. White, seus escritos, quando comparados com as Escrituras, são uma “luz menor para levar homens e mulheres à luz maior”, a Bíblia (The Advent Review and Sabbath Herald, 20 de janeiro de 1903). Seus escritos nunca são um atalho nem substituto para um estudo sério da Bíblia. Na verdade, ela comentou: “Vocês não estão familiarizados com as Escrituras. Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição cristã, não teriam necessitado dos testemunhos. Porque negligenciaram tomar conhecimento do Livro inspirado de Deus, Ele procurou alcançar vocês por meio de testemunhos simples e diretos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 605).

Sendo assim, seus escritos devem ser estimados. Eles compartilham o mesmo tipo de inspiração dos escritores bíblicos, mas têm uma função diferente da Bíblia. Os escritos de Ellen G. White não são um acréscimo às Escrituras, mas estão sujeitos à Palavra de Deus. Ela nunca pretendeu que seus escritos tomassem o lugar da Bíblia; em vez disso, elevou-a como o único padrão de fé e prática.

Pense no dom maravilhoso que recebemos mediante o ministério de Ellen G. White. Como podemos apreciar mais a luz maravilhosa que vem de seus escritos enquanto também defendemos a supremacia das Escrituras?


Sexta-feira, 01 de maio
Ano Bíblico: 1Cr 1-3
Estudo adicional

No capítulo sobre Interpretação Bíblica, no Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, leia as seções sobre A Analogia da Escritura (“A Escritura É Sua Própria Intérprete”, “A Harmonia da Escritura” e “A Clareza da Escritura”, p. 74-77. Textos de Ellen G. White: Educação, p. 185-192 (“Ensino e Estudo da Bíblia”); Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 29-33 (“A Primazia da Palavra”).

“O estudante da Bíblia deve ser ensinado a aproximar-se dela com um espírito de aprendiz. Devemos pesquisar suas páginas, não em busca de provas para manter nossas opiniões, mas com o objetivo de saber o que Deus diz. Um verdadeiro conhecimento da Bíblia só pode ser obtido pelo auxílio Daquele Espírito pelo qual a Palavra foi dada. E, a fim de obter esse conhecimento, devemos viver de acordo com ele. Temos que obedecer a tudo que a Palavra de Deus ordena. [...]. O estudo da Bíblia exige nosso mais dedicado esforço e perseverante meditação. Com o mesmo empenho e persistência com que o mineiro cava para obter o dourado tesouro da terra, devemos procurar o tesouro da Palavra de Deus” (Ellen G. White, Educação, p. 189).

“Quando vocês fizerem da Bíblia seu alimento, sua comida e sua bebida, quando fizerem de seus princípios os elementos de seu caráter, conhecerão melhor como receber conselho de Deus. Enalteço a preciosa Palavra diante de vocês neste dia. Não repitam o que eu declarei, afirmando: ‘A irmã White disse isto’ e ‘a irmã White disse aquilo’. Descubram o que o Senhor Deus de Israel diz e façam então o que Ele ordena” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 33).

Perguntas para consideração

1. Quais crenças errôneas as pessoas defendem por terem examinado apenas alguns textos selecionados em vez de pesquisar tudo o que a Bíblia diz sobre um assunto?

2. Leia o que Jesus disse em Mateus 11:11 sobre João Batista. Jesus destacou um profeta que não tem nenhum escrito na Bíblia. Por que um profeta pode ser verdadeiro mesmo que não tenha escrito um livro bíblico? Como Adventistas do Sétimo Dia, que mensagem extraímos desse fato?

3. Como adventistas, não estamos sozinhos em reivindicar a Bíblia como nossa autoridade final. Outras igrejas também o fazem. Como explicar as doutrinas contraditórias que outros cristãos afirmam encontrar na Bíblia?



Resumo da Lição 5
Somente pelas Escrituras – Sola Scriptura

Textos-chave: Hb 4:12; 1Co 4:6; Is 8:20; Tt 1:9; 2Tm 1:13; Lc 24:27, 44, 45

Esboço

A Bíblia e o protestantismo estão entrelaçados em uma história comum. Pode-se dizer que a história do cristianismo é, em certo sentido, a história da interpretação das Escrituras Sagradas. Sola Scriptura – somente a Bíblia – tem sido o grito de guerra da Reforma Protestante. O princípio Sola Scriptura elevou o papel das Escrituras à condição de padrão único e fonte normativa da teologia. Além disso, o Sola Scriptura era um instrumento para criticar as estruturas do poder eclesiástico e as antigas tradições da igreja. Ele devolveu a Bíblia às mãos das pessoas comuns. Assim, Sola Scriptura é o princípio crítico direcionador que guia a igreja. Indica a convicção de que a Bíblia, e somente a Bíblia, é o único critério para a fé e o viver cristão. O que cremos em matéria de fé só é verdadeiro se nossas crenças correspondem ao testemunho de toda a Escritura (tota Scriptura). Esse preceito implica a unidade das Escrituras e a premissa de que a Bíblia é suficientemente clara no que afirma.

Assim, o Sola Scriptura é muito mais do que apenas um slogan da Reforma. Sem esse livro sagrado a Reforma não teria sido capaz de realizar o que fez. O Sola Scriptura também sugere vários princípios importantes para a interpretação das Escrituras que estão indissoluvelmente entrelaçados com esse conceito. Nesta semana, examinaremos mais de perto alguns desses princípios de interpretação.

Comentário

Quando afirmamos a importância do Sola Scriptura para nossa fé, reconhecemos a autoridade divina única da Bíblia sobre qualquer outra fonte que possa influenciar nossa teologia. Sola Scriptura não significa Scriptura Solo (escritura não acompanhada). Existem outras fontes que inevitavelmente fazem parte do que acreditamos, mas somente as Escrituras são a norma padrão e autoridade final sobre todas as outras fontes quando se trata de questões de fé e prática. As Escrituras estão acima de qualquer credo da igreja; não estão sujeitas ao julgamento da ciência ou da voz da maioria, nem de qualquer tradição, razão ou experiência. Nas palavras de Ellen G. White: “No entanto, Deus terá na Terra um povo que se fundamentará na Bíblia, e apenas na Bíblia, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. Nem a opinião de sábios, nem as deduções da ciência, nem os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, nem a voz da maioria, nada disso deve ser considerado evidência a favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos conferir se há um categórico “assim diz o Senhor” (O Grande Conflito, p. 595).

A Bíblia tem esse papel magistral devido à sua origem e autoridade divinas. Portanto, não devemos dizer menos do que o que as Escrituras afirmam, tampouco devemos acrescentar às suas palavras e ir além de seus ensinamentos claros. No fim do último livro da Bíblia, lemos o seguinte aviso que pode ser aplicado a toda a Escritura: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22:18, 19).

Perguntas para consideração

Por que é importante não adicionar nem tirar palavras das Escrituras? O que aconteceria se adicionássemos ou subtraíssemos sua verdade? O que significaria tal adição ou subtração para a autoridade das Escrituras? O que essa resposta nos diz sobre a autoridade da pessoa que acrescenta ou tira seções das Escrituras?

Somente a Bíblia é a norma que rege nossa fé. Esse preceito implica vários outros aspectos e princípios, como veremos a seguir:

A unidade das Escrituras

O fato de que as Escrituras são um guia e padrão teológicos só é possível devido à sua unidade, a qual é resultado de inspiração divina. A unidade não se sobrepõe às Escrituras, mas flui de sua origem divina. A própria Bíblia atesta essa unidade pelo fato de que os escritores do Novo Testamento citam basicamente todo o Antigo Testamento (as Escrituras de sua época); além disso, as palavras de Jesus e os escritos do Novo Testamento foram postos no mesmo nível de autoridade do Antigo (ver Lc 10:16, 2Pe 3:16). Assim, nenhuma parte das Escrituras tem mais autoridade do que a outra. O Novo Testamento não está acima do Antigo; e o Antigo é revelado no Novo.

Se não houvesse inspiração divina, não haveria unidade nas Escrituras. Sem a inspiração de Deus, teríamos apenas escritos bíblicos diferentes e contraditórios. Sem essa unidade, não seria possível desenvolver uma teologia bíblica abrangente. Poderíamos apenas debater sobre as diversas e inconsistentes teologias de diferentes escritores bíblicos. Somente essa unidade nos permite levar todo seu conteúdo em consideração e comparar Escritura com Escritura. Se não houvesse unidade na Bíblia, não mais poderíamos fazer essa comparação, nem usá-la para responder perguntas. Sua harmonia tem implicações de longo alcance para nossa teologia. Sem uma unidade básica das Escrituras, não seríamos capazes de distinguir a verdade do erro, nem mais poderíamos nos opor à heresia teológica. O resultado seria uma pluralidade de crenças distintas na Bíblia, e ela estaria cheia de contradições e inconsistências. Assim, ela teria efetivamente perdido sua capacidade de ser a norma e a diretriz para o que acreditamos, e não poderia ser usada para trazer unidade teológica entre os crentes.

Aplicação

Há quem afirme que o Novo Testamento tem mais autoridade que o Antigo. Afirmam que o Antigo Testamento ensina ira, vingança e a salvação com base em obras, ao passo que no Novo Testamento encontramos amor, misericórdia, perdão e graça. Assim, não há unidade de pensamento. Portanto, o Novo Testamento e, especialmente, as palavras de Jesus, são colocados acima das palavras do Antigo. Como você reage a essa posição? Existem problemas nessa abordagem? Que implicações essa visão tem para a autoridade da Bíblia?

A clareza das Escrituras

Quando recorremos somente à Bíblia, também expressamos de forma implícita a convicção de que as afirmações das Escrituras são suficientemente claras para ser entendidas, a fim de podermos colocar em prática. Talvez os textos mais difíceis da Bíblia não sejam aqueles que nos desafiam em nosso entendimento limitado. Em vez disso, os textos mais difíceis podem ser aqueles que entendemos claramente, mas com frequência resistimos em seguir. A Bíblia pode ser claramente entendida por crianças e adultos. No entanto, há um alcance infinito para as verdades das Escrituras além do que conhecemos. Sendo assim, mesmo a mente mais instruída tem amplo espaço para aprofundar-se em compreensão e conhecimento.

As Escrituras afirmam repetidamente que é clara o suficiente para ser entendida por quem a lê e ouve (ver Ne 8:8, 12; Ef 3:4; Mt 21:42; 12:3, 5; 19:4; 22:31; Mc 12:10, 26; Lc 6:3). Por haver clareza suficiente nas Escrituras, somos totalmente responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer, quando entendemos.

De que serviria a Bíblia se ela fosse obscura e pouco clara? Poderia então ter o papel de norma e guia? Explique.

As Escrituras interpretam a si mesmas

Por causa de sua unidade, a Bíblia pode ser sua própria intérprete. Uma parte das Escrituras pode lançar luz sobre outras partes. Portanto, devemos levar em consideração cuidadosamente os contextos histórico e literário das declarações bíblicas, em vez de apenas agrupar passagens que contêm a mesma palavra. Quando damos às Escrituras a chance de esclarecer partes das próprias Escrituras em que as mesmas ideias e palavras aparecem, devemos levar em conta tudo o que as Escrituras têm a dizer sobre um determinado assunto. A comparação cuidadosa e o estudo devem ter prioridade sobre qualquer comentário ou autor secundário que escreva sobre tópicos da Bíblia ou faça uma interpretação das Escrituras. Mesmo Ellen G. White não deve ser usada como atalho para o estudo atento da Bíblia. Embora possamos obter informações valiosas com seus comentários, ela não substitui uma investigação completa do livro sagrado.

Aplicação para a vida

Não precisamos de padres nem do Magistério da Igreja nem de outras autoridades para interpretar as Escrituras. Existe um sacerdócio para todos os crentes. No entanto, existe sabedoria no conhecimento coletivo daqueles que estudam a Bíblia. Deus também guia pessoas, e uma nova luz resistirá ao teste da investigação mais aprofundada por parte daqueles que também apreciam a mensagem bíblica. Nas palavras de Ellen G. White: “Deus não esqueceu Seu povo, escolhendo um homem isolado aqui e outro ali, como os únicos dignos de que lhes confie a verdade. Ele não dá a uma pessoa luz contrária à fé estabelecida do corpo de crentes. [...] Ninguém confie em si mesmo, como se Deus lhe houvesse conferido luz especial acima de seus irmãos. [...] Alguém aceita umas ideias novas e originais, que não parecem discordar da verdade. [...] Sobre isso se demora, até que lhe parece revestido de beleza e importância, pois Satanás tem poder para lhe dar essa falsa aparência. Por fim torna-se seu tema dominante, o único e grande ponto em volta do qual tudo gira; e a verdade é arrancada do coração. [...] Advirto-lhes que se protejam contra esses movimentos desviados, cuja tendência é distrair a mente da verdade. O erro jamais é inofensivo. Ele nunca santifica, mas sempre traz confusão e dissensão (Ellen G. White, Eventos Finais, p. 90, 91).


UMA DECISÃO MÁ

Após meses de cultos semanais, sete presidiários estavam prontos para o batismo na Polônia. Mas como e onde batizá-los? O pastor Mariusz Maikowski teve uma ideia. O batismo poderia ser realizado no Mar Báltico em um próximo acampamento de jovens. Mariusz pediu permissão ao diretor da prisão para soltar os presos quatro dias, um dia de viagem de trem até o mar, dois dias de acampamento e um dia de volta à prisão. A lei polonesa permitia que os presos com bom comportamento e com dois terços das sentenças cumpridos saíssem da prisão por curtos períodos.

O diretor garantiu permissão especial para que seis dos sete presidiários fizessem a viagem de 400 quilômetros até Jaroslawiec. Na semana seguinte, Mariusz chegou à prisão, com vários membros da igreja, para levar os prisioneiros à estação de trem.

Outro preso, Jurek, ouviu falar dos batismos e decidiu que também queria ser batizado. Ele havia cumprido dois terços de sua sentença, deixou a prisão um dia antes e tomou providências para se juntar ao grupo adventista no trem. A viagem de trem foi uma ocasião muito feliz. Um membro da igreja pegou o violão e o grupo começou a cantar músicas cristãs. No meio da viagem, o trem chegou à estação onde Jurek planejava embarcar, mas ele não apareceu.

No sábado, seis presidiários foram batizados no Mar Báltico.

Dois dias depois, os guardas da prisão e os presidiários ficaram surpresos ao ver todos os seis prisioneiros. Eles havia apostado em quantos deles fugiriam. Entretanto Jurek não retornou e foi emitido um mandado de prisão. Com a polícia à procura dele, Jurek não conseguia emprego. Então, se envolveu com alguns amigos bandidos e convidou seu irmão de 17 anos para fazer parte do grupo. Certa tarde, Jurek e o irmão se embriagaram no parque da cidade de Toru no norte da Polônia. Uma enfermeira passou em uma bicicleta, carregando um saco de maçãs para os colegas do hospital. Eles a roubaram, a estupraram e estrangularam. Após uma caçada policial, Jurek e o irmão foram presos.

Por 20 anos, a história de Jurek incomodou o pastor Mariusz. Jurek esteve tão perto do batismo! Se ele tivesse embarcado no trem, tudo poderia ter sido diferente. Certo dia, quando Mariusz pastoreava em Lublin, uma irmã da igreja se aproximou e disse que sua irmã estava namorando um ex-prisioneiro que precisava de um lugar para ficar. “Ele conhece muito sobre a Bíblia”, ela disse. “Como igreja podemos ajudá-lo?”

O pastor conheceu o homem, Tomek. Ele conhecia muito sobre a Bíblia e começou a visitar a igreja. Um dono de apartamento adventista alugou para ele. Mas Tomek nutria profundo ressentimento em relação a Deus. Com frequência, irrompia nele uma raiva, levando-o a amaldiçoar Deus, durante os estudos bíblicos em seu apartamento. “Você crê em Deus porque tem uma boa família e uma boa vida”, Tomek disse ao pastor. “Eu nasci em uma família disfuncional. Meu pai e irmãos eram criminosos. Minha mãe alcoólatra. Meus irmãos mais velhos cuspiam na minha sopa. Um irmão abusava de mim constantemente. Como posso acreditar que Deus é bom?”

Mariusz pensou na melhor maneira de responder. Durante um estudo bíblico, ele falou como uma única decisão ruim pode arruinar uma vida e contou a história de Jurek. “Veja bem, Tomek, esse homem estava muito próximo de Deus, mas uma decisão errada destruiu não somente a vida dele, mas a vida do irmão mais novo.” Tomek ficou pálido e olhou para Mariusz com olhos selvagens. O pastor ficou assustado. Os dois homens estavam sozinhos no apartamento e ele sabia que Tomek havia sido preso por assassinato.

Tomek começou a chorar. “Isso é inacreditável!”, ele disse em prantos. “Do que você está falando?”, perguntou o pastor. Tomek olhou nos olhos do pastor Mariusz e disse: “Eu sou o irmão mais novo de Jurek.” Hoje, Tomek está pensando no batismo e tentando deixar de beber. Sua influência em um centro de reabilitação para alcoólatras levou outras duas pessoas ao batismo. Seu irmão Jurek permanece na prisão.

“A história de Jurek mostra que quando estamos perto de Deus e Ele fala ao coração, devemos tomar uma decisão imediatamente”, disse Mariusz. Depois de tudo, Isaias 55:6 diz: “Busquem o Senhor enquanto se pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto” “Parte dessa história é triste”, continua o pastor, “mas também mostra o grande poder de Deus e o que Ele pode fazer em nossa vidas Imagine conhecer o irmão mais novo de Jurek depois de 20 anos e ser capaz de ensiná-lo sobre Deus.”

Estamos muito agradecidos pelas ofertas de 2017 que ajudaram a construir um estúdio de televisão para a Hope Channel na Polônia, espalhando o evangelho no idioma polonês.

Dicas da História

  • Pronúncia de Mariusz: .
  • Pronúncia de Jurek: .
  • Assista ao vídeo sobre Mariusz no YouTube: bit.ly/Mariusz-Maikowski.
  • Faça o download das fotos no Facebook (bit.ly/fb-mq) or ADAMS databank (bit.ly/one-bad-decision).
  • Faça o download das fotos nos projetos do trimestre no site: bit.ly/ted-13thprojects.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 1º Trimestre de 2020
Tema Geral: Como interpretar as Escrituras
Lição 5 – 25 de abril a 2 de maio

Somente pelas Escrituras: Sola Scriptura

Autor: Isaac Malheiros
Editor: André Oliveira Santos
Revisora: Josiéli Nóbrega

Os adventistas acreditam que assuntos de fé e prática devem ser decididos apenas pelas Escrituras. Essa crença é uma herança da Reforma Protestante, e pode ser resumida no lema: sola Scriptura.

1. A IASD e o princípio sola Scriptura

Antes mesmo de a IASD surgir oficialmente em 1863, Tiago White já afirmava que a Bíblia “é a nossa única regra de fé e prática”. A declaração das Crenças Fundamentais da IASD afirma que “os Adventistas do Sétimo Dia aceitam a Bíblia como seu único credo”. O Manual da Igreja orienta que se pergunte ao candidato ao batismo se ele crê que a Bíblia é “a única regra de fé e prática para o cristão”.

Em 1995, a IASD aprovou oficialmente uma declaração que descrevia a Bíblia como “o único guia confiável para a salvação em Cristo”. Portanto, a IASD acredita no princípio sola Scriptura, expressão em latim que significa “somente pela Escritura” e que foi um dos lemas da Reforma Protestante. Esse conceito pode ser simplificado assim: “Como única norma de fé, a Bíblia diz o que, ou, melhor, em quem se deve crer. Como norma de vida, ela, e só ela, diz que espécie de vida é agradável a Deus (2Tm 3.14-17)”.

2. Acreditamos em sola Scriptura ou prima Scriptura?

Hoje há duas correntes de pensamento competindo a respeito das fontes da teologia cristã: sola Scriptura e prima Scriptura. O ponto de vista sola Scriptura sustenta que somente a Escritura pode prover dados teológicos, e o ponto de vista prima Scriptura sustenta que a teologia adventista deve construir suas doutrinas sobre uma pluralidade de fontes, entre as quais a Escritura teria o papel principal.

Então, a pergunta é: a Bíblia é a fonte exclusiva (sola Scriptura) ou é a fonte mais importante dentre outras (prima Scriptura)? O adventismo defende o conceito radical e exclusivo de sola Scriptura: “As Escrituras são suficientes como o guia inerrante para a verdade divina. [...] Para conhecer a Deus e Sua vontade não necessitamos de nenhuma outra fonte além das Escrituras”.

Apesar disso, reconhecemos que existem recursos úteis para a interpretação da Bíblia (usamos comentários bíblicos, enciclopédias históricas, dados científicos, etc). Mas esses recursos estão debaixo da autoridade da Bíblia, e aqui cabe prima Scriptura. Portanto, prima Scriptura refere-se apenas ao uso de recursos para interpretar a Bíblia. Nesse caso, sim, a Bíblia é o recurso mais importante, tem a primazia, acima da arqueologia, ciência, história, etc. Mas como fonte de doutrinas, e regra de fé, a Bíblia é exclusiva.

Esse conceito radical de sola Scriptura fica claro nas palavras de Frank Hasel:Optar meramente pela ‘primazia da Escritura’, em vez de ‘somente pela Escritura’ como a norma final e autoridade suprema para a fé e prática, é separar-se do princípio protestante de que somente as Escrituras são a norma final para a teologia e a fonte exclusiva de sua própria interpretação. O protestantismo reivindicava mais do que a superioridade das Escrituras diante de outras fontes, ou mesmo sua prioridade. Reivindicava que somente as Escrituras são a fonte exclusiva de sua própria exposição”.

3. O que sola Scriptura não é

1) Sola Scriptura não nega o valor de outros recursos que ajudam a entender o texto bíblico. Recursos como comentários bíblicos, instrutores bíblicos humanos, ou qualquer intervenção externa que contribua para a melhor compreensão do texto bíblico é desejável e não é uma negação do princípio. No fim das contas, o conteúdo da verdade essencial à salvação surge da Bíblia e não dos recursos utilizados. A verdade continua brotando “da Bíblia, e da Bíblia somente”. Contribuir para a compreensão da doutrina não é a mesma coisa que servir de fonte ou base para verdades doutrinárias.

2) Sola Scriptura não significa que a Bíblia seja a única revelação disponível. A Bíblia aponta para a existência de outras fontes de revelação divina, como a natureza. Mas elas não revelarão nenhuma verdade necessária à salvação que a Bíblia já não tenha revelado. Sola Scriptura significa que qualquer “nova verdade” ou “detalhe adicional” deduzido a partir dessas outras fontes de revelação deve passar pelo crivo das Escrituras.

3) Sola Scriptura não quer dizer que só a Bíblia tenha verdades. A Bíblia tem as verdades necessárias à salvação, e tudo o que é necessário para regulamentar nossa fé/crença. Tudo que precisamos saber para sermos cristãos, ‘povo de Deus’, está na Bíblia. De fato, existem muitas verdades fora da Bíblia. Mas sola Scriptura não pretende afirmar que a Bíblia seja um compêndio exaustivo de verdades sobre todos os assuntos possíveis.

4) Sola Scriptura não representa uma negação de Ellen G. White. O senso comum a respeito da relação dos escritos de Ellen G. White com a Bíblia pode entender que sola Scriptura exclua esses escritos. Mas a correta compreensão de sola Scriptura revela que isso não nega a autoridade divina dos escritos de Ellen G. White. Apenas indica que eles não são a base para doutrinas. Eles têm outras funções.

A relação entre a Bíblia e os escritos de Ellen White no adventismo é assim descrita: “Conquanto os adventistas mantenham os escritos de Ellen G. White na mais elevada estima, eles não são a fonte de nossas exposições. Baseamos nossos ensinos nas Escrituras, o único fundamento de toda verdadeira doutrina cristã”.

Um documento divulgado pelo White Estate, depositário oficial do patrimônio literário de Ellen G. White, reafirma a autoridade dos escritos dela, mas nega que eles funcionam como a “base e autoridade final da fé cristã, como são as Escrituras” e que seus escritos podem ser usados como “base de doutrina”.

Ellen G. White sempre recusou que apelassem à autoridade de seus escritos para resolver questões doutrinárias, mesmos nos momentos mais críticos. Ela deixou claro que seus escritos tinham a intenção de levar os adventistas de volta à Bíblia: “o encargo principal de Ellen G. White foi dirigir a atenção para as Santas Escrituras”.

Se o objetivo de Ellen G. White era levar os adventistas de volta à Bíblia, não fazemos justiça a ela colocando seus escritos acima da Bíblia, nem interpretando a Bíblia somente através dela. Atender aos apelos de Ellen G. White significa debruçar-se no estudo bíblico profundo, voltar à exegese. Precisamos nos lembrar constantemente de que “qualquer coisa não ensinada claramente pela Bíblia não pode se tornar uma doutrina”.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Isaac Malheiros é pastor, casado com a professora Vanessa Meira, e pai da pequena Nina Meira, de 8 anos. Tem atuado por 16 anos como pastor na área educacional, como capelão e professor, e ama ensinar a ler e interpretar a Bíblia. Atualmente, é pastor dos universitários e professor do Instituto Adventista Paranaense (IAP). É doutor em teologia (Novo Testamento), mestre em teologia (Estudos de texto e contexto bíblicos) e especialista em Ensino Religioso e Teologia Comparada.

 

 

1 Tiago White. A Word to the “Little Flock”. 30 de maio de 1847. p. 13.
2  Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2015. p. 166.
3 Ver a pergunta n. 5 no Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, p. 47.
4 Declarações da Igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 81.
5 Vilson Scholz. Princípios de interpretação bíblica. Canoas: ULBRA, 2006. p. 10.
6 Fernando Canale. Creation, Evolution, and Theology: The Role of Method in Theological Accommodation. Berrien Springs: Andrews
 University Press, 2005. p. 98.
7 George W. Reid (ed.). Compreendendo as Escrituras. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p. 37.
8 George W. Reid (ed.). Compreendendo as Escrituras. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007. p. 43.
9 George R. Knight (ed.). Questões sobre doutrina. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. p. 100.
10 A Inspiração e autoridade dos escritos de Ellen G. White. Disponível em <https://bit.ly/3aezPP2>. Acesso em 3 de março de 2020.
11 George R. Knight. A Mensagem de 1888. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 59-63.
12 Declarações da Igreja. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003. p. 96.
13George R. Knight. Em busca de identidade. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005. p. 211.