Em 2018, um artefato no Museu da Bíblia , em Washington, D.C., atraiu muita atenção. Era uma Bíblia condensada projetada para ensinar o essencial da fé, ao passo que excluía passagens que incitassem a rebelião de escravos. Publicada em 1808, o texto removeu noventa por cento do AT e cinquenta por cento do NT. Dos 1.189 capítulos da Bíblia, permaneceram apenas 232.
Passagens que parecem reforçar os males da escravidão, em especial na ausência de grande parte da narrativa bíblica de “boas-novas”, foram deixadas totalmente intactas, incluindo textos frequentemente usados de forma incorreta como “servos, obedeçam a seus senhores aqui na Terra com temor e tremor, com sinceridade de coração, como a Cristo” (Ef 6:5).
No presente, em nossa época e cultura, o desafio importante é ler Efésios 6:1-9 no contexto da história completa da salvação, conforme revelada em toda a Bíblia. O que podemos aprender ao observarmos Paulo aplicar os valores do evangelho às estruturas sociais defeituosas de seu tempo?
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1. Que conselho Paulo deu aos filhos, e como fundamentou esse conselho no AT? Ef 6:1-3; Mt 18:1-5, 10; Mc 10:13-16
Para compreender plenamente o conselho de Paulo aos filhos, devemos imaginá-lo sendo lido nas igrejas da próspera metrópole de Éfeso. A palavra “filhos” (grego, ta tekna) poderia se referir a uma ampla faixa etária, uma vez que os filhos permaneciam sob a autoridade do pai até os 60 anos (na tradição grega) ou até sua morte (na romana). Contudo, esses filhos eram jovens o bastante para estar sob instrução dos pais (Ef 6:4), mas com idade suficiente para ser discípulos em seu próprio direito.
Ouvimos Paulo pedir aos filhos, que estavam adorando em congregações cristãs, para obedecer e honrar aos seus pais “no Senhor”, isto é, em Cristo (compare com Ef 5:22; 6:4, 5, 7-9). Somos convidados a respeitar os filhos considerando-os discípulos de Cristo e incluí-los como participantes ativos na adoração. Isso torna a passagem fundamental para a paternidade e para o ministério às crianças.
A ordem de Paulo para obedecer não é absoluta. Quando as ordens dos pais “contrariam os reclamos de Cristo, então, embora seja doloroso esse pensamento, devem obedecer a Deus e deixar com Ele as consequências (Ellen G. White, O Lar Adventista [CPB, 2021], p. 239).
Paulo completou sua exortação aos filhos citando o quinto mandamento, testemunhando o alto apreço que ele tinha pelos Dez Mandamentos como fonte de orientação para os cristãos (uma característica óbvia de Ef 4:1–6:9; em especial Ef 4:25, 28; 5:3-14). Ele começou a citação (“Honre o seu pai e a sua mãe”; Ef 6:2), a interrompeu com um comentário editorial (“que é o primeiro mandamento com promessa”; Ef 6:2) e então a finalizou (“para que tudo corra bem com você, e você tenha uma longa vida sobre a Terra”; Ef 6:3). O quinto mandamento testemunha que honrar os pais faz parte do projeto divino para que os seres humanos prosperem. O respeito pelos pais, embora imperfeitos, ajuda a promover a saúde e o bem-estar.
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2. Compare Efésios 6:4 e Colossenses 3:21. Que motivação Colossenses 3:21 apresenta para se evitar irritar os filhos?
Siraque, um documento judeu disponível na época de Paulo, aconselhava os pais sobre o tratamento para com os filhos: “Aquele que ama seu filho irá castigá-lo com frequência. [...] Mime uma criança, e ela irá aterrorizá-lo; brinque com ela, e ela o entristecerá. [...] Discipline seu filho e torne seu jugo pesado, para que você não seja ofendido pela falta de vergonha dele” (Siraque 30:1, 9, 13).
O conselho de Paulo tem um tom bem diferente. Ele primeiro deu uma ordem negativa aos pais: “Não provoquem os seus filhos à ira”, seguido de um positivo: “tratem de criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4). Naquela época, os pais tinham total poder legal sobre os filhos, que eram considerados sua propriedade. Os pais tinham o direito de infligir punição violenta, até mesmo a morte, aos filhos. Em alguns aspectos, o poder do pai sobre os filhos excedia a autoridade de um senhor sobre seus escravos. Paulo não apoiava isso. Ele esclareceu e remodelou os relacionamentos. No contexto de uma lealdade suprema a Cristo, Paulo convidou os pais a repensar o uso do poder, uma vez que os filhos que eram provocados à ira não estariam em boa posição de aceitar “a disciplina e a admoestação do Senhor” (Ef 6:4).
“Pais e mães, vocês devem representar no lar o caráter de Deus. Devem exigir obediência. Não com uma tormenta de palavras, mas de modo calmo e amável [...].
“Sejam agradáveis no lar. Reprimam toda a palavra que despertaria um temperamento não santificado. ‘Pais, não irritem seus filhos’ é uma ordem divina (Ef 6:4). [...]
“Nenhuma permissão é dada na Palavra de Deus para a severidade ou opressão paternas, nem para a desobediência dos filhos. A lei de Deus na vida do lar e no governo das nações flui de um coração de infinito amor” (Ellen G. White, Orientação da Criança [CPB, 2021], p. 182).
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3. Como você resumiria os conselhos bíblicos aos escravos e aos senhores de escravos? Ef 6:5-9; Cl 3:22–4:1; 1Co 7:20-24; 1Tm 6:1, 2; 1Pe 2:18-25
É surpreendente ouvir Paulo se dirigir aos senhores de escravos e escravos cristãos e imaginá-los sentados juntos nas igrejas-lares de Éfeso. A escravidão no mundo greco-romano podia diferir da versão posterior no Novo Mundo em aspectos significativos. Não estava focada em um único grupo étnico. Escravos urbanos e domésticos tinham às vezes oportunidades de educação e podiam trabalhar como arquitetos, médicos e filósofos. Em alguns casos, escravos domésticos ganhavam a liberdade após um período limitado de serviço, embora isso não ocorresse com a maioria deles. Na tentativa de reconhecer tais diferenças, uma série de versões bíblicas recentes traduz o termo grego doulos (“escravo”) em Efésios 6:5-8 como “servo”.
No entanto, essas opções não eram praticadas de forma igual, pois os escravos em áreas rurais regularmente experimentavam trabalho árduo. Não importa onde os escravos servissem, eles estavam sujeitos ao poder quase ilimitado do senhor de quem eram propriedade, bem como de sua família. O clamor do ex-escravo Públio Siro é assustador: “É lindo morrer em vez de ser humilhado como escravo.” Dada a grande variação dessas realidades, é preferível a tradução de doulos como “escravo”, especialmente porque esses escravos viviam sob a ameaça dos senhores (Ef 6:9).
Paulo não abordou a escravidão como um reformador social, mas como um pastor que aconselhava os crentes quanto à maneira de lidar com as realidades, e lançou uma nova visão centrada na transformação do crente individual, que mais tarde teria implicações mais amplas para a sociedade: “Sua visão não era para a alforria de escravos no Império Romano, mas algo além da alforria legal, ou seja, a criação de uma nova comunhão entre irmãos com base na adoção como filhos de Deus. [...]. A revolução social deveria ocorrer na igreja, [...] e na família” (Scot McKnight, The Letter to Philemon [Eerdmans Publishing Company, 2017], p. 10, 11).
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4. Nas instruções aos escravos cristãos, o que foi requerido deles? Ef 6:5-8
Paulo pediu aos escravos que obedecessem aos seus senhores, oferecendo serviço sincero e excelente. O que é notável é a repetida referência a uma grande substituição que ele lhes pede que façam. Eles não deviam colocar seu senhor no lugar de Cristo, oferecendo a ele a lealdade que pertence apenas a Cristo. Em vez disso, no compromisso e na lealdade que motivam o serviço sincero e excelente, deviam colocar Cristo, o Senhor, no lugar do seu senhor. Ao incentivar essa substituição essencial, Paulo ofereceu uma nova compreensão cristã do relacionamento senhor-escravo.
Observe as maneiras pelas quais Paulo os exortou a fazer essa substituição:
- Os senhores foram diminuídos por Paulo como “senhores aqui na Terra”, apontando para o Senhor real e celestial (Ef 6:5).
- Eles deviam servir “com temor e tremor, com sinceridade de coração, como a Cristo” (Ef 6:5).
- Paulo apontou essa substituição de forma mais clara ao afirmar que os escravos deviam oferecer serviço genuíno como escravos, não de seus senhores, mas como “servos de Cristo” (Ef 6:6).
- Na realização de suas tarefas, eles deviam fazer “de coração a vontade de Deus”, oferecendo um serviço sincero dirigido a Deus (Ef 6:6).
- Paulo incentivou a realização de serviços positivamente motivados, oferecidos “para o Senhor e não para pessoas” (Ef 6:7).
Por seu serviço sincero por Cristo, os escravos podiam esperar a recompensa na volta do Senhor, uma ideia especialmente atraente para pessoas presas nessa instituição horrível. Um escravo pode se sentir desvalorizado ou algo pior por um senhor terreno (1Pe 2:19, 20). O escravo crente, porém, tem um Senhor que está atento, percebendo “qualquer coisa boa que cada um faz” (Ef 6:8), e oferecendo a recompensa segura.
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Nas últimas palavras de Paulo aos escravos, “seja servo, seja livre” (Ef 6:8), a palavra “livre” refere-se aos senhores. Paulo imaginou escravos e senhores em pé de igualdade diante de Cristo no juízo (compare com 2Co 5:10; Cl 3:24, 25).
5. Imagine que você fosse um cristão senhor de escravos e ouvisse a leitura da Carta aos Efésios no seu lar-igreja. Como reagiria a esse conselho, dado na presença de seus escravos? Ef 6:9
Paulo exortou com firmeza os senhores, mostrando o contraste entre “senhores” (grego, hoi curió, traduzido como “mestres”), que tinham o hábito de “ameaçar” os escravos, e “o Senhor” (ho kurios), Cristo, em quem não há “parcialidade”.
Paulo pediu aos senhores: “façam o mesmo com os servos”, os escravos, o que era surpreendente no contexto do primeiro século. Os senhores deviam agir com boa vontade por causa de sua lealdade a Cristo, correspondendo ao que Paulo pediu aos escravos (Ef 6:5-8). Paulo exortou os senhores a parar de ameaçar os escravos, uma prática comum em que senhores administravam variadas punições, incluindo espancamento (1Pe 2:20), abuso sexual, venda do escravo (que era separado da família), trabalho extremo, fome, algemas, marcas de ferro quente e até a morte. Por causa disso eles serão julgados por Deus.
Paulo baseou suas ordens em duas motivações que chamaram os senhores de escravos a olhar além das estruturas sociais greco-romanas: 1. Eles e seus escravos eram escravos de um único Senhor (Ef 6:9; Cl 4:1); 2. O Senhor celestial julga tudo sem parcialidade. Uma vez que seu próprio Senhor tratava os escravos em pé de igualdade com os outros, eles também deviam fazer assim (comparar com Fm 15, 16).
A linguagem de Paulo animou os escravos. Eles receberam a adoção (Ef 1:5); a redenção (Ef 1:7); a herança (Ef 1:11, 14; 3:6); a entronização com Jesus (Ef 2:6); o status de “concidadãos”, “membros da família de Deus” (Ef 2:19; 3:14, 15) e integrantes do corpo de Cristo (Ef 3:6; 4:1-16). Efésios 6:5-9 aplica o ensino da carta ao relacionamento entre escravos e senhores, incluindo o conselho sobre a fala (Ef 4:25-32) e a ética sexual (Ef 5:1-14).
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O respeito de Paulo pelos filhos como companheiros de fé (Ef 6:1-3) aumenta nossa preocupação com a forma como as crianças são tratadas hoje. Sua palavra aos pais (Ef 6:4) nos convida a considerar as responsabilidades deles. Aplicar o conselho do apóstolo aos escravos (Ef 6:5-8) e, especialmente, seu conselho aos senhores de escravos (Ef 6:9) é mais desafiador, uma vez que o ambiente social está distante para muitos de nós e porque sabemos que a escravidão, de qualquer forma, é uma grande maldade. Ainda assim, visto que essas palavras são inspiradas, devemos refletir sobre como aplicá-las no presente. Como os efésios no primeiro século, temos o privilégio e a responsabilidade de aplicar os valores do evangelho aos relacionamentos. As perguntas para consideração foram projetadas para fomentar essa tarefa importante.
Perguntas para consideração
- O que significa dizer que o amor pelas crianças é identificado como evidência de “um povo preparado para o Senhor”? (Lc 1:17, NVI, citando Ml 4:6).
- Qual é a nossa responsabilidade em estender o cuidado de Cristo às crianças que sofreram violência, abuso sexual e desonra?
- Quais são as responsabilidades da igreja quanto a cuidar das crianças e protegê-las? Que sistemas e procedimentos precisam estar em vigor para que isso aconteça?
- O conselho de Paulo para escravos e senhores de escravos, em Efésios 6:5-9, é aplicado ao relacionamento entre empregados e empregadores. Isso é apropriado? Que perigos há em se fazer isso?
- A escravidão ainda atinge mais de 40 milhões de pessoas no mundo (“Índice Global de Escravidão”, www.globalslaveryindex.org/). Nossos líderes espirituais do passado estavam comprometidos com a abolição da escravidão. Qual é a nossa responsabilidade para com os filhos de Deus escravizados, considerando, por exemplo, este trecho de um hino cristão: “Correntes Ele quebrará, pois o escravo é nosso irmão, e em Seu nome toda opressão cessará” (“O Holy Night”, música em domínio público)?
Respostas e atividades da semana: 1. Obedeçam e honrem a seus pais “no Senhor”. Paulo fundamentou seu conselho citando o quinto mandamento. 2. Para que não percam o ânimo e estejam dispostos a sempre obedecer. 3. Os escravos devem servir de coração, como ao Senhor. Os senhores devem tratar os servos com justiça, sabendo que têm um Senhor nos Céus que trata a todos da mesma forma, sem parcialidade. 4. Que obedecessem aos seus senhores, oferecendo serviço sincero e excelente e que colocassem Cristo, o Senhor, no lugar do seu senhor. 5. Comente com a classe. Os senhores seriam levados a tratar seus servos de modo mais humano.
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TEXTO-CHAVE: Efésios 6:9
FOCO DO ESTUDO: Ef 6:1-9; Mc 10:13-16; Cl 3:21; 1Pe 2:18-25; 2Co 5:10; Cl 3:24, 25
VISÃO GERAL
Introdução: Depois de discutir a unidade familiar, Paulo mergulha em uma das categorias mais controversas e difíceis da unidade: a unidade entre gerações e classes sociais. Para essas situações, Paulo tem a mesma solução com base no evangelho: unidade “no Senhor”. Ele aconselha os filhos a respeitar seus pais no Senhor. Essa frase já coloca os filhos no âmbito de uma família e sociedade cristãs, na qual eles são tratados como membros da família do Senhor. O conselho para os pais é exatamente no mesmo espírito: trate seus filhos como se fossem do Senhor. Esse princípio, porém, não significa que os filhos não possam ser ensinados, corrigidos e disciplinados. Contudo, os pais devem tratar a disciplina de seus filhos da mesma forma que Deus trataria.
Ao contrário do que dizem os críticos , Paulo não defendeu a escravidão, mas optou por abordá-la de maneira pastoral e estratégica. Seguindo Jesus, que rejeitou uma solução revolucionária para a opressão (Pedro foi admoestado por Jesus a guardar sua espada na bainha), Paulo defendeu a solução em Cristo . Os escravos deviam se ver como escravos de Cristo, assim como Paulo se via, e deviam trabalhar para o Senhor . Eles deviam ver seus senhores como seres humanos necessitados de salvação, assim como qualquer pecador. Os senhores deviam ver seus escravos como concidadãos no reino de Deus e a si mesmos como escravos do Senhor . A tensão entre senhor e escravo é “resolvida” pelo fato de que senhores e escravos são igualmente chamados e adotados por Cristo, exaltados com Ele nas regiões celestiais. Eles adoram o mesmo Deus e são chamados a ter sua vida transformada pela presença do Espírito neles, conforme a imagem de Deus em Cristo.
Temas da lição: A lição desta semana destaca dois temas principais:
- Unidade entre gerações: os filhos e os pais podem estar verdadeiramente unidos quando se tratam mutuamente no Senhor.
- Unidade entre classes sociais: senhores e escravos só se unem no Senhor quando veem um ao outro pelo que são Nele, concidadãos do Reino e da vida em Cristo.
COMENTÁRIO
Unidade para fi lhos e pais, escravos e senhores
Em Efésios 6:1-9, Paulo continua tratando da unidade que Deus traz à humanidade e à igreja por meio de Cristo . O apóstolo faz isso tocando em dois problemas delicados, no âmbito dos relacionamentos familiares e sociais: a relação entre gerações e a relação entre escravos e senhores. Paulo diz aos filhos que eles devem obedecer a seus pais “no Senhor” porque “isto é justo” (Ef 6:1). É justo porque é um mandamento de Deus, um mandamento com promessa de bênçãos e prosperidade (Ef 6:2, 3). Por outro lado, Paulo admoesta os pais a não “provocar” os filhos à ira, comandando-os ao seu bel-prazer. Em vez disso, o objetivo dos pais é “criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6:4), não de acordo com sua própria sabedoria. Os filhos devem ser ensinados na direção de um relacionamento maduro pessoal com o Senhor. Embora os filhos devam ser envolvidos no trabalho doméstico, esse trabalho deve ser um meio de educação e não de exploração ou de produção que não os beneficie. As relações entre pais e filhos são fundamentais para a sociedade. É triste dizer que diferentes sociedades, em vários momentos, testemunharam o abuso dos pais ou dos filhos (ou de ambos) na relação familiar. Essa tensão intergeracional causada pelo pecado só pode ser resolvida quando estamos em Cristo.
Paulo chama os escravos cristãos a “obedecer” a seus “senhores aqui na Terra com temor e tremor, com sinceridade de coração, como a Cristo” (Ef 6:5). Paulo não quer dizer que está colocando a aprovação divina em algo tão errado e mau como a escravidão. Ele também não está traçando um paralelo entre os “senhores aqui na Terra” e Cristo, mas enfatizando a genuinidade da conversão dos escravos e dos senhores.
Devemos ser cristãos em qualquer circunstância. Muitas vezes somos apanhados em situações difíceis. Alguns ficam incapacitados ou limitados por doença, outros por desastre natural ou social, e alguns enfrentam seus últimos dias de vida. Em tais circunstâncias, as Escrituras nos ensinam a fazer o que está ao nosso alcance para melhorar ou mudar nossa situação, mas nem sempre isso é possível. A coisa mais importante é apegar-se à fé genuína e ao relacionamento com Cristo.
Da mesma forma, Paulo diz aos escravos: Se você é escravo, como foi o caso de José no Egito, e se não pode mudar essa situação (1Co 7:21-23), lembre-se do mistério do evangelho, das bênçãos de Cristo nas regiões celestiais e da honra que Ele nos deu ao nos exaltar Consigo mesmo ao trono de Deus. Lembre-se também do fato de que somos pedras no templo de Deus e membros de Seu corpo, temos experimentado a transformação do nosso coração e do nosso estilo de vida, das nossas atitudes e perspectivas, e temos percebido o Espírito Santo que atua em nós para produzir essas mudanças.
Portanto, como José no Egito, trabalhe para o seu senhor, faça a casa dele prosperar da mesma forma que você trabalharia para Jesus (Ef 6:6). Tal conduta não é adulação nem bajulação. Esse comportamento também não é um autoengano nem pode ser comparado ao desenvolvimento de uma mentalidade de escravo. Em vez disso, esse comportamento representa a essência da atitude cristã em seus relacionamentos. Em qualquer circunstância ou estrutura social, o mais importante para o cristão é sua conversão, a qual resultará em uma atitude sincera, diligente e perfeita em relação ao trabalho e à vida (Ef 6:6-8).
Por outro lado, Paulo diz aos senhores que “façam o mesmo” (Ef 6:9) com seus servos: sejam senhores parecidos com Jesus. Os senhores de escravos terrenos, ou pessoas de riqueza e poder, sabem que Jesus é o Mestre deles. Assim, ao contrário da ideia de que Paulo está apoiando a escravidão, ele destrói o fundamento da escravidão ao estabelecer o princípio cristão de que todos – escravos e senhores – têm o mesmo Mestre. Todas as relações sociais e econômicas devem estar relacionadas a Cristo. Os escravos vivem e trabalham primeiro em relação a Jesus como seu Mestre. Os senhores tratam seus trabalhadores como Jesus, seu Mestre, os trata. Paulo enfatiza que “Ele não trata as pessoas com parcialidade” (Ef 6:9). Seguindo Seu próprio Mestre (Mt 26:51-53), Paulo acreditava que, ao pregar o evangelho da unidade e amor em Cristo, a escravidão entraria em colapso por si mesma.
Teologia adventista do sétimo dia sobre filhos
Os adventistas valorizam tanto o casamento quanto os filhos. Esse valor está refletido na crença fundamental 23: “Deus abençoa a família e quer que seus membros ajudem uns aos outros a alcançar completa maturidade. Os pais devem educar seus filhos a amar o Senhor e a obedecer-Lhe. Por seu exemplo e suas palavras, devem ensinar-lhes que Cristo é um disciplinador amoroso, sempre terno e solícito, desejando que eles se tornem membros do Seu corpo, a família de Deus. Crescente intimidade familiar é uma das características da mensagem final do evangelho” (Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 8ª ed. [Casa Publicadora Brasileira, 2008], p. 365).
A valorização dos filhos está incluída em declarações da Igreja. Referindo-se a Efésios 6:4, entre outros textos, a declaração “Nurture and Protection of Children” (Educação e Proteção das Crianças) descreve as crianças “como dons preciosos de Deus confiados aos cuidados dos pais, da família, da comunidade de fé e da sociedade em geral” e apela para que as crianças sejam protegidas de abuso, violência e exploração. “Muitas crianças sofrem punições severas em nome de uma abordagem bíblica da disciplina. A correção caracterizada por um controle severo, punitivo e ditatorial leva ao ressentimento e à rebelião. Essa disciplina também está associada ao aumento do risco de danos físicos e psicológicos às crianças, bem como à maior probabilidade de os jovens recorrerem à coerção e à violência para resolver suas diferenças com os outros. Por outro lado, exemplos das Escrituras, bem como um grande corpo de pesquisas, confirmam a eficácia de formas mais brandas de disciplina que permitem que as crianças aprendam por meio do raciocínio e experimentando as consequências de suas escolhas. Essas medidas mais suaves demonstraram aumentar a probabilidade de as crianças fazerem escolhas que tenham efeitos positivos e edificantes e adotarem os valores dos pais à medida que amadurecem”. Essa declaração convida as igrejas a se tornarem um “lugar seguro” para os pequenos, provendo “cura emocional e espiritual” para as crianças afetadas (Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Nurture and Protection of Children, 23 de junho de 2010, disponível em: www.adventist.org/official-statements/ nurture-and-protection-of-children).
Declarações similares, incluindo recomendações práticas, foram abordadas em 1997 (“Abuso Sexual de Menores”, Declarações Oficiais da Igreja [Casa Publicadora Brasileira, 2005], p. 82; Comissão Administrativa da Associação Geral de 1º de abril de 1997, em Loma Linda, Califórnia) e em 2000 (“Bem-estar e Valor da Criança”, Declarações Oficiais da Igreja, 2005, p. 113; Sessão da Conferência Geral de Toronto, Canadá, de 29 de junho a 8 de julho de 2000). A Igreja Adventista tem departamentos que ministram às necessidades da família: Ministério da Família, Ministério da Criança, Ministério da Mulher e Ministério Jovem.
Teologia adventista do sétimo dia sobre escravidão
Temos incorporado em nossas doutrinas perspectivas bíblicas sobre questões sociais, como racismo, escravidão e outras desigualdades socioeconômicas, relacionando essas questões com a doutrina, como Paulo fez em sua Epístola aos Efésios. A crença fundamental 14, “Unidade no Corpo de Cristo”, proclama que “em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição” (Nisto Cremos: As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 2008, p. 226). Mesmo que a igreja não tenha votado uma declaração que trate especificamente da escravidão, foram adotadas declarações relacionadas à pobreza e às relações humanas, como “Desamparo e Pobreza” (Declarações Oficiais da Igreja, 2005, p. 49; 5 de julho de 1990; Sessão da Associação Geral realizada em Indianápolis, Indiana); “Pobreza Global” (Declarações da Igreja, Casa Publicadora Brasileira, 2012; Comissão Administrativa da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 23 de junho de 2010; Sessão da Associação Geral em Atlanta, Geórgia, de 24 de junho a 3 de julho de 2010); “Uma Humanidade: Uma Declaração das Relações Humanas Abordando Racismo, Sistema de Castas, Tribalismo e Etnocentrismo” (Comissão Administrativa da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 15 de setembro de 2020).
APLICAÇÃO À VIDA
- Mesmo que você tenha sido maltratado ou agredido por seus pais no passado, quais são os três princípios de Efésios 5 e 6 que orientam você na criação dos seus filhos? Como esses princípios podem ajudá-lo a se curar das cicatrizes de seus relacionamentos?
- Se você maltrata seu cônjuge e seus filhos, faça um plano de três etapas para se libertar dessa situação. Se você não tem esse problema, como ajudar alguém que esteja passando por essa situação?
- Se você teve uma vida de desobediência e desprezo a seus pais, como remediar essa situação? Cite três maneiras de compensar os erros do passado.
- Há uma ligação entre relacionamentos abusivos na família e na igreja e a saída de jovens da igreja. O que você pode fazer a respeito desse fenômeno? Como encontrar equilíbrio entre corrigir o comportamento dos jovens e demonstrar amor inabalável por eles?
- Em Malaquias 4:5, 6, foi profetizado o retorno de Elias com uma mensagem de reconciliação intergeracional. A nossa salvação é a reconciliação que Deus opera entre nós e Ele mesmo (2Co 5:18-21). Essa reconciliação vertical se refletirá em nossas relações familiares, sociais e de trabalho. Como sua igreja pode se tornar um centro para a promoção da reconciliação intergeracional?
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De traficante de drogas...
Marek - 2 de Setembro
Matthew e Martin eram os melhores amigos de Marek na escola. Se alguma briga surgisse na escola, os três adolescentes eram sempre os culpados: Matthew, Martin e Marek.
Hoje, Matthew está morto; Martin passou sete anos na prisão; e Marek é um ex-traficante de drogas que atua como líder de jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Polônia.
O que aconteceu?
Marek cresceu em uma família cristã no sul da Polônia. Sua vida desmoronou aos 18 anos de idade quando sua namorada o deixou. Ele queria morrer. Ele ficou em casa por duas semanas, deitado na cama e chorando. Finalmente, ele decidiu orar e orou: “Deus, eu a quero de volta”. Nada aconteceu. Então, ele orou: “Deus, eu não quero mais acordar, porque dói muito”. Mesmo assim, nada aconteceu.
Marek parou de orar e se tornou ateu. Ele começou a usar drogas. Então, seu amigo Martin decidiu vender drogas e convidou Marek para se juntar a ele. Marek rapidamente se tornou bem-sucedido por vender e usar drogas. Ele pensou: “Isso é ótimo. Você tem muito dinheiro e pode festejar o tempo todo!”
Dois anos se passaram. Mas então Marek não conseguiu encontrar ninguém para acompanhá- lo em uma grande festa na véspera do Ano Novo. Era um grande feriado porque o mundo estava tocando o ano 2000. Então, Marek, que tinha 21 anos, decidiu visitar sua avó.
Naquela noite, ele se viu encarando uma imagem de Jesus na casa de sua avó. Ele pensou:
“Mesmo que eu não acredite em Deus, Jesus era real. Ele estava aqui. Este ano, estamos celebrando o 2000º aniversário de seu nascimento”.
Seu pensamento se voltou para como ele lia a Bíblia quando garoto. Ele se lembrou de que a Bíblia retratava Jesus como uma boa pessoa que tratavam bem as pessoas. Ele pensou: “Jesus era bom. Eu sou bom?”
Naquele momento, ele ouviu uma voz. A voz dizia: “Sim, você é bom. Você é bom tão bom quanto eu”.
Até hoje, Marek não sabe quem falou. Mas a voz fez com que ele começasse a pensar seriamente sobre a existência de Deus.
Vários dias depois, Marek visitou uma mulher que prometeu revelar seu futuro. Ela embaralhou as cartas na mão e o alertou sobre o fim do mundo. “Este mundo está chegando ao fim”, disse ela. “As pessoas precisam orar. Elas precisam se converter.”
Marek ficou espantado e perguntou quando o mundo acabaria. Ela disse que em exato um ano. Marek acreditou nela.
Naquela época, Marek começou a ler a Bíblia porque queria saber como o mundo acabaria. Ele pensou que o Apocalipse providenciaria respostas, mas leu o livro três vezes e não entendeu nada. Voltando-se aos evangelhos, ele ficou maravilhado ao saber que Jesus tinha um reino onde as pessoas seriam felizes e viveriam para sempre. Ele queria estar naquele reino perfeito quando o mundo acabasse. Entre uma festa e outra, ele buscava informações sobre como entrar naquele reino.
Certa noite, após uma festa, ele estava sentado em um carro, comendo comida para viagem com amigos. Pela janela, ele viu uma livraria chamada “Signs of the Times (Sinais do Tempo)”. O nome chamou sua atenção. Ele lembrou que Jesus havia falado sobre os sinais dos tempos nos evangelhos e quis saber se a livraria poderia ajudá-lo a se preparar para o fim do mundo. No dia seguinte, ele foi à livraria e perguntou: “Você tem algum livro sobre Nostradamus?”
A mulher que estava atrás do balcão disse: “Não, mas se você estiver interessado em profecia, nós temos O Grande Conflito”. Era uma livraria adventista. Marek comprou o grosso livro de Ellen White.
Marek ficou atordoado ao ler a história da igreja cristã desde a destruição de Jerusalém até a segunda vinda de Jesus. Ele verificou novamente o que havia lido na Bíblia e on-line. Tudo parecia coincidir.
Numa noite, enquanto lia O Grande Conflito na cama, ele se perguntou: “Estou recebendo luz por ler este livro?” Ele leu no livro que Martinho Lutero recebeu luz de Deus. Agora, ele imaginava se também estava ganhando luz.
Naquele momento, a lâmpada do abajur acima de sua cabeça começou a piscar e fazer um zumbido. A lâmpada piscou e zumbiu por 10 segundos, 15 segundos, 20 segundos. Aquilo era incomum, e Marek ficou nervoso.
De repente, ele notou um reflexo de si mesmo em uma janela do outro lado da sala. Tudo o que ele podia ver era sua cabeça e a lâmpada logo acima dela. Naquele exato momento, a lâmpada parou de crepitar e brilhou forte novamente.
A resposta estava clara para ele. Ele pensou: “Sim, eu tenho luz como essa lâmpada acima da minha cabeça”.
Foi a primeira vez em sua vida que ele sentiu a presença e o amor de Deus. Ele se ajoelhou e disse: “Deus, se Tu és assim, eu quero Te servir”.
Obrigado por suas ofertas em 2017, pois elas ajudaram a construir um estúdio de televisão para o Hope Channel Polônia. Marek Micyk é o líder de jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Polônia e orador do Hope Channel Polônia, a filial local do Hope Channel Internacional.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2023
Tema geral: Efésios
Lição 11 – 2 a 9 de setembro
Suprema lealdade a Cristo
Autor: Matheus Cardoso
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Ideias principais
Em Efésios 6:1-9, Paulo continuou suas instruções dirigidas aos vários membros do lar cristão, agora tratando de filhos e pais, bem como de escravos e senhores. Todos os relacionamentos do cristão devem refletir a devoção ao Senhor, que resulta de conhecer-Lhe e buscar a Sua vontade.
Texto-base da semana: Efésios 6:1-9
Antes do estudo da Lição da Escola Sabatina ou deste comentário, leia Efésios 6:1-9. Sugerimos uma tradução mais contemporânea da Bíblia, como a Nova Versão Internacional ou a Nova Versão Transformadora.
Notas de estudo
Para o estudo mais aprofundado do texto bíblico, sugerimos uma tradução mais literal, como a Nova Almeida Atualizada (que usamos abaixo).
6:1:
Filhos. O termo grego tekna se referia a filhos de uma ampla faixa etária, mas, na Carta aos Efésios, eles eram jovens o bastante para ainda estar sob instrução dos pais (Ef 6:4). Instruções dirigidas diretamente a filhos pequenos ou jovens eram incomuns no mundo antigo, indicando que eles estavam presentes na congregação quando a carta de Paulo foi lida.
Obedeçam a seus pais. O Antigo Testamento prescrevia pena de morte para os filhos que ferissem ou amaldiçoassem um dos pais (Êx 21:15, 17; Lv 20:9). Paulo destacou a desobediência aos pais como um dos pecados marcantes da cultura pagã de sua época (Rm 1:30), e esse seria um dos pecados característicos dos últimos dias (2Tm 3:2).
No Senhor. Os filhos devem obedecer a seus pais e imitá-los enquanto estes obedecem ao Senhor e O imitam.
Pois isto é justo. Obedecer aos pais é uma exigência da lei de Deus, citada nos versos 2 e 3 de Efésios 6.
6:2:
“Honre o seu pai e a sua mãe” é uma citação de Êxodo 20:12 e Deuteronômio 5:16. Paulo mencionou o Decálogo como relevante e repleto de autoridade para o cristão. Essa é uma das inúmeras vezes em que o apóstolo destacou a permanência da lei de Deus e a importância de sua obediência (veja, por exemplo, Rm 3:31; 7:7-14; 8:4, 7; 13:8-10; 1Co 7:19; Gl 5:14; 6:2; Ef 4:25, 28; 5:5; Hb 8:8-10).
É o primeiro mandamento com promessa. Embora o segundo mandamento do Decálogo contenha uma promessa (Êx 20:6), ela se refere à obediência em termos gerais. O quinto é o primeiro mandamento da Torá (ou Pentateuco) que menciona uma promessa específica.
6:4:
Vocês, pais. Na sociedade greco-romana o pater potestas tinha poder quase ilimitado não apenas sobre os filhos, mas sobre toda a família. As instruções de Paulo apresentavam uma nova perspectiva sobre o tratamento dos filhos.
Não provoquem os seus filhos à ira. Paulo descreveu primeiro o que os pais não devem fazer. Com isso, devem tratar os filhos de maneira que desenvolva o amor deles pelos pais. Provocar os filhos à ira inclui abusos físicos e verbais.
Criá-los na disciplina e na admoestação do Senhor. Em segundo lugar, Paulo descreveu o que os pais devem fazer. Instruir os filhos e guiá-los na vontade de Deus era um dever prescrito no Antigo Testamento (Dt 6:1-9; 21:18, 19; Pv 1:8, 9; 3:11, 12; 17:25).
6:5:
Vocês, servos, obedeçam a seus senhores. Em Cristo, não há “nem escravo nem liberto; [...] porque todos vocês são um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Os cristãos, no entanto, deveriam aprender a viver, da melhor maneira possível, dentro da realidade que existia na sociedade greco-romana.
“O conceito antigo de ‘servo’ ou ‘escravo’ não corresponde diretamente a nenhuma instituição do mundo atual, e cobria uma grande gama de relações sociais. [...] Estima-se que escravos (ou servos) compunham cerca de um terço da população de uma cidade como Éfeso. Eles eram considerados parte integrante de uma família, por isso as instruções de Paulo para os servos são uma parte natural das relações familiares. Tanto na cultura grega quanto na romana, os servos tinham direitos limitados e estavam sujeitos à exploração e abuso.
“Paulo não perdoa ou concorda com o sistema existente de servidão; ele apenas fornece instruções para os senhores e servos crentes considerando sua relação dentro dos limites sociais e legais de sua cultura. O resultado, como muitas vezes observado, é que esse tipo de servidão desapareceu lentamente por causa da influência do cristianismo” (Bíblia de Estudo NAA [Sociedade Bíblica do Brasil, 2018], notas sobre Ef 6:9, 5).
6:6:
Servos de Cristo ou “escravos de Cristo” (NVI, NVT). Com frequência, Paulo se descrevia como “escravo” ou “servo” (em grego, doulos) de Cristo (Rm 1:1; 1Co 7:22; Fp 1:1).
6:8:
Receberá isso outra vez do Senhor ou “o Senhor recompensará cada um pelo bem que praticar”. Mesmo que neste mundo os escravos não sejam bem tratados ou recompensados por seus senhores, Deus os recompensará na eternidade (Mt 16:27; 2Co 5:10; Cl 3:24).
6:9:
Deixando as ameaças. No contexto greco-romano, os senhores tinham poder sobre a vida e a morte dos escravos. Ameaças e punições eram parte essencial da maneira de tratar os escravos, e incluíam bater, aprisionar ou até vender a uma servidão mais dura. Paulo destacou que essa realidade deveria ser muito diferente entre os cristãos.
Sabendo que o Senhor, tanto deles como de vocês, está nos céus, e que Ele não trata as pessoas com parcialidade. Embora a escravidão estivesse longe do ideal divino, Paulo apresentou instruções que poderiam amenizar esse desafio: os escravos deveriam obedecer ao seu mestre por devoção a Cristo, enquanto os senhores deveriam tratar os escravos com respeito e dignidade, eliminando violência e abuso, tanto físicos quanto verbais. Mesmo que a desigualdade fosse parte da sociedade grego-romana (e de todas as sociedades humanas), Paulo concluiu a seção com forte ênfase na igualdade que existe diante de Deus, para quem, de fato, não há “nem escravo nem liberto” (Gl 3:28).
Conclusão
Ainda que a escravidão da época dos apóstolos fosse bastante diferente daquela que conhecemos, por que os escritores do Novo Testamento não foram mais incisivos quanto a essa prática, exigindo sua abolição entre os cristãos?
“Os apóstolos não se consideravam reformadores sociais. Eram, antes de tudo, arautos das boas-novas da salvação em Cristo. Os apóstolos, porém, não fecharam os olhos à escravidão. Na verdade, anunciavam os verdadeiros princípios (como o da absoluta igualdade espiritual entre senhores e escravos) que acabaram destruindo essa terrível mancha da civilização. O procedimento dos apóstolos para com esse mal social foi semelhante ao do lenhador que tira a casca da árvore e a deixa morrer.
“O cristianismo provocou não uma revolução política, social e econômica, mas uma revolução moral e espiritual. Se o cristianismo tivesse se envolvido com causas políticas, antes que com espirituais, ele teria promovido um banho de sangue e destruído no nascedouro a religião cristã. Os textos de Efésios 6:5-9, Colossenses 3:22–4:1, Filemom 16 e Tiago 5:1-6 minam as bases da escravidão.
“John Eadie esclarece esse ponto de forma magistral:
“‘O cristianismo não atacava diretamente as formas de vida social vigentes nem procurava promover uma revolução, aliás justificável, por meio de processos externos. Tal empreendimento teria sufocado com sangue a religião nascente. O evangelho realizou obra mais nobre. Não permaneceu indiferente recusando-se a falar ao escravo até que tivesse conquistado a liberdade e lhe caíssem as algemas [...], mas desceu ao nível da sua degradação, tornou-o pela mão, pronunciando-lhe aos ouvidos palavras de bondade, e deu-lhe uma liberdade que os grilhões não puderam impedir nem a tirania pôde esmagar pela força.’
“O cristianismo triunfou sobre a escravidão. Foi a religião cristã que apagou essa mancha da civilização. Os reformadores trataram da questão do mistério do pobre e do ministério do rico. A pregação dos avivalistas John Wesley e George Whitefield pavimentaram o caminho da abolição da escravatura na Inglaterra. Wilberforce, mais tarde, acabou com a escravidão na Inglaterra. A Guerra Civil dos Estados Unidos acabou com a escravidão, com a vitória dos estados do norte sobre os estados do sul. No Brasil, a escravidão foi vencida em 1888. Em nenhum país cristão a escravidão pode prevalecer” (Hernandes Dias Lopes, Efésios: Igreja, a Noiva Gloriosa de Cristo [Hagnos, 2010], p. 170, 171).
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Matheus Cardoso é graduado em Teologia pelo Unasp-EC. Serviu à Casa Publicadora Brasileira como editor durante alguns anos e hoje atua como tradutor profissional para a Casa Publicadora Brasileira e outras instituições.