Lição 5
23 a 29 de abril
Todas as nações e Babel
Sábado à tarde
Ano Bíblico: 2Rs 6-8
Verso para memorizar: “A cidade foi chamada de Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de toda a Terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela” (Gn 11:9).
Leituras da semana: Gn 9:18–11:9; Lc 10:1; Mt 1:1-17; Lc 1:26-33; Sl 139:7-12; Gn 1:28; 9:1

Após o dilúvio, o relato bíblico muda o foco no único indivíduo, Noé, para seus três filhos, “Sem, Cam e Jafé”. A atenção especial a Cam, o pai de Canaã (Gn 10:6, 15), introduz a ideia de “Canaã”, a terra prometida (Gn 12:5), uma antecipação de Abraão, cuja bênção se estenderia a todas as nações (Gn 12:3).

No entanto, essa sequência foi interrompida pela torre de Babel (Gn 11:1-9). Mais uma vez, os planos de Deus para a humanidade foram interrompidos. O nascimento de todas as nações, que deveria ser uma bênção, tornou-se maldição. As nações se uniram para tentar tomar o lugar do Senhor, que respondeu com um juízo sobre elas. E, com a consequente confusão, as pessoas se dispersaram por todo o mundo (Gn 11:8), cumprindo assim o plano original divino de que enchessem a Terra (Gn 9:1).

Apesar da maldade humana, Deus transformou o mal em bem. Como sempre, é Dele a última palavra. A maldição de Cam na tenda de Noé (Gn 9:21, 22) e a maldição das nações confundidas na torre de Babel (Gn 11:9), no fim, se transformariam em bênção para todos.

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Domingo, 24 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 9-11
A maldição de Cam

1. Leia Gênesis 9:18-27. Qual é a mensagem dessa história estranha?

A atitude de Noé em sua vinha lembra Adão no jardim do Éden. As duas histórias contêm temas comuns: comer da fruta resultou em nudez. Em seguida, houve uma cobertura, uma maldição e uma bênção. Noé se reconectou às suas raízes adâmicas e, infelizmente, deu continuidade ao fracasso.

A fermentação da fruta não fazia parte da criação original de Deus. Noé bebeu do suco fermentado, perdeu o controle e ficou nu. O fato de Cam ter “visto” sua nudez relembra Eva, que também “viu” a árvore proibida (Gn 3:6). Esse paralelo sugere que Cam não apenas “viu” furtivamente, por acidente, a nudez de seu pai. Ele andou ao redor e falou sobre isso, sem nem mesmo tentar resolver o problema. Em contraste, a reação imediata de seus irmãos de cobrir seu pai, enquanto Cam o havia deixado nu, denunciou implicitamente as atitudes do filho mais moço.

A questão em jogo tem a ver com o respeito aos pais. Deixar de honrar seus pais, que representam seu passado, afetará seu futuro (Êx 20:12; compare com Ef 6:2). Daí a maldição, que influenciou o futuro de Cam e de seu filho Canaã.

Claro, é erro teológico grosseiro e crime étnico usar esse texto para justificar teorias racistas. A profecia é estritamente restrita a Canaã, filho de Cam. O autor bíblico tinha em mente algumas práticas corruptas dos cananeus (Gn 19:5-7, 31-35).

Além disso, a maldição contém uma promessa de bênção, jogando com o nome “Canaã”, que deriva do verbo kana’, que significa “subjugar”. Subjugando Canaã, o povo de Deus, descendentes de Sem, entraria mais tarde na terra prometida e prepararia o caminho para a vinda do Messias, que engrandeceria Jafé “nas tendas de Sem” (Gn 9:27). Essa é uma alusão profética à expansão da aliança de Deus a todas as nações, que abraçariam a mensagem de salvação de Israel para o mundo (Dn 9:27; Is 66:18-20; Rm 11:25). A maldição de Cam resultou, na verdade, em bênção para todas as nações, incluindo os descendentes de Cam e Canaã que aceitassem a salvação oferecida pelo Senhor.

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Noé, o “herói” do dilúvio, bêbado? O que isso nos diz sobre nossas imperfeições e o motivo pelo qual carecemos da graça divina em todos os momentos?


Segunda-feira, 25 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 12-14
A genealogia em Gênesis

As informações cronológicas sobre a idade de Noé nos fazem perceber que ele serviu de elo entre as civilizações pré e pós-diluviana. Os dois últimos versos do relato anterior (Gn 9:28, 29) nos levam de volta ao último elo da genealogia de Adão (Gn 5:32). Visto que Adão morreu quando Lameque, pai de Noé, tinha 56 anos, Noé certamente deve ter ouvido histórias sobre Adão, as quais poderia ter transmitido a seus descendentes antes e depois do dilúvio.

2. Leia Gênesis 10. Qual é o propósito dessa genealogia na Bíblia? (Veja também Lc 3:23-38.)

A genealogia bíblica tem três funções. Primeiro, enfatizar a natureza histórica dos eventos bíblicos, que estão relacionados a pessoas reais que viveram e morreram e cujos dias estão precisamente contados. Em segundo lugar, demonstrar a continuidade desde o passado até a época em que viveu o escritor, estabelecendo uma ligação clara entre o passado e o “presente”. Terceiro, lembrar-nos da fragilidade humana e do efeito trágico da maldição do pecado e seus resultados mortais em todas as gerações que se seguiram.

A classificação “camita”, “semita” e “jafetita” não segue critérios claros. As 70 nações prefiguram os 70 membros da família de Jacó (Gn 46:27) e os 70 anciãos de Israel no deserto (Êx 24:9). A ideia de uma correspondência entre as 70 nações e os 70 anciãos sugere a missão de Israel para com as nações: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando separava os filhos dos homens uns dos outros, fixou as fronteiras dos povos, segundo o número dos filhos de Israel” (Dt 32:8). Seguindo esse padrão, Jesus enviou 70 discípulos para evangelizar as nações (Lc 10:1).

O que essa informação nos mostra é a ligação direta entre Adão e os patriarcas; todos eles são figuras históricas, pessoas reais, de Adão em diante. Isso também nos ajuda a entender que os patriarcas tiveram acesso direto a testemunhas que tinham lembranças pessoais dos eventos antigos.

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Leia Mateus 1:1-17. De acordo com esse texto, essas pessoas eram reais? Por que saber e crer que elas eram reais é importante para nossa fé?


Terça-feira, 26 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 15-17
Um idioma

3. Leia Gênesis 11:1-4. Por que as pessoas de “toda a terra” estavam tão ansiosas para alcançar a unidade?

A frase “toda a terra” refere-se a um pequeno número de pessoas, as que viviam na época após o dilúvio. O motivo dessa reunião está claramente indicado: queriam construir uma torre para chegar aos céus (Gn 11:4). Na verdade, sua real intenção era ocupar o lugar do próprio Deus, o Criador. A descrição das intenções e atitudes do povo ecoam as intenções e ações divinas no relato da criação: “e disseram” (Gn 11:3, 4; compare com Gn 1:6, 9, 14, etc.); “Vamos fazer” (Gn 11:3, 4; compare com Gn 1:26). A sua intenção ficou explicitamente declarada: “‘tornemos célebre o nosso nome’” (Gn 11:4), expressão que se destina exclusivamente a Deus (Is 63:12, 14).

Em suma, os construtores de Babel alimentavam a ambição equivocada de substituir Deus, o Criador (sabemos quem inspirou isso, não é mesmo? [Is 14:14]). A lembrança do dilúvio deve ter desempenhado uma função nesse plano. Eles construíram uma torre alta para sobreviver a outra inundação, se houvesse, apesar da promessa divina. A memória do dilúvio foi preservada na tradição babilônica, embora distorcida, em conexão com a construção de Babel (Babilônia). Esse esforço para alcançar o céu e usurpar o lugar de Deus, de fato, caracterizaria o espírito de Babilônia.

Por isso, a história da torre de Babel também é um tema tão importante no livro de Daniel. A referência a Sinar, no início do relato sobre a torre de Babel (Gn 11:2), reaparece no livro de Daniel, designando o lugar para onde Nabucodonosor levou os utensílios do templo de Jerusalém (Dn 1:2). Entre outras passagens do livro, o episódio de Nabucodonosor erguendo a estátua de ouro, provavelmente no mesmo lugar, na mesma “planície”, é o que mais ilustra esse estado de espírito. Em suas visões do fim, Daniel viu o mesmo cenário das nações da Terra se reunindo contra Deus (Dn 2:43; 11:43-45; compare com Ap 16:15, 16), embora essa tentativa falhe, como também aconteceu com Babel.

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Um escritor francês disse que o propósito da humanidade era tentar “ser Deus”. O que há em nós, a começar com Eva (Gn 3:5), que é atraído para essa mentira perigosa?


Quarta-feira, 27 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 18, 19
Vamos descer

4. Leia Gênesis 11:5-7 e Salmo 139:7-12. Por que Deus desceu à Terra? O que motivou essa reação divina?

Ironicamente, embora os homens estivessem subindo, Deus teve que descer até eles. O Pai desceu para afirmar Sua supremacia. Ele sempre estará além do alcance humano. Qualquer esforço humano para se elevar a Ele e encontrá-Lo no céu é inútil e ridículo. Por isso, para nos salvar, Jesus desceu a nós; não havia outra maneira de fazer isso.

Uma ironia no relato da torre de Babel é vista na declaração: “ver a cidade e a torre” (Gn 11:5). Deus não precisava descer para ver (Sl 139:7-12; Sl 2:4), mas Ele o fez mesmo assim. O conceito enfatiza o envolvimento de Deus com a humanidade.

5. Leia Lucas 1:26-33. O que isso nos ensina sobre Deus vir até nós?

A atitude de Deus de descer nos faz recordar também do princípio da justiça pela fé e do processo da graça divina. Independentemente da obra que realizemos para Deus, Ele ainda terá que vir para Se encontrar conosco. Não é o que fazemos para o Senhor que nos levará a Ele e à redenção. Em vez disso, é o movimento Dele em nossa direção que nos salva. Duas vezes o texto em Gênesis fala sobre Deus descer, o que parece indicar o quanto Ele Se importava com o que estava acontecendo ali.

De acordo com a passagem, o Senhor queria acabar com a profunda união deles, a qual, dado o seu estado decaído, só poderia levar a outras maldades. Por isso, Ele escolheu confundir seus idiomas, o que poria fim aos seus esquemas de união.

“Os planos dos construtores de Babel terminaram com vergonha e derrota. O monumento ao seu orgulho se tornou o memorial de sua loucura. No entanto, as pessoas estão prosseguindo continuamente no mesmo caminho, confiando em si mesmas e rejeitando a lei de Deus. É o princípio que Satanás procurou pôr em prática no Céu, o mesmo que governou Caim quando apresentou sua oferta” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 93 [123]).

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Há no relato da torre de Babel outro exemplo da arrogância humana? Como termina essa história e que lições podemos tirar dela?


Quinta-feira, 28 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 20, 21
A redenção do exílio

6. Leia Gênesis 11:8, 9 e 9:1; compare com Gênesis 1:28. Por que a dispersão ocasionada por Deus foi redentiva?

O desígnio e a bênção de Deus para os humanos são relatados no seguinte verso: “Multipliquem-se e encham a Terra” (Gn 9:1; Gn 1:28). Em oposição aos planos divinos, os construtores de Babel preferiram ficar juntos como um só povo. Eles apresentaram a razão pela qual queriam construir a cidade: “para que não sejamos espalhados por toda a Terra” (Gn 11:4). Eles se recusavam a se mudar para outro lugar, talvez pensando que juntos seriam mais poderosos do que separados e espalhados. E, em algum sentido, estavam certos.

Infelizmente, eles procuraram usar seu poder de união para o mal, não para o bem. Queriam tornar célebre o próprio nome, um poderoso reflexo de sua arrogância e orgulho. Na verdade, sempre que o ser humano, em desafio aberto a Deus, quer “fazer um nome” para si mesmo, podemos ter certeza de que não vai dar certo. Nunca deu.

Portanto, em um juízo contra seu desafio direto, Deus os espalhou por toda a superfície da Terra (Gn 11:9), exatamente o que não queriam que acontecesse.

Curiosamente, o nome Babel, que significa “porta de Deus”, está relacionado com o verbo balal, que significa “confundir” (Gn 11:9). Por terem desejado chegar à “porta” de Deus, por se considerarem como Deus, acabaram confundidos e muito menos poderosos do que antes.

“Os homens de Babel tinham se decidido a estabelecer um governo que fosse independente de Deus. No entanto, houve alguns entre eles que temiam ao Senhor, mas tinham sido enganados pelas pretensões dos ímpios e enredados por seus desígnios. Por amor a esses fiéis, o Senhor retardou Seus juízos e deu ao povo tempo para revelar seu verdadeiro caráter. Enquanto isso, os filhos de Deus trabalharam para dissuadi-los de seu intuito; mas o povo estava completamente unido em seu empreendimento insolente contra o Céu. Se eles tivessem continuado sem ser impedidos, teriam pervertido o mundo já no início. Aquela confederação foi fundada de modo revoltoso, um reino estabelecido para a exaltação própria, no qual Deus não poderia ter domínio nem honra” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 92, 93 [123]).

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Sexta-feira, 29 de abril
Ano Bíblico: 2Rs 22, 23
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: Patriarcas e Profetas, p. 89-94 [117-124] (“A Torre de Babel”).

“Esses empreendimentos se destinavam a impedir que o povo se espalhasse em colônias. Deus determinara que os homens se dispersassem pela Terra toda, para povoá-la e subjugá-la. Entretanto, esses construtores de Babel resolveram conservar unida sua comunidade, em um corpo, e fundar uma monarquia que finalmente abrangesse a Terra inteira. Assim, sua cidade se tornaria a metrópole de um império universal, sua glória imporia admiração e homenagem do mundo, e tornaria ilustres seus fundadores. A magnificente torre, atingindo os céus, tinha por objetivo permanecer como um monumento ao poder e à sabedoria de seus construtores, perpetuando sua fama às últimas gerações.

“Os moradores da planície de Sinar não criam no concerto de Deus de que não mais traria um dilúvio sobre a Terra. Muitos deles negavam a existência divina e atribuíam o dilúvio à manifestação de causas naturais. Outros criam em um Ser supremo, e que fora Ele que destruíra o mundo antediluviano. E o coração deles, como o de Caim, ergueu-se em rebelião contra aquele Ser. Um objetivo que tinham na construção da torre era garantir sua segurança em caso de outro dilúvio. Elevando a estrutura a uma altura muito maior do que a atingida pelas águas do dilúvio, julgavam colocar- se fora de toda possibilidade de perigo. E, como pudessem subir à região das nuvens, esperavam se certificar da causa do dilúvio. Todo aquele empreendimento se destinava a exaltar ainda mais o orgulho dos que o projetaram e a desviar de Deus a mente das futuras gerações, levando- as à idolatria” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 90, 91 [118, 119]).

Perguntas para consideração

1. Que exemplo do passado, ou mesmo do presente, há de problemas que podem surgir daqueles que procuram tornar importante seu próprio nome?

2. Como evitar o perigo de tentar construir, mesmo que inconscientemente, nossa própria torre de Babel? De que maneira podemos fazer isso?

Respostas e atividades da semana: 1. Devemos ter respeito para com os pais. Deixar de honrar os pais pode afetar o futuro. 2. Mostrar a ligação direta entre Adão e os patriarcas e Jesus; mostrar que eram pessoas reais. 3. Queriam construir uma torre para chegar aos céus e ocupar o lugar do Criador. 4. Deus desceu para afirmar Sua supremacia. 5. Deus é quem vem em nossa direção para nos salvar. Sem a graça, o esforço humano para se elevar a Deus é inútil. 6. Porque juntos eles se tornariam poderosos para o mal. Se não fossem impedidos, teriam aviltado o mundo.

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Resumo da Lição 5
Todas as nações e Babel

TEXTO-CHAVE: Gn 11:9

FOCO DO ESTUDO: Gn 9:18–11:9; Sl 139:7-12; Lc 10:1

ESBOÇO

Introdução: A primeira ordem divina para a humanidade após o dilúvio foi uma afirmação de vida: Ele lhes disse que se multiplicassem e enchessem a Terra (Gn 9:1). O foco desta lição será confrontar a tentativa humana de cumprir essa ordem. Até então, o relato bíblico dizia respeito a indivíduos (Adão e Eva, Caim e Abel, Sete e Noé). Nesta lição, as histórias dizem respeito a grupos de pessoas e têm um alcance universal. Os sobreviventes do dilúvio, os três filhos de Noé, iriam gerar três ramos da raça humana, que constituiriam as nações do mundo. Parecia que a humanidade estava no caminho certo para encher a Terra e levar a imagem de Deus aos confins do mundo. No entanto, a história da torre de Babel marca uma quebra dramática nesse ímpeto. A incumbência divina de universalidade foi substituída pelo ideal humano de concentração e unificação. Os humanos queriam ser um e, pior, queriam ser Deus.

Temas da lição:

  • Maldições e bênçãos. Canaã, filho de Cam, foi amaldiçoado, e Sem e Jafé foram abençoados. Qual é o significado e o sentido histórico dessas maldições e bênçãos? Como elas impactam a história da salvação?
  • Universalidade e unidade. As nações do mundo querem se engajar em um projeto comum: tornar-se um contra Deus. Como o propósito divino de universalidade e difusão foi interpretado como um ideal de unificação e concentração?
  • Usurpação de Deus. Os construtores da torre de Babel sonhavam em chegar ao céu. O que havia de errado com sua maneira de pensar? Por que Deus desceu para investigar seus esforços?

COMENTÁRIO

Maldições e bênçãos

A maldição sobre o filho de Cam (Gn 9:25) acabou sendo uma mensagem de esperança. Gênesis 9:25 tem com frequência sido desastrosamente mal aplicado aos negros e, portanto, usado como justificativa religiosa para a escravidão. No entanto, essa interpretação preconceituosa não se sustenta, por duas razões. Primeiro, a maldição não diz respeito a Cam, mas a seu filho Canaã. Tampouco essa maldição diz respeito a Cuxe, o filho primogênito de Cam, o que imediatamente exclui a referência a negros ou africanos emparticular. A propósito, as genealogias bíblicas (ver a lista das nações em Gênesis 10) são mais sobre etnogeografia, ou seja, a distribuição geográfica de grupos humanos, do que sobre etnicidade, que trata da origem das raças e línguas humanas. A própria noção de “raça” deriva das teorias racistas e linguísticas pseudocientíficas do século 19, com base na teoria da evolução, outro mal surgido dessa lenda moderna da criação. Assim, as designações bíblicas de grupos de pessoas como “jafetita”, “semita” ou “camita” não seguem critérios claros de raça, conforme definidos pela evolução, mas são muito mais complexas e confusas. Por exemplo: embora as línguas cananeias sejam semíticas, Canaã é contado entre os camitas. Embora Cuxe seja descendente de Cam, ele é o pai de Nimrode, o fundador de Babel. Elã, que pertence a um povo não semita, é filho de Sem.

A segunda razão pela qual Gênesis 9:25 não se aplica aos negros é que a referência a Canaã é uma alusão à herança da terra prometida, com tudo o que essa terra simboliza, a respeito da promessa de salvação para o mundo. Nesse contexto, o uso da frase “servo dos servos” é irônico. “Servo dos servos” é um superlativo, significando “o servo por excelência”, e sugere uma direção espiritual, apontando para Jesus, o Servo dos servos que vem para salvar o mundo (Jo 13:5).

As bênçãos de Gênesis 9 confirmam essa perspectiva. É interessante que Sem e Jafé não são louvados, mas apenas Deus (Gn 9:26). Além disso, a partir dessa perspectiva, a profecia nos leva além do futuro imediato da história de Israel no Pentateuco para a salvação da humanidade (Gn 9:27). O texto da profecia também se refere ao tabernáculo israelita (Js 18:1), uma alusão profética aos gentios que responderão à mensagem israelita de salvação e se juntarão à comunidade sagrada de Israel (Is 66:18-20; Rm 11:25). Mas o cumprimento dessa profecia depende primeiramente do cumprimento de outra profecia: a predição da submissão de Canaã. Esse evento é tão fundamental aos olhos do autor que ele o repete no fim da bênção, quando, pela terceira vez, se refere a Canaã como o servo de Sem (Gn 9:27; compare com 25, 26). A linguagem na seção de bênçãos é ao estilo de uma oração: “Bendito seja” (Gn 9:26, 27). Moisés, o autor do texto e contemporâneo dos israelitas escravizados no Egito, orou pela salvação de Israel, um primeiro passo básico e necessário para a salvação da humanidade.

Universalidade e particularidade

Essa conexão entre a perspectiva particular e a universal é um traço característico do pensamento bíblico. Ao contrário do pensamento grego, que promove a ideia de acesso imediato à verdade absoluta, os profetas hebreus falavam de um Deus que escolheu um povo, e posteriormente Seu Filho, por meio do qual Ele Se revelou à humanidade.

Uma ilustração da maneira bíblica de pensar está incorporada no número 70: há 70 nações listadas em Gênesis 10 que prefiguram os 70 membros da família de Jacó (Gn 46:27) e os 70 anciãos de Israel no deserto (Êx 24:9). Essa correspondência entre os “70” parece ser a base de Deuteronômio 32:8, que fala de Deus dividindo a humanidade “segundo o número dos filhos de Israel”. Assim como havia 70 nações, havia 70 línguas, de acordo com a tradição judaica. No NT, Jesus enviou 70 discípulos para evangelizar o mundo (Lc 10:1-16). A genealogia de Noé, o pai das nações da Terra (Gn 9:19; 10:32), incorpora o cumprimento da bênção e da promessa de Deus a ele: “Povoem a Terra, sejam fecundos e nela se multipliquem” (Gn 8:17; 9:1, 7). Essa bênção e promessa também estão ligadas à promessa inicial e à bênção dada a Adão na criação (Gn 1:28, 29).

O Deus das nações, o Criador do mundo e o Senhor de Israel é o mesmo Deus. Essa observação tem duas implicações teológicas importantes. Primeiro, significa que Deus afeta a história, mesmo além dos domínios da religião. Deus também está presente entre as nações. Em segundo lugar, significa que a salvação das nações também depende do testemunho de Israel. A bênção das nações se cumprirá somente por meio de Israel (Gn 12:3), pois o Deus de Israel é o verdadeiro Deus (Jo 4:22, 23). As lições da Bíblia hebraica, a história de Israel e os eventos que aconteceram com os judeus e que foram registrados no NT têm significado redentivo para as nações.

Uma tentativa de unificar e usurpar. É perturbador o fato de que a ideologia da unificação seja a primeira preocupação dos construtores da torre de Babel. A frase “em toda a terra havia apenas uma língua e uma só maneira de falar” (Gn 11:1) se refere ao fato de que essas pessoas usavam as mesmas palavras e mantinham o mesmo discurso. A história de Babel registra, no entanto, a primeira tentativa de unificar o mundo. Não é de admirar, então, que essa forma de pensar tenha produzido uma sociedade totalitária, que não deixava espaço para diferenças ou desacordos (compare Dn 3:1-7), e que o império tenha se engajado no projeto de tomar o lugar de Deus.

Na verdade, as duas determinações – uniformidade e usurpação – pertencem uma à outra. A história mostra que o impulso de obrigar outras pessoas a se comportar e pensar como nós leva inevitavelmente à intolerância e às perseguições. Em última análise, essa compulsão acende a ambição de tomar o lugar de Deus.É significativo que os construtores de Babel usam as palavras de Deus. A primeira palavra, uma interjeição, habah, “venham”, que duas vezes introduz o discurso dos construtores (Gn 11:3, 4), é idêntica às palavras que Deus usa (Gn 11:7). A expressão de colaboração coletiva, que é repetida quatro vezes em Gênesis 11:1-7 (“vamos [...]”), lembra o plural divino da criação, “façamos” (Gn 1:26), e revela, então, a intenção dos construtores de usurpar o poder de Deus. Mesmo a palavra hebraica para “torre”, que descreve a cidade de Babel, é indicativa de sua aspiração. Essa palavra está relacionada com gadal, “grande”, sugerindo a ideia de ambição e glória, frequentemente associada ao próprio Deus (Êx 18:11). Curiosamente, a passagem de Daniel 8, que compartilha uma série de temas linguísticos e teológicos com esse texto, usa essa mesma palavra, gadal, como palavra-chave para descrever a tentativa do chifre pequeno de se exaltar até o próprio Deus (Dn 8:9-11, 25). De fato, o propósito da torre é alcançar o céu, uma especificação que sugere mais do que apenas sua proporção monumental. Os construtores de Babel eram movidos pela ambição espiritual de substituir Deus, o que claramente se revela em sua intenção de tornar célebre o próprio nome (Gn 11:4). Deus é o único que engrandece um nome (Gn 12:2) e o único que pode adquirir um nome para Si mesmo (Is 63:12, 14).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

Maldições que se transformaram em bênçãos. Encontre na Bíblia casos em que algo originalmente planejado como maldição acabou se tornando uma bênção. Descubra em sua vida ocasiões em que uma experiência ruim (por exemplo, o confinamento pela Covid-19) lhe proporcionou oportunidades inesperadas de reflexão, comunhão e retorno a Deus. Por que o sofrimento muitas vezes traz consigo a descoberta de novos valores e nos aproxima de outras pessoas e de Deus?

Unificação e usurpação de Deus. Encontre na Bíblia, na história, em sua comunidade religiosa e em sua experiência pessoal casos em que um líder bem-intencionado, ou talvez você mesmo, tenha se comportado como os construtores da torre de Babel. Por que grandes ideais de santidade, unificação e verdade frequentemente levam à intolerância e ao orgulho? Como o modelo de Jesus inspira maneiras de evitar esse erro? Por que estar certo não é suficiente e pode, de fato, produzir ódio e orgulho hipócritas?

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Compartilhando bençãos

Meu nome é Blessing (Benção), e minha vida é uma evidência das bençãos abundantes que Deus fez cair sobre mim. Minha família frequentava a igreja todos os domingos no Zimbábue, mas não éramos devotos. Na adolescência, eu queria servir a Deus e compartilhei com o líder da igreja meus planos de praticar o celibato por Cristo.

“Você tem namorado?”, ele perguntou. “Não” respondi, e ele acrescentou: “Você deveria experimentar o amor primeiro. Então volte a conversar comigo.” Fui embora, provei do amor e abandonei a igreja. Durante a faculdade, fiz amizade com pessoas erradas. Comecei a beber e participar das festas. Aos dezoito anos, me apaixonei por um rapaz de 21 anos. Experimentamos o amor como o líder da igreja havia sugerido e fiquei grávida. Em minha cultura, se você engravida, deve ficar com o homem; por isso, mudei para casa desse namorado que vivia com a mãe dele.

Então, percebi que as coisas não aconteceram como esperava. Não trabalhávamos e sempre discutíamos. Tivemos dois filhos e continuávamos brigando. Eu não sabia o significado do matrimônio. Cada um tinha seus sonhos e esperanças. Minha sogra parecia estar mal-humorada todo o tempo. Aos domingos, comecei a frequentar a igreja do meu esposo. Então, adoeci e fui morar com minha mãe por um longo período.

Na casa da minha mãe, no intervalo de três dias, tive dois sonhos estranhos, mas idênticos. Neles, ouvia sirenes tocando e as pessoas corriam em todas as direções. Também vi uma grande pedra caindo do Céu e uma seta apontando uma cruz, onde várias pessoas estavam paradas. Então, ouvi uma voz dizer: “Arrependam-se! O mundo está chegando ao seu fim!” Fiquei confusa. Na igreja do meu esposo nunca ouvi sobre o fim do mundo. Eu não tinha ideia do que esse sonho significava. Meu esposo também não entendeu nada. Mas eu disse: “Irei procurar Jesus e, quando, encontrá-Lo, vou pregar sobre Ele.” Mas, onde poderia encontrar Jesus?

O desemprego em Zimbábue estava alto. Meu esposo e eu precisamos mudar para Botsuana. Enquanto morávamos ali, conhecemos um ancião da igreja adventista que nos ofereceu estudos bíblicos. No primeiro estudo, ele nos falou sobre o fim do mundo e o retorno de Jesus. Mostrou-nos textos bíblicos que corroboravam o assunto. Finalmente, entendi os sonhos. Fiquei muito feliz! Através de estudos bíblicos, encontrei o Jesus da Bíblia e fui batizada na igreja adventista.

Eu estava determinada a seguir minha convicção de pregar sobre Jesus. Encontrei-O e agora queria compartilhar meu amor com os outros. Decidi estudar na Universidade de Rusangu, uma escola adventista em Zâmbia. Infelizmente, meu esposo me abandonou a mim e aos nossos dois filhos para casar com outra mulher. Trabalhei muito, limpando muitos terrenos, para conseguir dinheiro suficiente para pagar os primeiros meses de estudos. Minha mãe me ajudou, e a universidade me permitiu participar de seu programa de trabalho para ajudar a pagar os meses seguintes.

Decidi estudar teologia para aprender mais sobre Deus e me preparar para ensinar outros jovens a sentirem a mesma esperança que tenho. Não importa as más decisões que tomamos na vida, Deus está sempre pronto para dar uma segunda chance. Ele está ansioso para revelar-Se a nós. Deseja que as pessoas O encontrem, e que preguem sobre Ele aos outros. Assim como a voz em meus sonhos, Ele nos chama a mudar de rumo, a mudar nossa vida e a segui-lo. Ele está dizendo: “Arrependam-se! Pois o mundo está chegando ao fim”. Jesus está voltando em breve! Eu não posso esperar por esse dia.

Informações adicionais

  • Peça que uma mulher apresente esta história na primeira pessoa.
  • Blessing está no segundo ano de teologia na Universidade de Rusangu.
  • Assista ao vídeo sobre Blessing no YouTube: bit.ly/Eugene-Fransch.
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  • Para mais notícias do Informativo Mundial das Missões e outras informações sobre a Divisão Sul-Africana Oceano Índico: bit.ly/sid-2022.

Esta história ilustra o Objetivo de Crescimento Espiritual nº 5 do plano estratégico da Igreja Adventista do projeto “I Wil Go” (Eu irei): “discipular indivíduos e família na vida espiritual”. Os estudos de Blessing na Universidade de Rusangu ilustra o Objetivo Missionário nº 4: “fortalecer as instituições adventistas na defesa da liberdade, saúde integral e esperança através de Jesus, restaurando pessoas à imagem de Deus.” Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.

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Comentário da Lição da Escola Sabatina – 2º Trimestre de 2022

Tema Geral: Gênesis

Lição 5 – 23 de abril a 30 de abril de 2022

Todas as Nações e Babel

Autor: Wilian S. Cardoso

Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

O Dilúvio terminou. Deus fez uma aliança com Noé e sua família. Repetindo a Noé a mesma instrução que havia comunicado a Adão (1:22), a saber, que seus filhos se espalhassem e enchessem a Terra (9:1). O ideal do Éden era que a família humana se espalhasse, se multiplicasse, subjugasse a Terra e a governasse, mas dentro de uma unidade, na medida em que todos fossem à imagem de Deus coletivamente. E, após o Dilúvio, esse ideal ainda permanece. Isso até chegarmos à torre de Babel, cujo ideal é a tentativa de unificar a humanidade em torno de um sonho imperial de elevar o nome de uma cidade aos céus, o qual se torna um princípio unificador muito perigoso. Quando a humanidade busca unidade separada de Deus, o resultado é violência e homogeneidade, que a Bíblia metaforiza pelos princípios encontrados na “Babilônia”.

Gênesis 1 e 2 descrevem a identidade da humanidade como uma família unificada que representa a imagem de Deus (1:27), sem descartar a singularidade pessoal. Mas quando os humanos criam suas próprias definições de bem e mal, as diferenças pessoais se tornam uma fonte de conflitos dentro dos relacionamentos humanos (6:5). Gênesis 3 dá início a uma reação em cadeia de desordem familiar e dos relacionamentos interpessoais. Deus disse à humanidade para “encher a Terra” (Gênesis 1:28); mas, em vez disso, eles encheram “a Terra de violência” (6:11). Isso leva ao entristecimento de Deus e à Sua decisão de purificar a criação com um grande Dilúvio. Mas Deus escolhe uma família por meio da qual Ele restaurará Seu propósito de abençoar as nações e cumprir Sua promessa: a família de Noé.

No entanto, infelizmente, Noé repete a mesma história de Adão. Ele come do fruto de seu próprio jardim, fica bêbado e acaba nu. E o drama resultante divide a família. No fim, assim como foi com Adão, os filhos de Noé também são divididos em dois grupos: Sem com a bênção e Cam com a maldição.

A genealogia de Gênesis 10, nesse ponto, se torna uma das mais importantes da Bíblia, pois apresenta os ancestrais dos personagens-chave de todas as histórias bíblicas, os quais representaram os princípios antagônicos de bênção e maldição. E é a partir daqui que podemos ver a bênção e a maldição acontecendo.

A lista de descendentes soma precisamente 70 pessoas: 14 de Jafé, 30 de Cam e 26 de Sem. O número setenta, mesmo que não seja dado explicitamente, não é mera coincidência. Setenta é um recurso literário que transmite a ideia de totalidade da raça humana (cf. Gn 46:27; Êx 24:9; Nm 11:24). Esse recurso lança luz sobre a função principal de Gênesis 10, que segundo Nahum M. Sarna é a de afirmar “a origem comum e a unidade absoluta da humanidade. (1)

Assim, Gênesis 10, ao enfatizar essa “origem comum” da humanidade, esclarece que todos os humanos compartilham a mesma imagem de Deus e devem fazer parte da família de Deus. Por outro lado, quase cada nação ímpia que vemos descritas por todas as páginas das Escrituras, descendem da genealogia de Cam: Egito (Mizraim), Canaã, Filisteus, Nínive, Babilônia, Assíria (Acade), etc. Em contraste com essas nações, da linhagem de Sem surge aquele que será o pai da bênção de Deus a todas as nações – Abraão (Gn 11:26).

Do mesmo modo que Caim foi aconselhado a vaguear, mas contrariando a palavra divina decidiu se estabelecer e construir uma cidade, à medida que a humanidade começa a aumentar, alguns dos filhos de Cam, mais especificamente um homem chamado Ninrode, se fixou na região de Sinar, que é conhecida como a terra da Babilônia. Logo, mesmo após o Dilúvio, a condição de pecado da humanidade permaneceu inalterada. Em outras palavras, o Dilúvio não foi a cura para o pecado – o Dilúvio não foi o que esmagou a cabeça da serpente. A existência do Descendente Libertador ainda se torna necessária e é aí que, na próxima história, somos apresentados a um homem chamado Abrão, aquele por meio de quem o esmagador de cobras viria.

O capítulo 11 e a história da torre é, na verdade, um tipo de flashback que retoma a seção apresentada em Gênesis 10:8-12, a fim de pormenorizar o que essas construções de Ninrode provocaram. E a Babilônia é apresentada como um tipo de humanidade alternativa, uma ideia de Éden reverso. É a tentativa da humanidade de divinizar sua própria herança cultural e homogeneizar a humanidade, tornando tudo “um”. Mas Deus não almeja a unidade de seus filhos? É claro que sim, porém não dessa forma. Assim como no Jardim do Éden, quando Adão e Eva escolheram suas próprias definições de bem e mal, em Gênesis 11, a humanidade escolhe como deve ser essa unidade. Não com base nos parâmetros divinos, mas nos seus próprios. A Babilônia é uma tentativa humana de unificar em torno do nome errado. É o que eu quero versus o que Deus fala.

Ali, eles visavam construir uma cidade centrada no poder humano a fim de fazer um nome para si mesmos em lugar de criar um nome para Deus. Na parte central dessa cidade eles erigiriam uma torre monumental que chegasse até o céu, deixando claro que o acesso aos céus seria por sua própria força sem necessidade do auxílio de Deus. Na verdade, se de alguma forma eles precisassem de Deus, o encontro deveria ocorrer na torre deles, na cidade deles, no templo deles, que Deus teria que acessar a fim de estar junto deles.

Deus percebeu que, enquanto eles fossem UM povo com UMA mesma linguagem, tudo seria possível para eles. Isso significa que o engano do pecado de Eva no Jardim finalmente estaria completo. A humanidade teria se enganado completamente ao pensar que ela realmente não precisa de Deus – o que apenas conduz à morte.

Então, Deus desce até as pessoas, sem a ajuda de sua torre incompleta, e confunde a língua deles, espalhando-os em diferentes regiões e povos. Ou seja, Deus provoca precisamente aquilo que eles evitavam: a separação. Deus vê que a humanidade se tornou poderosa demais para seu próprio bem, e a salva de si mesma.

Gênesis 11, então, é um ponto de virada na história da Bíblia. Até agora, o foco das Escrituras tem estado em todas as nações. Mas, com a dispersão das nações pelo mundo, Deus se volta agora para um homem e uma família, da qual suscitará a nação que unificará todas as outras pelos ideais divinos.

Desde o início de Gênesis somos lembrados, portanto, de que apesar das falhas humanas e das tentativas de sabotagem ao plano divino de restauração da criação, Ele está no controle de tudo e não deixou a humanidade à mercê de seu próprio destino. As ações divinas são duras, mas devem ser entendidas como atos salvíficos e de amor, que visam resgatar o homem das suas próprias mãos, as quais, sem Deus, o conduziriam à autoextinção.

Toda a desunião e dispersão dessa história são revertidas no Novo Testamento. Especialmente em Atos 2, no dia do Pentecostes, o Espírito Santo desce e unifica as línguas, de modo que pessoas de regiões e nações diferentes ouviram o evangelho na sua própria língua. E a mensagem que eles ouviram não era sobre a humanidade tentando engrandecer o seu nome, mas era sobre um único nome – o nome de Jesus – o filho de Abraão (Mt 1:1), Descendente daquela nação, daquela família escolhida por Deus para fazer Seu nome. Não era uma mensagem sobre como a humanidade deve construir seu caminho até Deus, mas como Deus veio até a humanidade como uma Pessoa. Assim, quando eles são preenchidos pelo Espírito de Deus, não há necessidade de construir templos independentes até os céus, porque Deus está construindo Seu templo coletivo por toda Terra por meio das pessoas que Ele está salvando. E agora, nada será impossível para os seguidores de Jesus.

Tudo que foi verdadeiramente destrutivo quanto ao experimento com a torre, se torna verdadeiramente construtivo na igreja de Jesus. Juntos podemos fazer todas as coisas através Dele, e os portões do inferno não prevalecerão contra nós. Não há condenação para aqueles que estão com Jesus. Tudo aquilo que aconteceu lá na torre de Babel e ainda ressoa hoje nas nossas atitudes babilônicas foi revertido pelo evangelho eterno colocado no coração do povo pelo Espírito da Verdade.

Referências: SARNA, Nahum M. Genesis (The JPS Torah Commentary). Filadélfia, PA: JPS, 1989, p. 69.

Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Wilian Cardoso é casado com Carem Cardoso. É pai de Sarah Cardoso, Noah Cardoso e de Shai Cardoso. É bacharel em Teologia e Filosofia, mestre em Interpretação Bíblica e em Estudos do Antigo Oriente Médio. Trabalhou como pastor da Comunidade Judaico-Adventista de Manaus por 8 anos e também como professor de Filosofia e Sociologia. Atualmente trabalha como professor para o Israel Institute of Biblical Studies filiado à Universidade Hebraica de Jerusalém e se dedica à família e à vida acadêmica.