Lição 5
26 de outubro a 01 de novembro
Transgredindo o espírito da Lei
Sábado à tarde
Ano Bíblico: Lc 18-20
Verso para memorizar: “Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles” (Ne 5:11).
Leituras da semana: Ne 5:1-5; 5:7-12; 5:14-19; Êx 21:2-7; Mq 6:8; Dt 23:21-23

Até hoje lutamos com a questão da riqueza, da pobreza e da desigualdade entre ricos e pobres e o que pode ser feito a respeito disso. Jesus disse que sempre teríamos os pobres conosco (Mt 26:11), mas isso não é uma desculpa para não fazermos nada para ajudá-los. Pelo contrário, as Escrituras nos advertem a fazer nossa parte no auxílio aos necessitados de acordo com nossas possibilidades. Caso contrário, não podemos ser chamados de cristãos.

É impressionante o aparecimento desse tema, em meio às provações e tribulações dos exilados que retornaram para reconstruir Jerusalém. E não apenas o assunto da pobreza e dos pobres, mas a questão ainda mais problemática dos ricos que os oprimiam. Esse já era um problema anterior ao exílio, e então, com o retorno à terra, ele reapareceu.

Nesta semana observaremos outra manifestação desse antigo tema e como Neemias reagiu. Como veremos, o que tornava essa opressão ainda pior era o fato de estar sendo feita dentro da “letra da lei”, por assim dizer, um poderoso exemplo de como precisamos ter cuidado para não deixar que regras e regulamentos se tornem um fim em si mesmos, mas um meio para um fim, que é refletir o caráter de Jesus.



Domingo, 27 de outubro
Ano Bíblico: Lc 21, 22
A queixa do povo

1. Leia Neemias 5:1-5. O que estava acontecendo? Contra o que o povo estava clamando?

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Sob a liderança de Neemias, a comunidade judaica parecia estar unida contra as pressões externas. Mas nem tudo estava bem com a nação que enfrentava perseguição e se defendia de ataques estrangeiros. Apesar da aparência externa de força e resistência e dos coerentes esforços contra o inimigo, a comunidade estava destruída por dentro. Os líderes e os ricos estavam usando os pobres e desfavorecidos para seu próprio benefício, e a situação tinha se tornado tão ruim que as famílias estavam clamando por alívio. Algumas delas diziam que não tinham comida para alimentar seus filhos; alguns se queixavam de que, por causa da fome, haviam hipotecado sua propriedade e agora não tinham nada; outras famílias lamentavam que precisavam pedir dinheiro emprestado para pagar o imposto persa. Além disso, seus próprios filhos tinham se tornado escravos.

Parece que as principais causas do problema eram a fome e o pagamento dos impostos, que fizeram com que as famílias mais pobres buscassem ajuda de seus vizinhos. O governo persa exigia anualmente da província de Judá um imposto de 350 talentos de prata (veja nota sobre Neemias 5:1-5 na Bíblia de Estudo Andrews, p. 620). Se uma pessoa não pudesse pagar a parte designada do imposto obrigatório, a família geralmente hipotecava sua propriedade ou tomava dinheiro emprestado. Se, no entanto, eles não obtivessem o dinheiro no ano seguinte, tinham que fazer algo sobre a dívida que agora possuíam. Geralmente, a escravidão era a opção seguinte. Eles já haviam perdido sua propriedade e então tinham que mandar alguém da família, geralmente os filhos, para que prestassem serviço ao credor a fim de liquidar a dívida.

Há momentos na vida em que as consequências das nossas ações nos deixam em apuros; evidentemente, também há momentos em que acabamos ficando doentes ou passamos por dificuldades financeiras sem que tenhamos culpa nenhuma. A história acima fala de uma época em que as políticas governamentais desfavoreciam o povo, levando-o à intensificada pobreza e envolvendo-o numa espiral de pobreza cada vez mais profunda, da qual não se podia escapar.


É impressionante que naquela época as pessoas já tivessem que lutar contra a opressão econômica, assim como hoje. A Bíblia aborda com frequência o assunto da exploração dos pobres. Que mensagem devemos extrair desse fato?

Segunda-feira, 28 de outubro
Ano Bíblico: Lc 23, 24
Contrário ao espírito da Lei

2. Leia Neemias 5:6-8 e Êxodo 21:2-7. Que situação despertou a fúria de ­Neemias? Assinale a alternativa correta:

A.(  ) O povo começou a adorar outros deuses.

B.(  ) Os judeus passaram a se vender como escravos devido aos altos juros cobrados por seus compatriotas abastados.

Por mais difícil que seja compreender, a escravidão era uma norma cultural no mundo antigo. Um pai ou mãe podia se tornar escravo ou vender um(a) filho(a). Social e legalmente, os pais tinham o direito de vender seus filhos e filhas. Contudo, visto que o propósito essencial de Deus é conceder liberdade, Ele regulou essa prática em Israel exigindo que os credores libertassem seus escravos a cada sete anos. Por isso, o Senhor protegeu o povo para que não se tornasse escravo permanentemente e demonstrou Seu desejo de que as pessoas vivessem livremente.

Embora o empréstimo fosse permitido pela lei, a cobrança de juros não era admitida (para as regras bíblicas contra a usura, veja Êx 22:25-27;
Lv 25:36, 37; Dt 23:19, 20). No entanto, o juro cobrado pelos credores era pequeno se comparado ao que as nações ao redor cobravam. Era solicitado do povo o pagamento de 1% ao mês. Textos da Mesopotâmia do século
7 a.C. revelam uma cobrança de juros anuais de 50% para a prata e 100% para o trigo. Portanto, os 12% de juros anuais eram baixos em comparação com o praticado pelos países da Mesopotâmia. Mas, segundo a Palavra de Deus, o único erro dos credores foi cobrar juros (Ne 5:10-12), e, curiosamente, o povo nem mencionou isso em sua queixa. Todo o restante estava conforme a norma social, bem como de acordo com as disposições da lei. Então, por que Neemias ficou furioso (Ne 5:6, NVI)? Surpreendentemente, ele não agiu de imediato, mas ponderou seriamente sobre o assunto.

O fato de Neemias ter lidado com o problema de maneira firme é algo admirável. Embora tecnicamente a injustiça não transgredia a Lei e era socialmente aceitável, ou até mesmo “boa” em comparação com as práticas da região, ele não a ignorou. O espírito da Lei havia sido quebrado nessa situação. Especialmente durante um período de dificuldades econômicas, era dever do povo que ajudassem uns aos outros. Deus está do lado dos oprimidos e necessitados, e Ele teve que comissionar profetas para falar contra os males e a violência cometidos contra os pobres.


Como podemos, mesmo sem querer, obedecer à letra da Lei enquanto transgredimos o espírito que está por trás dela? (Veja Mq 6:8)

Terça-feira, 29 de outubro
Ano Bíblico: Jo 1-3
Ações de Neemias

Os nobres e os oficiais foram repreendidos com estas palavras: “Vocês estão cobrando juros dos seus compatriotas!” (Ne 5:7, NVI). Aparentemente, isso não trouxe os resultados desejados. Por isso, Neemias não parou por aí, mas continuou a lutar pelos oprimidos. Ele poderia simplesmente ter dito que havia tentado ensinar os líderes, mas que, como não tinha funcionado, tinha sido forçado a abandonar o problema. Afinal, ele estaria enfrentando os ricos e poderosos da terra. Contudo, não ficou satisfeito até que fosse implementada uma solução para a dificuldade, mesmo que surgissem inimigos poderosos no processo.

3. Leia Neemias 5:7-12. Quais foram os argumentos do líder contra o que estava ocorrendo? O que Neemias usou para persuadir as pessoas a corrigir o erro?

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Neemias convocou uma grande assembleia – todo o povo de Israel foi reunido para resolver esse assunto. Muito provavelmente ele estava contando com a possibilidade de que, quando todo o povo estivesse presente, os líderes ficassem envergonhados, talvez até com medo de praticar esse tipo de opressão.

O argumento inicial estava centrado na escravidão. Muitos judeus (provavelmente Neemias estivesse incluído) haviam comprado a liberdade para compatriotas que tinham servido como escravos a estrangeiros. Então, ele perguntou aos nobres e oficiais se eles achavam aceitável comprar e vender seus irmãos. Fazia sentido que os israelitas comprassem seus compatriotas e os libertassem apenas para que eles se tornassem escravos de pessoas de seu próprio povo?

Os líderes não ofereceram resposta porque viram que esse argumento era sensato. Neemias continuou: “Vocês devem andar no temor do Senhor para evitar a zombaria dos outros povos, os nossos inimigos” (Ne 5:9, NVI). Em seguida, admitiu que ele mesmo tinha emprestado dinheiro e trigo ao povo. Ao declarar: “Vamos acabar com a cobrança de juros!” (Ne 5:10; NVI), ele confirmou a lei que proibia essa prática com os compatriotas hebreus e demonstrou que, sob seu governo, ele gostaria que as pessoas fossem solícitas umas com as outras. Surpreendentemente, a resposta foi unânime. Os líderes concordaram em restituir tudo ao povo.


Você já cometeu erros contra alguém? Provavelmente sim. Você corrigiu a situação? Se não, o que o impede?

Quarta-feira, 30 de outubro
Ano Bíblico: Jo 4-6
Um juramento

4. Leia Neemias 5:12, 13. Por que Neemias pronunciou uma maldição contra os que não cumprissem sua parte no acordo? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:

A. (  )Para impressionar o povo quanto à seriedade do acordo.

B. (  )Para que o povo não adorasse outros deuses.

Mesmo que os líderes concordassem em restituir e devolver o que eles tinham confiscado, Neemias não ficou satisfeito com meras palavras. Ele precisava de provas sólidas; portanto, ele os fez jurar diante dos sacerdotes. Essa ação também deu validade legal ao processo, caso ele tivesse que fazer referência ao acordo posteriormente.

Mas por que ele pronunciou uma maldição? Neemias realizou o ato simbólico de levantar suas vestes como se tivesse que reter nelas alguma coisa para depois sacudi-las como sinal de perda. Assim, aqueles que fossem contra esse juramento perderiam tudo. Era costume proferir maldições para impressionar os outros quanto à importância de determinada lei ou regulamento. As pessoas também eram menos propensas a contrariar a Lei quando uma maldição estava associada à quebra dela. Parece que Neemias considerou essa questão tão importante que ele precisava fazer algo drástico para aumentar a probabilidade de seu sucesso.

5. O que os seguintes textos do Antigo Testamento ensinam sobre a santidade dos juramentos? Nm 30:2; Dt 23:21-23; Ec 5:4, 5; Lv 19:12; Gn 26:31

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A fala é um dom poderoso que Deus deu ao ser humano; radicalmente diferente do que ocorre com os animais. Há poder em nossas palavras, o poder da vida e da morte. Por isso, precisamos ser muito cautelosos com o que dizemos, com o que prometemos fazer e com os compromissos verbais que assumimos. Também é importante que nossas ações correspondam às nossas palavras. Muitas pessoas se afastam do cristianismo por causa daqueles cujas palavras soam cristãs, mas suas ações não provam isso.


Pense no impacto que as palavras têm sobre os outros. Como podemos ser cautelosos com o que dizemos, quando dizemos e como dizemos?

Quinta-feira, 31 de outubro
Ano Bíblico: Jo 7-9
O exemplo de Neemias

6. Leia Neemias 5:14-19. Quais razões Neemias apresentou para não exigir do povo “o pão devido ao governador” (Ne 5:18)?

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Neemias provavelmente tenha escrito esse relato após seu retorno à corte do rei Artaxerxes, depois de governar Judá durante 12 anos. Embora os governadores tivessem o direito de receber impostos de seus súditos, Neemias nunca reivindicou esse direito e financiou seu sustento. Ele não apenas pagou suas próprias despesas, mas também sustentou sua família e toda a corte. Zorobabel, o primeiro governador, é o único cujo nome conhecemos. Quando Neemias mencionou “os primeiros governadores”, ele provavelmente estivesse se referindo aos governadores que existiram entre os governos de Zorobabel e o seu próprio governo. Em resultado, ao terminar seu mandato, ele provavelmente houvesse perdido dinheiro. Em vez de trazer riquezas, como era de se esperar de uma posição de prestígio, Neemias provavelmente tivesse perdido a riqueza e os bens, por causa de sua atitude de generosidade. Sendo ele abastado, pôde prover o alimento diário para muitas pessoas. Ele foi generoso em suprir abundantemente as necessidades dos outros (Ne 5:17, 18).

Embora não tenha feito o mesmo que Abraão, após o resgate dos que foram capturados pelas nações vizinhas (veja Gn 14), o que Neemias fez revela o mesmo princípio.

7. Leia Neemias 5:19. O que ele disse nesse verso? Como entender isso em relação ao evangelho?

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Vemos em Neemias o exemplo de alguém que colocou o Senhor e Sua obra antes de seu ganho e vantagens pessoais. Essa é uma boa lição para nós, independentemente da nossa situação específica. É fácil trabalhar para o Senhor quando não nos custa muito.


Leia Filipenses 2:3-8. Como você pode revelar em sua vida os princípios abnegados expressos nessa passagem e demonstrados na vida de Jesus Cristo?

Sexta-feira, 01 de novembro
Ano Bíblico: Jo 10-11
Estudo adicional

Texto de Ellen G. White: Profetas e Reis, p. 646-652 (“Condenada a Extorsão”).

“Ouvindo Neemias dessa cruel opressão, ele se encheu de indignação. ‘Ouvindo eu, pois, o seu clamor, e estas palavras’, ele diz, ‘muito me enfadei’ (Ne 5:5, 6, ARC). Ele viu que se quisesse ter êxito em derribar o opressivo costume da cobrança precisava tomar posição decidida ao lado da justiça. Com característica energia e determinação, entregou-se à tarefa de levar alívio a seus irmãos” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 648).

“Jesus estabeleceu então um princípio que tornaria desnecessário o juramento. Disse que a exata verdade deve ser a lei da linguagem. ‘Seja porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna’” (Mt 5:37, ARC; Ellen G. White, O Maior Discurso
de Cristo
, p. 67).

“Estas palavras condenam todas aquelas frases sem sentido e palavras imprecatórias que beiram a profanidade. Condenam os enganosos cumprimentos, a evasiva da verdade, as frases lisonjeiras, os exageros, as falsidades no comércio, coisas comuns na sociedade e no mundo dos negócios. Elas ensinam que ninguém que busque parecer o que não é, ou cujas palavras não exprimam o sentimento real do coração, pode ser chamado verdadeiro” (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).

Perguntas para discussão

1. Por que o egoísmo é a essência dos problemas com as finanças e as relações interpessoais?

2. Como evitar a ganância? Qual é a provisão divina contra isso? (Is 58:3-12;
Mq 6:6-8).

3. Reflita sobre o dom da fala e o poder das palavras. Jesus é chamado de “o Verbo” (Jo 1:1, 2). O que isso significa? Isso nos ajuda a entender a importância e o peso das palavras?

4. É impressionante que, há milhares de anos, Jesus disse que os pobres sempre estariam entre nós. Somos advertidos a ajudar os necessitados. Como essas duas ideias podem se harmonizar e motivar os cristãos a trabalhar pelos menos afortunados?


Respostas e atividades da semana: 1. Os judeus mais ricos e os magistrados estavam explorando seus irmãos mais pobres, e o povo se queixava da fome e da escassez a que estavam sendo submetidos. 2. B. 3. Neemias usou a questão da escravidão para persuadir seus interlocutores. Ele argumentou que, ao cobrarem juros, os nobres e os oficiais estariam forçando seus próprios irmãos judeus a se venderem como escravos novamente, ignorando o fato de que eles já haviam sido escravos de outras nações. Assim, estariam repetindo o erro das outras nações, e ainda pior, contra seu próprio povo. 4. V; F. 5. Jurar perante Deus é algo a ser levado muito a sério, pois quem faz um juramento a Deus e não o cumpre sofre condenação. 6. O povo estava vivendo miseravelmente, recebendo ajuda do próprio Neemias. O temor do Senhor foi a razão para essa decisão justa. 7. Pediu a Deus que levasse em conta tudo o que ele havia feito pelo povo. O exemplo dele nos lembra o de Jesus, que colocou os interesses dos pecadores acima dos Seus.

Resumo da Lição 5
Transgredindo o espírito da Lei

ESBOÇO

TEXTO-CHAVE: Neemias 5:11, 15, 16

FOCO DO ESTUDO: Neemias 5

O capítulo 5 de Neemias descreve como o governador lidou com a injustiça entre os exilados. Enquanto reconstruíam o muro de Jerusalém, unindo-se para lutar contra seus inimigos, nem tudo estava bem entre as fileiras. A fome havia deixado algumas famílias sem recursos para pagar os impostos persas ou mesmo para obter comida.

Por isso, os judeus hipotecavam suas casas, seus campos e vinhedos. Hipotecar a propriedade não melhorava sua situação financeira. Então as pessoas buscavam outras maneiras de pagar o imposto e obter alimentos. Como a escravidão por dívida era comum na época, os israelitas, seguindo esse costume, vendiam seus filhos ou a si mesmos para um parente, a fim de saldar a dívida. Quando Neemias descobriu que os israelitas estavam comprando seus próprios compatriotas para oferecer o sustento a essas famílias, ele ficou irado! Embora essa prática fosse permitida por lei, o servo de Deus se opôs a isso como sendo uma injustiça. Ele confrontou alguns dos mais poderosos judeus e líderes do povo, e perguntou se os israelitas deviam ganhar sua liberdade sendo levados de volta a Israel apenas para perdê-la novamente nas mãos de seus próprios compatriotas. Finalmente, ele convenceu os líderes de que seu comportamento era eticamente errado, e eles devolveram tudo o que haviam tirado dos pobres. Neemias é um exemplo na defesa do que é certo, mesmo quando pessoas poderosas estão envolvidas na injustiça. A posição e o prestígio delas não impediram que o homem de Deus se manifestasse contra o mal.

COMENTÁRIO

Estrutura de Neemias 5

O capítulo 5 de Neemias tem uma clara estrutura temática e pode ser dividido nas seguintes unidades:

1. Problemas e reclamações do povo e as ações decisivas de Neemias (Ne 5:1-13).

A. Razões para as queixas do povo (Ne 5:1-5).

B. A ira e a repreensão de Neemias (Ne 5:6, 7a).

C. A convocação de uma assembleia pública e a acusação contra os líderes (Ne 5:7b-8).

D. Silêncio dos líderes (Ne 5:9a).

E. Os líderes são advertidos a andar no temor de Deus, devolver as propriedades às pessoas e reparar as perdas (Ne 5:9b-11).

F. Resposta positiva dos líderes (Ne 5:12a).

G. Juramento dos líderes, ação simbólica de Neemias e louvores de gratidão ao Senhor (Ne 5:12b-13).

2. Os 12 anos de ministério diligente e altruísta de Neemias (Ne 5:14-16).

3. Generosa oferta diária de Neemias para numerosos judeus e pessoas de povos vizinhos que o visitavam (Ne 5:17, 18).

4. A oração de Neemias por misericórdia (Ne 5:19).

Neemias lida com a opressão/injustiça

Em meio a um trabalho intenso para o Senhor, houve uma grave queixa expressa contra os líderes do povo de Deus. As pessoas pobres eram oprimidas, viviam famintas, seus filhos eram escravizados e seus campos e vinhedos tomados.

Depois que Neemias ficou ciente do que estava acontecendo entre os judeus, ele ficou muito irado. A palavra para “irar-se” é kharah e significa “ficar enfurecido” ou “queimar-se de indignação”. Kharah denota uma forte resposta de ira. A palavra ocorre frequentemente em toda a Bíblia. Por exemplo, aparece no início da Bíblia, referindo-se à ira de Caim quando percebeu que seu sacrifício não tinha sido aceito, ou à ira de Moisés quando viu as pessoas dançando e adorando o bezerro de ouro (Êx 32:19, 22). Mas kharah também é usada para a ira de Deus, que se inflamava quando o povo de Israel agia perversamente (Êx 4:14; Êx 32:10, 11; Nm 11:1, 10, 33).

No entanto, essa expressão de ira ocorre significativamente nas seguintes passagens: em Gênesis 34:7, encontramos essa expressão quando Diná foi estuprada e seus irmãos (filhos de Jacó) ficaram muito irados e acabaram agindo em retaliação contra os siquemitas, matando todos os homens da cidade. Em 2 Samuel 13:21, o rei Davi ficou muito irado ao ouvir que seu filho Amnom estuprou a própria irmã Tamar (embora ele não tenha agido com ira para tratar a injustiça). Um terceiro uso dessa expressão aparece em Neemias 4:7 quando os inimigos dos judeus descobriram que os israelitas estavam reconstruindo o muro. Os adversários ficaram muito irados porque viram o projeto de reconstrução como uma séria ameaça ao seu poder sobre a região. Duas das passagens dizem respeito a ofensas muito sérias de estupro, o que nos dá razões para ver a história da injustiça em Neemias também como uma séria afronta. O governador ficou tão aborrecido com o que ouviu quanto aqueles que ouviram sobre o estupro da própria irmã e da filha. O servo de Deus viu a injustiça e o comportamento antiético no mesmo nível, e a opressão sob a mesma luz. É sensato e convincente concluir que a opressão evocou sentimentos muito fortes de ira em Neemias. Por isso, ele reagiu à opressão dos judeus pessoalmente, como se os membros de sua própria família estivessem sofrendo.

Mas, longe de agir precipitadamente, Neemias dedicou tempo à situação. As palavras usadas para essa frase são malakh e levav. Malakh tem dois significados principais: (1) “reinar como rei” ou “ser feito rei” e (2) “ponderar” ou “considerar cuidadosamente consigo mesmo”. Levav significa “o coração”. Literalmente o verso diz: “no meu coração” (Ne 5:7). Quando juntamos essas palavras, o significado é que Neemias considerou o assunto com cuidado em seu coração. Dado que o coração e a mente são sinônimos no pensamento hebraico, o governador estava ponderando e avaliando com atenção o que devia ser feito a respeito da opressão e injustiça entre os hebreus. Portanto, outra lição importante que aprendemos com o servo do Senhor nessa história é que não devemos reagir com ira à injustiça, mas ponderar qual seja o melhor curso de ação.

É bom e importante mostrar emoções fortes contra a injustiça; no entanto, isso não justifica ficar irado em qualquer situação. Por exemplo, a ira de Caim era imprópria para com seu irmão Abel. A indiferença contra o mal é um dos piores pecados. Quando as pessoas veem a injustiça e se afastam dela como se não fosse problema seu, demonstram frieza e perda de sensibilidade em relação ao pecado. É muito perigoso quando estamos congelados emocionalmente e não reagimos à injustiça. Nosso Senhor é o Deus da justiça; Ele está sempre do lado dos oprimidos. Muitas vezes os profetas repreenderam o povo de Deus por não conseguir impedir a injustiça. Eles encorajavam o povo a tratar bem os pobres e ajudá-los. Os mensageiros do Senhor instruíam o povo a ser generoso com as viúvas, órfãos e estrangeiros (por exemplo, veja Dt 10:18; 14:29; 24:19; 27:19; Zc 7:10).

Após repreender os nobres e governantes judeus, que ficaram em silêncio e nada responderam, Neemias convocou um “grande ajuntamento” para que todos os líderes fossem confrontados com as enormes implicações de seu comportamento opressivo e como isso afetava muitas pessoas. Além disso, uma grande multidão seria intimidante, e os líderes seriam muito mais propensos a concordar com suas exigências. Mais importante ainda, Neemias apelou para a responsabilidade deles perante Deus. “Porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?” (Ne 5:9). O servo do Senhor usou a expressão “temor do nosso Deus” várias vezes no livro (Ne 5:9, 15; Ne 7:2).

O conceito de “temor de Deus” devia relembrar o povo de seu desejo de “andar” com Deus, tomar decisões em relação à Sua vontade e viver para Ele. Foi por isso que os judeus voltaram para Jerusalém; eles foram para ser e viver como “povo responsável diante de Deus”. Eles perceberam que seus antepassados abandonaram o Senhor e quiseram reverter isso. A repreensão de Neemias os silenciou porque finalmente perceberam que não eram irrepreensíveis e que haviam caído no mau hábito que haviam aprendido no passado ou por intermédio das nações ao redor deles. Eles não podiam ser uma luz para as nações à sua volta se agissem da mesma forma que antes (mesmo que em menor medida), oprimindo os menos afortunados para ganhos pessoais.

Neemias não estava protestando contra o ato de emprestar, já que ele mesmo estava emprestando dinheiro às pessoas. Ele falou contra a cobrança de juros. Assim, ele exigiu que os líderes devolvessem as propriedades que haviam confiscado e pagassem os juros que tinham cobrado.

Surpreendentemente, os líderes responderam de forma positiva e prometeram restituir tudo. Em seguida, os sacerdotes foram chamados e os líderes fizeram um juramento (Ne 5:12, 13). “O povo fez segundo a sua promessa” (Ne 5:13). O texto implica que, após esse juramento, todas as pessoas (os nobres, os oficiais e a população em geral) trabalharam juntas, criando novos métodos de negócios que respeitavam os direitos de todos.

Neemias dá o exemplo

O capítulo termina com um trecho que explica que Neemias era o governador de Judá. Embora ele tivesse todo o direito de cobrar impostos das pessoas que governava, ele vivia por sua consciência e não acrescentava mais encargos à população já sobrecarregada por ter que enviar impostos aos persas. Em vez disso, ele usava seu próprio dinheiro (salário da Pérsia) para sustentar os de sua casa e todos os que precisavam de um lugar para comer. O servo de Deus generosamente oferecia aos outros o que tinha. Ele não realizava seu trabalho para enriquecer-se, mas para servir. O líder praticava o que está registrado em Marcos 10:43, 44: “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” Ele promoveu a justiça e a humildade.

Aplicação para a vida

Use a seguinte pergunta como abertura para a lição da semana:

1. Qual é, ou foi, a coisa mais difícil que você já teve que fazer para cuidar de sua família ou entes queridos? Compartilhe com a classe.

Como professor, esteja disposto a testemunhar algo pessoal. Quando você, como líder, compartilha, seu exemplo encoraja outras pessoas a falar também. Esse exercício mútuo levará a uma proximidade maior em seu grupo. Assim como Neemias cuidou das pessoas, nós também demonstramos que nos importamos ao compartilhar uns com os outros como irmãos e irmãs. Todos passamos por tempos difíceis, e é encorajador ouvir dos outros sobre o que eles experimentaram e como lidaram com certas situações como seguidores de Jesus.

Faça as seguintes perguntas no final da lição como desenvolvimento adicional do conceito e aplicação:

1. Discuta com a classe sobre o que podem fazer especificamente para ajudar os pobres, marginalizados ou que sofrem em sua região. Como você pode promover a diversidade? Que projeto sua classe pode adotar para fazer a diferença na vida de alguém?

2. De que maneira você pode ser como Neemias e se posicionar de forma decisiva contra a injustiça? De que maneira você pode se posicionar contra a injustiça nos seguintes círculos de influência:

A. Em casa?

B. No trabalho?

C. Na escola?

D. Com amigos?

Na época de Neemias, a opressão foi emprestar dinheiro, cobrar juros e exigir servidão das pessoas. Na sociedade atual (ou em sua profissão), o que devemos evitar a fim de não oprimir os outros?


O sonho do soldado vigoroso

Daniel Deng Machiek, um soldado alto e forte do exército do Sudão do Sul, não queria lutar. A região leste africana estava envolvida em uma sangrenta guerra civil e Daniel não queria matar seus compatriotas. Em dezembro de 2013, ele jejuou e orou por três dias em favor da paz. “Meu Deus, Tu és o Deus verdadeiro. Não existe outro acima de Ti. Sou soldado e querem que lute contra meus compatriotas. Por favor, controle o povo sul-sudanês.”

No terceiro dia, Daniel teve um sonho. Três anjos brilhantes apareceram no quarto em Yirol, sua terra natal, localizada a oito horas de viagem de ônibus, a noroeste da capital de Sudão do Sul, Juba. “Levante-se e cante um hino conosco”, ordenou um anjo. Assustado, Daniel perguntou: “De onde são vocês?” “Seu jejum foi respondido por nosso Criador”, o anjo respondeu. “Fomos enviados para batizar você.”

Ainda em sonho, Daniel se uniu aos anjos e cantou um hino de louvor pela salvação em Jesus. Então, os anjos levaram até o lago Yirol próximo à cidade. Um dos anjos o vestiu um uma túnica branca e ele foi batizado, enquanto os outros dois anjos assistiam. Em seguida, os anjos lhe deram uma Bíblia e conduziram até uma igreja perto dali. “Você encontrará algo interessante”, um anjo disse e, depois, eles desapareceram. Daniel entrou na igreja e viu pessoas caídas mortas no chão. Somente um menino de dois anos estava vivo e ele pediu para orar com o garoto. Enquanto oravam, os membros da igreja ressuscitaram. Naquele momento, Daniel acordou do sonho. Durante três anos, ele se perguntou o que significava tudo aquilo.

Em 2017, ele conheceu um pastor evangélico que o batizou com a esposa durante um culto de domingo. Quando Daniel submergiu das águas, ele fez algo que nunca fez depois que se tornou adulto: chorou. “Por que estou chorando?”, perguntou ao pastor. “É a obra do Espirito Santo”, o pastor respondeu. Daniel ficou confuso e zangado. A raiva fez com que chorasse ainda mais. Ele ficou muito envergonhado. No Sudão do Sul, homens não choram, e soldados durões muito menos. Daniel não parou de chorar durante dois dias.

Então, seu sobrinho de 22 anos, Abraham, foi visitá-lo. Incapaz de esconder as lágrimas, Daniel explicou que desde o batismo não parava de chorar. “Tio, por que você foi batizado nessa igreja?”, Abraham perguntou. “Essa não é a igreja verdadeira!” Abraham deu ao tio um estudo bíblico sobre o dia de guarda. Imediatamente, Daniel foi convencido de que deveria frequentar a igreja adventista. No sábado seguinte, ele e a esposa estavam na igreja central de Juba. Três meses depois, no dia 20 de janeiro de 2018, o casal foi batizado. Daniel não derramou uma lágrima quando submergiu da água. “Meu sonho foi sido cumprido!”, ele exclamou para a congregação e compartilhou a história do sonho.

Ao testemunhar a alegria recém-descoberta de Daniel, um de seus irmãos e a esposa foram batizados. A mãe esta se preparando para o batismo. Atualmente Daniel, com 39 anos e se diz impressionado ao ver como Deus responde às orações. Ele orou pela paz no país em 2013 e Jesus respondeu com um sonho que mostrava o caminho para a verdadeira paz, entregando o coração a Jesus através do batismo.

“Sou feliz!”, Daniel diz. “Não mais lágrimas. A felicidade faz parte da minha vida desde o batismo.” Muito agradecemos pelas ofertas enviadas em 2016. Elas ajudaram a construir salas da Escola sabatina na Igreja adventista central de Juba. Desta vez, parte das ofertas do trimestre ajudará a construir uma escola de Ensino Médio.

Dicas da História

  • Assista ao vídeo sobre Daniel no YouTube: bit. ly/Daniel-Machiek
  • Fazer o download das fotos de resolução média desta história na página do Facebook: bit.ly/fb-mq. As fotos estarão disponíveis nos domingos, seis dias antes de a história ser apresentada.
  • Fazer o download das fotos em alta-resolução no banco de dados na página: bit.ly/ Tough-Soldiers-Dream
  • Fazer o download das fotos em alta-resolução dos projetos do trimestre no site: bit.ly/ECD-projects-2019.

Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º Trimestre de 2019

Tema Geral: Esdras e Neemias

Lição 5: 26 de outubro a 2 de novembro

Autor: Luiz Gustavo Assis
Revisora: Josiéli Nóbrega
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Transgredindo o espírito da lei

Costumamos romantizar alguns momentos da história do povo de Deus imaginando-os como tempos de união, consagração e compromisso com Deus. Mas muitas vezes esse romantismo é, na verdade, reflexo da nossa projeção e expectativa do que uma descrição da realidade. Infelizmente, na comunidade judaica da época de Esdras e Neemias, existiam problemas sérios que precisavam ser resolvidos. O templo já estava construído, o culto a Javé havia sido restaurado, mas a comunidade de Yehud, como era conhecida a província de Judá no período Persa, ainda tinha um longo período de restauração pela frente.

Fome, escravidão e juros abusivos

Num dos comentários anteriores, mencionei sobre a pobreza no território de Yehud no período posterior à destruição que os babilônios infligiram sobre aquela área, no começo do 6º século a.C. Essa realidade parece ter durado algum tempo. Para piorar a situação, Neemias 5:3 menciona um período de fome, muito provavelmente causado pela falta de chuva na região. Água é uma preciosidade naquela terra. Os países vizinhos, Egito, Síria e Líbano, possuem abundantes fontes de água. Já Israel tem apenas um rio, o Jordão, que nos tempos bíblicos dificilmente era usado como fonte de água para outras partes do território. Isso porque ele está abaixo do nível do mar e sua água tem grande quantidade de sal (ele deságua no Mar Morto). Sem chuva, havia seca, e com seca, havia fome.

Além da fome, a comunidade judaica na época de Neemias tinha que lidar com os altos impostos que o governo persa colocava sobre ela. A lição de segunda-feira tratou muito bem desse aspecto. Para solucionar esses problemas (fome e impostos), alguns penhoraram seus bens (campos, vinhas, casas) em troca de grãos (cevada, trigo, entre outros, cf. Dt 8:8), e, para sobreviver, tiveram que vender seus filhos e filhas como escravos.

Como a lição bem colocou, a escravidão era parte integral do mundo em que a Bíblia foi escrita. Alguns ficam surpresos e até desconcertados quando percebem que as primeiras leis que Deus promulgou para os israelitas quando eles saíram do Egito foram leis regulamentando a escravidão (Êx 21:1-11). No entanto, antes de qualquer comparação anacrônica entre essa prática bíblica e aquela que está documentada na história recente do mundo ocidental, é preciso ressaltar algumas diferenças entre as duas. Na Lei mosaica, sequestrar alguém para ser vendido como escravo era um crime punido com pena capital (Êx 21:16). Além disso, um escravo hebreu deveria trabalhar apenas seis anos para pagar sua dívida, sendo libertado no sétimo ano, sem pagar nada (Êx 21:2). Durante seu período de serviço, o(a) escravo(a) teria um dia de folga semanal, o sábado (Êx 20:10). Após cumprir seu período de trabalho, esse escravo deveria receber de seu proprietário alguns animais e alimentos para recomeçar a vida (Dt 15:13, 14).

Alguém pode questionar o motivo pelo qual Deus não aboliu a escravidão entre os israelitas. Afinal, eles eram a “nação santa” (Êx 19:5, 6). Devemos lembrar que os israelitas estavam inseridos numa cultura dominada pela prática da escravidão. Mesmo que Deus a abolisse entre Seu povo, isso não mudaria sua forma de pensar, pelo menos não imediatamente. A título de ilustração, imagine o árduo processo cultural para tornar o reino da Arábia Saudita em uma democracia. Mesmo que essa mudança fosse feita hoje, ainda levaria um bom tempo até que a mentalidade da nação fosse mudada. Voltando ao assunto da escravidão bíblica, a legislação israelita oferecia um tratamento muito mais humano para os escravos, colocando escravo e senhor em pé de igualdade (cf. Jó 31:13-15; Dt 5:12-15). Num mundo ideal, a prática da escravidão nem sequer seria cogitada, mas infelizmente não vivemos nesse mundo.

Se já não bastasse a fome, os impostos do império e a prática da escravidão, Neemias 5:6-11 deixa explícito que alguns membros da alta sociedade de Judá, os nobres (Heb. horim) e prefeitos (Heb. segen) estavam cobrando juros dos mais pobres dentre o povo. Em outras palavras, os ricos estavam ficando mais ricos, e os pobres ficando mais pobres. Opressão é sempre ruim, mas parece ser pior quando praticada por pessoas mais influentes do mesmo grupo social, religioso e familiar.

Moeda usada algumas décadas depois da época de Neemias. Ao lado direito do falcão, é possível ler as três letras do antigo alfabeto hebraico: YHD ("Yehud"), o nome pelo qual a província de Judá era conhecida durante a administração persa.

Em suma, a comunidade judaica de Neemias estava sofrendo com problemas sérios. Falta de chuva, escassez de alimentos, altos impostos do Império Persa e altos juros cobrados pelos mais ricos forçaram os moradores de Yehud a vender seus filhos e filhas como escravos.

Reação e exemplo de Neemias

O texto bíblico diz que, quando Neemias foi informado dessa situação, ele ficou muito irado (Ne 5:6). Ele repreendeu severamente os opressores, que num primeiro momento ficaram em silêncio diante das suas advertências. Vale a pena ponderar sobre o conteúdo do verso 9: “Não é bom o que vocês estão fazendo. Não é fato que vocês deviam andar no temor do nosso Deus, para evitar a vergonha diante de nossos inimigos, os gentios?” Para Neemias, andar no temor do Senhor evitaria a vergonha diante dos inimigos de Judá. O educador e erudito adventista Siegfried J. Schwantes certa vez escreveu que “um Deus santo e justo requer santidade e justiça da parte de Seus adoradores”. Os opressores em Judá tinham a teologia correta, o templo certo, faziam parte do povo escolhido, mas não andavam no temor do Senhor. E que tragédia é a vida de alguém que perdeu o senso da presença de Deus! Opressão contra aqueles que estão ao seu redor e vergonha diante da sociedade são algumas das consequências naturais dessa tragédia.

As duras repreensões de Neemias surtiram efeito. Os nobres e magistrados juraram diante de Deus e dos sacerdotes que restituiriam os bens das pessoas prejudicadas e os juros abusivos com os quais eles oprimiram os menos favorecidos de Judá (5:12).

Duas importantes lições para hoje

A história de Neemias 5 serve para ilustrar pelo menos duas situações do nosso dia a dia:

1) A opressão, que é uma realidade até mesmo entre o povo de Deus. Ela pode se manifestar de diversas formas: física, emocional, espiritual e sexual. Infelizmente vivemos neste mundo moralmente quebrado em que esse tipo de situação pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer ambiente.

2) A missão de lutar contra a injustiça. Assim como Neemias, precisamos levantar nossa voz e confrontar os opressores. Nossa igreja ao redor do mundo tem a excelente iniciativa da campanha “Quebrando o Silêncio”, que tem como objetivo alertar nossas congregações e as comunidades nas quais elas estão inseridas quanto aos perigos de se calarem diante de opressões. Mas o projeto “Quebrando o Silêncio” não deve ser apenas uma programação de um sábado no ano. Ele deve ser parte integral da mentalidade de toda a Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Alguns podem pensar que iniciativas como o projeto “Quebrando o Silêncio” sejam opcionais, e que somente meia dúzia de pessoas na igreja devem se envolver com esse tipo de atividade. Bem, não parece ser isso que o profeta Miqueias escreveu sobre a correta forma de adorar a Deus: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei diante do Deus excelso? Virei diante Dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Será que o Senhor Se agrada com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele já mostrou a você o que é bom; e o que o Senhor pede de você? Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus” (Mq 6:6-8). Mais importante do que levar a Deus os nossos bens, por mais preciosos e numerosos que eles sejam, Deus espera primariamente de nós a prática da justiça, o amor, a misericórdia e um andar humilde na Sua presença.

Conheça o autor dos comentários: Luiz Gustavo Assis serviu como pastor distrital no Rio Grande do Sul por cinco anos e meio. Em 2013, continuou seus estudos acadêmicos nos Estados Unidos. Ele tem mestrado em arqueologia do Antigo Oriente e línguas semíticas pela Trinity Evangelical Divinity School (Deerfield, IL), e atualmente está no meio do seu programa doutoral em Antigo Testamento no Boston College (Newton, MA). É casado com Marina Garner Assis, que por sua vez faz seu doutorado em filosofia da religião na Boston University. Juntos eles têm um filho, Isaac Garner Assis.