Ao buscarmos cumprir a missão cristã, não devemos subestimar o potencial da igreja como uma comunidade organizada de cristãos. Já mencionamos os desafios que podemos enfrentar quando buscamos lidar com a injustiça e a pobreza. Mas ao trabalharmos com nossos irmãos na comunidade de fé, podemos ser uma bênção para os que nos rodeiam.
A tentação é que, quando nos reunimos como igreja, tornemo-nos distraídos com a manutenção da própria igreja, esquecendo-nos de que ela existe para servir ao mundo em que Deus a colocou. Como um corpo eclesiástico, não devemos ignorar o sofrimento nem o mal que existem ao nosso redor. Se Cristo não os ignorou, também não devemos ignorá-los. Devemos ser fiéis à ordem de pregar o evangelho e, juntamente com essa pregação, vem a obra de ajudar os oprimidos, os famintos, os nus e os desamparados.
Juntos, como comunidade e organização da igreja, somos o corpo de Cristo (veja 1Co 12:12-20). Sendo assim, como um povo, devemos andar como Jesus andou, alcançar as pessoas como Ele o fez, e servir como mãos, pés, voz e coração de Cristo no mundo de hoje.
Nos primeiros capítulos de Atos, observamos como os primeiros cristãos fundaram uma comunidade diferente, cuidando dos necessitados entre eles e, juntos, alcançando pessoas que não pertenciam ao grupo de crentes, oferecendo-lhes a ajuda de que necessitavam e convidando-os a se unirem ao que Deus estava fazendo entre eles.
Somando-se às descrições feitas por Jesus sobre o sal e a luz, Paulo usou uma série de metáforas para retratar a ação da igreja no mundo. Entre outras, ele descreve o povo de Deus como um sacrifício (veja Rm 12:1), como o corpo de Cristo (veja 1Co 12:12-20), como embaixadores (veja 2Co 5:18-20) e como perfume (veja 2Co 2:14-16). Cada uma dessas imagens trata de uma função dos cristãos como representantes ou agentes do reino de Deus mesmo hoje, em meio a um mundo devastado pelo grande conflito.
1. Recapitule cada uma dessas descrições ”representativas” acima. Como você gostaria de representar a Deus e Sua lei de amor diante das pessoas ao seu redor? Por quê?
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Existe uma ação associada a cada uma dessas imagens, não como um meio para que sejamos aceitáveis a Deus, mas como uma demonstração de que já fomos aceitos por Ele mediante o sacrifício de Cristo, e correspondemos ao Seu amor e graça sendo Seus agentes neste mundo ferido e agonizante.
Mas essas imagens também podem ser consideradas em um nível ainda mais profundo: visto que a essência do reino de Deus é Seu amor e Sua graça, quando agimos em harmonia com esses princípios, refletindo aos outros amor e graça, representamos e participamos desse reino eterno mesmo hoje.
No direito internacional, uma embaixada nacional é considerada parte da nação que ela representa, mesmo quando fisicamente localizada em um país estrangeiro, talvez a uma grande distância do país de origem. Semelhantemente, quando os princípios do reino de Deus são representados se oferecem vislumbres dessa realidade eterna aqui e agora e, sendo assim, é indicada e prenunciada a derrota final do mal. E ao fazermos isso, como embaixadores e agentes de Cristo, podemos experimentar a realidade de Seu amor e justiça em nossa vida, na igreja e na vida daqueles a quem buscamos servir.
A definição do remanescente identificado na profecia bíblica encontra-se em Apocalipse 12:17: aqueles “que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 14:12). Essas características marcam o povo de Deus no fim da história da Terra. Contudo, as histórias bíblicas também relatam exemplos de como esse remanescente age e serve às outras pessoas.
2. O exemplo de Moisés a esse respeito é tremendo. Leia Êxodo 32:1-14. Qual é a comparação entre Moisés nessa história e o remanescente descrito em Apocalipse 12:17?
Em Sua ira contra o povo de Israel, Deus ameaçou destruí-lo e transferir a Moisés e sua família as promessas dadas a Abraão (de que seus descendentes se tornariam uma grande nação; veja Êx 32:10).
No entanto, Moisés não desejava isso. Ele teve a ousadia de argumentar com Deus, sugerindo que, se o Senhor agisse de acordo com Sua ameaça, Ele não seria visto com bons olhos (Êx 32:11-13).
Moisés vinha lutando para conduzir os israelitas pelo deserto. Eles estavam reclamando e brigando desde o momento em que ele os havia libertado. Porém, Moisés disse a Deus: “Mas agora, eu Te rogo, perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do Teu livro que escreveste” (Êx 32:32; NVI). Moisés se propôs a desistir da eternidade a fim de salvar aqueles com quem compartilhava sua jornada.
Que exemplo poderoso de intercessão abnegada em favor daqueles que não a mereciam! E que símbolo poderoso de todo o plano da salvação!
“Intercedendo Moisés por Israel, desapareceu-lhe a timidez ante seu profundo interesse e amor por aqueles em favor dos quais havia sido, nas mãos de Deus, o meio para se fazerem tão grandes coisas. O Senhor ouviulhe as súplicas e atendeu à sua oração. Deus havia provado Seu servo, sua fidelidade e amor por aquele povo ingrato e propenso ao erro, e nobremente Moisés resistiu à prova. Seu interesse por Israel não se originara em qualquer motivo egoísta. A prosperidade do povo escolhido de Deus era mais valiosa para ele do que a honra pessoal, mais apreciada do que o privilégio de tornar-se o pai de uma poderosa nação. Deus Se agradou de sua fidelidade, simplicidade de coração e integridade e confiou-lhe, como a um fiel pastor, o grande encargo de guiar Israel à Terra Prometida” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 319).
As discussões da igreja às vezes parecem ficar presas na aparente necessidade de escolher entre o trabalho social ou evangelístico, a caridade ou o testemunho, fazer justiça ou evangelizar. Mas quando entendemos melhor cada um desses conceitos e observamos o ministério de Jesus, essa diferença se desfaz, e percebemos que pregar o evangelho e ajudar os outros são assuntos intimamente ligados.
Em uma declaração muito conhecida, Ellen G. White explicou: “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava compaixão por eles, ministrava-lhes as necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’. [...] Os pobres devem ser socorridos, cuidados os doentes, os aflitos e os que sofreram perdas confortados, instruídos os ignorantes e os inexperientes aconselhados. Cumpre-nos chorar com os que choram, alegrar-nos com os que se alegram” (A Ciência do Bom Viver, p. 143).
Essas duas ações do reino, fazer justiça e evangelizar, estavam intimamente ligadas, não apenas no ministério de Jesus, mas na primeira comissão aos discípulos: “Pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10:7, 8). Em suma, uma das melhores maneiras de alcançar os outros com nossa mensagem é ministrar às suas necessidades.
3. Leia 1 Pedro 2:12 e Filipenses 2:15. Qual é o poder da influência das boas obras realizadas pelo povo de Deus?
Compreendendo mais amplamente as boas-novas de Deus, vemos que o evangelismo não tem nenhum sentido sem paixão pelas pessoas. Passagens como 1 João 3:16-18 e Tiago 2:16 enfatizam a contradição de pregar o evangelho sem vivê-lo. Em sua melhor forma, ao trazer as boas-novas de esperança, resgate, arrependimento, transformação e o vasto amor de Deus, o evangelismo é uma expressão de justiça.
O evangelismo e o desejo por justiça surgem do reconhecimento do amor de Deus por pessoas perdidas, destroçadas e feridas – um amor que cresce em nosso coração sob a influência divina. Não escolhemos entre uma ação ou outra; em vez disso, trabalhamos com Deus em Sua obra pelas pessoas, usando os recursos que Deus nos confiou para atendê-las.
No início do livro de Jó, Deus indica que a fidelidade de Jó para com Ele é uma demonstração da excelência de Seus caminhos e de Seu relacionamento com a humanidade caída (veja Jó 1:8). É impressionante que Deus permita que Sua reputação dependa da maneira pela qual Seu povo vive na Terra. Mas Paulo estendeu essa fé que Deus tem em alguns de seus “santos” e incluiu nela a comunidade da igreja: “A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas regiões celestiais” (Ef 3:10, NVI).
4. Leia Efésios 2:19. O que está incluído na descrição da igreja como a “família” de Deus? Como essa ideia deve influenciar o funcionamento da igreja?
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Em toda comunidade ou organização, a maneira como essa entidade trata seus membros reflete os valores fundamentais do grupo. Como família de Deus, corpo de Cristo e comunidade do Espírito, a igreja tem o chamado mais elevado para viver de maneira fiel, seguindo o exemplo divino, “Porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos” (1Co 14:33).
Os valores da justiça, graça e amor devem governar tudo o que acontece na igreja. Esses princípios devem guiar os líderes em sua maneira de liderar, de tomar decisões e de cuidar do “menor destes pequeninos irmãos” da comunidade. Eles também devem nos orientar na resolução das contendas que surgem entre os membros. Se não tratamos com justiça e dignidade os nossos irmãos, como faremos isso com os outros?
Nos lugares em que a organização da igreja emprega pessoas, ela deve fazer isso com generosidade, valorizando-as e trabalhando contra a injustiça. As igrejas devem ser lugares seguros, com todos os cristãos fazendo o que podem para proteger os vulneráveis. E, como vemos na igreja primitiva, os cristãos devem estar especialmente preparados para dar apoio aos necessitados e sofredores da “família” da igreja.
Jesus apresentou isso como um mandamento, afirmando que tal atitude não apenas transformaria a comunidade de fé, como também demonstraria a realidade de sua fé aos que estivessem observando: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:34, 35).
Ainda que tenhamos as melhores motivações e intenções, trabalhar para o Senhor pode ser difícil e desanimador. A tristeza e a dor do nosso mundo são reais. Essa é uma razão pela qual precisamos da igreja. Jesus deu o exemplo desse tipo de comunidade de apoio com Seus discípulos. Ele raramente enviava as pessoas sozinhas, e mesmo quando isso acontecia, elas logo se juntavam novamente para compartilhar suas histórias e renovar sua energia e coragem.
5. Leia Hebreus 10:23-25. Como os versos 23 e 24 nos ajudam a entender o verso 25, a parte mais conhecida dessa passagem? Como podemos nos incentivar uns aos outros “ao amor e às boas obras”? Assinale a alternativa correta:
A. ( ) Por meio de cobranças e exigências.
B. ( ) Mediante o cuidado e a comunhão de uns com os outros.
Em quase todas as tarefas, causas ou projetos, um grupo que trabalha unido pode alcançar mais do que seria realizado se todas as pessoas atuassem individualmente. Isso nos lembra novamente da imagem da igreja como o corpo de Cristo (veja Rm 12:3-6), no qual todos temos funções diferentes, mas complementares. Quando cada um faz o seu melhor no papel que lhe foi designado, mas de uma forma que permita que sua influência trabalhe em conjunto com os demais, é certo que sua vida e seu trabalho farão a diferença para a eternidade.
Embora os resultados sejam importantes quando buscamos fazer o que é certo, precisamos confiar em Deus. Às vezes, quando trabalhamos para reduzir a pobreza, proteger os vulneráveis, libertar os oprimidos e defender os que não têm voz, vemos pouco progresso. Mas temos a esperança de que estamos trabalhando em uma causa muito maior e inevitavelmente vitoriosa: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6:9, 10, veja também Hb 13:16).
Somos chamados a nos encorajarmos mutuamente. Viver fielmente é ao mesmo tempo uma experiência alegre e difícil. Nosso Deus justo e nossa comunidade são os nossos maiores amparos. Por essa razão, convidamos os outros a se unirem a nós.
Textos de Ellen G. White: Atos dos Apóstolos, p. 546-556 (“Uma Fiel Testemunha”) e Beneficência Social, p. 81-86 (“Bondade – a Chave Para os Corações”).
“A obra que os discípulos fizeram, nós também devemos fazer. Todo cristão deve ser missionário. Cumpre-nos, em simpatia e compaixão, servir aos que necessitam de auxílio, buscando com abnegado zelo aliviar as misérias da humanidade sofredora. [...]
“Temos que alimentar o faminto, vestir o nu, confortar o aflito e o sofredor. Devemos ajudar os que estão em desespero e inspirar esperança aos destituídos dela.
“O amor de Cristo, manifestado num ministério abnegado, será mais eficaz na reforma do malfeitor do que a espada ou o tribunal de justiça. [...] Muitas vezes o coração que se endurece sob a reprovação, abranda-se ante o amor de Cristo” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 104, 106).
“A escravidão, o sistema de castas, preconceitos raciais, a opressão dos pobres, a negligência dos desafortunados – todos esses são apresentados como contrários ao cristianismo, uma séria ameaça ao bem-estar da humanidade, e como males que a igreja de Cristo é ordenada por seu Senhor a derrotar” (A.G. Daniells, presidente da Associação Geral, falando sobre a obra de Ellen G. White em seu funeral, Life Sketches of Ellen G. White [Histórias da Vida de Ellen G. White], p. 473).
Perguntas para discussão
1. Quais forças, percepções e recursos a Igreja Adventista do Sétimo Dia pode usar na tarefa de aliviar as necessidades mundiais?
2. Você já se sentiu encorajado e apoiado por sua igreja? Como pode estender esse encorajamento a outras pessoas?
3. O que pode ajudá-lo a não se cansar de fazer o bem?
4. A Igreja Adventista do Sétimo Dia apoia projetos que promovem a justiça e combatem a pobreza no mundo. Você conhece essas iniciativas? Como podemos contribuir com esse aspecto do trabalho da igreja?
Resumo: Somos chamados a cuidar das necessidades dos outros, especialmente dos feridos, sofredores e oprimidos. Embora tenhamos nossas responsabilidades individuais nessa área, como comunidade podemos ser mais eficientes.
“Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13:1). “Sabendo este que o Pai tudo confiara às Suas mãos [...] passou a lavar os pés aos discípulos” (Jo 13:3, 5). Depois disso, Jesus lhes disse: “Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:15). O Fundador da igreja cristã, desde o início, deu o exemplo do serviço, o modus operandi [modo de operação] do corpo de Cristo.
A lição desta semana examina novamente a comunidade de servos da igreja primitiva e as imagens que descrevem suas ações. Também observamos que o remanescente de Deus mostrará o coração de um servo para a intercessão, abnegação e graça; vemos que servir aos necessitados e pregar o evangelho são ações interdependentes; somos desafiados a examinar a justiça, a graça e o amor como o fundamento do que significa ser parte da “família de Deus”; e somos ainda mais encorajados a nutrir um espírito de colaboração e solidariedade no ministério que Deus chama a Sua igreja para realizar.
Objetivos do professor:
Estudar com a classe o que significa ser uma comunidade de servos para a sociedade fora da sua igreja.
Examinar por que sua igreja existe, e a importância da liderança e dos departamentos dela.
Analisar como esses departamentos trabalham juntos para uma mudança positiva, dentro e fora da igreja?
Ilustração
Uma comunidade de servos
Pertencer a “uma comunidade de fé” é bom para todas as pessoas, espiritual, mental, emocional, social e fisicamente. Pesquisas mostram que certas pessoas que pertencem a uma comunidade de fé e frequentam cultos religiosos podem ter uma vida mais longa (<https://www.health.harvard.edu/mind-and-mood/attending-religious-services-linked-to-longer-lives-study-shows).
Para reflexão
Como você pode ajudar a tornar sua igreja um ambiente verdadeiramente saudável, que cure e promova a vida abundante (Jo 10:10), até mesmo uma vida potencialmente mais longa, para todos os que são ou serão parte de sua comunidade de fé?
Fazer parte de uma comunidade de servos expande as bênçãos de participar da vida na igreja. O caráter do servo é descrito em Gálatas 6:9, 10. Leia essa passagem com a classe.
Quando você e os alunos pertencem a uma comunidade amorosa que também está ocupada fazendo o “bem a todos”, interna e externamente, há bênçãos integrais para os doadores e recebedores.
Em um estudo com 3.296 voluntários realizando atos de bondade, estabeleceu-se uma clara relação de causa e efeito entre ajudar e ter boa saúde. A saúde física e mental dos voluntários melhorou significativamente. Por exemplo, depois de realizar um ato de bondade, os voluntários sentiram uma onda de boas emoções. Essa “satisfação do ajudador” é indicada por uma redução acentuada do estresse e pela liberação de endorfinas, os analgésicos naturais do corpo. A onda inicial de “satisfação do ajudador” é seguida por um período mais duradouro de bem-estar emocional. Então, você está "fazendo o bem" a si mesmo também! Quando você adiciona alegria ao seu serviço (Sl 100:2), o efeito positivo sobre o doador e o recebedor é ainda maior. Leia Isaías 58:10, 11.
Convide os alunos para compartilhar suas experiências de como auxiliar os outros com alegria diminuiu a “fadiga da compaixão”, ajudando-os pessoalmente de maneira integral. Convide-os a contar de que maneira o serviço deles também ajudou pessoas de fora da igreja.
Escritura
Peça à classe que leia Isaías 42:1-4 e depois o seu cumprimento no ministério de Jesus em Mateus 12:18-21. Essa profecia de Isaías fala claramente sobre o espírito de serviço de Jesus e Sua missão. Isaías 42:1-4 apresenta o primeiro dos “cânticos do Servo” de Isaías, que descrevem o ministério de Cristo, um Servo especial que cumpre o propósito de Deus para Seu povo e para o mundo. Os outros “cânticos do Servo” referentes ao Messias são encontrados em Isaías 49:1-13; 50:4-11; e 52:13–53:12.
O que Isaías 42:1-4 diz sobre as prioridades de Cristo? Sobre a missão Dele? O que o texto diz a respeito das suas prioridades como discípulo de Cristo? E acerca de Sua missão e a missão da sua igreja? Se você tiver tempo, discuta os outros “cânticos do Servo”.
O Novo Testamento tem um cântico do Servo, conhecido como cântico kenosis, em Filipenses 2:5-11. Kenosis é uma palavra grega que significa "nada". Leia o cântico kenosis, assim chamado porque Cristo "a Si mesmo Se esvaziou" (Fp 2:7), ou "aniquilou-Se a Si mesmo” (Fp 2:7, ARC). Observe o verso 7. Jesus não Se apegou à soberania divina que era legitimamente Sua, mas ao serviço, que foi a motivação que governou Sua vida (veja Mt 20:26-28).
Pelos padrões culturais de Seu tempo, Jesus parecia ter as prioridades da vida de cabeça para baixo. Parece que Ele estava sempre invertendo as coisas. Para começar, o Filho de Deus altamente exaltado Se tornou um Servo. Leia Mateus 20:26 e 23:11, 12. Posteriormente, os discípulos de Jesus também seriam acusados de virar o "mundo de cabeça para baixo" (At 17:6). Eles serviriam em vez de governar. Robert Banks captou a filosofia não convencional deles com estas palavras: “O que precisamos hoje não são, como é frequentemente sugerido, mais líderes servidores, porém, com o devido entendimento, mais servidores líderes” (Robert Banks, citado por Siang Yang Tan em Full Service: Moving From Self-Serve Christianity to Total Servanthood [Serviço Completo: Movendo-se do Cristianismo Self-Service para o Total Espírito de Serviço], Grand Rapids, MI: Baker Books, 2006, p. 55). Discuta a diferença entre “líderes servidores” e “servidores líderes”.
Considere também o outro ângulo da questão: não é suficiente dizer que somos servos de Cristo, pois também há servos maus que afirmam ser servos do Senhor. Alguns servos não entendem a filosofia “de cabeça para baixo” de Cristo. Em seu zelo, tentam assumir o controle, governar e dominar em nome de Cristo. Essencialmente, eles têm Cristo de cabeça para baixo.
Para discussão
Que exemplos históricos vêm à sua mente de servos que dominaram em nome de Cristo? Consegue se lembrar de exemplos recentes? Como evitar a atitude dos servos maus que, na realidade, agem como senhores e governantes daqueles a quem servem?
Escritura
Não muito antes de Jesus ser crucificado, Ele passou um tempo de intensa qualidade com Seus discípulos, dando-lhes palavras de conforto e encorajamento. Leia João 15:15.
Para discussão
Esse verso significa que os discípulos de Jesus deveriam deixar de ser uma comunidade de servos e passar a ser uma comunidade de amigos? O que isso quer dizer? Uma pista para esclarecer essa questão pode ser encontrada na palavra grega para servos em João 15:15, douloi, que indica um servo, provavelmente com status restrito. Uma vez que Jesus havia levado Seus discípulos ao Seu conselho mais íntimo e tinha acabado de lhes revelar muitas coisas, eles não estariam obedecendo cegamente como um escravo comum. Assim, parece que Jesus estava chamando Seus discípulos para vislumbrá-Lo agora mais como um Amigo, em vez de simplesmente como uma autoridade (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 1043, 1044). Além disso, Jesus sabia que servos poderiam se transformar em senhores, mas amigos não. Empregados profissionais podem atuar a partir do seguinte pressuposto: "Você será melhor porque eu sei mais". Mas os amigos são colaboradores e acreditam no seguinte princípio: "Seremos melhores porque participamos da vida um do outro". Como essa consideração afetará nossa abordagem no serviço à nossa comunidade?
Ilustração
“Sinergia” pode ser definida desta maneira: “Esforço coletivo e solidário que busca um melhor resultado do que a soma dos resultados obtidos individualmente" (Extraído de HYPERLINK "https://www.dicio.com.br/sinergia/" https://www.dicio.com.br/sinergia/). Uma igreja tem sinergia quando seus membros e departamentos trabalham e servem sua comunidade juntos em vez de atuar separadamente. Essa sinergia produzirá um efeito total maior do que se cada um dos membros da igreja trabalhasse de modo isolado. Aqui está uma pequena “parábola” para ilustrar isso:
Uma família estava planejando suas férias com seis meses de antecedência. O pai dividiu a tarefa de planejar e organizar a viagem com os membros da família. Como líder, ele escolheu o destino e comprou as passagens aéreas para Florianópolis, Santa Catarina. Sua foi encarregada de encontrar um hotel e reservou um hotel em Fortaleza, no Ceará. Seu filho ficou responsável pela alimentação e fez reservas de restaurantes em Belo Horizonte, Minas Gerais. Sua filha recebeu a tarefa de cuidar da recreação e planejou atividades e lugares para visitar no Rio de Janeiro. Eles chegarão a algum lugar? Eles estavam cooperando, mas não havia comunicação mútua enquanto faziam seus planos.
Não é suficiente apenas planejar eventos desconectados para a comunidade em torno de sua igreja. Os departamentos da igreja devem trabalhar juntos (colaborar) para desenvolver um processo que faça a diferença na comunidade. Discuta com a classe como os departamentos da igreja podem planejar juntos para serem agentes de mudança mais eficazes na comunidade em que estão inseridos.
Aplicação para a vida
Um médico missionário voltou ao seu país de origem para encontrar uma igreja Adventista do Sétimo Dia que, segundo lhe contaram, ficava perto da casa em que ele havia morado durante sua infância (ele não era adventista naquele tempo). Ele foi até o local em que, segundo lhe haviam dito, a igreja estava localizada. Não viu nenhum edifício de igreja e encontrou um homem do outro lado da rua, em frente ao local em que deveria existir uma igreja. O médico perguntou se havia uma igreja adventista ali. O homem respondeu: “Há um grupo de pessoas que aparece aos sábados naquela casa do outro lado da rua. Eu não sei muito sobre eles porque vêm, cantam e vão embora.
Contraste a igreja acima, que era só um "clube de saúde espiritual" exclusivo para membros, com uma igreja na Suazilândia, na África. A necessidade mais urgente era uma nutrição adequada para os muitos órfãos que existiam por causa do vírus da AIDS em sua comunidade. A Sra. Busi Vilakazi, uma cristã aposentada, e outros membros da igreja começaram a alimentar esses órfãos com uma refeição sólida seis dias por semana. No início, eles atendiam 50 crianças. Dez anos depois, estavam servindo refeições a 300 crianças por dia. Além disso, começaram uma escola para educação infantil. Outros serviços incluíam distribuição de roupas, distribuição de vegetais da horta da igreja, o cuidado dos doentes e a coordenação de um programa de capacitação profissional para homens e mulheres. Essa demonstração do amor de Jesus gerou uma nova igreja.
“O Salvador deu Sua preciosa vida a fim de estabelecer uma igreja capaz de cuidar de almas aflitas e tentadas” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 640). Não é que a igreja de Deus simplesmente tem uma missão. É o Deus missional que tem uma igreja.
Para discussão: Por que sua igreja existe? Qual das igrejas descritas anteriormente se parece com ela? Escreva uma lista de ideias sobre como a sua igreja pode se tornar uma eficiente comunidade de servos.
Uma nova vida
Lepani Kuruduadua sentiu como se a vida tivesse acabado. O professor aposentado cortou a perna direita enquanto consertava uma igreja no vilarejo fijiano de Naqarani. O ferimento não cicatrizou e piorou, devido ao diabetes. Finalmente, o médico disse que a perna deveria ser amputada. Após a cirurgia, Lepani ficou deitado na cama por meses, imaginando o que restava na vida. Sentiu-se especialmente triste porque havia se unido à igreja adventista 17 anos antes, mas nunca usou suas duas pernas para levar alguém a Cristo. Agora tinha apenas uma.
Dez meses após a amputação, Lepani recebeu uma perna artificial e reaprendeu a caminhar. Ele pensava diariamente: “Preciso fazer algo para Deus, mesmo que tenha apenas uma perna.” Enquanto orava, lembrou-se de um vilarejo que, há muito tempo, ele e outros irmãos da igreja desejavam evangelizar. Então, decidiu pedir à família para ajudar a organizar séries evangelísticas.
Ele pegou um taxi até o vilarejo e foi recebido na porta por Anna, a filha. Ele soube que os parentes, dos quais ele queria a ajuda, tinham se mudado para a ilha de Nadi, localizada no outro lado do país. “Como você faz os cultos agora?”, ele perguntou a Anna. A jovem respondeu que às vezes se reunia com Nico, um vizinho que não pertencia a nenhuma denominação. “Vamos fazer uma pequena oração”, Lepani sugeriu. “Quero visitar a casa de Nico.”
Enquanto Lepani e Anna aproximaram da casa de Nico, a porta se abriu de repente e um homem correu em sua direção. “Você é a pessoa que estive esperando!”, o homem exclamou, enquanto convidava os visitantes para entrar. Depois, contou uma história incrível.
Ele disse que tinha orado para que alguém lhe falasse sobre Jesus, e prometeu se converter à denominação da primeira pessoa que fosse à casa dele. Naquela manhã, enquanto recolhia lenha no mato, sentiu uma forte impressão de que receberia a visita desejada. Ele correu para casa, mas ninguém estava lá. Tomou um banho e, enquanto colocava uma roupa, ouviu a voz de Lepani. “Quero ir à sua igreja”, Nico disse. “No próximo sábado irei com minha esposa e três filhas.”
Lepani orou com ele e expressou alegria por seu desejo de se unir à igreja. Mas ele disse: "No próximo sábado, eu virei aqui e abriremos uma igreja em sua casa". Nos sete meses seguintes, Lepani realizou os cultos aos sábados na casa de Nico. Outros habitantes se juntaram a eles. Depois da série de palestras evangelísticas, 16 pessoas foram batizadas, incluindo Niko, a esposa e duas de suas três filhas.
Assim que quantidade de membros cresceu a igreja mudou da casa de Nico para seu próprio edifício. Lepani, hoje com 60 anos, está muito feliz e deseja plantar uma igreja em outro vilarejo neste ano. Seus planos é construir uma igreja em um terceiro vilarejo. Ele disse que perder a perna transformou sua vida. “O que eu não fazia com duas pernas, hoje faço com uma perna”, disse ele. “Percebi o que devo fazer.”
Parte da oferta especial do trimestre ajudara no programa “Save 10.000 Toes” (Salve 10.000 pés), um projeto destinado à prevenção do diabetes e auxílio aos pacientes diabéticos em Fiji.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2019
Tema Geral: “Meus pequeninos irmãos”: servindo aos necessitados
Lição 13: 21 a 28 de setembro
Uma comunidade de servos
Chegamos ao fim do trimestre! Foi uma jornada para relembrar, redescobrir e aprender sobre nosso papel como povo de Deus diante das misérias e injustiças que o pecado faz brotar nos relacionamentos humanos. Ele Se importa com os necessitados e deseja que O imitemos nesse cuidado. Esse fato precisa ficar claro e indelevelmente marcado em nossa mente e coração. Não devemos ter que escolher entre a prática da justiça social e a proclamação do evangelho, pois a verdadeira justiça é a prática do evangelho e a proclamação do evangelho (Rm 1:17) promove a justiça social. Nesta última semana, vamos salientar três aspectos da igreja que reforçam nossa sagrada responsabilidade em revelar o amor divino, por preceito e por exemplo, e nos mantêm como uma comunidade de servos.
Somos corpo de cristo
A metáfora do corpo nos remete ao bem-estar interno da igreja e sua condição de se voltar para obras externas (Ef 4:11-16). Do ponto de vista interno, não podemos ser indiferentes ao sofrimento de nenhum membro do corpo (1Co 12:12, 21, 25, 26). Um dos grandes indicativos da saúde espiritual de uma igreja é que não haja pessoas padecendo necessidades sem serem cuidadas e socorridas. Se isso acontece, é porque o corpo está doente e tem esquecido de seus membros (Gl 6:10). Externamente, temos força e eficiência quando agimos como corpo, com os diferentes dons concorrendo para um mesmo propósito e contando com a organização e complementaridade dos membros (Ef 4:11, 12). Como corpo de Cristo, fazemos as obras que Cristo fazia, e até maiores (Jo 14:12).
Somos remanescente
Nossa identidade, como povo remanescente, é caracterizada pela guarda dos mandamentos de Deus e pelo testemunho de Jesus (Ap 12:17; 14:12; 19:10). Nossa principal mensagem para este tempo está descrita na proclamação dos três anjos de Apocalipse 14:6-12. A primeira mensagem angélica nos remete a temas como o temor de Deus, a glorificação ao Senhor, adoração, criação e sábado. Todos esses tópicos foram, de alguma forma, abordados no decorrer do trimestre e relacionados com a temática geral da ajuda aos necessitados. Tememos a Deus quando nossa vida reflete atitudes como a de Jó, cujo comportamento foi descrito em termos de socorro aos aflitos (Jó 29:12-17); glorificamos a Deus também quando frutificamos (Jo 15:8), cultivando as virtudes do caráter de Jesus em nós, imitando Suas obras e discipulando pessoas; adoramos a Deus quando a relação entre culto e justiça se apresenta coerente, conforme já fomos advertidos pelos profetas. A adoração nos faz semelhantes a Deus, inclusive em Seu interesse pela causa dos desfavorecidos; a criação nos lembra de nossa humanidade em comum e nos motiva a aspirar à restauração de nossa dignidade adâmica, no ideal edênico (Rm 8:19-23); e o sábado, de forma enfaticamente inclusiva (Êx 20:10), convida-nos a confiar e repousar nas obras divinas e a aliviar o sofrimento do semelhante (Mt 12:12; Mc 3:4; Lc 6:9), oferecendo-lhe, na prática, a graça de Cristo e uma antecipação do Céu. Assim, nossa responsabilidade como remanescente no tempo do fim inclui a atenção aos desvalidos, de forma prática e coerente com nossa mensagem escatológica.
Somos cenário da graça
Tratando do propósito de Deus para Sua igreja, Ellen G. White a descreveu como “o cenário de Sua graça, no qual tem prazer em revelar Seu poder de transformar corações ” e acrescentou que o povo de Deus “deve edificar e enobrecer a humanidade. A igreja de Deus é um lugar de vida santa, repleta de variados dons e dotada com o Espírito Santo. Os membros devem encontrar sua felicidade na felicidade daqueles a quem ajudam e abençoam” (Atos dos Apóstolos, p. 12). A igreja revela a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3:10), pois reúne, numa mesma família (Ef 2:19), pessoas que têm em comum o fato de terem sido transformadas pela graça divina (Ef 2:4-10). Não temos poder para transformar vidas, mas, pela pregação do evangelho, devemos inseri-las no cenário da graça de Deus. Em contato com Cristo, elas serão transformadas e evidenciarão essa realidade ao permitir que o amor divino flua de seu coração para outros corações, afastando o egoísmo e promovendo o interesse genuíno pelo bem-estar dos outros.
Não poderia finalizar os comentários deste trimestre sem lhe confrontar com a necessidade de colocarmos em prática, através de projetos cuidadosamente pensados e planejados, ações que não se restrinjam àquelas pessoas que cuidam da Ação Solidária Adventista. Nossa responsabilidade com o conceito bíblico de justiça não pode ser delegada a nenhuma instituição.
Temos a ferramenta necessária: uma comunidade movida pelo amor divino; um corpo cuja cabeça é Cristo! E temos o método: “É preciso uma grande obra de reforma, e é unicamente mediante a graça de Cristo que a obra de restauração física, mental e espiritual se pode efetuar. Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: Segue-Me. É necessário pôr-se em íntimo contato com o povo mediante esforço pessoal. Se se empregasse menos tempo a pregar sermões, e mais fosse dedicado a serviço pessoal, maiores seriam os resultados que se veriam. Os pobres devem ser socorridos, cuidados os doentes, os aflitos e os que sofreram perdas confortados, instruídos os ignorantes e os inexperientes aconselhados. Cumpre-nos chorar com os que choram, e alegrar-nos com os que se alegram” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 143).
Não percamos tempo! Estimulemos uns aos outros às boas obras movidas pela esperança que temos na volta de Jesus (Hb 10:23, 24) e em breve poderemos dizer, diante dos portais da eternidade: “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 678).
Conheça o autor do comentário: O pastor Geraldo L. Beulke Junior é natural de Porto Alegre, RS. Graduou-se em Teologia no ano de 2003 e já serviu à Igreja tanto na obra educacional quanto distrital, nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Espírito Santo. Atualmente, pastoreia o Distrito de Mangueiras, em Tatuí, São Paulo. Em 2014, concluiu o mestrado em Interpretação e Ensino da Bíblia, pelo SALT – FADBA, e está cursando o programa de doutorado em Teologia Pastoral pelo SALT – Unasp-EC. É casado com a pedagoga Elisama Gama Beulke, com quem tem três filhos: Lara, de 12 anos, Alícia, de 9, e Willian, de 1 ano.