Se as obras não podem nos salvar, por que se preocupar com elas? Por que não continuar pecando?
O capítulo 6 é a resposta de Paulo a essa importante pergunta. O apóstolo estava tratando do que comumente se entende por “santificação”, o processo pelo qual vencemos o pecado e refletimos cada vez mais o caráter de Cristo. A palavra santificação, que vem do termo grego hagiasmos, aparece apenas duas vezes no livro de Romanos (nos versos 19 e 22 do capítulo 6).
Isso significa que Paulo não tinha nada a dizer sobre o que comumente se entende por santificação? De maneira nenhuma!
Na Bíblia, “santificar” significa “dedicar”, geralmente a Deus. Portanto, “ser santificado” é muitas vezes apresentado como um ato passado e concluído. Por exemplo, Paulo mencionou “todos os que são santificados” (At 20:32). Os santificados, nessa definição, são os que foram dedicados a Deus.
No entanto, esse uso bíblico de “santificar” de maneira nenhuma nega a importante doutrina da santificação, nem o fato de que a santificação é obra de uma vida. A Bíblia endossa firmemente essa doutrina, mas geralmente usa outros termos para descrevê-la.
Nesta semana, contemplaremos outro aspecto da salvação pela fé, que facilmente pode ser mal interpretado: as promessas de vitória sobre o pecado na vida de alguém salvo por Jesus.
Em Romanos 5:20, Paulo fez uma declaração poderosa: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Sua mensagem é que, não importa quanto pecado haja ou quanto seja terrível seu resultado, a graça de Deus é suficiente para lidar com essa questão. Que esperança isso traz para cada um de nós, especialmente quando somos tentados a sentir que nossos pecados são muito grandes para serem perdoados! Em Romanos 5:21, Paulo mostrou que, embora o pecado tenha levado à morte, a graça de Deus por intermédio de Jesus venceu a morte e pode nos dar a vida eterna.
1. Leia Romanos 6:1. Qual lógica Paulo estava combatendo? Como, em Romanos 6:2-11, ele respondeu a esse tipo de pensamento?
No capítulo 6, Paulo seguiu uma linha de argumentação interessante em relação à razão pela qual uma pessoa justificada não deve pecar. Para começar, ele disse que não devemos pecar porque morremos para o pecado. Em seguida, explicou o que ele quis dizer.
A imersão nas águas do batismo representa sepultamento. O que está sepultado? O “velho homem” do pecado, isto é, o corpo que comete pecado, a pessoa dominada pelo pecado. Por isso, o “corpo do pecado” é destruído, de maneira que já não servimos ao pecado. Em Romanos 6, o pecado é personificado como senhor que governa seus servos. Uma vez que o “corpo do pecado” é destruído, cessa o domínio do pecado sobre esse corpo. Aquele que se levanta da sepultura das águas, ressurge como uma nova pessoa que não serve mais ao pecado. Ele agora anda em novidade de vida.
Cristo, tendo morrido, morreu de uma vez por todas, mas Ele agora vive eternamente. Portanto, o cristão batizado morreu para o pecado de uma vez por todas e nunca mais deve ser dominado por ele. É claro que, como todo cristão batizado sabe, o pecado não desaparece automaticamente da nossa vida quando saímos das águas batismais. Não ser governado pelo pecado não é o mesmo que não ter que lutar contra ele.
“A partir disso, entendemos claramente o que significam as palavras do apóstolo. Todas as declarações, como: (1) ‘mortos para o pecado’, (2) ‘vivos para Deus’, etc., significam que não cedemos às nossas paixões pecaminosas e pecados, ainda que o pecado continue em nós. No entanto, o pecado permanece em nós até o fim da nossa vida, como lemos em Gálatas 5:17: ‘A carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si’. Portanto, todos os apóstolos e santos confessam que o pecado e as paixões pecaminosas permanecem em nós até que o corpo seja transformado em cinzas, e um novo corpo (glorificado) seja ressuscitado, livre das paixões e do pecado” (Martinho Lutero, Commentary on Romans [Comentário Sobre Romanos], p. 100).
2. Qual advertência encontramos em Romanos 6:12? Assinale a alternativa correta:
A.( ) Não devemos cometer mais pecados, pois se o fizermos, pecaremos contra o Espírito Santo, pois fomos batizados.
B.( ) Precisamos evitar que o pecado reine em nosso corpo mortal, de modo que obedeçamos às suas paixões.
A palavra “reine” mostra que o pecado é representado nessa passagem como um rei. O termo grego aqui traduzido como “reine” significa, literalmente, “ser rei” ou “atuar como rei”. O pecado está muito disposto a assumir o reinado de nosso corpo mortal e ditar nosso comportamento.
Quando Paulo disse “não reine, portanto, o pecado”, ele sugeriu que a pessoa justificada pode optar por impedir que o pecado se estabeleça como rei em sua vida. É aqui que entra a ação da vontade.
“O que devem compreender é a verdadeira força da vontade. Esta é o poder que governa a natureza do homem, o poder da decisão ou de escolha. Tudo depende da reta ação da vontade. Deus deu ao homem o poder da escolha; a ele compete exercê-lo. Vocês não podem mudar seu coração, não podem por vocês mesmos consagrar a Deus as suas afeições; mas podem escolher servi-Lo. Podem dar-Lhe sua vontade; Ele então realizará em vocês o querer e o efetuar, segundo a vontade dEle. Desse modo toda a sua natureza será levada sob o domínio do Espírito de Cristo; suas afeições serão centralizadas nEle; seus pensamentos estarão em harmonia com Ele” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 47).
A palavra grega traduzida como “paixões” em Romanos 6:12 significa “desejos”. Esses desejos podem ser tanto pelas coisas boas quanto pelas ruins; quando o pecado reina, ele nos faz desejar o mal. Os desejos são fortes e até irresistíveis se lutamos contra eles por conta própria. O pecado é um tirano cruel que nunca está satisfeito, mas que sempre volta para obter mais. Somente por meio da fé, somente pela reivindicação das promessas de vitória podemos derrubar esse senhor implacável.
Em Romanos 6:12, a palavra “portanto” é importante. Ela retoma o que foi dito antes, especificamente o que foi dito em Romanos 6:10, 11. A pessoa batizada vive agora “para Deus”. Ou seja, o Senhor é o centro da sua nova vida. Ela serve ao Criador, fazendo o que agrada a Ele, portanto, não pode servir ao pecado ao mesmo tempo. Essa pessoa está viva “para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6:11).
3. Leia Romanos 6:14. Como entender esse texto? Ele significa que os Dez Mandamentos já não são mais obrigatórios? Assinale “V” para verdadeiro ou “F” para falso:
A.( ) Quem anda debaixo da graça é livre da condenação da lei do pecado, pois o pecado não mais o domina.
B.( ) Quem anda debaixo da graça pode pecar livremente, pois Jesus já pagou o preço exigido pela lei.
Romanos 6:14 é uma das principais declarações dessa carta. Além disso, é uma das passagens frequentemente citadas quando alguém tenta argumentar que o sétimo dia, o sábado, foi abolido.
No entanto, obviamente não é isso que o texto significa. Como perguntamos antes, como a lei moral poderia ser eliminada e o pecado ainda ser uma realidade? A lei moral é o que define o pecado! Se você ler tudo o que vem antes em Romanos, mesmo no capítulo 6, será difícil ver como, em meio a toda essa discussão sobre a realidade do pecado, Paulo diria subitamente: “A lei moral que define o pecado, isto é, os Dez Mandamentos, foi abolida.” Isso não faz sentido.
Paulo estava dizendo aos romanos que a pessoa que vivia “debaixo da lei”, ou seja, debaixo da estrutura judaica posta em prática em seu tempo, com todas as suas regras e regulamentos feitos por homens, seria governada pelo pecado. Em contrapartida, uma pessoa que vive debaixo da graça terá vitória sobre o pecado, porque a lei está escrita em seu coração e essa pessoa permite que o Espírito de Deus guie seus passos. Aceitar Jesus Cristo como o Messias, ser justificado por Ele, ser batizado em Sua morte, ter o “velho homem” destruído, andar em novidade de vida – são essas as coisas que destronarão o pecado de nossa vida. Lembre-se, esse é o contexto de Romanos 6:14, o contexto da promessa de vitória sobre o pecado.
Não devemos definir “debaixo da lei” de maneira muito restritiva. A pessoa que supostamente vive “debaixo da graça”, mas desobedece à lei de Deus, não encontrará graça, mas condenação. Quando a Bíblia diz que estamos “debaixo da graça” ela quer dizer que, por meio da graça de Deus revelada em Jesus, foi removida a condenação que a lei inevitavelmente traz aos pecadores. Portanto, livres agora dessa condenação da morte trazida pela lei, vivemos em “novidade de vida”, uma vida caracterizada pelo fato de que, estando mortos para nós mesmos, não somos mais escravos do pecado.
4. Leia Romanos 6:16. Qual conceito Paulo estava apresentando? Por que não há meio-termo em seu argumento? Qual lição devemos extrair desse contraste muito claro?
Paulo voltou ao argumento de que a nova vida de fé não concede liberdade para pecar. A vida de fé torna possível a vitória sobre o pecado. Na verdade, somente pela fé podemos ter a vitória prometida a nós.
Tendo personificado o pecado como um rei que reina sobre seus súditos, Paulo retornou à figura do pecado como um senhor que exige a obediência de seus servos. Ele mostrou que uma pessoa tem que escolher entre dois senhores. Ela pode servir ao pecado, que leva à morte, ou pode servir à justiça, que leva à vida eterna. Paulo não deixou nenhum meio-termo nem espaço para concessões. É um ou outro, pois no final estaremos diante da vida eterna ou da morte eterna.
5. Leia Romanos 6:17. De que maneira Paulo ampliou o que ele havia dito em Romanos 6:16?
Observe como, curiosamente, a obediência está ligada à doutrina correta. A palavra grega didach?, traduzida como “doutrina”, significa “ensino”. Os cristãos romanos tinham aprendido os princípios da fé cristã, que eles passaram a obedecer. Assim, para Paulo, a doutrina correta, os ensinos corretos, quando obedecidos “de coração”, ajudaram os romanos a se tornarem “servos da justiça” (Rm 6:18). Às vezes ouvimos que não importa a doutrina, desde que demonstremos amor. Essa é uma expressão muito simplista de algo que não é tão simples assim. Como foi dito em uma lição anterior, Paulo estava muito preocupado com a falsa doutrina à qual a igreja da Galácia havia sucumbido. Portanto, precisamos ter cuidado com declarações que, de alguma forma, diminuem a importância do ensino correto.
6. Tendo em mente o que estudamos até aqui em Romanos 6, leia Romanos 6:19-23. Resuma a essência do que Paulo estava dizendo. Como você pode tornar real em sua vida essas verdades cruciais? Quais questões estão em jogo nessa passagem?
As palavras de Paulo nessa passagem mostram que ele compreendia plenamente a natureza caída da humanidade. Ele falou sobre a “fraqueza da” nossa “carne” (Rm 6:19). Ele sabia o que a natureza humana caída é capaz de fazer quando deixada por si só. Por isso, novamente, ele apelou para o poder da escolha, a capacidade que temos de escolher entregar a nós mesmos e a nossa “carne fraca” a um novo senhor, Jesus, que nos habilitará a viver em justiça.
Muitas vezes, o texto de Romanos 6:23 é citado para mostrar que a penalidade para o pecado, isto é, a transgressão da lei, é a morte. Certamente, a penalidade do pecado é a morte. Mas além de ver a morte como a penalidade do pecado, devemos ver o pecado como Paulo o descreveu em Romanos 6 – um senhor que domina seus servos, enganando-os ao pagar-lhes com o salário da morte.
Observe também que, em seu desenvolvimento da ilustração dos dois senhores, Paulo chamou a atenção para o fato de que o serviço a um mestre significa liberação do serviço ao outro. Mais uma vez vemos claramente a escolha: um ou outro. Não há meio-termo. Ao mesmo tempo, como todos sabemos, estar livre do domínio do pecado não significa estar sem pecado; não significa que não lutamos e que não ocorram quedas, às vezes. Em vez disso, significa que não somos mais dominados pelo pecado, por mais que ele permaneça em nossa vida e por mais que tenhamos que reivindicar diariamente as promessas de vitória sobre ele.
Essa passagem é um apelo poderoso para quem está servindo ao pecado. Esse tirano não oferece nada além da morte como pagamento por nossos atos vergonhosos. Portanto, uma pessoa racional deseja se libertar desse tirano. Em contrapartida, aqueles que servem à justiça fazem coisas retas e louváveis, não com o objetivo de ganhar a salvação, mas como fruto de sua nova experiência. Se eles agem na tentativa de ganhar a redenção, estão perdendo todo o sentido do evangelho, do que é a salvação, e da razão pela qual eles precisam de Jesus.
Leia, de Ellen G. White, “Assumir a Vitória”, p. 105, 106, em Mensagens aos Jovens; “O Verdadeiro Motivo no Serviço”, p. 93-95, em O Maior Discurso de Cristo; “Apelo aos Jovens”, p. 365, em Testemunhos Para Igreja, v. 3; Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1196, 1197.
“[Jesus] não consentia com o pecado. Nem por um pensamento cedia à tentação. O mesmo pode ocorrer conosco. A humanidade de Cristo estava unida à divindade; Ele estava habilitado para o conflito, mediante a presença interior do Espírito Santo. E veio para nos tornar participantes da natureza divina. Enquanto estivermos ligados a Ele pela fé, o pecado não terá domínio sobre nós. Deus nos toma a mão da fé e a leva a se apoderar firmemente da divindade de Cristo, a fim de atingirmos a perfeição de caráter” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 123).
“Quando somos batizados nos comprometemos a romper todas as relações com Satanás e seus agentes, e entregar coração e espírito à obra de estender o reino de Deus […]” (Comentários de Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 6, p. 1196).
“Os filhos do maligno são servos de seu senhor; de quem se fazem servos para lhe obedecer, desse são servos (Rm 6:16), e não podem ser servos de Deus enquanto não renunciarem ao diabo e a todas as suas obras. Não pode ser inofensivo para os servos do Rei celestial o envolvimento com os prazeres e diversões em que se empenham os servos de Satanás, embora eles repitam muitas vezes que tais diversões são inocentes. Deus tem revelado santas e sagradas verdades para separar Seu povo dos ímpios e purificá-los para Si” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 404).
Perguntas para discussão
1. Mesmo com as promessas de vitória sobre o pecado, todos somos pecadores e o coração humano é corrupto. Existe contradição nisso? Explique.
2. Testemunhe na classe sobre o que Cristo fez em você, sobre as mudanças que você experimentou e sobre a nova vida que tem nEle.
3. Nossa salvação está somente no que Cristo fez por nós. No entanto, quais são os perigos de exagerar essa verdade, minimizando aquilo que Jesus faz em nós para nos transformar à Sua imagem? Por que precisamos enfatizar esses dois aspectos da salvação?
Respostas e atividades da semana: 1. Peça aos alunos que formem duplas. Um aluno deve ficar responsável por apresentar o raciocínio que Paulo estava combatendo na passagem bíblica. O outro deve responder como Paulo fez isso. Por fim, pergunte aos alunos se eles já pensaram em continuar no pecado para que a graça “superabundasse”. 2. B. 3. V, F. 4. Escolha um aluno para responder a essa questão. Peça que ele compartilhe sua resposta com a classe. 5. Divida a classe em dois grupos. Promova uma discussão sobre a justificação e o processo de santificação abordados na lição. Ao fim da discussão, peça que um representante escreva um passo a passo de como somos salvos. 6. Peça a opinião dos alunos.
TEXTO-CHAVE: Romanos 6:1-4
O ALUNO DEVERÁ
Saber: Que o domínio do pecado foi quebrado e que a morte foi derrotada para todos os crentes que se identificam com a morte e ressurreição de Cristo.
Sentir: Alegria pelo fato de que Deus não desamparou Seus filhos quando enfrentaram o poder do pecado e a sua penalidade.
Fazer: Viver como alguém que já foi ressuscitado, com todo o Céu na expectativa da sua nova vida.
ESBOÇO
I. Saber: A experiência de Cristo pode ser a minha
A. Como os dois fatos históricos paralelos, a morte e a ressurreição de Cristo, podem se refletir em nossa experiência pessoal?
B. O que as perguntas retóricas de Paulo em Romanos 6:1, 15 nos dizem a respeito de qualquer possível conclusão errada de seus leitores em relação a uma vida cheia da graça?
II. Sentir: A liberdade da obediência
A. Que argumentos você usaria para convencer alguém de que ser servo da justiça (Rm 6:18) é o único caminho para a verdadeira liberdade?
B. Ou somos “servos de Deus” (Rm 6:22) ou “servos do pecado” (Rm 6:20). Por que não há terceira opção?
III. Fazer: Vida nova
A. Qual mensagem é dada acerca do caráter de Deus e Seu plano de redenção quando os cristãos permitem que o pecado domine a vida deles?
B. Se uma vida de santificação é cheia de alegria, paz e liberdade, por que há tanta resistência à santificação intencional?
RESUMO: Os cristãos têm o privilégio de se alegrar não somente no perdão do pecado, mas também na libertação do domínio do pecado na sua vida.
Ciclo do aprendizado
Motivação
Focalizando as Escrituras: Romanos 6:5-7, 12-14, 22
Conceito-chave para o crescimento espiritual: A crucifixão e a ressurreição de Jesus trouxeram a nova era esperada por muito tempo, em que os dois inimigos, pecado e morte, receberam um golpe fatal. Por causa desse golpe mortal, o domínio do pecado foi quebrado, e nossa obediência pode ser completamente dedicada ao Cristo ressurreto. Porém, é necessária nossa persistente fé em Cristo, porque a vida passada e a velha era do pecado ainda persistem, e em nossa luta para viver a salvação, sentimos a realidade do “já” e do “não ainda”.
Para o professor: Para alguns, o assunto de “vencer o pecado” é uma ideia empolgante. Para outros, evoca apenas um sentimento de fracasso e culpa. Algumas vezes, o zelo do primeiro grupo é mal direcionado ou mal compreendido pelo segundo grupo, e surge uma controvérsia destrutiva. Por isso, você tem a honrosa responsabilidade de demonstrar cuidadosamente como a vitória sobre o pecado não é um fardo a ser evitado, mas um abençoado privilégio para ser abraçado – um dom que faz parte da graça de Deus.
Discussão inicial: A empresa de José havia sido roubada, por isso ele estava no tribunal, aguardando o julgamento do seu caso. Enquanto esperava, teve a oportunidade de ouvir outros casos. A súplica de uma mulher o comoveu. Evidentemente, ela havia tido uma vida difícil e parecia completamente desarrumada, sentada no banco dos réus. Tratava-se de uma reincidente no envolvimento com drogas, e estava praticamente implorando ao tribunal que lhe permitisse entrar em um programa cristão de reabilitação em vez de ser mandada de volta para a cadeia. Então, ela começou a testemunhar como Deus havia entrado em sua vida e lhe concedido salvação. No entanto, um ponto que ela repetiu muitas vezes foi que ela não havia sido salva por suas obras, mas pela graça de Deus.
José teve um misto de sentimentos enquanto ouvia esse testemunho. Lógico, somos salvos pela divina graça que não merecemos, e a mensagem do evangelho deve ter sido confortante para uma pessoa com registro criminoso. No entanto, em nenhum momento ela mencionou a intenção ou capacidade divina para ajudá-la na luta contra as drogas, um ponto de vista que poderia ter ajudado no caso dela, visto que estava buscando um programa cristão de recuperação. O pedido dela acabou sendo negado.
Perguntas para discussão
1. Em nossa ansiedade para dizer às pessoas que “nada que elas façam” as levarão ao Céu, temos deixado de enfatizar o outro lado da história, ou seja, que o Senhor pode ajudá-las a mudar “tudo o que elas fazem” para o próprio bem delas e para a glória de Deus?
2. Se você tivesse algum tempo com a mulher da história, quais trechos de Romanos 6 você compartilharia com ela para lhe dar esperança?
Compreensão
Para o professor: As questões relacionadas à vitória sobre o pecado algumas vezes são usadas em polêmicas acerca da perfeição, que tentam dizer se um pecado específico ou hipotético pode deixar você fora do reino. Eleve a discussão a um nível diferente, abordando-as a partir da perspectiva de Paulo em Romanos 6, e não das nossas brigas internas.
Comentário bíblico
I. Novidade de vida
(Recapitule com a classe Rm 6:5-13.)
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal” (Rm 6:12). É mais fácil falar do que cumprir essa ordem? Pode parecer que Paulo estivesse despreocupadamente dizendo aos leitores para simplesmente evitar o pecado e servir a Deus (Rm 6:13). Para os que levam a sério os conselhos do apóstolo, ao refletir sobre nossas falhas, podemos ter a impressão de que não estamos à altura da tarefa. A boa notícia nesse difícil problema do pecado é que as francas exortações de Paulo são expressas num contexto estupendo.
Qual é esse contexto? Com a morte e ressurreição de Cristo, a continuidade da história sofreu uma mudança escatológica muito importante. Jesus Se referiu a isso quando disse: “É chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12:28). Paulo falou acerca disso ao escrever sobre provar “os poderes do mundo vindouro” (Hb 6:5).
Essa nova era em que vivemos viu o derramamento do Espírito de Deus de uma forma nunca vista antes (At 2) e a cura e restauração espiritual dos que anteriormente estavam dominados pelas forças demoníacas/opressoras (Mt 4:23; 12:22, 28; Lc 4:18; At 5:17). Essa nova era sob
o domínio do poder de Deus é o contexto no qual Paulo falou sobre nosso “velho homem” sendo crucificado com Cristo para quebrar a escravidão do pecado (Rm 6:6). Nossa união com Cristo em Sua ressurreição nos impulsiona à “novidade de vida” (Rm 6:4), que não é nada menos que “a vida escatológica da era vindoura. Os cristãos foram alcançados por essa vida e o estilo de vida deles é transformado por ela” (Ivan Blazen, Tratato de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 333).
É sob essa percepção que todos nós vivemos dentro do poder do reino de Deus. Desse modo, o chamado para nos considerarmos “mortos para o pecado” (Rm 6:11) e não permitir que o pecado “reine” ou tenha “domínio sobre [nós]” (Rm 6:12, 14) não é saudoso idealismo. Esses são imperativos arraigados na vinda salvadora e histórica de nosso Senhor; portanto, há um potencial real para vivermos como “servos da justiça”, em vez de ser “escravos do pecado” (Rm 6:17, 18).
Pense nisto: Como o conhecimento de que vivemos em uma nova era escatológica nos motiva a recusar o pecado e a viver para Deus? Como essa perspectiva nos protege de (1) dar desculpas para o pecado em nossa vida e (2) de esquecer que a salvação é um presente?
II. Lei versus graça
(Recapitule com a classe Rm 6:14.)
Por razões óbvias, o contraste de não estar “debaixo da lei, e sim da graça” tem sido um ponto de divergência entre o adventismo e outras denominações cristãs. Sabemos pelo menos o que Romanos 6:14 não ensina, com base na pergunta retórica de Paulo: “Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” (Rm 6:15). Esse verso não quer dizer que devemos seguir pecando indiscriminadamente. Mas o que ele significa? Recorrer ao conceito das “duas eras”, mencionado anteriormente, pode ser útil nesse contexto.
Relacionar a experiência do “velho homem” (Rm 6:6) à lei e a experiência do “novo homem” à graça gera algumas ideias. Em Romanos, Paulo menciona várias vezes o triunvirato lei–pecado–morte (Rm 5:12, 13, 20, 21; 7:5, 9-11, 13, 23, 24; 8:2). É provável que, ao utilizar qualquer um dos três, ele estivesse se referindo à dinâmica entre todos eles. Por exemplo, Paulo falou acerca de estar “morto para o pecado” por meio da morte de Cristo tão facilmente como falou de estar “morto para a lei” por intermédio da morte de Cristo (Rm 6:2; 7:4). O relacionamento natural entre lei–pecado–morte é tão íntimo que em um momento Paulo enfatizou que a lei não é pecado (Rm 7:7). O trio foi repetido no clímax de seu argumento, quando ele declarou que em Cristo Jesus estamos livres “da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2).
Assim, na experiência do velho homem o pecado se aproveita da lei para produzir a morte (Rm 7:5, 8). Essa experiência é dominada pela carne, de modo que, ainda que possua o código escrito, predomina a transgressão (Rm 7:5, 6; 2:27). A experiência da graça se tornou possível por meio da morte e ressurreição de Cristo; ela é preenchida com o Espírito, sincera obediência à lei e justiça (Rm 2:27-29; 6:4, 17-23; 7:6; 8:1-4). Essa perspectiva pode nos ajudar a compreender a razão pela qual Paulo declarou que “o pecado não terá domínio sobre [nós]; pois não [estamos] debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6:14).
Perguntas para discussão
1. Podemos ter certeza de que o fato de não estarmos mais “debaixo da lei” não resultará em desobediência?
2. Como você explicaria, com base em Romanos, que estar “debaixo da graça” significa que o domínio do pecado foi interrompido?
Aplicação
Para o professor: Embora a terminologia velho versus novo seja comum no meio acadêmico, ela não tem sido usada amplamente na literatura leiga. Para evitar equívoco e desânimo, reforce a ideia de que, embora vivamos debaixo da “graça”, o “velho homem” ainda nos tenta e incomoda por meio do nosso corpo “mortal”.
Perguntas para aplicação
1. Quais verbos em Romanos 6 demonstram que ainda temos a responsabilidade de ficar dentro da realidade do “novo homem”, na qual a graça reina por meio da justiça? (Rm 5:21)
2. Segundo Romanos 6, ser um servo da justiça é um fardo ou um privilégio? Explique.
Criatividade e atividades práticas
Para o professor: O segredo para ler Paulo é pensar como ele o máximo possível. Para conseguir isso, motive os alunos a abandonar ideias preconcebidas durante a próxima atividade.
Atividade: Em geral, Paulo escreve usando contrastes. Em um quadro ou folha de papel, trace duas colunas. Em uma delas, escreva o título Velho Homem, e na outra, Novo Homem. Com base em Romanos 2–8, adicione eventos, experiências ou qualidades que caracterizam cada experiência. (Como alternativa, esse exercício pode ser conduzido como uma discussão, sem o auxílio dos materiais).
Planejando atividades: O que sua classe pode fazer na próxima semana como resposta ao estudo da lição?
Uma caminhada pelo cemitério
Quando era adolescente, Surayo frequentou a Igreja Adventista do Sétimo Dia durante dois anos, a convite de um vizinho no Tajiquistão. Mas aos 18 anos, parou de frequentar e se esqueceu de Deus, enquanto investia em sua carreira como enfermeira. Então, ela se casou, mas o casamento não trouxe a felicidade que Surayo esperava. Seu esposo era um jogador compulsivo, usava drogas e frequentemente a agredia.
Durante um momento de tristeza, Surayo encontrou a Bíblia que tinha ganhado de um adventista havia alguns anos. Ela abriu a Bíblia aleatoriamente, e seus olhos se depararam com o texto de Isaías 5:4. Ela leu o verso inúmeras vezes: “Que mais se poderia fazer por ela que eu não tenha feito? Então, por que só produziu uvas azedas, quando eu esperava uvas boas?” (NVI).
Lágrimas encheram seus olhos, pois percebeu que ela era a “vinha” preparada por Deus, mas havia falhado com o Senhor. Ela orou: “Deus, se eu devo continuar com meu esposo, por favor, faça com que ele pare de me bater. E permita que adoremos juntos ao Senhor. Mas se Tu desejas que eu o deixe, prepare uma forma pacífica para que eu faça isso. Eu O seguirei, Senhor.”
Logo após a oração, Surayo disse ao marido: “Amo outra pessoa mais do que a você. Ele é mais que uma pessoa para mim.”
O esposo a interrompeu triunfantemente: “Eu sabia que havia outra pessoa!”
“Não, não é isso que você está pensando”, Surayo disse. “Eu amo a Jesus, e quero que você também O ame.”
“Você deve amar Maomé”, o marido respondeu. “Ele é o nosso profeta, não Jesus.”
“A questão não é sobre quem é um profeta”, Surayo disse. “Jesus é mais que um profeta. Ele é o nosso caminho para a salvação.”
Decisão perigosa
Alguns dias depois, o marido, drogado, perdeu muito dinheiro em um jogo de apostas. Ele achou que seria melhor ir para a cadeia do que enfrentar a vergonha de não conseguir pagar a dívida. Então, decidiu matar Surayo. Ele a convidou para uma caminhada tarde da noite. A lua estava tão bonita que ela não percebeu para onde estavam caminhando. Surayo ficou surpresa ao perceber que estavam dentro de um cemitério. Ela sentiu algo cortante e frio em seu pescoço – uma faca! Seu esposo tentou cortar o pescoço dela com uma faca!
Surayo agarrou seu braço e disse: “Por que você quer me matar? Não vale a pena ir para a prisão por minha causa.”
O casal lutou, e vários dedos de Surayo foram cortados até o osso. “Jesus, salve-me!”, ela gritou. “Impeça-o!” Então, ela perdeu a consciência. Quando acordou, algumas horas depois, estava em sua cama. Seu esposo a havia trazido para casa.
Imediatamente, ela disse que não continuaria a viver com ele. O marido não resistiu, e o casal se separou. Fazia uma semana que Surayo tinha prometido seguir a Jesus se Ele a ajudasse a ter um divórcio pacífico. Mas ela havia se esquecido da promessa que tinha feito.
Surayo alugou um apartamento e encontrou um emprego para trabalhar como enfermeira no turno da noite em um hospital. Então se lembrou da promessa que tinha feito a Deus. Ela começou a orar: “Senhor, se queres que eu Te siga, mostra-me a igreja à qual devo me unir para Te adorar. Qual é a verdadeira, onde Tu estás?”
Ônibus errado
Certa manhã de sábado, após o trabalho, sem perceber, Surayo entrou no ônibus errado. Ela não notou seu engano até que o ônibus chegasse ao ponto final. Olhou ao redor, tentando encontrar o rumo. Então, deparou-se com uma igreja adventista à sua frente. Ela percebeu que não havia entrado no ônibus errado por acidente. Deus a conduzira ao lugar em que estava acontecendo um culto da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Era sábado de manhã, e o culto estava apenas começando. Surayo entrou e percebeu que esse era exatamente o lugar no qual Deus queria que ela estivesse. Nunca mais ela saiu da igreja.
Parte da oferta deste trimestre será destinada a programas de evangelização no Tajiquistão,
um país com 8 milhões de pessoas, mas apenas 204 adventistas. Obrigado por se lembrarem do Tajiquistão em suas orações e por meio das ofertas missionárias da Escola Sabatina.
Leia mais sobre Surayo no site da Missão Adventista (bit.ly/Jesus-in-Tajikistan) e na história infantil sobre ela na página 22 do Informativo dos Menores.
Resumo missionário
• O Tajiquistão é um país montanhoso e sem litoral na Ásia Central. A maioria das pessoas que moram lá é da etnia tajique e falam tajique, um dialeto persa.
• Por terem feito parte da União Soviética por 70 anos, muitos tajiques também falam russo.
• Cerca de 70% da população é composta de jovens com menos de 30 anos de idade.
• O esporte nacional é o gushtigiri, uma forma da luta livre tradicional.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 4º trimestre de 2017
Tema geral: Salvação somente pela fé: o livro de Romanos
Lição 7: 11 a 18 de novembro
Vencendo o pecado
Autor: Pr. Clacir Virmes Junior, professor de Teologia na FADBA – Cachoeira, Bahia.
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Introdução
Em essência, toda a explicação de Paulo em Romanos 4 e 5 mostram que a única solução para o pecador é ser justificado. E essa justificação é gratuita, dada pela graça, mediante a fé, independentemente das obras da lei. Tendo explicado sua tese de forma tão extensa, o apóstolo entendeu que alguns poderiam distorcer suas palavras, chegando a uma conclusão completamente diferente daquela que ele pretendia. Por um lado, poderia haver um desprezo pelo papel da lei na vida do cristão; por outro lado, as pessoas poderiam pensar que as promessas da graça seriam, na verdade, prenúncio de uma impecabilidade que só poderá se manifestar na glorificação. Os dois extremos são perigosos. No capítulo 6 de Romanos, Paulo tentou colocar esses temas na sua devida proporção e lugar.
Onde o pecado abundou
Paulo começou justamente com a pergunta que provavelmente rondava a mente de seus leitores diante do capítulo 5 de Romanos: “Permaneceremos no pecado para que a graça seja mais abundante?” (Rm 6:1). O próprio apóstolo respondeu: “De modo nenhum!” (Rm 6:2). Essa expressão é a tradução da locução grega me genoito, que aparece com muita frequência em Romanos (3:6, 31; 6:2, 15; 7:7, 13; 9:14; 11:1, 11) e em outras cartas de Paulo (1Co 6:15; Gl 2:17; 3:21). Embora seja traduzida por diferentes expressões, a ideia por trás dessas palavras é uma negação categórica, um repúdio absoluto do pensamento colocado pela pergunta que antecede a expressão. Aqui, em resposta à pergunta “continuaremos pecando para receber mais graça?”, Paulo respondeu enfaticamente: “Não”, “de jeito nenhum”, “absolutamente não”.
Em outras palavras, o apóstolo disse que sua teologia não endossa a ideia de que não se espera mudança de vida na experiência dos salvos. Pelo contrário, é esperada uma transformação radical. Isso pode levar alguns a se perguntarem: o que muda em nossa relação para com o pecado uma vez que, embora o poder de Cristo nos liberte do domínio do pecado, a natureza pecaminosa ainda habita em nós? Uma ilustração talvez ilumine nosso entendimento. Conta-se que uma jovem estava se preparando para seu batismo e estava sendo entrevistada por um dos líderes de sua igreja. “Você tinha uma vida de pecado antes de conhecer Jesus?”, perguntou ele. “Sim”, respondeu a moça, cabisbaixa. “Depois de conhecer Jesus, você cometeu algum pecado?”, insistiu o líder. “Alguns”, ela respondeu, ainda sem levantar os olhos. “O que mudou, então?”, disse ele, tentando discernir a fisionomia da candidata. Ao ouvir a pergunta, a moça levantou o olhar e pensou por alguns instantes. Finalmente, disse: “Antes de conhecer Jesus eu corria atrás do pecado. Agora, eu corro para longe do pecado; mas, de vez em quando, ele ainda me alcança”. Paulo desenvolveu ainda mais esse ponto através da metáfora do reino.
Quando o pecado reina
Em Romanos 6:12, o apóstolo admoestou: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal”. Essas palavras sugerem, em primeiro lugar, que é possível ser dominados pelo pecado. Ele não afirma que o pecado não pode reinar, tomar o controle de nossa vida. Ao contrário, ele incita seus leitores a não permitir que isso aconteça. Esse convite é um antídoto para a ideia de que não é preciso perseverar na salvação e santificação. Paulo está dizendo que, por mais que a graça nos tenha perdoado, se não houver, dia a dia, companheirismo com o Senhor, podemos permitir que o pecado, que foi expulso da nossa vida, ganhe, pouco a pouco, o território de onde foi banido.
Em Romanos 6:13, o apóstolo retomou o tema da ressurreição, que ele havia discutido nos primeiros versos do capítulo. Ele exortou seus leitores a que não retrocedessem em sua vida cristã, uma vez que foram ressuscitados dentre os mortos, isto é, receberam uma nova vida em Cristo. Seu corpo, agora, pertence ao Senhor. A vida deles é a vida de Cristo.
Não debaixo da lei, mas da graça
Em Romanos 6:14, encontramos a famosa declaração paulina: “não estais debaixo da lei, e sim da graça”. Significaria isso que a lei moral foi abolida? Pense por um instante no contexto em que essas palavras foram escritas. Nos versos imediatamente anteriores o apóstolo conclamou seus leitores a não permitir que o pecado dominasse sua vida. Como eles poderão saber se isso está acontecendo? Obviamente, através da lei, como Paulo argumentou em Romanos 3:20, ao dizer que a lei revela plenamente o que é o pecado, e em 3:31, ao afirmar que a graça não anula a lei, mas a confirma.
Então, o que significa a expressão “não estais debaixo da lei”? Há pelo menos duas possibilidades que parecem mutuamente excludentes, mas se complementam. Em primeiro lugar, a expressão “debaixo da lei” pode significar estar sob sua maldição. Uma vez que fomos justificados pela fé (esse é o ponto no contexto de Romanos 6), a lei não nos condena mais; estamos sob a graça de Deus. Isso, como temos visto repetidas vezes, não significa que a função prescritiva da lei, a lei como estilo de vida dos filhos de Deus, tenha deixado de existir.
Outra possibilidade é que a expressão “debaixo da lei” significa não ter mais a lei como meio de justificação. Paulo estaria dizendo que, uma vez que é a graça que nos salva, não a lei, o pecado não mais terá domínio sobre nós. Uma vez que a função da lei é mostrar o pecado e pintá-lo em suas verdadeiras cores, aqueles que estão “debaixo da lei” têm sua vida dominada pelo pecado, uma vez que a lei não pode salvá-lo. Mas para aqueles que estão “debaixo da graça”, é Deus quem os salva pela graça, deixando-os livres do domínio do pecado para viver em obediência a Deus.
Pecado ou obediência?
O apóstolo inicia o verso 15 com a pergunta que devia estar rondando a cabeça de seus leitores e, ainda mais, de seus opositores: se não estamos debaixo da lei (ou seja, se a lei não é a maneira pela qual nos salvamos, e se já estamos livres de sua maldição), e sim da graça, podemos viver da maneira que quisermos, sem levar em conta a vontade de Deus? Em resposta a essa questão, mais uma vez Paulo usou a expressão me genoito – de maneira nenhuma!
A primeira implicação do que o apóstolo disse nesses versos é que estar “debaixo da graça” não significa abandonar a lei. Ao contrário, os que estão debaixo da graça, obedecem à lei. Tanto o contexto anterior quanto o contexto posterior das expressões “debaixo da lei” e “debaixo da graça” mostram que, seja o que for que Paulo tivesse em mente com elas, elas não significam desprezo pela lei moral. Para o apóstolo, o escravo libertado, o cristão salvo pela graça, apenas muda de senhor. O pecado, que antes era seu dono, o escravizava e, por fim, o matava, perdeu o seu domínio, pois o Senhor o libertou, abençoou e ensinou a viver. Nas palavras de Hendriksen (2002, p. 204), “o oposto de pecado é obediência”.
Livres do pecado
O apóstolo contrasta a vida de escravidão no pecado com a nova vida sob o senhorio de Cristo. Se antes a mente e o corpo eram usados para transgredir a lei de Deus e para rebelar-se contra a vontade do Senhor, agora eles deveriam ser usados para a glória e honra de Deus. É interessante notar que Paulo diz que os membros, ou seja, nosso corpo, deve ser usado para o serviço. Nossas ações são feitas a outros, não mais para nós mesmos, porque o pecado, cujo traço mais básico é o egoísmo, foi perdoado e abandonado; agora, somos livres para servir as pessoas e a Deus.
O resultado final de estar debaixo da lei ou debaixo da graça é dado no verso 23. No fim, quando o pecado se apodera de nossa vida, apenas nos escraviza, machuca e, por fim, mata. Paulo está dizendo que o pecado também tem uma recompensa e ela é merecida, é nosso salário. O problema é que essa recompensa é a morte. E nenhum de nós quer isso.
Contudo, o “dom gratuito de Deus”, diz o apóstolo, “é a vida eterna”. A expressão “dom gratuito” vem do grego charisma, cuja ideia principal é a de um presente dado a alguém. Ninguém trabalha por um presente. Ele não é algo merecido. O presente é uma dádiva. Não precisamos nos esforçar para recebê-lo, necessitamos apenas aceitá-lo. Assim é a graça de Deus. Não há nada em nós para merecê-la, ela é um presente, uma dádiva. Só podemos, se quisermos, aceitá-la.
Conclusão
John Stott (2001, p. 185) resume a ideia principal de Paulo no encerramento do capítulo 6 de Romanos: “Eis o paradoxo – escravidão é liberdade, liberdade é escravidão. Quando queremos liberdade sem um relacionamento com Deus acabamos nos tornando escravos do pecado. Porém, quando escolhemos servir ao Senhor e nos submetemos aos Seus reclamos, tornamo-nos verdadeiramente livres. Pense na seguinte ilustração: o que é mais libertador, o que realmente garante seu direito de ir e vir – andar com seu carro, numa rodovia, do lado direito ou do lado esquerdo? Optar pelo lado esquerdo da pista pode dar uma falsa sensação de liberdade; contudo, mais cedo ou mais tarde, o resultado será inevitável: um veículo vindo em sentido oposto provavelmente tirará de você e de quem estiver ao seu lado a capacidade não apenas de ir e viver, mas também de viver. Contudo, se você optar por submeter-se à regra e andar sempre na faixa da direita, aparentemente você perde sua liberdade; mas, na verdade, você garante seu bem-estar e o seu direito de ir aonde desejar. Viver sob os reclamos da perfeita lei de Deus é ter a verdadeira liberdade.
Referências:
HENDRIKSEN, William. Exposition of Paul's Epistle to the Romans. Grand Rapids: Baker Book House, 2002. 533 p. (New Testament Commentary).
STOTT, John. The Message of Romans: God's Good News for the World. Leicester; Downers Grove: InterVarsity Press, 2001, p. 432. (The Bible Speaks Today). [STOTT, John. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 2000, p. 528. (A Bíblia Fala Hoje)].