Não muito tempo atrás, um jarro de cristal foi leiloado no Reino Unido. Os leiloeiros o descreveram como um “jarro francês bordô do século 19” e estimaram seu valor em 200 dólares. Dois arrematadores perspicazes reconheceram o jarro como um utensílio islâmico extremamente raro. Qual era seu verdadeiro valor? Cerca de 6,5 milhões de dólares. O que fez com que o arrematador fosse embora com tal pechincha? Ele sabia de algo que o leiloeiro desconhecia: o verdadeiro valor do jarro.
Em Efésios 5:1-20, Paulo comparou o que pagãos e crentes valorizam. Os pagãos consideravam conversas indecentes (Ef 5:4), festas com bebedeira (Ef 5:18) e sexo pervertido (Ef 5:3, 5) os grandes tesouros da vida. Os crentes, porém, sabem que um dia de juízo final se aproxima, quando o verdadeiro valor de todas as coisas se tornará aparente (Ef 5:5, 6). Em vez de investir em festas e embriaguez, eles valorizam, entre outras coisas, “bondade, justiça e verdade” (Ef 5:9) em Cristo. Paulo, assim, instou os crentes a arrematar as pechinchas encontradas em Cristo enquanto vivem (como todos nós) no limiar da eternidade (Ef 5:15-17).
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1. Em que sentido os crentes deviam ser “imitadores de Deus”? Ef 5:1, 2
Paulo instou os crentes a viver em amor, um chamado importante para essa seção (Ef 5:8, 15). A vida em amor (Ef 5:2) devia ser moldada segundo o amor de Cristo por nós (Ef 4:32), expresso em Seu sacrifício expiatório. Paulo afirmou quatro coisas sobre esse sacrifício: 1. Foi motivado tanto pelo amor de Deus Pai quanto pelo próprio Cristo (Ef 5:1, 2); 2. É substitutivo, isto é, Cristo morreu em nosso lugar. Ele não foi uma vítima passiva, mas Se entregou por nós; 3. À luz dos símbolos do serviço do santuário do AT, a morte de Cristo também é um sacrifício feito a Deus; 4. O sacrifício foi aceito, pois é “oferta e sacrifício de aroma agradável” (Êx 29:18; Lv 2:9; Fp 4:18).
Efésios 5:3-5 introduz uma seção que expressa preocupação com a ética sexual. Os jovens convertidos em Éfeso corriam o risco de recuar de seu chamado cristão e ser atraídos de volta para o comportamento sexual que negaria o testemunho cristão (1Co 5:1-11; 6:12-20; 2Co 12:21).
Por um lado, o mundo greco-romano do primeiro século exibia a corrupção e a perversão moral descritas em outros lugares do NT (1Co 6:9, 10; Gl 5:19-21; Ef 4:17-19; Cl 3:5). Por exemplo, os banquetes dos ricos regularmente exibiam os comportamentos que Paulo censurou em Efésios 5:3-14: embriaguez, linguagem grosseira, entretenimento indecente e atos imorais. Além disso, os centros urbanos proporcionavam anonimato e permissividade que fomentavam práticas sexuais imorais. Por outro lado, muitos nessa sociedade levavam vidas virtuosas e eram defensores da moralidade estrita. Quando o NT apresenta listas de vícios ou virtudes e códigos familiares (Ef 5:21–6:9; Cl 3:18–4:1), seus autores refletem os temas do mundo greco-romano mais amplo, que era ao mesmo tempo pervertido e virtuoso. Isso ajuda a explicar as exortações de Paulo para se evitar o comportamento imoral praticado pelos gentios. Ao mesmo tempo, ele instruía os crentes a ser prudentes em seu comportamento, de forma a obter boa reputação entre os incrédulos.
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Paulo escreveu: “Não se deixem enganar com palavras vazias, porque a ira de Deus vem sobre os filhos da desobediência por causa dessas coisas” (Ef 5:6).
O apóstolo identificou o que pratica vários pecados sem arrependimento nem vergonha como “pessoa imoral, impura ou avarenta” e fez uma avaliação direta: os que estão em Cristo e destinados a participar de Seu futuro Reino não devem agir como aqueles que não estão (Ef 5:5). Em seguida, demonstrou preocupação com o efeito de “palavras vazias”; ou seja, os crentes podem ser enganados por linguagem explícita a pensar que o pecado sexual não é tabu ou podem até mesmo ser atraídos para tais pecados. Quem é enganado assim corre o risco do juízo final de Deus (Ef 5:6).
A expressão “a ira de Deus” é desafiadora. Ira ou raiva de Deus sugere um contraste com a variedade humana temperamental habitual (Ef 4:31). É a resposta devida de um Deus paciente e justo contra o compromisso obstinado com o mal, não uma reação explosiva e enlouquecida a alguma infração menor. Além disso, as menções à ira divina ocorrem com mais frequência no contexto de advertências bíblicas inspiradas sobre a proximidade dos juízos divinos (Ap 6:12-17; 16:1-16; 19:11-16). Deus adverte sobre seus próprios juízos vindouros – um ato de graça, visto que os seres humanos são “por natureza filhos da ira” (Ef 2:3), sujeitos a esses juízos.
2. Por que Paulo exortou os crentes a não ser “participantes” com os pecadores ou “cúmplices” deles? Ef 5:7-10
Paulo exortou: “vivam como filhos da luz” (Ef 5:8) e seguiu com um novo preceito: “tratando de descobrir o que é agradável ao Senhor” (Ef 5:10). O pagão busca o prazer através da “imoralidade sexual e toda impureza ou avareza” (Ef 5:3). O objetivo do crente é dramaticamente distinto: não agradar a si mesmo, mas a Deus (Rm 12:1; 2Co 5:9; Hb 13:21; esses textos usam a mesma palavra grega, euarestos, “agradável” ou “aceitável”). O crente busca refletir o autossacrifício de Cristo (“vivam em amor, como também Cristo nos amou e Se entregou por nós”; Ef 5:2).
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3. Qual foi o aviso de Paulo, e como ele se aplica hoje? Ef 5:11-14
Para entender Efésios 5:11-14, é útil observar que Paulo costumava fazer duas exortações alternadas: (1) tenha um estilo de vida honrado por Deus como “filhos da luz” (Ef 5:8; 5:1, 2, 4, 9-11, 13, 14); (2) não tenha uma vida sexualmente imoral e oposta a Deus, que mostre as “obras infrutíferas das trevas” (Ef 5:11; 5:3, 4, 5-8, 12).
Podemos analisar as exortações paralelas em Efésios 5:8-10 para entender Efésios 5:11. Os crentes devem viver diante dos incrédulos como “luz no Senhor” e “filhos da luz” (Ef 5:8). O objetivo de fazer isso é ser notado, para deixar claro que “o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5:9). Paulo defendia uma estratégia para mostrar a bondade divina. Os crentes deviam expor as obras infrutíferas das trevas exibindo a alternativa justa, para que todos vissem.
Podemos considerar a linguagem desafiadora e poética dos versos 13 e 14 como a afirmação ousada de Paulo de que os crentes, ao exibir “o fruto da luz” (Ef 5:9), podem ganhar mundanos para a fé em Cristo: “Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo o que se manifesta é luz” (Ef 5:13, 14). Quando a vida imoral é exposta pela luz, os mundanos podem ver seu comportamento pelo que ele é, pois suas obras “se tornam manifestas”. Ao perceber que seu caminho é sem futuro e sujeito à ira (Ef 5:5, 6), podem experimentar uma transformação da escuridão para a luz (“porque tudo o que se manifesta é luz”), a mesma transformação que os efésios experimentaram como crentes (Ef 5:8).
O que pensar quanto ao poema ou hino em Efésios 5:14 que usou a linguagem associada à ressurreição dos mortos no fim dos tempos (Ef 2:1, 5) para fazer um chamado claro, a fim de que os crentes despertassem do sono espiritual e experimentassem a presença transformadora de Cristo? Uma vez que Isaías 60:1-3, passagem à qual Paulo faz alusão, foi direcionada a Israel, consideramos o hino de Efésios 5:14b um apelo para que os cristãos despertassem em seu papel como missionários, que refletem a luz de Cristo em um mundo escuro (Fp 2:14-16; Mt 5:16).
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Paulo concluiu Efésios 5:1-20 com dois conjuntos de exortações (Ef 5:15- 17; 5:18-20), completando uma seção voltada para a pureza sexual. O primeiro conjunto começa com a exortação: “Portanto, tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios” (Ef 5:15), e reafirma: “não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor” (Ef 5:17). Entre essas exortações está um conselho para aproveitar bem o tempo (Ef 5:16).
4. Devemos viver refletindo a sabedoria criteriosa (Ef 5:15-17). Qual é a diferença entre o tolo e o sábio? O que significa “aproveitar o tempo”?
Paulo usou a metáfora comum do AT de “andar” para indicar a maneira de viver (Ef 2:2, 10; 4:1, 17; 5:2, 8). Ele usou essa metáfora para encorajar o discipulado intencional. Assim como você deve “observar onde pisa” ao caminhar num lugar desnivelado ou escuro, os crentes devem ter cuidado com sua maneira de viver (Ef 5:15). Como Efésios 5:15 tem um paralelo com Efésios 5:17, vemos ali uma definição do que é viver como sábios. Não buscamos sabedoria no nosso interior. Ser sábio é ir além de si mesmo, “procurar compreender qual é a vontade do Senhor” (Ef 5:17).
Paulo também incentivou o discipulado intencional com a imagem de “[aproveitar] bem o tempo” (Ef 5:16; ou “[aproveitar] ao máximo cada oportunidade”, NVI). Paulo usou o verbo exagoraz? (Cl 4:5), extraído da linguagem comercial, sendo uma forma abrangente do verbo “comprar”, e significa “comprar as pechinchas” enquanto aguardamos o retorno de Cristo. “Tempo” vem de kairos, que descreve uma oportunidade. O “tempo” até o fim é um período a ser aproveitado ao máximo. É um momento desafiador, porque “os dias são maus” (Ef 5:16; 6:13; Gl 1:4) e porque “o curso deste mundo” é dominado pelo “príncipe da potestade do ar” (Ef 2:2).
Enquanto aguardamos a volta de Cristo, vivemos em um tempo difícil, como um mercado perigoso, mas recompensador. Devemos estar atentos ao uso do tempo como caçadores de pechinchas em períodos de ofertas com descontos. Não podemos comprar a salvação, mas devemos tomar prontamente o que Cristo nos oferece.
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5. Como Paulo descreveu os cristãos reunidos em adoração? Ef 5:18-20
Em seu argumento final em Efésios 5:1-20, Paulo instou os crentes a se afastar do uso entorpecente do vinho e, em vez disso, experimentar juntos a presença e o poder do Espírito. Ele proibiu a embriaguez (provavelmente com uma citação de Pv 23:31 na versão grega do AT), sugerindo ter em mente as regras contra o uso de álcool descritas na literatura de sabedoria (Pv 20:1; 23:29-35). As coisas más que resultam da embriaguez incluem linguagem grosseira, indecência, insensatez, imoralidade e idolatria (Ef 5:3-14). Tudo isso deve ser substituído por adoração meditativa, inspirada no Espírito de Deus. A exortação de Paulo a deixar-se encher com o Espírito é essencial, qualificada por diversos verbos: “falar”, “cantar e louvar”, “agradecer”, “se sujeitar” (Ef 5:19-21).
Paulo aplicou essa exortação de “ser preenchido com o Espírito” (Ef 5:18) de forma coletiva, imaginando crentes reunidos na adoração inspirada no Espírito de Deus, que alimenta a unidade (Ef 4) e que contrasta com o comportamento e com o culto egocêntrico dos pagãos (Ef 5:1-18). Nesse esboço da adoração cristã primitiva, o louvor musical domina. Argumenta- se que a igreja nasceu em canção; e essa passagem, bem como Colossenses 3:16, apresenta a melhor evidência para essa afirmação (compare com At 16:25; Tg 5:13).
Há um elemento “horizontal” na adoração, uma vez que, ao cantar, os membros da igreja estão, em certo sentido, falando uns com os outros (Ef 5:19). No entanto, o objeto específico do louvor musical é o Senhor, que, como indicado em Efésios 5:20, refere-se ao “nosso Senhor Jesus Cristo” (compare com Cl 3:16). A ação de graças de Efésios 5:20, descrita paralelamente ao louvor musical de Efésios 5:19, deve ser oferecida “a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Na expressão “cânticos espirituais”, o adjetivo “espiritual” (grego, pneumatikos) destaca o papel do Espírito Santo na adoração, uma vez que o termo descreve canções inspiradas no Espírito Santo ou cheias do Espírito. Portanto, o esboço que Paulo fez da adoração cristã primitiva retrata os três membros da Divindade como participantes ativos.
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Em Efésios 5:1-20, Paulo assumiu uma postura firme contra o pecado, especialmente a imoralidade sexual e a linguagem grosseira. Ele não estava disposto a aceitar comportamento imoral na igreja. Ele chamou os efésios a exibir alto padrão de conduta e a abraçar sua identidade como “filhos amados” de Deus e como “santos” (Ef 5:1-10). Acreditava que, quando os cristãos fazem isso, a luz brilha na escuridão, atraindo os incrédulos do estilo de vida autodestrutivo para a graça e a verdade (Ef 5:11-14).
Paulo imaginou a igreja impulsionada por um compromisso renovado de “viver como filhos da luz”, enquanto aguarda o retorno de Cristo (Ef 5:8, 15, 16), e abençoada pela presença Dele (Ef 5:14), reunindo-se para adorar. Motivados por seu status de “filhos amados” de Deus e pela morte de Cristo por eles (Ef 5:1, 2) e cheios do Espírito (Ef 5:18), sua adoração compartilhada caracteriza-se pela energia e alegria enquanto cantam em ação de graças a Cristo e ao Pai. Com um sólido entendimento das realidades celestiais, eles celebram sua esperança para o futuro, com base no que Deus fez, faz e fará por meio de Jesus, seu Senhor (Ef 5:18-20).
Entendida assim, a passagem se torna muito mais do que um conjunto de ordens desconectadas sobre a vida cristã. Torna-se um chamado profético sobre a identidade cristã, o compromisso, a comunidade e a adoração nos últimos dias, um convite cheio de ternura para “adquirir as pechinchas” em oferta até o retorno de Cristo (Ef 5:16).
Perguntas para consideração
- A atual cultura viral prega seus valores 24 horas por dia, 7 dias da semana, 365 dias por ano nas mídias prejudiciais. Como adotar os altos padrões de Paulo?
- Como os crentes da atualidade podem “descobrir o que é agradável ao Senhor” (Ef 5:10) e “compreender qual é a vontade do Senhor” (Ef 5:17)?
- A proibição de falar de imoralidade sexual entre os crentes (Ef 5:3, 4) significa que não devemos lidar com questões de comportamento sexual impróprio e abusivo?
- A sociedade atual reflete práticas pagãs com as quais Paulo lidava em sua época?
Respostas e atividades da semana: 1. No sentido de que deviam viver em amor, segundo o amor abnegado de Cristo por nós. 2. Porque devemos viver como filhos da luz, e não da ira. O objetivo do crente não é agradar a si mesmo, mas a Deus. 3. Devemos viver de modo aceitável a Deus como “filhos da luz” e exercer um papel missionário que reflita a luz de Cristo neste mundo escuro, especialmente no contexto atual, cheio de imoralidade e cada vez mais afastado de Deus. 4. O tolo segue as inclinações carnais; o sábio busca a vontade de Deus e a cumpre. Não devemos desperdiçar o tempo, mas aproveitar o que Cristo nos oferece. 5. Cheios do Espírito, falando com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando com o coração ao Senhor, dando sempre graças a nosso Pai, em nome de Jesus.
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TEXTO-CHAVE: Efésios 5:15-17
FOCO DO ESTUDO: Ef 5:1-20; 1Co 5:1-12; Ap 16:1-16; Cl 4:5; Pv 20:1; Pv 23:29-35; At 16:25
VISÃO GERAL
Introdução: A visão de mundo e a identidade determinam valores e sabedoria. Uma cosmovisão pagã desenvolverá certo conjunto de valores e um certo tipo de sabedoria. O reino de Deus, Sua cosmovisão e Seus valores geram um tipo totalmente diferente de sabedoria. Por essa razão, Paulo não chama os cristãos a abraçar a sabedoria de uma das escolas filosóficas equilibradas nem a imitar o orgulho greco-romano na luta pela virtude. Ao contrário, em sua opinião, a sabedoria cristã está enraizada no amor sacrifical de Deus, na luz e na moralidade pura de Cristo. O cristão sábio fugirá da sabedoria do mundo, que se expressa na devassidão sexual que tudo consome, na ostentação egocêntrica e no vício de beber vinho. Em vez disso, o cristão sábio acordará do “sono” do mundo, será iluminado pelo evangelho de Cristo, será fortalecido pela presença do Espírito Santo, agarrará a oportunidade da salvação e adorará a Deus!
A diferença entre a sabedoria deste mundo e a sabedoria de Deus consiste em compreender quem é o objeto da adoração: Deus ou o eu? Quem está no centro: Deus ou a pessoa? De quem ela está cheia: de si mesma ou de Deus?
Temas da lição: O estudo desta semana enfatiza três temas principais:
- A sabedoria cristã está enraizada na revelação de Deus ou na luz de Cristo;
- A sabedoria cristã não é uma coleção de declarações engenhosas sobre a vida. Pelo contrário, é um estilo de vida, um modo de viver transformado pelo Espírito Santo de acordo com o padrão que nos foi deixado em Cristo;
- A sabedoria cristã está relacionada com salvação e adoração.
COMENTÁRIO
A sabedoria que vem de cima
É quase impossível pensar em Paulo escrevendo sobre aspectos práticos da vida cristã e não incluindo a sabedoria em sua argumentação. O mundo antigo estava mergulhado em conversas sobre sabedoria. Apenas alguns séculos antes de Paulo, os gregos deram origem ao que chamavam de “filosofia”, isto é, o amor pela sabedoria. A filosofia se rebelou contra a sabedoria mitológica grega antiga, na qual Zeus, Métis (primeira esposa de Zeus), Atena (sua filha) e Apolo estavam associados à sabedoria de diferentes maneiras. Todos esses deuses eram consultados por seres humanos, tornando-se patronos de várias cidades ou grupos de pessoas. Por exemplo, acreditava-se que as pessoas que buscavam sabedoria em várias áreas da vida podiam acessar a mente ou o conhecimento do deus grego Apolo por intermédio de Pítia, a sacerdotisa do templo desse deus, também conhecido como oráculo de Delfos. Contudo, além de buscar a sabedoria de Pítia, o visitante do templo de Apolo poderia ser recebido e educado por várias máximas que constituíam a sabedoria délfica, das quais três eram as mais populares: “Conhece-te a ti mesmo”, “nada em excesso” e “a certeza leva à ruína”. Outras máximas ensinavam o modo de vida grego, desde o respeito aos deuses até a condução de uma vida ética e o sacrifício da vida pela pátria.
Embora os filósofos, ou “amantes da sabedoria”, tenham rejeitado os aspectos mitológicos de sua antiga religião, eles se colocaram na linha de sucessão ao oráculo de Delfos. Por um lado, os filósofos afirmavam que Pítia havia declarado Sócrates como o homem mais sábio da Grécia. Por outro lado, os filósofos fizeram uso da sabedoria délfica, especialmente da primeira máxima, “conhece-te a ti mesmo”.
Por essa razão, a filosofia grega determinou e moldou o objetivo subsequente do pensamento ocidental de buscar a sabedoria apelando para a razão humana. A mesma razão humana foi usada como fundamento para a ética ou para o estilo de vida grego. Outras filosofias, especialmente no Oriente, construíram-se sobre o mesmo fundamento da humanidade. O budismo, por exemplo, é uma proposta de um estilo de vida centrado na experiência humana e na psicologia. Apesar da rica diversidade de escolas filosóficas, tanto no Ocidente quanto no Oriente, todas compartilham de um fundamento comum: o princípio “conhece-te a ti mesmo”. Esse princípio mostra que essas filosofias representam um esforço centrado no ser humano para entender a realidade suprema da vida e, assim, pressupõem um estilo de vida, um processo de tomada de decisão e um comportamento fundamentados na introspecção e na razão humanas. Ao fazer isso, a sabedoria humana, tanto no Ocidente quanto no Oriente, rejeitou ou se afastou da revelação divina.
Por outro lado, a característica fundamental da sabedoria bíblica é que ela está enraizada na revelação divina. Tanto Paulo quanto Tiago mencionam características da sabedoria que outros filósofos também promovem: tranquilidade, equilíbrio, moderação, justiça, etc. Contudo, Tiago caracterizou a sabedoria cristã como vinda “lá do alto” (Tg 3:17), e não “terrena, animal e demoníaca” (Tg 3:15). Paulo desenvolve o mesmo contraste entre a sabedoria cristã e a sabedoria mundana apelando para os conceitos de luz versus escuridão. Por isso, ele adverte os efésios para que não sejam enganados “com palavras vazias” (Ef 5:6) ou com as “obras infrutíferas das trevas” (Ef 5:11), pois ser enganado por essas coisas é ser insensato.
Por que Paulo caracteriza a sabedoria do mundo de maneira tão sombria? Os filósofos do mundo também não receberam bons conselhos, ensinando um estilo de vida com base na justiça e no respeito mútuo? Sim, muitos deles. No entanto, por mais nobre que fosse o estilo de vida que a filosofia humana pudesse conceber, ele sempre seria deficiente, parcial e fundamentado na motivação errada, rejeitando a possibilidade da revelação de Deus. O problema das filosofias mundanas não está no que elas afirmam, mas no que elas rejeitam ou negam. Um filósofo pode ter um aspecto da vida parcialmente correto, mas a rejeição da possibilidade da revelação de Deus e do poder de Sua intervenção no mundo torna sua filosofia inútil para a salvação e para a vida no reino de Deus.
É por isso que, por exemplo, a impureza sexual não era considerada um problema na ética da maioria das filosofias. E mesmo que alguns filósofos promovessem a abstinência sexual, as razões para isso estavam erradas.
Ellen G. White observa: “Muitas ações que passam por boas obras, mesmo atos de beneficência, se analisados rigorosamente, terão de ser considerados como induzidos por motivos errados. Muitos recebem aplausos por virtudes que não possuem. Aquele que sonda os corações vê os motivos, e, muitas vezes, os próprios atos que são vivamente aplaudidos pelas pessoas são por Ele registrados como provindos de motivos egoístas e hipocrisia maldosa. Cada ato de nossa vida, excelente e digno de louvor ou merecedor de censura, é julgado por Aquele que conhece os corações de acordo com os motivos que o induziram” (Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2021], v. 2, p. 416).
Por outro lado, as palavras deles são “vazias” porque essas filosofias não têm o poder da graça, da redenção, do perdão ou do Espírito para nos transformar e nos ajudar a andar no caminho de Deus. Em uma carta, Ellen G. White descreve a importância da motivação e da revelação em relação à verdade e à filosofia: “A fé em uma mentira não terá influência santificadora sobre a vida ou o caráter. Nenhum erro é verdade nem pode tornar-se verdade pela repetição ou por fé nele. A sinceridade nunca salvará alguém das consequências de crer em um erro. Sem sinceridade não há genuína religião, mas a sinceridade em uma religião falsa jamais salvará o ser humano. Posso ser perfeitamente sincera em seguir um caminho errado, mas isso não torna o caminho certo nem me levará ao lugar a que eu desejava chegar. O Senhor não quer que tenhamos cega credulidade e chamemos isso de fé que santifica. A verdade é o princípio santificador, e, portanto, cabe a nós conhecer o que é a verdade. Precisamos comparar as coisas espirituais com as espirituais. Precisamos provar tudo, mas reter somente aquilo que é bom, aquilo que apresenta as credenciais divinas, que põe diante de nós os verdadeiros motivos e princípios que nos prontificam à ação” (Mensagens Escolhidas [CPB, 2023], v. 2, p. 49).
Por esse motivo, a caminhada cristã que Paulo adotou é baseada na revelação de Deus em Cristo Jesus. Somente o Deus bíblico que nos criou pode nos revelar quem Ele é, quem somos e como podemos viver para ser felizes. Somente Deus pode nos dar a graça e o poder para viver essa vida em Seu Reino.
Luz que reflete a Luz
Em Efésios 5, Paulo não diz que os efésios estavam “em trevas”, mas que eles eram “trevas”. Entretanto, agora, “no Senhor”, eles são “luz” (Ef 5:8). Por isso, ele convida os efésios a andar “como filhos da luz” (Ef 5:8, ARA) e explica que andar na luz significa produzir o “fruto da luz”, “toda bondade, e justiça e verdade” (Ef 5:9, ARA), viver de forma “agradável ao Senhor” (veja Ef 5:10, ARA) e na luz de Cristo, iluminado por Ele (Ef 5:13, 14). Assim, somos luz “no Senhor” (Ef 5:8) porque somos iluminados por Cristo (Ef 5:14).
Teologia adventista do estilo de vida
Como adventistas, incluímos o estilo de vida em nossa lista de declarações doutrinárias. Seguindo Paulo, para nós, o estilo de vida não é secundário no cristianismo, mas parte central, ou seja, significa uma vida cristã coerente. Os adventistas expressam o ensino bíblico sobre o cristianismo como um estilo de vida em duas crenças fundamentais: a crença fundamental 19 (“A Lei de Deus”) e a crença fundamental 22 (“Conduta Cristã”). Além disso, o fato de que, em Cristo, consideramos nosso estilo de vida transformado como essencial para a experiência cristã também se reflete em nossa disciplina na igreja e em nossos frequentes apelos por reavivamento e reforma.
APLICAÇÃO À VIDA
- Peça aos alunos que se lembrem de como eles viam a sabedoria antes de se tornarem cristãos. O que era sabedoria para eles? Peça que escrevam sua definição pessoal de sabedoria agora que se tornaram cristãos verdadeiros. Peça-lhes que compartilhem a resposta com a classe.
- Solicite aos alunos que analisem as seguintes perguntas: O que significa “ser iluminado” e “andar na luz” em seu contexto local? Como esses conceitos se comparam à visão bíblica de “ser iluminado” e “andar na luz”? O que esses conceitos significam para você pessoalmente?
- Às vezes os cristãos são acusados de suprimir a sabedoria e impedir o desenvolvimento do conhecimento humano. Algumas pessoas acham que os cristãos são arrogantes e que desdenham da sabedoria do mundo. Como podemos apreciar a busca do mundo por sabedoria, aprendendo com a herança da sabedoria do mundo? Como ser humildes quanto à nossa própria sabedoria, recebida de Deus e não a nossa própria, e ainda pregar que Deus é a única e verdadeira fonte de sabedoria? Comente as respostas na classe.
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Libertando Prisioneiros
Ryszard - 19 de agosto
Christopher ficou muito desapontado quando foi com sua esposa a um encontro de evangelismo na Polônia. Sua esposa disse para ele que o pregador sempre mostrava um curto vídeo como parte da apresentação, mas dessa vez ele não mostrou. Christopher estava muito aborrecido.
Em casa, ele gritou xingamentos para sua esposa. E foi a gota d'água para ela. “Amanhã eu vou embora e vou levar as crianças”, ela disse. “Esta casa nunca ouviu nada positivo de você.” Antes de ir para a cama, ela olhou compassivamente para Christopher. “Eu nunca ouvi você orar”, disse ela. “Por que você não ora a Deus? Somente Ele pode mudar seu coração.”
Christopher amaldiçoou a sua esposa e foi para a cama. Mas ele não conseguia dormir. Mais tarde naquela noite, ele se levantou, foi para a cozinha e começou a conversar com Deus. “Eu não sei se Você existe, mas eu sou uma pessoa muito ruim”, disse ele. “Eu machuco minha querida esposa e meus filhos. Eu bebo álcool. Eu não quero viver assim. Você pode me ajudar?” Ele conversou com Deus por uns 30 minutos, mas não ouviu uma resposta.
|De manhã, Christopher pegou o ônibus para ir ao trabalho. No ônibus, ele encontrou amigos, e eles começaram a conversar. Eles sempre falavam palavrões, e essa não foi uma exceção. Mas, pela primeira vez, Christopher não gostou da linguagem deles. Ele se questionou o que havia de errado com ele.
No trabalho, Christopher e seus colegas de trabalho juntaram seu dinheiro, como de costume, para beber depois do trabalho. Mas Christopher não bebeu desta vez. Em vez disso, ele foi direto para casa. “Senhor, não permita que minha esposa se vá”, ele orou.
Em casa, sua esposa havia arrumado três malas e estava pronta para ir embora com as crianças.
“Querida, me dê mais uma chance”, disse Christopher. “Podemos recomeçar?”
Ela parou. “Tudo bem. Eu vou te dar mais uma chance”, disse ela.No dia seguinte, Christopher foi ao pregador nas reuniões evangelísticas. Entre baforadas no cigarro, ele disse: “Eu quero ser batizado. Minha esposa planeja ser batizada na sexta-feira, e eu quero me unir a ela”.
O pregador sabia que se ele recusasse, Christopher provavelmente jamais pediria para ser batizado novamente. Ele orou silenciosamente: “Meu Deus, o que o Senhor faria se Christopher pedisse a ao Senhor?”
“Eu sei que estou fumando”, disse Christopher. “Mas eu prometo que vou parar na sexta-feira.”
Na sexta-feira, Christopher disse: “Pastor, eu não fumo desde que acordei esta manhã”.
O pregador ficou pensando no que fazer. Ele se questionava quanto ao que os membros pensariam. Ele decidiu correr o risco e batizou Christopher com sua esposa.
O pregador se perguntava o que aconteceria em seguida. Ele não precisou esperar muito.
Não muito depois, Christopher confidenciou que teve problemas com a lei quando era jovem.
Ele disse que queria testemunhar para outros jovens na prisão.
O pregador havia nascido em uma família adventista e nunca havia tido contato com jovens prisioneiros. Ele não sabia o que fazer.
“Não se preocupe”, disse Christopher. “Eu posso pedir permissão para o guarda prisional para visitar.”
“Tudo bem, eu vou com você”, disse o pregador. Silenciosamente, ele orou: “Por favor, ajudeme. Eu não sei como agir perto de prisioneiros”.
O guarda disse firme e diretamente: “Você tem uma chance. Se seu sermão for chato e alguém mandar você parar, você não pode voltar”.
O pregador orou ainda mais: “Senhor, este é um grande desafio. Ajude-me”.
No dia do sermão, jovens vestidos com a mesma roupa encheram o local. Eles pareciam entediados. O pregador sentiu que precisava mudar seu sermão imediatamente.
Ele disse: “Amigos, vocês sabem por que eu vim aqui?” Então, ele apontou para Christopher.
“Porque esse homem era como vocês quando adolescente. Christopher, você pode vir aqui?”
Christopher se levantou. “Amigos, eu entendo vocês”, disse ele. “Eu morei aqui. Eu não fui o melhor adolescente. Eu fiz algumas coisas ruins. Uma vez eu tentei fugir desta prisão e olhem isso” — ele esticou os pulsos para mostrar cicatrizes de onde ele havia tentado cometer suicídio. “Mas, louvado seja o Senhor, alguém salvou minha vida. Hoje vim compartilhar boas-novas. Quando forem libertados da prisão, vocês podem fazer o que faziam antes ou podem mudar suas vidas e viver para Deus. Eu os convido a escolher Deus.”
Depois daquele dia, Christopher e o pregador visitaram a prisão muitas outras vezes. Até uma equipe de televisão polonesa os seguiu, e os jovens prisioneiros disseram à equipe: “Somos muito gratos aos adventistas do sétimo dia por nos visitar. Eles trouxeram a Bíblia para nós. Nunca tivemos a Bíblia antes. Estamos aprendendo sobre Jesus, salvação, perdão, e a oportunidade de começar uma nova vida”. As palavras dos prisioneiros encheram Christopher e o pregador de alegria.
“Isso foi muito importante para nós”, disse o pregador, Ryszard Jankowski. “Deus pode nos dar uma nova vida. Não importa o que você fez. Deus deu a Christopher uma nova vida, e Ele pode dar uma nova vida a você também.”
Obrigado por suas ofertas em 2017, pois elas ajudaram a construir um estúdio de televisão para a Hope Channel Polônia. O pregador nesta história, Ryszard Jankowski, é hoje o presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Polônia e é um orador regular no Hope Channel Polônia, filial local do Hope Channel Internacional.
Por Andrew McChesney
Dicas para a história
- Ryszard Jankowski se pronuncia: ri-TSARD YAN-kov-ski.
-Visite o site da Hope Channel Polônia (em polonês) em: hopechannel.pl.
-Baixe as fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
-Baixe publicações e fatos rápidos sobre a Divisão Transeuropeia: bit.ly/TED-2023.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2023
Tema geral: Efésios
Lição 9 – 19 a 26 de agosto
Vivendo com sabedoria
Autor: Matheus Cardoso
Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Rosemara Santos
Ideias principais
Em Efésios 5:1-20, Paulo destacou novamente que o evangelho – as boas notícias do que Deus fez por nós em Cristo (Ef 1–3) – é o grande fundamento para a vida na sociedade secular e na comunidade cristã. O amor do Pai ao entregar Seu Filho e o amor do próprio Cristo em Se sacrificar (Ef 5:1, 2) devem impulsionar toda a vida do cristão.
Um dos temais centrais dessa passagem é a nova identidade que Paulo identificou como “luz”, que se opõe às “trevas”. Com base nessa identidade, e como membros da nova comunidade criada por Deus (a igreja), os cristãos são chamados a se afastarem completamente dos estilos de vida associados ao pecado e a viver a vontade de Deus, no processo de crescimento em direção à maturidade em Cristo.
Texto-base da semana: Efésios 5:1-20
Antes do estudo da Lição da Escola Sabatina ou deste comentário, leia Efésios 5:1-20. Sugerimos uma tradução mais contemporânea da Bíblia, como a Nova Versão Internacional ou a Nova Versão Transformadora.
Notas de estudo
Para o estudo mais aprofundado do texto bíblico, sugerimos uma tradução mais literal, como a Nova Almeida Atualizada (que usamos abaixo).
5:1:
Neste contexto, os cristãos são chamados a ser imitadores de Deus ao seguir Seu modelo de perdão (Ef 4:32) e amor (Ef 5:2; veja Mt 5:44-48; Lc 6:27-36). A grande motivação para isso é que somos não apenas filhos de Deus, mas Seus filhos amados, e Sua imagem está sendo restaurada em nós (Ef 4:24).
5:2:
Como também Cristo nos amou. O amor de Cristo, revelado em Seu sacrifício por nós (Gl 2:20), é a grande motivação e o modelo para o nosso amor pelos outros (Jo 13:34; Ef 5:25).
Oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus. O sacrifício de Cristo foi aceito por Deus, assim como ocorria com os sacrifícios do Antigo Testamento (Gn 8:21; Êx 29:18; Lv 2:9).
5:3:
Imoralidade sexual. O termo grego porneia envolve todos os pecados sexuais, como adultério, sexo antes do casamento, sexo com prostitutas, atividade homossexual, incesto e assim por diante (veja 1Ts 4:3-8).
Toda impureza ou “nenhuma espécie de impureza” (NVI), e não apenas a de natureza sexual.
5:4:
Os pecados mencionados nos versos 3 e 4 estão especialmente relacionados à autogratificação ou satisfação do próprio ego, em contraste com o amor autossacrificial de Cristo, que “nos amou e Se entregou por nós” (Ef 5:2).
Digam palavras de ação de graças. A maneira de andar em pureza e santidade é ter um coração agradecido pela salvação concedida por Deus. Todos os pecados, especialmente aqueles mencionados nos versos 3 a 5, têm origem na tentativa humana de encontrar prazer e satisfação longe Daquele que é o único capaz de fazer isso. Efésios 5:19 e 20 enfatiza novamente a mesma verdade.
5:5:
A avareza é idolatria. O avarento ou “ganancioso” (NVI) coloca alguma coisa – no caso, a si mesmo e suas posses – no lugar de Deus, o que é a própria definição de idolatria. (Sobre a idolatria como essência do pecado, veja G. K. Beale, Você se Torna Aquilo que Adora: Uma Teologia Bíblica da Idolatria [Vida Nova, 2014].)
5:6:
A ira de Deus não é uma explosão descontrolada de emoções que mudam conforme as circunstâncias, mas a manifestação da perfeita santidade de Deus, a resposta necessária e apropriada às criaturas que rejeitam o Criador e Sua misericórdia. Em Efésios 5:6, a ira de Deus é especialmente o juízo final. (Para um estudo a respeito do tema, veja Emilson dos Reis, A Ira de Deus no Mundo dos Homens: A Outra Face do Amor Divino [CPB, 2019].)
Filhos da desobediência é uma expressão inspirada no hebraico que significa “os que vivem na desobediência” (NVI). Ela se refere às pessoas que têm o pecado como estilo de vida habitual (veja Jo 8:44; 1Jo 3:10).
5:8:
Vivam como filhos da luz. A metáfora da luz é bastante comum nos manuscritos do Mar Morto (produzidos entre 250 a.C. e 70 d.C.) e no Novo Testamento (Mt 5:16; Lc 16:8; 1Ts 5:5). Em Efésios 5:8, viver como “filhos da luz” significa que devemos renunciar o estilo de vida pecaminoso descrito nos versos 3 a 5, porque experimentamos uma mudança de identidade, das trevas para a luz, quando nos aproximamos Daquele que é a luz (Ef 5:14; Jo 8:12; At 26:18; 1Pe 2:9; 1Jo 1:5-7). Assim como Cristo é a verdadeira “luz do mundo” (Jo 8:12), ao refleti-Lo, também devemos ser “luz do mundo” (Mt 5:14).
5:14:
“Desperte, você que está dormindo, levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará.” Esse provavelmente é um hino cristão antigo, que não chegou até nós, e talvez se baseie em Isaías 26:19 e 60:1-3. Ele é um chamado para que os crentes despertem em seu papel como missionários, a fim de que os incrédulos, por sua vez, obtenham de Cristo vida e luz.
5:16:
Aproveitando bem o tempo ou “aproveitando ao máximo cada oportunidade” (NVI). Usando um termo extraído da linguagem comercial, Paulo disse, literalmente, que devemos “resgatar” ou “comprar” o tempo. “Os fiéis que aguardam o retorno do Senhor devem ser enérgicos e cuidadosos no uso do tempo que lhes resta, como caçadores de pechinchas numa breve liquidação com grandes descontos” (Bíblia de Estudo Andrews, sobre Ef 5:15-21).
5:18:
Não se embriaguem com vinho. Enquanto a bebida alcoólica leva à devassidão ou “libertinagem” (NVI; veja Pv 23:29-35), o Espírito Santo conduz a uma vida que possui várias características positivas, das quais Paulo destacou quatro:
- “falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Ef 5:19);
- “cantando e louvando com o coração ao Senhor” (verso 19);
- “dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (verso 20); e
- “sujeitando-se uns aos outros no temor de Cristo” (verso 21, tradução literal).
Todas essas ações, no original em grego, são descritas usando uma forma verbal que indica continuidade (que, em português, são expressas pelo gerúndio). Isto é, o cristão pratica essas coisas constantemente, como um estilo de vida.
Deixem-se encher do Espírito. O cristão é cheio da “plenitude de Deus” (Ef 3:19), da “plenitude de Cristo” (Ef 4:13) e da plenitude do Espírito Santo (Ef 5:18). O cristão individualmente e a igreja coletivamente são cheios da presença do Deus triúno, à semelhança do santuário do Antigo Testamento, que estava cheio da glória de Deus (Ef 2:21, 22; 3:19). A forma verbal “Deixem-se encher” indica que não nos enchemos do Espírito Santo de uma vez por todas, em nossa conversão, mas que devemos receber o Espírito Santo continuamente.
5:19:
Falando entre vocês. Embora a adoração se dirija a Deus, ela também tem o propósito de edificar e encorajar os crentes mutuamente (Sl 29:1, 2; 33:1-3; 95:1).
Salmos, hinos e cânticos espirituais. Paulo provavelmente não pretendia distinguir entre três variedades musicais, inclusive porque essas expressões são usadas como sinônimos na Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento para o grego que era lida pela igreja apostólica. “Salmos” não se refere apenas ao livro do Antigo Testamento, mas a composições produzidas por cristãos.
Conclusão
Os capítulos 4 e 5 de Efésios “são uma convocação emocionante para a unidade e a pureza da igreja; e são mais do que isto. Seu tema é a integração da experiência cristã (aquilo que somos), da teologia cristã (aquilo que cremos) e da ética cristã (como nos comportamos). Enfatizam que a existência, o pensamento e a ação nunca devem ser separados. Aquilo que somos, pois, dirige a forma como pensamos, e como pensamos determina como agimos. Somos a nova sociedade de Deus, um povo que se despiu da velha vida e vestiu a nova; é assim que Ele fez conosco.
“Devemos, portanto, relembrar este fato pela renovação diária da nossa mente, lembrando como ‘aprendemos a Cristo [...] segundo é a verdade em Jesus’ [Ef 4:20, 21], e pensando de modo cristão acerca de nós mesmos e da nossa nova posição. Depois, devemos ativamente cultivar uma vida cristã. [...]
“Que ninguém diga que a doutrina não importa! A boa conduta surge da boa doutrina. É somente depois de termos entendido claramente quem somos em Cristo que crescerá dentro de nós o desejo de viver uma vida digna da nossa vocação e conforme convém para o nosso caráter na nova sociedade de Deus” (John Stott, A Mensagem de Efésios: A Nova Sociedade de Deus [ABU Editora, 2001], p. 143, 144; grifo nosso).
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Matheus Cardoso é graduado em Teologia pelo Unasp-EC. Serviu à Casa Publicadora Brasileira como editor durante alguns anos e hoje atua como tradutor profissional para a Casa Publicadora Brasileira e outras instituições.