Tique-taque; tique-taque; tique-taque. O relógio funcionava regularmente e de modo implacável. Faltavam duas horas para o início do sábado. Maria suspirou ao examinar o apartamento. Os brinquedos das crianças ainda estavam espalhados pela sala; a cozinha estava uma bagunça; Sara, a filha mais nova, estava deitada na cama com febre; e Maria tinha concordado que no dia seguinte serviria como recepcionista em sua igreja, o que significava que todos teriam que sair de casa 30 minutos mais cedo. “Eu gostaria de encontrar sossego amanhã”, Maria pensou melancolicamente.
Do outro lado da cidade, Josué, marido de Maria, estava na fila para pagar por suas compras. O trânsito havia sido um pesadelo. A fila do caixa era longa. “Eu preciso descansar. Não posso continuar assim”, Josué gemeu interiormente. “A vida não deve se resumir a isso”.
Nossa vida é governada por horários de pico no trânsito, horas de trabalho, consultas médicas, conversas pelas redes sociais, compras e atividades escolares. Quer usemos transporte público, pilotemos uma motocicleta ou dirijamos um carro para transportar nossa família, o envolvimento com o mundo ao redor ameaça sufocar o que é realmente importante.
Como podemos encontrar descanso em meio a tanta agitação?
1. Leia Gênesis 2:1-3. Por que Deus criou um dia de descanso antes mesmo que alguém ficasse cansado?
Antes que o homem passasse a viver de modo estressante, Deus estabeleceu um marco, uma forma viva de estimular nossa memória: um dia para dar uma pausa e deliberadamente aproveitar a vida, um tempo para ser e não fazer, para celebrar especialmente a dádiva da relva, do ar, da vida selvagem, da água, das pessoas e, acima de tudo, do Criador de toda boa dádiva. Aquele convite não expirou quando o homem foi expulso do Éden. Deus queria garantir que o convite resistiria ao teste do tempo e, portanto, desde o início, o Senhor colocou o descanso sabático na estrutura do tempo. Sempre haveria o convite a uma tranquila celebração da criação a cada sete dias.
Com todos os nossos dispositivos para economizar tempo de trabalho, hoje deveríamos estar menos cansados do que as pessoas que viveram nos séculos passados. No entanto, o descanso parece estar em falta. Mesmo quando não estamos trabalhando, somos envolvidos por atividades frenéticas. Sempre parece que, de alguma forma, estamos atrasados; por mais que consigamos fazer as coisas, sempre há mais a fazer.
Pesquisas mostram que dormimos menos e que muitos dependem da cafeína para continuar suas atividades. Temos telefones celulares mais rápidos, computadores mais rápidos, conexões de internet mais rápidas, mas parece que nunca temos tempo suficiente.
2. Por que descansar é importante? Mc 6:31; Sl 4:8; Êx 23:12; Dt 5:14; Mt 11:28
O Criador sabia que precisaríamos de descanso. Ele formou ciclos no tempo – as noites e o sábado – para nos dar a chance do repouso. Aceitar Jesus como Senhor da vida significa reservar tempo para descansar. Afinal, o mandamento do sábado não é apenas uma sugestão!
A privação de sono e a exaustão devido ao esforço físico excessivo são problemas reais. Mais preocupante, no entanto, é quando ficamos sem energia emocional. Além disso, quando a privação de sono é adicionada às provações emocionais, ficamos dolorosamente desanimados.
Baruque, o escriba de Jeremias, deve ter se sentido assim muitas vezes durante os últimos turbulentos anos de Jerusalém, antes do caos, sofrimento e devastação que se seguiram à destruição da cidade pelos babilônios.
3. Leia Jeremias 45:1-5. Escreva um diagnóstico rápido da saúde emocional de Baruque:
Como seria se Deus enviasse uma mensagem personalizada para você? Baruque recebeu uma mensagem do trono de Deus (Jr 45:2). Isso aconteceu “no quarto ano do reinado de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá”, por volta de 605 ou 604 a.C. Jeremias 45:3 representa um bom resumo de como as pessoas se sentem quando estão sem energia.
No contexto desse período, as queixas de Baruque não eram lamentos superficiais. Ele tinha motivos para se sentir desanimado. Coisas ruins estavam acontecendo, e outras viriam.
4. Como Deus respondeu às dores e aos sofrimentos de Baruque? Jr 45:4, 5
A resposta de Deus ao sofrimento de Baruque mostra que o sofrimento divino foi muito maior do que o de Baruque. Ele havia construído Jerusalém, mas estava prestes a derrubá-la; havia plantado Israel como uma vinha (Is 5:1-7), mas iria arrancá-lo e levá-lo para o exílio. Não era isso que o Senhor desejava, mas isso tinha que acontecer por causa da rebelião do povo contra Ele.
Mas havia uma luz no fim do túnel para Baruque. Deus preservou sua vida – mesmo em meio à destruição, ao exílio e à perda.
Leia as palavras de Deus dirigidas a Baruque. Qual mensagem podemos extrair para nós? Temos certeza de que Deus está ao nosso lado em qualquer situação?
Todos precisamos de descanso. Por essa razão, encontramos esse tema em toda a Bíblia. Deus nos criou para realizar atividades que devem ser interrompidas pelo descanso.
Vários termos hebraicos denotam repouso. O descanso de Deus no sétimo dia recém-criado (Gn 2:2, 3) é descrito com o verbo shabbat (“parar de trabalhar; descansar, tirar férias”), a forma verbal do substantivo “sábado”. Esse verbo é usado em Êxodo 5:5 de forma causativa e é traduzido como “fazer alguém descansar” de seu trabalho. O irado faraó acusou Moisés de querer que o povo descansasse de suas tarefas.
A referência ao descanso de Deus no sétimo dia, o sábado, no quarto mandamento é expressa pela forma verbal hebraica nuakh (Êx 20:11; Dt 5:14). O verbo é traduzido como “repousar” em Jó 3:13 ou, mais figurativamente, “parar”, referindo-se à arca da aliança em Números 10:36. Em 2 Reis 2:15 lemos que o espírito de Elias “repousou” sobre Eliseu.
Outra forma verbal importante é shaqat, “ficar em repouso, conceder alívio, ficar quieto”. Essa forma é usada em Josué 11:23 para descrever o descanso da terra após a guerra da conquista inicial de Josué. O termo parece indicar “paz” nos livros de Josué e Juízes.
O verbo raga’ indica “descanso”. Nas advertências contra a desobediência, Deus disse a Israel que eles não teriam descanso no exílio (Dt 28:65). O mesmo verbo aparece em uma forma causativa em Jeremias 50:34, descrevendo a incapacidade de proporcionar descanso.
5. Leia Deuteronômio 31:16 e 2 Samuel 7:12. A qual tipo de descanso esses textos se referem?
Esses versos usam uma expressão idiomática do verbo shakab que significa literalmente “deitar-se; dormir”. Na aliança com Davi, Deus prometeu ao rei: “Quando os seus dias se completarem e você descansar com os seus pais, então farei surgir depois de você o seu descendente” (2Sm 7:12).
Essa lista de verbos hebraicos para descanso esclarece que o conceito teológico de descanso não está conectado a uma ou duas palavras especiais. Descansamos individual e coletivamente. O descanso nos afeta física, social e emocionalmente e não se limita apenas ao sábado.
Uma forma verbal para designar “descanso” no Novo Testamento é anapau? (“descansar, relaxar, revigorar-se”). Ela é usada na famosa declaração de Jesus sobre o descanso em Mateus 11:28: “Venham a Mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e Eu os aliviarei”. Pode referir-se ao descanso físico (Mt 26:45). Na saudação final aos coríntios, Paulo expressou sua alegria pela chegada de amigos que revigoraram seu espírito (1Co 16:18). Outro verbo usado para indicar repouso é h?sychaz?. Ele descreve o descanso sabático dos discípulos enquanto Jesus repousava no túmulo (Lc 23:56). Mas é usado também para representar uma vida tranquila (1Ts 4:11) e pode indicar que alguém não tem objeções e, portanto, acalma-se (At 11:18).
Em Hebreus 4:4, ao descrever o descanso de Deus após a criação, Paulo usou o verbo katapau?, “fazer cessar, trazer ao descanso, descansar”, ecoando o uso da Septuaginta. Curiosamente, a maioria dos usos desse verbo no Novo Testamento ocorre em Hebreus 4.
6. Leia Marcos 6:30-32. Por que Jesus mandou que Seus discípulos se retirassem e descansassem, considerando as oportunidades missionárias que eles tinham naquele momento? Observe o contexto mais amplo de Marcos 6 ao pensar sobre essa questão.
“Venham repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” (Mc 6:31) não se enquadra em um convite. Essa frase foi expressa na forma de um imperativo. Jesus estava interessado em Seus discípulos e no bem-estar físico e emocional deles. Eles tinham acabado de retornar de uma longa viagem missionária na qual Jesus os havia enviado de dois em dois (Mc 6:7). Marcos 6:30 descreve seu retorno animado. Eles queriam compartilhar suas vitórias e fracassos com Jesus; no entanto, Cristo interrompeu tudo, convocando-os primeiramente a descansar. Marcos incluiu uma nota explicativa: “Isto porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem muitos os que iam e vinham” (Mc 6:31). A sobrecarga e a demasiada ocupação com os assuntos de Deus eram um desafio genuíno para os discípulos. Jesus nos lembra de que precisamos proteger nossa saúde e bem-estar emocional planejando períodos de descanso.
7. Leia Gênesis 4:1-12. O que fez de Caim “fugitivo e errante pela terra” (Gn 4:12)?
O texto bíblico não afirma explicitamente por que Deus Se agradou de Abel e de sua oferta, mas não “Se agradou” de Caim nem de sua oferta (Gn 4:4, 5). Porém, conhecemos a razão. “Caim foi perante Deus com queixas e incredulidade no coração com respeito ao sacrifício prometido e à necessidade de ofertas sacrificais. Sua dádiva não expressava arrependimento pelo pecado. Achava, como muitos hoje, que seria um reconhecimento de fraqueza seguir exatamente o plano indicado por Deus, confiando sua salvação inteiramente à expiação do Salvador prometido. Preferiu a conduta de dependência própria. Viria com seus próprios méritos” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 72). Deus não fez de Caim um “fugitivo e errante pela terra”; isso aconteceu como resultado das ações pecaminosas e desobediência de Caim. Não encontrando descanso em Deus, Caim descobriu que não poderia encontrar o verdadeiro descanso de outra maneira.
A palavra traduzida como “se agradar” (Gn 4:4) também pode ser traduzida como “olhar de perto, considerar cuidadosamente”. O foco do olhar cuidadoso e atento de Deus não é tanto a oferta, mas a atitude do ofertante. A rejeição da oferta de frutos de Caim não foi uma reação arbitrária de um Deus obstinado, mas o processo de considerar e pesar o caráter, as atitudes e as motivações de quem trazia a oferta. É uma ilustração do juízo investigativo.
8. Leia Gênesis 4:13-17 e descreva a reação de Caim ao juízo de Deus:
Quando tentamos fugir da presença de Deus, ficamos inquietos. Tentamos preencher o anseio pela graça divina com coisas, relacionamentos ou com uma vida excessivamente ocupada. Caim começou a construir uma dinastia e uma cidade. Ambas são grandes conquistas e representam determinação e energia, mas se for uma dinastia sem Deus e uma cidade rebelde, no final das contas isso não significará nada.
“Na opinião dos rabinos, o mais alto grau da religião consistia em contínua e agitada atividade. Dependiam de uma prática externa para mostrar sua devoção superior. Assim separavam-se de Deus, apoiando-se na autossuficiência. O mesmo perigo existe ainda hoje. À medida que aumenta a atividade e as pessoas são bem-sucedidas em realizar alguma obra para Deus, há o risco de confiar em planos e métodos humanos. Surge a tendência de orar menos e ter menos fé. Como os discípulos, nos arriscamos a perder de vista nossa dependência de Deus e fazer de nossa atividade um salvador. Necessitamos olhar continuamente para Jesus, compreendendo que é Seu poder que realiza a obra. Embora devamos trabalhar ativamente pela salvação dos perdidos, precisamos também dedicar tempo à meditação, à oração e ao estudo da Palavra de Deus. Somente o trabalho realizado com muita oração e santificado pelos méritos de Cristo mostrará, no final das contas, ter sido eficaz” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 362).
Perguntas para consideração
1. A pressão para se manter no topo e estar disponível o tempo todo, e tentar viver de acordo com ideais ilusórios, deixa as pessoas doentes. Sua igreja pode acolher pessoas cansadas?
2. É possível estar ocupados demais fazendo coisas para Deus? Comente sobre a história de Jesus e Seus discípulos em Marcos 6:30-32.
3. Em 1899, um recorde de velocidade foi quebrado. Alguém dirigiu a 63 quilômetros por hora em um carro! Hoje os carros andam muito mais rápido do que isso. E a velocidade dos telefones celulares é muito maior do que a dos computadores de uma geração atrás. As viagens aéreas estão mais rápidas do que costumavam ser. No entanto, de que isso adianta? Ainda estamos apressados e estressados. O que isso revela sobre a natureza humana e por que Deus teria tornado o descanso tão importante a ponto de fazer dele um de Seus mandamentos?
4. O descanso sabático foi instituído antes do pecado. Além da implicação teológica dessa verdade, o que isso revela sobre o descanso ser necessário mesmo no mundo perfeito?
Respostas e atividades da semana: 1. Porque o Senhor nos formou e conhece nossa estrutura. Sabia que acabaríamos entrando em uma rotina desenfreada. Portanto, o Senhor quis dar um exemplo de descanso à humanidade. 2. Porque necessitamos do descanso; não somos máquinas. 3. Baruque estava emocionalmente exausto; estava “cansado de gemer” e não encontrava descanso. 4. Deus permitiria sim que Jerusalém fosse destruída; porém, preservaria a vida de Baruque. 5. O descanso da morte. 6. Porque eles estavam extenuados, sem tempo sequer para comer. 7. O fato de ele ter desobedecido a Deus e matado seu irmão Abel. 8. Caim reconheceu que seu castigo seria grande e que teria que viver fugindo.
ESBOÇO
A lição deste trimestre traz uma série de estudos intitulada “Descanso em Cristo”. A sociedade do século 21 está repleta de pessoas inquietas. Preocupação e ansiedade combinadas com incerteza sobre o futuro contribuem para essa inquietação da alma. Há uma preocupação crescente entre os profissionais de saúde mental quanto ao número cada vez maior de pessoas deprimidas. Estima-se que existam mais de 300 milhões de pessoas deprimidas no mundo e que em algumas décadas a depressão poderá ser a principal causa de morte, ultrapassando as doenças cardíacas. Acredita-se que as vendas mundiais de antidepressivos atualmente superem R$ 32 bilhões, de acordo com as projeções da Thomson Reuters Pharma, com base em previsões de analistas. Só nos Estados Unidos, mais de 270 milhões de receitas de antidepressivos são vendidas a cada ano. A lição deste trimestre, especialmente a lição desta semana, enfoca a verdadeira fonte de descanso e dá conselhos práticos sobre como encontrar tempo para descanso em meio às ocupações diárias.
Nesta semana, viajaremos no tempo até a criação do nosso mundo e meditaremos no eterno lembrete de descanso em Cristo: o sábado. Estudaremos a profunda dor de um escriba do Antigo Testamento e o impacto em sua saúde física, mental e emocional. Ao longo desta lição, seremos constantemente lembrados do convite de Cristo para descansar, presente em toda a Bíblia. À medida que aprendemos o significado da palavra “descanso” no Antigo e no Novo Testamento, entenderemos de forma mais plena a inquietação de Caim e descobriremos como descansar totalmente em Cristo.
COMENTÁRIO
A passagem mais abrangente da Bíblia sobre o descanso sabático encontra-se em Gênesis 2:1-3. No fim da semana da criação, Jesus, nosso amoroso Criador, estabeleceu um palácio no tempo, como afirma o autor judeu Abraham Heschel. A cada sábado, Jesus nos convida a deixar nossas preocupações, inquietações e ansiedades para trás e entrar em Seu palácio para descansar Nele. Palácios terrestres são localizações geográficas distintas. Por exemplo, o de Versalhes, na França, contém 700 quartos e mais de 67.000 m2 de área útil. Como patrimônio da humanidade, é uma das mais grandiosas construções do século 17.
O sábado, o palácio de Deus no tempo, é muito mais significativo e surpreendente. Não data do século 17, mas do início dos tempos, na criação. Atravessa os séculos e agracia o planeta com um tempo sagrado a cada semana. É um lembrete perpétuo de onde se encontra o verdadeiro descanso. O sábado fala de um Deus que conhece intimamente nossas necessidades humanas básicas. Ele “descansou nesse dia” e foi revigorado, não porque estivesse cansado, mas porque sabia que nós estaríamos esgotados. Gênesis 2:2 diz: “E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra [...]”. O tempo não é um ciclo interminável de eventos consumidos pelo trabalho. Deus graciosamente nos deu uma pausa divina, um tempo para aprofundar nosso relacionamento com Ele, renovar a mente, revigorar o corpo e desfrutar de relações familiares positivas.
Esse descanso sabático divino traz consigo a certeza da preocupação amorosa de nosso Criador por nós. Nele temos paz. O sábado é um antídoto para o estresse. É a garantia de que o Deus que criou este mundo não Se esqueceu dele e não Se esqueceu de nós. À medida que nos lembramos do dia de sábado para santificá-lo, nosso Criador Se lembra de nós nesse dia e derrama abundância de bênçãos celestiais em nossa vida para nos libertar da escravidão do medo, das correntes da ansiedade e da prisão das preocupações.
O convite divino para o descanso
Em toda a Escritura, Deus nos convida a descansar de nossas ocupações. Quando as ocupações da vida nos oprimem, três coisas acontecem:
1. Começamos a perder o foco. Os eventos do presente parecem nos oprimir. Os desafios da vida se tornam muito maiores e nos concentramos nos problemas, e não em Deus, que pode resolvê-los. Em nossas ocupações, preferimos as respostas humanas aos nossos dilemas, e não as soluções divinas.
2. Começamos a ficar exaustos física, mental e emocionalmente. Dizemos e fazemos coisas das quais nos arrependemos mais tarde. As ocupações levam ao cansaço, o cansaço leva ao esgotamento, e o esgotamento leva ao desânimo. Pessoas atarefadas muitas vezes tomam decisões precipitadas e não conseguem ter uma visão geral porque estão muito ocupadas; precisam passar para o próximo problema a ser resolvido ou à próxima tarefa da lista a cumprir. Assim, têm pouco tempo para refletir sobre a melhor solução para o problema que enfrentam.
3. Começamos a negligenciar a oração e o estudo da Bíblia. Como resultado, nossa vida devocional sofre. As ocupações produzem cansaço, e o cansaço produz ineficiência, falta de disciplina, incapacidade de controlar os próprios sentimentos e desgaste da vida devocional.
Ellen G. White escreveu sobre essa questão: “Todos quantos se acham sob as instruções de Deus precisam da hora tranquila para comunhão com o próprio coração, com a natureza e com Deus. Neles se deve revelar uma vida não em harmonia com o mundo, seus costumes e práticas; eles necessitam de uma experiência pessoal em obter o conhecimento da vontade de Deus. Devemos, individualmente, ouvi-Lo falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e, em sossego, esperamos diante Dele, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus. Ele nos ordena: ‘Aquietem-se e saibam que eu sou Deus’ (Sl 46:10). Esse é o preparo eficaz para todo trabalho feito para o Senhor. Entre o vaivém da multidão e a tensão das intensas atividades da vida, aquele que é assim refrigerado será circundado de uma atmosfera de luz e de paz. Receberá nova dotação de resistência física e mental. Sua vida exalará uma fragrância e revelará um poder divino que tocarão o coração dos homens” (A Ciência do Bom Viver, p. 58).
Você já sentiu que está correndo de um lado para o outro, oprimido pelas ocupações? Há mais um e-mail para responder, mais uma mensagem de texto para enviar, mais um telefonema a ser feito, mais uma reunião da qual deve participar, mais uma pessoa para ver... Sua vida parece ser governada por “mais um”. Você tem que fazer coisas demais para concluir tudo e, quando se joga na cama à noite, pensa em tudo o que deixou por fazer. Seu trabalho certamente não terminou. Sua lista de afazeres está pela metade, na melhor das hipóteses. Sua mente fervilha, o sono não vem enquanto você tenta freneticamente pensar em uma forma de amontoar mais afazeres em uma agenda já sobrecarregada do dia seguinte.
O convite de Cristo é especialmente para pessoas ocupadas, esgotadas e cansadas que vivem em um mundo que não para. Os discípulos de Jesus estavam ansiosos e confusos após a decapitação de João Batista. Jesus lhes fez o seguinte convite: “Venham repousar um pouco, à parte, num lugar deserto. Isto porque eles não tinham tempo nem para comer” (Mc 6:31). Em suas ocupações, Jesus ofereceu-lhes descanso. Ele não os encorajou a se precipitarem em algum trabalho exaustivo. Seu convite para descansar não foi um evento único apenas para os discípulos. Para as multidões que O seguiam, disse estas palavras de segurança: “Venham a Mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e Eu os aliviarei” (Mt 11:28). O descanso que Jesus oferece não é liberdade de provações, mas a certeza interior de que Nele estamos seguros. Ele nunca vai nos deixar ou abandonar. Uma das experiências mais desafiadoras da vida é sentir-se sozinho quando passamos por momentos difíceis. Foi exatamente assim que Baruque, o escriba de Jeremias, se sentiu.
O pesar de Baruque, a inquietação de Caim e a resposta divina
Baruque foi o escriba de Jeremias. De acordo com Jeremias 45:3-5, esse pobre homem passou por um período de profunda dor emocional. A cidade de Jerusalém logo seria atacada por exércitos inimigos. O sofrimento, a angústia e o desastre estavam se aproximando rapidamente. A vida jamais seria a mesma para Baruque. O medo o consumia, a dor inundava sua vida, a preocupação o prendia em suas garras debilitantes. Mas Deus falou e assegurou-lhe: “[...] a você darei a sua vida como despojo, em qualquer lugar para onde você for” (Jr 45:5). As promessas divinas são certas. Devido à segurança que elas nos dão, podemos descansar, mesmo em meio às maiores dificuldades.
No Antigo Testamento, existem várias palavras traduzidas como “descanso”. Seu significado varia. Podem ser traduzidas como “alívio, quietude, paz ou tranquilidade”. No Novo Testamento, podem ser interpretadas como “descansar, relaxar ou estabilizar”. Todas essas palavras têm uma coisa em comum: implicam paz interior, sensação de calma e tranquilidade. Esse descanso é um presente de Deus a Seus filhos cansados quando vão a Ele com fé.
A história de Caim demonstra que não há descanso quando o ser humano se rebela contra os mandamentos de Deus e confia em seu próprio julgamento. Caim desconsiderou as claras instruções divinas. Sua religião era de obras humanas. Ele exaltou sua própria opinião acima da revelação do Senhor. Abel, por outro lado, teve paz até na morte, porque depositou sua confiança no Deus da vida. O estudo desta semana oferece algumas lições práticas e cruciais para viver em um mundo que não para.
APLICAÇAO PARA A VIDA
O estudo desta semana nos apresenta pelo menos três lições práticas:
• Quando nos tornamos ocupados demais para descansar sob os cuidados amorosos do nosso Criador, a vida se torna cheia de estresse e ansiedade. Esse estresse pode levar a doenças físicas e ao sofrimento emocional.
• Nosso Criador nos projetou para descansar. O descanso é mais do que físico, por mais importante que seja esse aspecto. É a paz de espírito que vem de crer em Sua Palavra, confiar em Suas promessas e entrar na bem-aventurança do Seu descanso sabático.
• Viver longe do nosso Criador, conforme ilustra a experiência de Caim, apenas frustra nossas tentativas de ter paz interior e alegria duradoura. O descanso vem de uma relação de confiança com Aquele que nos criou. Em Cristo, há descanso; em Suas promessas, há segurança; em Sua presença, estamos livres de ansiedade e preocupação.
Regresso feliz
No segundo trimestre de 2018, o Informativo Mundial de Menores relatou a história de Adrain. Ele estava terminando o décimo segundo ano na Escola Adventista Indígena de Holbrook, uma escola missionária para os nativos americanos, localizada no Estado do Arizona.
Adrain não conheceu o pai; e a mãe estava constantemente alcoolizada. Aos sete anos, o irmão mais velho ensinou a beber e usar drogas. Adrain não pensava que havia algo de errado na sua vida e não queria viver em Holbrook, quando foi matriculado no terceiro ano. Mas, ele aprendeu coisas novas na escola, incluindo a importância de tomar banho e lavar as roupas, deixou de beber e usar drogas.
Também descobriu que jogar basquete o ajudava a melhorar o humor quando estava triste. No sétimo ano, estudou a Bíblia com o pastor e entregou o coração a Jesus.
Vamos descobrir o que aconteceu a Adrain desde sua formatura. A seguir está seu relato em suas próprias palavras.
Eu me formei na Escola Adventista Indígena de Holbrook, em 2018. Entreguei minha vida a Jesus e Ele me ajudou a vencer o vício de drogas, álcool, e a encontrar um propósito na vida. Seguindo os passos de um de meus tios, decidi me tornar um engenheiro. Matriculei-me na Union College, uma instituição adventista em Nebraska e comecei uma nova jornada como estudante universitário.
Todos na faculdade eram muito legais, amigáveis e felizes. Até os estrangeiros me cumprimentavam, e fiz amizades na sala de aula, no coral e esportes internos. Fui convidado para estudar a Bíblia com alunos de Teologia e gostei muito de todos os programas religiosos que a escola tinha para oferecer, incluindo o programa de pôr do sol das sextas-feiras.
Tudo corria bem até descobrir que os custos dos meus estudos aumentariam para um valor significativo. Eu não tinha ideia. Quando recebi o boleto, fiquei chocado. No ano seguinte, decidi me mudar para a escola na reserva Navajo. Depois de pesquisas online, vi que havia uma faculdade técnica em Novo México com um bom programa de Engenharia. Fiquei muito feliz em continuar os estudos onde não precisaria me preocupar com os altos custos de uma instituição privada cristã.
Entretanto, ao chegar, logo percebi que na escola não havia nenhum aluno cristão com quem pudesse me socializar. A tentação de beber e usar drogas foi esmagadora. Consegui evitar voltar a esse estilo de vida, mas fiquei sozinho.
Quando começou o segundo semestre, me senti tão sozinho que não aguentava mais. Falei com funcionários da Escola Adventista Indígena de Holbrook que mantinha contato. Surpreendentemente, havia um cargo vago e eles queriam que eu voltasse para Holbrook, a fim de trabalhar na equipe da reitoria e continuar os estudos através do programa de transferência universitária.
A diferença entre o ambiente da Faculdade Técnica e a Escola Adventista Indígena de Holbrook era imensa. Holbrook é meu lar e estou feliz por voltar. Gostaria de voltar ao Union College para terminar os estudos, e oro para que Deus providencie um meio para voltar sem que entre em d.vidas. Eu sei que Deus tem um plano para minha vida. Por favor, ore por mim, enquanto O sigo aonde quer que me leve.
Há três anos, as ofertas trimestrais ajudaram a dar um pontapé inicial para um novo ginásio e centro de saúde “Centro New Life” na Escola Adventista Indígena de Holbrook. As ofertas deste trimestre ajudarão a terminar a segunda fase do centro, onde a escola atuará no tratamento contra a obesidade, doenças coronárias, diabetes, depressão e suicídio entre os jovens e adultos nativos americanos.
Informações adicionais
• Peça que um jovem conte esta história na primeira pessoa.
• Leia a história completa sobre Adrain, publicada em 2018: bit.ly/Adrain-2018.
• Faça o download das fotos no Facebook: bit.ly/fb-mq.
• Para mais notícias missionárias e outras informações sobre a Divisão Norte Americana, acesse: bit.ly/NAD-2021.
Esta história ilustra os componentes seguintes do plano estratégico do “I Will Go” da Igreja Adventista: Objetivo de Crescimento Espiritual n. 6 – “aumentar a adesão, retenção, recuperação e participação de crianças, jovens e jovens adultos", e Objetivo de Crescimento Espiritual No. 7 – “ajudar jovens e adultos a colocar Deus em primeiro lugar e exemplificar uma cosmovisão bíblica”, encorajando “jovens e adultos a abraçar a crença (FB 22) de que o corpo é o templo do Espírito Santo, abstendo-se de álcool, tabaco, uso de drogas e outros comportamentos de alto risco. Abraçar os ensinamentos da igreja (FB 23) sobre o casamento, e manter pureza sexual” (KPI 7.2). Saiba mais sobre o plano estratégico em IWillGo2020.org.
Comentário da Lição da Escola Sabatina – 3º Trimestre de 2021
Tema Geral: Descanso em Cristo
Lição 1 – Vivendo em uma sociedade que não para
26 de junho a 2 de julho
Autor: Weverton Castro
Editoração: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br
Revisora: Adriana Seratto
1. Sociedade do cansaço
Um livro escrito por Byung-Chul Han, intitulado Sociedade do Cansaço, defende que uma das principais características da sociedade do século 21 é uma espécie de esgotamento diante das demandas exigidas. O autor apresenta a realidade de um mundo que está cada vez mais ocupado com atividades, trabalhos, agendas […] e que separa pouco tempo para descansar.
Parte dessa mudança se deu por conta das tecnologias. Tudo se tornou mais veloz, mais acessível. Porém, nós continuamos humanos, com limitações humanas. E, no meio de tanta correria, somos facilmente levados a extrapolar nossos limites, enfrentando a realidade de um interessante pensamento que declara: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro” (Alberto J. G. Villamarín, Citações da Cultura Universal [Editora AGE Ltda, 2002], p. 249).
No meio deste caos, um antigo mandamento divino se torna imperativo para quem deseja ter saúde física, mental e espiritual. O quarto mandamento da lei de Deus, a observância do sábado, é um memorial de que a humanidade não foi criada para ser uma máquina de trabalho. O ser humano tem outras prioridades na vida que precisam de uma fatia de tempo de qualidade. Por isso, mais do que nunca, a santidade do sétimo dia da semana precisa ser relembrada para um mundo exausto.
2. Um mandamento necessário
O quarto mandamento da lei de Deus começa de forma distinta das demais ordens: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar” (Êxodo 20:8, ARA). O verbo inicial deixa claro que, no monte Sinai, Deus não estava trazendo uma ordem nova ao povo de Israel. O mandamento sobre o descanso havia sido deixado para a humanidade desde a criação. Porém, perceba que no contexto da entrega das tábuas dos Dez Mandamentos, o povo havia acabado de sair do Egito, onde tinham vivido como escravos por cerca de 400 anos (Êxodo 12:40). Como escravos, eles trabalhavam todos os dias unicamente para atender aos desejos de um governador que não tinha a mínima preocupação com o bem-estar deles. Em Êxodo, capítulo 5, é relatada a exigência do faraó de que o povo trabalhasse mais, mesmo com condições piores de trabalho, com menos palha.
Escravos não tinham direito a descanso. Por isso, no monte Sinai, ao contemplar um povo recém-liberto da escravidão, Deus relembrou algo que, no contexto do trabalho do Egito, eles haviam esquecido: o dever e a necessidade do descanso, tanto para a vida física como para a espiritual.
Traçando um paralelo com a nossa realidade atual é possível aplicarmos de forma espiritual a necessidade de muitos escravos, que vivem no Egito moderno, de se lembrarem da ordem dada na criação. Não podemos viver apenas para satisfazer desejos que nos escravizam, sacrificando no altar do trabalho outras prioridades da vida. O descanso é parte importante da existência. É nele que recarregamos as baterias e nos permitimos lembrar que existem coisas mais importantes do que acumular riquezas.
“Lembra-te do dia do sábado para o santificar” é uma ordem tão necessária em nossa sociedade de escravos do negócio, cansados pela correria do dia a dia, como o foi no monte Sinai para o povo liberto do Egito.
3. Matando-se de trabalhar
Você já deve ter ouvido a expressão: “Se matar de trabalhar”.
Pois bem, por mais incrível que pareça, ela é mais literal do que muitos imaginam. Na China, por exemplo, existe um termo chamado guolaosi, destinado a classificar indivíduos que morreram por trabalhar além dos seus limites. E esses casos não são exceções, são mais comuns do que se imagina. Em 2014, a empresa controlada pelo Estado chinês, a China Radio International, divulgou o impressionante número de 1.600 chineses que morriam por dia por conta da excessiva carga horária de trabalho (https://exame.com/economia/1-600-chineses-morrem-por-dia-de-tanto-trabalhar). Dentre esses muitos casos, podemos citar a história de Tian Fulei, um jovem de 26 anos, que morreu em 2015 após trabalhar 12 horas por dia, durante sete dias por semana, em uma fábrica de celulares da Apple (http://exame.com/carreira/chines-morre-em-fabrica-da-apple-por-excesso-de-trabalho). Segundo a família, Tian Fulei fazia horas extras para conseguir pagar as despesas do seu casamento, marcado para maio daquele ano.
Infelizmente, tal fenômeno de excessos não está restrito somente à China. No Japão, existe o termo korashi para definir o mesmo problema. Na Europa, existem casos de pessoas que morreram no ambiente de trabalho após jornadas desumanas. Na verdade, o mundo todo está correndo aceleradamente em busca de coisas, sem levar em consideração a necessidade, apontada desde a criação da humanidade, do descanso semanal. É por isso que o sábado não é mais defendido apenas pelos religiosos. A lógica do descanso semanal, presente na lei de Deus, faz cada vez mais sentido em uma sociedade desesperadamente cansada.
Como bem lembra Ellen White: “A lei proíbe trabalho secular no dia de repouso do Senhor; a atividade que constitui o ganha-pão deve ser interrompida; nenhum trabalho que vise prazer ou proveito mundano é lícito nesse dia; mas, como Deus cessou Seu trabalho de criar e repousou no sábado, e o abençoou, assim o ser humano deve deixar as ocupações da vida diária e dedicar essas sagradas horas a um saudável repouso, ao culto e a boas obras (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [São Paulo: CPB, 2000], p. 156, 157 [207]).
Conheça o autor dos comentários para este trimestre: Weverton de Paula Castro é pastor e professor de Teologia no Seminário Adventista da Faculdade Adventista da Amazônia (FAAMA). Ele é casado com a enfermeira Jozy Anne e é pai do pequeno André, nascido no início de 2021. Graduado em Teologia e Filosofia, tem mestrado intracorpus em Interpretação Bíblica (FADBA) e em Ciências da Religião (UEPA). Atualmente é doutorando em Educação Religiosa (Andrews University).