Harmonizar a existência do sofrimento com a realidade do amoroso caráter de Deus é o maior e, talvez, o mais antigo dilema da mente humana. Em busca de resposta, muitas pessoas mergulham em especulações insensatas que resultam em dúvida e descrença. Com o pensamento voltado à busca do prazer nascido da satisfação de alguma necessidade e da ausência do sofrimento, Epicuro, filósofo grego, não entendia o que lhe parecia ser a inércia de Deus diante do sofrimento humano. A ele é atribuída uma mostra de descrença e irreverência em uma argumentação na qual questiona o poder, a bondade e a existência de Deus.
De fato, não podemos entender plenamente todas as nuanças do sofrimento, mas podemos ter um lampejo de compreensão a seu respeito, quando o observamos à luz do conflito entre Deus e Satanás. Desde que foi expulso do Céu, o arqui-inimigo tem se empenhado em ferir os filhos de Deus, na tentativa de denegrir o caráter do Criador, pintando-O como injusto, tirano e contraditório, acusando-O de ser um governante justiceiro. “Foi para remover essa sombra escura e revelar ao mundo o infinito amor de Deus que Jesus veio viver com a humanidade” (Ellen White, Caminho a Cristo, p. 10).
Se o sofrimento continua a magoar os filhos de Deus, não é por causa de inércia, conivência ou impotência da parte Dele. O Pai tolera, ou permite sem apoiar, as ações do adversário para que, observando seus feitos, livremente entendamos que Ele é amor, e Satanás é o grande facínora do Universo. Então podemos decidir livremente servir a Ele por amor, em qualquer circunstância, à semelhança de Jó. Como se não lhe bastassem as perdas sofridas, encontrou na vacilante esposa uma censura à integridade e confiança demonstradas. Entretanto, embora frágil, ferido de chagas, não podendo divisar uma reviravolta positiva naquela condição, ele manteve a confiança inabalável e respondeu: “Falas como qualquer doida.”
Deus é real e está empenhado em nosso bem-estar. Por mais cruel que seja o sofrimento com todas as suas perdas, a maior tragédia é sempre deixar de confiar Nele e não crer em Seu amor. Levemos a Ele as cargas que nos oprimem, enquanto aguardamos o momento em que, “desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeita alegria, declarar[ão] que Deus é amor” (Ellen White, O Grande Conflito, p. 678).