Quinta-feira
30 de março
A ilha desconhecida – Parte 1
Quem é este que até os ventos e o mar Lhe obedecem? Mateus 8:27

Em seu livrinho intitulado O Conto da Ilha Desconhecida,1 José Saramago relata a história de um homem que entra no palácio do rei pela Porta das Petições, com o fim de solicitar um barco. Decidido a ter sua solicitação atendida, o homem deita-se diante da Porta das Petições e declara: – Não sairei daqui enquanto meu pedido não for ouvido e atendido.

Vendo sua determinação, o rei abandona o conforto da sala do trono e vai até a Porta das Petições para atender aquele homem impertinente e seu estranho pedido.

– Por que você quer um barco? – pergunta o rei.

– Quero içar velas rumo à ilha desconhecida.

– Não há mais nenhuma ilha desconhecida. Todas as ilhas já foram descobertas – disse o rei, torcendo o nariz com desdém.

Então o homem responde: – Sou um tosco homem da terra, e até eu sei que todas as ilhas, mesmo as que já foram descobertas, são desconhecidas até que desembarquemos nelas.

A essa altura, Saramago aborda um antigo tema humano: a busca. Na embarcação da vida, todos nós estamos envolvidos em uma busca que preencherá nossas mais profundas necessidades e nossas mais elevadas aspirações. Chegar a esse destino envolverá passar por muitas provas e tribulações, mas se encontrarmos aquilo que nossa alma anseia, descobriremos uma profunda e transcendente paz “que excede todo o entendimento” (Fp 4:7).

Em sua maior parte, os discípulos de Jesus eram pescadores e compreendiam os perigos potenciais envolvidos na chegada ao porto seguro. Uma noite, ao partirem com Jesus para o outro lado do mar da Galileia, “sobreveio uma tempestade de vento no lago” (Lc 8:23, ARA) e ameaçou afundar a frágil embarcação. Exausto após atender as demandas da multidão naquele dia, Jesus dormiu, embora o barco fosse jogado de um lado para outro e se enchesse de água. Desesperados, ao perceber que seus esforços para jogar água para fora do barco eram cada vez mais inúteis, esses aparentemente indefesos homens externaram sua última esperança de sobrevivência: “Mestre, Mestre, estamos perecendo!” Jesus despertou e “repreendeu o vento e a fúria da água” (v. 24, ARA), e instantaneamente sobreveio a bonança. Quer tenham entendido, quer não, aqueles homens já haviam desembarcado em uma ilha não descoberta chamada Jesus.

Lourdes Morales-Gudmundsson