O Salmo 73 é um texto ousado e honesto que aborda a dor do necessitado ao ver a prosperidade dos maus. Seu sentimento é comparável ao de uma criança pobre que sofre bullying nas mãos do menino perverso que tem tudo. Convenhamos: a cena idílica da “família de comercial de margarina” potencializa a dor do órfão. É como rasgar dinheiro na frente do pobre.
São os recortes da história que dão a sensação de que pessoas más “não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros” (v. 5). A angústia nem sempre permite reflexões sóbrias do tipo: “Ah, mas ele também tem seus dilemas.” Por isso o salmo é admirável, pois descreve a sinceridade de quem está sofrendo. “Em só refletir para compreender isso”, escreveu o autor, “achei que a tarefa era pesada demais para mim” (v. 16).
A luta interna do salmista vai até o momento em que ele entra no santuário de Deus, isto é, quando inicia sua comunhão com o Pai e descobre qual será o fim dos ímpios. Contudo, não é isso que lhe traz alívio. Ele não busca vingança. O alívio é saber que Deus está no controle da história e que a justiça prevalecerá.
Alguns por certo dirão: “Isso é verdade, veja o triste fim de homens perversos, como Herodes, Hitler, Stalin e Mao Tsé-Tung.” Porém, homens bons também tiveram uma morte trágica, como Jesus, Paulo e Pedro. Onde está a justiça nisso? E o que dizer dos ditadores que morreram sem pagar pelos crimes que cometeram? Estaria o salmista iludido ao achar que o fim dos ímpios iria desmascarar a aparente prosperidade deles?
A resposta está em 2 Pedro 3:13: “Nós, porém, segundo a promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.” Não espere justiça neste mundo. Há momentos em que um anjo fere Herodes e liberta Pedro. Mas há outros em que Cristo é crucificado, enquanto Caifás é mantido no poder. O apóstolo João escreveu: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no maligno” (1Jo 5:19).
Se a justiça que você aguarda ainda não veio, continue esperando no Senhor. Mesmo que não a testemunhe nesta vida, ela virá. E, se permanecer fiel, você não somente verá o triunfo do bem, como participará da herança de Deus.