Quarta-feira
14 de outubro
Além das aparências
Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas praças; e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes; os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações; estes sofrerão juízo muito mais severo. Marcos 12:38-40

Entre a dissimulada aparência de piedade e a escancarada vaidade ostentada pelos líderes religiosos nos Seus dias, o contraponto era o brilho da autenticidade de Jesus, em tudo o que Ele ensinava e fazia. Por isso, podia convidar: “Aprendam de Mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29). Ele ia na contramão daqueles que eram motivados apenas pelo desejo de conquistar a simpatia do povo e mantê-lo submisso às tradições. Para isso, buscavam impressionar as pessoas pelas aparências e pelo autoritarismo, recursos utilizados por pessoas que nada têm com que chamar a atenção, além do mero barulho que fazem, semelhante ao de uma lata vazia. A propósito, o termo “vaidade” tem origem nas palavras latinas vanitas, vanitatis, significando vacuidade, vazio. “Como espuma de sabão”, escreveu Mario Veloso, que, “quando circula pelo ar, mostra-se preciosa, a luz externa lhe imprime brilhos fantasiosos, atrativos e bonitos; mas dentro, nada tem. Em um instante, ‘plaf ’, arrebenta, desaparece. Converteu-se no que era: nada” (Mateus, p. 291).

Desse modo, rejeitando Cristo e tendo estilo de vida tão diferente do Dele como a luz o é das trevas, e tão distante quanto o céu se acha da Terra, aqueles homens agiam segundo os princípios do reino terrestre: valorização exagerada dos títulos e uso de vestes que evidenciavam a condição religiosa e social. Assim, desejavam ocupar os primeiros lugares em eventos honoríficos. Queriam receber saudações que, indo além de um gesto de cortesia cristã, os abordavam e publicamente os reconheciam por meio de sonoros títulos de “pai”, “rabino” e “mestre”.

Além disso, de modo contrário à verdadeira religião (Tg 1:27), exploravam as viúvas, das quais se apoderavam dos bens. Depois, oravam longamente, acobertando a própria impiedade. Jesus Cristo Se dirigiu a eles, lamentando por oito vezes: “Ai de vocês!” (Mt 23). Assim como avisou os discípulos, hoje Ele nos adverte: “Cuidado! Não imitem esse comportamento. Não sigam aqueles que o adotam.” Contudo, tão enganoso é o coração, que precisamos atentar para os reais motivos de nossos atos, de modo que não escorram por entre os dedos motivações secretas, impróprias, que tentamos esconder. É bem verdade que nossas tendências dificultam a luta; porém, nada existe, além de nossa vontade, que resista ao poder da graça divina.