A parábola do Filho Pródigo possui alguns elementos invertidos. Talvez o mais evidente seja o pedido do filho caçula pela herança paterna. Ao requerer a sua parte da propriedade, ele estava desejando a morte do pai, algo extremamente ofensivo e passível de imediata punição. Na verdade, o menino já tratava o pai como se estivesse morto.
Igualmente incrível é a atitude do pai em satisfazer esse estranho pedido e conceder a herança para ambos os filhos (Lc 15:12). O fato de o primogênito também receber o valor, mas ficar em silêncio, indica a rejeição da sua responsabilidade em reconciliar a família. Além disso, a sua passividade mostra que algo também estava errado no relacionamento com o pai.
Após quebrar os laços com a família e a comunidade, o filho caçula foi para um país distante. Longe dos olhos do pai, esbanjou a herança de forma irresponsável. Com fome, sem dinheiro e sem amigos, o rapaz passou a cuidar de porcos, algo inadmissível para um judeu. A cena é de um total fracassado. Desejando a comida dos porcos, ele caiu em si e decidiu voltar para casa com um discurso de autocomiseração.
Em seguida, a Bíblia destaca uma sequência de ações “às avessas” do pai: “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lc 15:20). Em uma situação normal, aquele menino seria humilhado pela comunidade ao retornar, pois tinha envergonhado a família. Porém, o pai se antecipou e saiu correndo para abraçar o filho. Um nobre oriental com roupas esvoaçantes nunca correria para lugar algum. Fazer isso era indigno. No entanto, o pai resolveu correr por amor ao filho que estava “morto”. A intenção foi promover uma reconciliação pública.
Em vez de experimentar a hostilidade prevista, o filho encontrou a graça. Os atos do pai dispensaram as palavras. Depois de confessar o pecado, o rapaz ganhou presentes de amor e reconciliação: roupa, anel, sapatos e um bezerro cevado. O fato de ser um bezerro, não uma ovelha, indica que a festa era para toda a comunidade. Restauração total.
É assim que Deus age conosco também. Ele é capaz de inverter o senso comum para receber filhos perdidos. Essa é a graça absurda de um Deus que não se cansa de amar.