Sexta-feira
07 de março
Amor completo
Se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o Seu amor é, em nós, aperfeiçoado. 1 João 4:12

Aprendi muito cedo que coisas ruins acontecem. Podem acontecer a qualquer momento, fazendo de nós vítimas inocentes. Às vezes, mudam drasticamente a nossa vida. Eu era uma criança tímida e quieta, que geralmente ficava mais sozinha. Mas, quando entrei na pré-adolescência, isso se agravou. Eu era constantemente molestada sexualmente por um homem da nossa família em quem meus pais confiavam muito. Porém, nunca contei para eles, guardando meus sentimentos e ficando mais isolada. Nos anos 50, ninguém falava sobre abuso sexual infantil ou sobre toques inapropriados. Eu não tinha noção nem sabia o que dizer; além disso, meus pais estavam enfrentando seus próprios problemas. Tornei-me uma pessoa medrosa e triste, totalmente indiferente à vida. Mas a vida continuou, e os momentos divertidos com meus três irmãos mais novos me ajudaram muito.

Ir à igreja com a minha avó me trazia alívio. Eu cantava hinos sobre Jesus e aprendia sobre Deus e Seu amor. Contudo, pensamentos repugnantes vinham me assombrar de vez em quando. Por que Deus deixou coisas tão terríveis acontecerem comigo? Ele não impediu. Será que Ele realmente me ama? E como aquele homem da minha família pode ter me machucado tanto e ainda ser amigo dos meus pais? Eu sentia um conflito de emoções – vergonha, raiva, confusão, medo e desvalorização. Era impossível saber quem eu era ou sonhar com o que poderia
ser, pois tudo o que eu conseguia era tentar ser normal. Alguns fragmentos de esperança me davam ânimo por um curto espaço de tempo.

É triste, mas o abuso sexual infantil acontece com uma frequência maior do que imaginamos – em nossas comunidades, igrejas e até dentro das famílias. Esse tipo de trauma é pouco discutido e, quando trazido à tona, logo é enterrado e esquecido. As vítimas sofrem, muitas vezes, a vida toda. Para mim, foram necessários quase sessenta anos para superar lentamente minha dor e começar a ver os dons que Deus me deu e que eu não conseguia cultivar. É provável que você conheça uma mulher como eu, com sua própria história de angústia por causa do que passou ou está
passando. As pessoas não vão entender quando ela se retrair, por estar presa a um passado terrível que não consegue esquecer, sendo incapaz de viver feliz. Podemos fazer a diferença . O amor de Deus pode ajudar essa mulher a se tornar o que Deus a designou para ser. Vamos compartilhar o amor de Deus com interesse e disposição.

Iris L. Kitching