Certo dia, enquanto trabalhava como estagiário no atendimento ao público de uma promotoria, um senhor entrou em minha sala. Ele estava sério e apreensivo e, antes mesmo de se sentar, disparou: “Vim aqui devolver o meu neto.” “Como assim, devolver seu neto?”, eu, Everton, perguntei. Ele disse: “Esse menino só me dá desgosto. Todas as suas notas são baixas e ele não me obedece.” Imediatamente tentei dissuadi-lo de sua ideia, buscando também entender melhor a história.
Então perguntei: “Por que a mãe não cuida da criança?” E o senhor respondeu: “Ele pode ficar com qualquer um, menos com a mãe, pois vai se tornar um bandido igual a ela. Ela morava com um homem que também era criminoso. Certa vez, ele bateu tanto em meu neto que quebrou quase todos os dentes da boca dele. Coitado do menino! Outro dia, meu neto estava no sofá quando outros bandidos entraram na sala de sua casa e assassinaram a tiros o padrasto.”
A situação era complicada. Ele me contou uma história pior do que a outra. E o menino só tinha 9 anos.
Após algum esforço, consegui convencê-lo a dar uma nova chance para o garoto. Depois disso, fiquei pensando sobre o quanto nosso amor é condicional. Um menino com apenas 9 anos teve sua infância arruinada pela violência, e seu avô, que deveria cuidar dele, queria devolvê-lo porque ele o desapontava e não ia bem na escola.
Provavelmente, aquele senhor olhou para a situação presente do neto e temeu pelo futuro trágico que o aguardava, caso as coisas continuassem assim. Ele impôs certas condições para amá-lo. Em vez de se esforçar para ajudá-lo a se reerguer, decidiu transferir a responsabilidade, acreditando que se tratava de um caso perdido.
Infelizmente, às vezes, agimos como esse senhor. Olhamos para pessoas problemáticas e acreditamos que elas são um caso perdido. Contudo, essa não é a maneira divina de enxergar as coisas. Deus nos vê do ponto de vista da graça restauradora, pois Ele não vê como o homem. Pense nisso!