A declaração de que Deus é amor foi uma das afirmações teológicas mais revolucionárias de todos os tempos. Certamente, ela causou estranheza aos ouvintes de João. Afinal, que religião pagã poderia chamar algum de seus deuses de amor?
É verdade que os gregos cultuavam Afrodite e Eros como os deuses do amor. Porém, não se tratava do amor como virtude ou princípio. Mesmo que algumas relações sociais pudessem ser vinculadas a esses deuses, sua imagem representava majoritariamente a “paixão sexual”. Portanto, a afirmação de que Deus é amor continuava sendo inédita.
Contudo, o amor poderia se tornar pecado? Essa pergunta é importante porque há muitos que procuram justificar erros com base no falso argumento de que “agiram por amor”. No entanto, a Bíblia revela que até mesmo esse nobre sentimento pode ser ofensivo a Deus se não se pautar pelos princípios bíblicos que o regem. Existem amores meramente teóricos e imperfeitos; logo, nem todo amor é legítimo (1Jo 3:18; 4:18).
Por isso, a mesma Bíblia que diz para amar a Deus e o semelhante também ordena a não amar o mundo, o pecado e o dinheiro. O objeto do amor pode torná-lo um sentimento nocivo (1Jo 2:15). Mesmo que aquilo que se ama seja algo bom, se colocado acima de Deus, será um movimento de ruptura com o Céu (Mt 10:37). Abraão por pouco não perdeu a fé por amar Isaque acima de Deus. Por isso, o Senhor o provou no alto do monte.
O amor também é perigoso se reduzido ao sentimentalismo, pois sentimentos são involuntários, ao passo que o amor é decisão. Não temos controle sobre o que sentiremos se alguém nos machucar ou frustrar nossas expectativas, mas está em nossa mão decidir se o perdoaremos ou odiaremos. A prova maior de que o amor é uma decisão está no fato de que Deus ordena amar, e isso não faria sentido se não tivéssemos escolha (Dt 6:5).
No jargão popular, o amor é definido como um afeto intenso e um sentimento caloroso por outra pessoa, ou um forte desejo sexual sobre o qual praticamente não se tem escolha. Mas, na Bíblia, o amor é sinônimo de sacrifício (1Jo 3:16), atitude (3:18), decência (1Co 13:5) e, acima de tudo, obediência a Deus (1Jo 5:3). Essas deveriam ser as referências cristãs do que realmente significa amar.