A campainha tocou. Eu tinha acabado de sair do banho. Fazia muito frio. Pensei seriamente em não atender e apenas espiar pela cortina entreaberta. Quem poderia ser? Não era ninguém conhecido, mas a insistência da campainha continuava… E até me irritou, confesso. No entanto, a curiosidade foi maior. Dei meia-volta e olhei novamente. Vi um homem com um papel nas mãos, de aparência nada agradável. Em tom audível, perguntei o que ele queria.
– Posso dar uma prosa com a senhora? – Era quase um lamento. Sem pensar muito, abri a porta e me dirigi ao portão que, por sinal, não era muito seguro. Senti medo, mas algo me impulsionava para a frente.
Maltrapilho, descabelado, olhar triste e suplicante. Fui armada de coragem e perguntei o que ele queria. A essa altura, meu coração estava sensibilizado. Ouvi então uma voz suave, baixa, um pouco rouca:
– Senhora, já bati em tantas casas, e ninguém me atendeu. Já estava desistindo quando olhei para trás e vi um anjo no telhado de sua casa. Então me animei e toquei a campainha novamente, aí a senhora veio em minha direção.
Bem que eu gostaria de ter visto. Seria o meu anjo ou o dele? Minha fé vacilou, e não tive coragem de olhar… Senti vergonha de mim mesma depois. Perguntei o que poderia fazer por ele.
– Tenho fome, frio e preciso do remédio que está escrito neste papel. Pode me ajudar? Só insisti porque aqui foi a única casa que tinha um anjo no telhado, e ele continua lá… – ele apontou o dedo sujo e torto para o telhado.
Não sabia se ele havia visto mesmo um anjo. No momento, fiz por ele o que pude. Dei-lhe algo quente para tomar, alimento para comer, um cobertor e uma almofada para que ele pudesse dormir em nossa garagem. Dei também o livro Caminho a Cristo. Falei para ele sobre o amor de Jesus por todos nós.
Agradecido, ele disse para eu não me preocupar, pois sairia logo ao amanhecer.
Não fiz grande coisa por aquele homem. Hoje, penso que fiz por mim mesma. Deus me deu aquela oportunidade para entender o amor em sua verdadeira prática, o que nem sempre é fácil. Apesar de não saber a identidade daquele senhor, sei que, se conhecermos verdadeiramente a Deus, sempre teremos a mesma atitude de Jesus (Fp 2:5). Precisamos estar disponíveis e fazer nossa parte com os recursos que Ele nos dá para que o Espírito Santo nos use. Você tem certeza de que já conhece esse Jesus e Seu amor?
Ieda Martins de Oliveira