A Bíblia fala de uma mulher anônima que considero um modelo de persistência. Ela enfrentava um problema terrível: sua filha estava possuída por um demônio. Pelos critérios da época, só o fato de sair sozinha em busca de ajuda indica que seu marido não estava com ela. Uma mãe solteira em um mundo dominado pelos homens… que dilema!
Marcos a descreve como estrangeira, de origem siro-fenícia, que seria de algum lugar entre o Líbano e a Síria. Mas o evangelho de Mateus a descreve como cananeia (Mt 15:22), um termo em desuso nos dias de Cristo, que remetia aos antigos habitantes de Canaã antes da chegada dos israelitas. Eles eram inimigos do povo de Deus, condenados à destruição. Referir-se à mulher como cananeia era o mesmo que chamá-la de pagã.
Estrangeira, sem marido e com uma filha possessa, ela tinha tudo para desistir ao longo do caminho. E, como se não bastasse, ao se aproximar do Mestre, ela enfrentou outra barreira: o silêncio. Jesus simplesmente “não lhe respondeu palavra” (v. 23).
Ignorada em sua súplica, ela ainda sofreu o preconceito dos discípulos, que pediram para Jesus se livrar dela. Sim, os crentes também podem se tornar obstáculo entre alguém e o evangelho. Esquecem que sua vida pode ser a melhor ou a pior propaganda de Deus.
O relato ainda apresenta uma fala estranha de Jesus, que negou atendê-la, pois isso seria tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos. Mas veja a resposta da mulher: “Os cachorrinhos comem das migalhas que caem das mesas de seus donos” (v. 27). Que fé extraordinária! É interes-
sante observar que relevos romanos mostram cachorros deitados debaixo da mesa de jantar comendo migalhas que lhe são atiradas.
Com essas palavras, Jesus não estava discriminando a mulher. Ele queria mostrar aos discípulos que havia sinceros entre o povo que eles desprezavam. Enquanto eles brigavam por posições de destaque, ela não se importava em ser considerada um “cão”, desde que estivesse junto do Mestre. Isso era fé genuína, e Jesus atendeu à sua prece. As barreiras que ela enfrentou mostram que quem realmente quer dá um jeito, enquanto quem não quer arranja uma desculpa. Lembre-se disso ao buscar uma bênção de Deus.