O versículo de hoje faz parte de um diálogo nada cordial entre Jesus e alguns homens de seu tempo. Isso é bem estranho, considerando que se tratavam de pessoas “que haviam crido Nele” (v. 31). Por que esse desdém se antes O apreciavam?
De fato, o Evangelho de João poderia ser chamado de “Evangelho da Rejeição”, pois mostra progressivamente como grupos inteiros perderam a fé Nele e O abandonaram. O que provocou essa mudança?
Em primeiro lugar, em virtude do apego a valores egoístas. A Bíblia diz: “Estando Jesus em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos creram no Seu nome quando viram os sinais que Ele fazia. Mas o próprio Jesus não confiava neles, porque conhecia a todos” (Jo 2:23, 24).
Jesus não correspondeu às expectativas políticas daqueles que queriam vingança mais do que justiça. Para eles, a salvação era vencer os romanos, e não renunciar aos seus pecados. Assim, a natureza franca das palavras de Cristo se tornou uma verdade difícil de digerir.
Por não ter seus caprichos satisfeitos, a audiência trocou as verdades de Cristo por boatos acerca Dele. Segundo a apologia de Orígenes, escrita no 2o século, havia uma acusação recorrente de que Jesus seria o filho bastardo de um soldado romano chamado Pantera, que teria seduzido Maria quando ela estava noiva de José.
Provavelmente, a ironia daqueles que diziam “não somos filhos ilegítimos” era um deboche, dado que conheciam tais rumores. Como se não bastasse a humilhação de Se tornar humano, Cristo enfrentou o desprezo e a indiferença.
A descrença dessas pessoas mostra o que acontece quando a fé não é genuína. Precisamos estar enraizados e alicerçados em Cristo, como declarou Peter Forsyth: “A realidade na religião não é algo para se sustentar, mas algo para se viver. […] A ligação entre nós e Cristo é orgânica, e não meramente local. […] É uma fonte que não falhará nem secará. Dela extraímos vida, e esta é um meio pelo qual vivemos. Essa fé não apenas nos sustenta – ela nos carrega, nos alimenta, nos sacia. Não é apenas verdade para nós, mas uma força ao nosso lado” (The Principle of Authority: In Relation to Certainty, Sanctity and Society).