Ontem vimos a respeito da exaltação da Sabedoria, que é Cristo, em Provérbios 8. Também vimos Sua participação no ato criador de Deus. Hoje, quero destacar algumas frases desconcertantes para quem crê na divindade de Cristo: “O Senhor Me possuía no início de Sua obra” (Pv 8:22); “Fui estabelecida” (v. 23); “Nasci antes de haver abismos” (v. 24).
Esses versículos parecem dizer que a Sabedoria teve um começo e era sujeita a Deus, portanto não estava em pé de igualdade com Ele. Como entender isso?
A linguagem que vai do versículo 22 ao 26 exprime um modo técnico de falar da entronização de um príncipe. Um texto assírio do século 13 a.C. fala da coroação de Tukulti-Ninurta I, com expressões muitos parecidas com Provérbios 8 e o Salmo 2:6 e 7. No dia da posse, o príncipe, que governaria em corregência com seu pai, era simbolicamente “criado, formado, nascido”. Não se tratava, pois, do início de sua existência, mas do começo de um novo cargo.
O mesmo ocorre com a Sabedoria. Quando se diz “fui estabelecida desde a eternidade; nasci antes de haver abismos”, isso não significa que não fosse eterna, e sim que naquele momento, antes da criação do Universo, Ela assumiu um trono. A linguagem é técnica e reproduz o mesmo discurso que se fazia quando um príncipe recebia sua coroa. Nesse dia, o pai “gerava” simbolicamente o filho, entronizando-o (Sl 2:7).
Isso significa que, em algum tempo antes da criação e da encarnação, Cristo, mesmo sendo eterno, assumiu uma função subordinada ao Pai. Por qual motivo? Richard Davidson explica que ali Cristo assumiu um papel mediador. Mesmo sem pecado, as criaturas precisavam de um
conhecimento de Deus que sua condição limitada não podia dar.
Conquanto o Pai continuasse a representar a natureza transcendente da Divindade, o Filho aceitou Se esvaziar (cf. Fp 2:5-11) para representar o aspecto imanente de Deus. Isso não é uma questão de inferioridade, mas de subordinação voluntária. No futuro, essa mesma condescendência O levaria a tornar-Se humano, não apenas para revelar o Pai, mas para salvar os que estavam separados Dele. Que amor grandioso, não é mesmo?