Paro junto à porta da suíte hospitalar e ouço Davi, de quinze anos, contando a história de Davi e Golias. Ele conta a história com muitos detalhes, a ponto de eu poder imaginar a funda, a pedra e o terreno da batalha. O companheiro de quarto de Davi é Ben, de quatorze anos. Hoje, após muitas assinaturas, consentimentos e consultas, Davi doará medula óssea para Ben, que tem linfoma não-Hodgkin. Entro no quarto enquanto Davi está explicando como Golias caiu, com efeitos sonoros para enfatizar a vitória. Davi não está doente. Eles se encontraram na sala de espera do hospital quando Davi estava visitando seu avô. Ben estava ali para receber tratamento. Tendo os mesmos interesses em esportes e frequentando a mesma escola, a amizade cresceu rapidamente. Quando surgiu a discussão sobre a necessidade de Ben receber tratamento com medula óssea, Davi se apresentou como candidato para ser testado, e o material coletado indicou que ele era um doador compatível. O processo de aprovação levou um longo tempo. Um transplante de medula óssea era a melhor opção para Ben.

Vou até a área de espera. Ambas as famílias estão ansiosas, esperançosas, mas tristes. A enfermidade de Ben não será curada, o que torna mais precioso o tempo que ele fica em remissão. Dirigimo-nos à capela para orar. Ali, na saleta, todos falam com Deus. É ali que as lágrimas vêm à superfície, e a realidade da cirurgia se apresenta como um hóspede indesejado. Enquanto encaminho os pais à suíte de Davi e Ben para uma breve reunião, vejo que eles se recompõem e tentam mostrar que estão preparados. Mas quem pode preparar você para a próxima curva do caminho, quando você entra no quarto e vê seu filho com medicamento intravenoso e roupa hospitalar branca?

Durante a cirurgia, permaneço na galeria de observação particular. Dezesseis horas mais tarde, passo pela sala de recuperação, espio e vejo os dois dormindo. Davi sentirá dor quando despertar. Entro silenciosamente, oro ao lado do leito de Davi e depois oro ao lado do de Ben. Ao abrir os olhos, vejo Ben me observando. Com voz rouca, ele diz: “Se Davi acordar antes de mim, diga-lhe que eu lhe agradeço por ter corrido na direção do meu Golias.” Lágrimas deslizam pelos cantos dos olhos dele enquanto cai no sono. Hoje, você pode ser como Davi na vida de alguém?

Dixil Rodríguez