Tancredo Lopez foi um toureiro com pouquíssima sorte que viveu no fim do século 19. Sua condição era tão miserável que chegou a inventar um espetáculo bastante arriscado para ver se ganhava um pouco de dinheiro. Vestido de branco, colocava-se no meio da arena em cima de um pedestal e ali esperava que o touro saísse. Confiava que o imenso animal o confundisse com uma estátua de mármore e não investisse contra ele. A ideia teve sucesso entre as pessoas com boas condições econômicas, e o passe, que foi batizado de “Dom Tancredo”, chegou a ficar famoso nas touradas de então. A verdade é que o público esperava que o ator fosse atingido pelos chifres do touro.
A história de Tancredo pode nos levar a duas reflexões. A primeira é que há pessoas que vivem em condições extremas e que, no desespero, são capazes de arriscar a própria vida para conseguir o mínimo. É uma realidade vivida por milhões de seres humanos. A segunda reflexão é sobre o “dontancredismo”, ou seja, a atitude de permanecer imóvel diante das adversidades da vida. Da mesma forma que Dom Tancredo permanecia imóvel diante do touro bravo, há pessoas que não reagem quando deveriam fazê-lo. São como estátuas de mármore: duras, frias e expostas.
Essas duas ideias nos levam a pensar sobre a natureza dos cristãos e o texto de hoje. Primeiro, precisamos estar cientes da realidade que nos cerca: milhões de pessoas sofrem, têm fome e vivem no limite. Não podemos ignorar essa situação, seria um pecado fazê-lo. Em segundo lugar, um cristão verdadeiro não pode escolher o “dontancredismo”. Um cristão não pode permanecer inerte diante da necessidade dos outros. Se o coração de alguém está fechado para a solidariedade, quem viverá nesse coração? Não é o amor de Deus. Então, quem ou o que será?
Muitas pessoas no mundo nos dão exemplos de comprometimento e generosidade ao doar parte de sua vida e seus recursos para ajudar os necessitados. Será que não podemos fazer o mesmo? Se já fazemos isso, agradeçamos a Deus, pois Ele habita em nosso coração. Se não o fazemos, ainda há tempo de abrir o coração e fazer as melhores escolhas para o bem.