Geralmente, desenvolvemos a tendência de julgar com certa desconfiança pessoas que demoram a tomar decisões. Admiramos líderes e selecionamos auxiliares que são resolutos, característica fundamental em diferentes momentos da vida. No campo espiritual, talvez não devêssemos ser tão apressados em julgar os hesitantes. Há riscos para quem hesita: a consciência pode cauterizar, o primeiro amor pode ser perdido ou mesmo a morte pode surpreender. No entanto, o Senhor, conhecedor dos motivos do coração, não está alheio às lutas que o ser humano trava no íntimo contra variadas circunstâncias.
A experiência de Nicodemos exemplifica esses pensamentos. Mestre entre os judeus, estudioso das Escrituras e membro do Sinédrio, ele se sentiu atraído pelos ensinos de Jesus, a quem procurou escondido pelas sombras do preconceito, do receio e das tradições. Cristo foi claro: acima da cultura, do conhecimento da doutrina, da posição social e política, dos títulos e prestígio, ele necessitava nascer de novo, tornar-se nova criatura.
Desde então, nada ouvimos a respeito dele até que rompeu o silêncio em defesa de Jesus, cuja morte estava sendo tramada pelos membros do Sinédrio (Jo 7:50). Nicodemos acreditava em Jesus como o Messias, mas sobrava nele hesitação e faltava determinação para confessá-Lo publicamente. Um novo silêncio o envolveu até que o vemos no Calvário diante do Cristo crucificado. Não havia mais nenhuma razão para hesitar, e a decisão foi expressa no oferecimento de um túmulo para o Salvador.
Dispondo-se a cuidar do corpo morto de Jesus, Nicodemos revelou seu amor por Aquele cuja vida e ensinos arrebataram multidões (Jo 7:46). Paradoxalmente, quando tudo pareceu perdido, sob a sombra da natureza enlutada, a visão de Nicodemos ficou mais clara. Mais do que simplesmente ver e ouvir, ele conheceu Jesus.
A vida de Nicodemos nos ensina que o caminho para a vida eterna é “dinâmico, um caminhar incessante de alguém com alguém, para alguém, no qual ambos vão se conhecendo cada vez mais, aceitando-se cada vez mais, entrosando-se cada vez mais, optando um pelo outro a tudo mais, onde aquele que não é amor vai alterando progressivamente sua vida, por amor Àquele que é amor, que veio do amor, e para o amor voltou” (João Mohana, O Encontro, p. 131). Essa é a trilha da salvação e da santificação pela fé em Cristo Jesus.