Minha filha, Maria Eduarda, ou “Duda’’, sempre foi muito temente a Deus; uma menina extraordinária, sempre pronta a ajudar o próximo e falar do amor e da confiança em Deus.
Um dia, sua fé foi colocada à prova. Certa manhã de março, recebi a notícia de que minha filha querida estava com leucemia fenótipa e que teria que ser internada no mesmo instante. Como tínhamos um combinado de nunca mentirmos uma para a outra, ela me perguntou o que estava acontecendo. Tentando amenizar a situação, eu disse que nada era certo ainda… E ela falou: “Lembra do nosso combinado? Aqui é o hospital do câncer infantil. Eu tenho câncer?”
Naquele dia começamos juntas, como família, uma corrida contra a morte. Remédios fortes, sessões de quimioterapia, muito sofrimento, mas sempre fizemos tudo com muita fé e confiança em Deus. Mesmo no hospital, a Duda falava do amor e da bondade de Deus. Ela amava distribuir livros para todos no hospital. Várias vezes, ela foi levada para a UTI. Eram momentos de sofrimento e apreensão sem fim. O dia em que ela teve que cortar os cabelos foi terrível. Depois de muitas lágrimas, ela me disse: “Já entendi. Deus quer que eu me liberte da minha vaidade. Vamos lá! Se Deus acha que eu suporto, então aceito.”
Quanta maturidade espiritual, eu pensava. Será que eu como mãe tenho essa mesma fé? Sempre orei e acreditei no milagre da cura. Na verdade, todos acreditaram.
Em um de seus dias de aflição, pois sentia muitas dores para engolir os remédios, meu irmão disse a ela: “Querida, se você se esforçar e tomar o remédio, o tio vai lhe dar um dinheiro.” E pagou adiantado. Depois disso, ela teve alta e fez coisas comuns, como todas as outras crianças. Fiquei muito feliz porque ela teve um pouco de vida normal.
Quando voltou a ser internada para mais uma sessão de quimioterapia, ela teve um quadro hídrico e morte cerebral. Foram feitos vários exames, mas as máquinas pararam. A Duda veio a óbito, descansando em Cristo. Depois de alguns dias arrumando suas coisas, folheando seu diário – onde ela anotava tudo sobre seus sentimentos, doença, medos, amor pela família, saudades dos amigos e de ir à escola – encontrei o seu envelope de dízimo. E qual não foi minha surpresa quando notei que ela havia separado o dízimo do dinheiro que tinha ganhado do tio. Que alegria saber que, mesmo em meio à dor, minha filhota não se esqueceu de separar o que pertencia a Deus!
Preparemos nossos filhos para a eternidade, ensinemos a eles os verdadeiros valores, pois não sabemos por quanto tempo viveremos aqui.
Cleomilda Reis