Ela foi achada entre restos de tijolos e entulho de fundo de quintal e deixada em minha casa dentro de uma lata. Gabriela tinha o pelo marrom bem escuro e listras amarelas nas pernas. Eram sete centímetros de corpo e oito de pernas. E a fama de nojenta, venenosa e cúmplice de filmes de terror? Ignoramos um pouco isso e preparamos um ambiente para nossa hóspede: uma caixa de vidro com terra, folhas mortas e um gomo de bambu oco pra ela se esconder. Água também não pode faltar, pois a umidade é essencial para a respiração das aranhas. Meu filho achou que podia repartir o quarto dele. Tudo bem. Durante seis meses Gabriela foi o quinto elemento em nosso lar.

As caranguejeiras têm dentes sob os ferrões e, ao contrário das outras aranhas, mastiga os alimentos. Às vezes colocávamos grilos e pedacinhos de carne fresca para ela; outras vezes, rãs capturadas em uma lagoa que ficava a uns oito quilômetros de nossa casa. Dois meses de convívio mostraram que a fama ruim das caranguejeiras é falsa. Gabriela era tão mansa que a tomávamos na mão. Lembro-me de tê-la levado para passear de mão em mão entre um grupo de juvenis desbravadores. Ela não estranhou nem picou ninguém.

Havia épocas em que Gabriela aparecia com o abdômen meio careca. Isso acontece quando a caranguejeira fica nervosa. Para expulsar camundongos de suas tocas, por exemplo, elas os bombardeiam com uma nuvem de pelos urticantes que se encravam nas narinas e olhos dos bichos, provocando feridas e mesmo a morte. Esses pelos têm ganchos nas pontas, que se prendem na pele dos animais e das pessoas.

É claro que entre as cerca de 300 espécies de caranguejeiras que vivem no Brasil, existem algumas que são agressivas. Mas isso é fácil de perceber. Seu veneno, porém, não provoca qualquer dano ao ser humano. A má fama, concluí, é fruto de propaganda enganosa.

Disse alguém que a coisa mais notável que existe é construir uma imagem. E a única coisa mais extraordinária do que essa é destruir uma imagem. Não devemos viver preocupados com nossa aparência, mas não há dúvida de que somos os principais arquitetos de nossa fama. Palavras, pensamentos e ações são os materiais usados nessa construção. A boa fama, diz a Bíblia, é melhor do que o perfume caro. E quando a perdemos, é muito difícil reconstruí-la. Por isso, sabe o que muita gente diz de quem dá confiança a uma aranha caranguejeira? É maluco.