O campus da faculdade estava em festa. Naquele sábado, receberíamos convidados especiais vindos da Associação Geral. Para evitar o “efeito Babel”, foi criada uma equipe de intérpretes, na qual eu (Júlio) fui colocado. Poucos no auditório escutavam a tradução em espanhol. Nossos aparelhos não permitiam saber quantos headphones estavam ligados no canal que transmitia a minha voz. “Nenhum, talvez”, pensei. No fim do dia, porém, uma senhora me procurou. Seus olhos sorriam, assim como seus lábios.

– Foi você quem fez a tradução? – ela me perguntou em espanhol.

– Sim – respondi.

– Sem sua ajuda, eu não teria entendido uma palavra do que disseram. ¡Gracias! Entusiasmada, ela praticamente me abraçou e se foi. Desde então, não tornei a encontrá-la. Não sei o nome dela. Ela dificilmente se lembrará do meu. Não importa.

Um copo de água fria não é muito, mas é importante. Vale pouco ou nada, exceto para quem está sedento. Há coisas que custam pouco para quem dá, mas muito para quem recebe. A disposição para ajudar, com amor, é uma das marcas do Céu. Naquele sábado festivo, meu “copo de água fria” foram as longas horas de tradução para uma célebre desconhecida. Na invisibilidade de minha cabine de intérprete, na galeria do auditório, eu não recebi nenhum aplauso, nenhum tapinha nas costas nem qualquer outra recompensa, a não ser o agradecimento inusitado de uma mulher e a sensação interior de ter feito a coisa certa, devolvendo a Deus uma pequena gota do rio de bênçãos que Ele já me deu.

Os caçadores de recompensas encontrarão muitos tropeços no caminho rumo ao Céu. Terão que reconhecer que suas obras não têm valor algum perante Deus, exceto pelo fato de abençoarem pessoas a quem Ele ama e pelas quais Cristo morreu. Terão que abandonar o “velho homem” que insiste em ser o centro das atenções. Terão que parar de aplaudir Jesus por Seus belos discursos e levar a sério o conteúdo dos Seus ensinamentos. Para Deus, obediência é um ato de amor, e nenhum gesto nosso de bondade ou atenção passará jamais despercebido diante Dele. Lembre-se disso da próxima vez que você “ficar invisível” e alguém deixar de notar seu talento ou esforço. Deus sempre vê. Melhor: Ele não esquece!