Em uma entrevista, o malinês Moussa Ag Assarid falou sobre suas origens: “Não conheço minha idade; nasci no Deserto do Saara, sem endereço nem documentos. Nasci em um acampamento nômade tuaregue, no norte do Mali, e fui pastor dos camelos, cabras, cordeiros e vacas que pertenciam a meu pai. Hoje, estudo administração na Universidade de Montpellier, no sul da França.”
A vida de Assarid mudou graças a uma jornalista que o presenteou com o livro O Pequeno Príncipe, durante uma das provas do Rali Paris-Dakar. Depois de ler o livro e migrar para a França, ele se tornou um intelectual respeitado, e parte de suas reflexões foi publicada em seu livro Não Há Engarrafamentos no Deserto!, lançado em 2006.
Quando lhe perguntaram o que mais o havia chocado na Europa, ele respondeu: “Ver gente correndo nos aeroportos só para pegar bagagem. No deserto, só corremos quando uma tempestade de areia se aproxima. […] Depois, no hotel, vi uma torneira pela primeira vez: ver a água fluindo deu vontade de chorar.”
Ele disse ainda: “Tenho saudade do leite de camela, das fogueiras, de caminhar descalço na areia e das estrelas. Enquanto vocês veem televisão, lá, admiramos o céu e conversamos sobre a vida. […] O que mais me incomoda aqui é a insatisfação. Vocês têm tudo, mas nada é suficiente. Vivem se queixando. Acorrentam-se por toda a vida a um empréstimo de banco e vivem com pressa, numa ânsia de possuir que nunca acaba. No deserto não há engarrafamentos, porque ninguém quer passar na frente de ninguém! Aqui, vocês têm o relógio; lá, temos o tempo” (citado por Paulo Castro, Revista por um Mundo Melhor 3 [2018], p. 29-32).
Você não precisa se tornar um morador do deserto para viver feliz. Mas que tal considerar a observação de um oriental e ajustar alguns aspectos do seu estilo de vida? Ele vivia mais próximo da cultura bíblica do que nós, que estamos imersos na correria dos grandes centros. Eu sei que pode ser difícil eliminar alguns maus hábitos, mas, como diz um provérbio beduíno: “Se você tem um destino certo, até o deserto se torna uma excelente estrada.” Sejamos sempre gratos, mantendo o foco no que é essencial.