O pesadelo de um casamento desfeito me levou ao ponto mais baixo de minha vida. Meu desespero e aflição rivalizavam com o frio desolador do meio do inverno, que se apegava às janelas e se introduzia sob as portas da velha casa de fazenda. Eu me movia, entorpecida, ao longo dos dias e das noites pavorosas, quando o sono era entrecortado e perturbado. Foi em uma dessas noites que o toque do telefone me trouxe de volta a um estado de consciência indesejado. A voz quase reverente de minha irmã, cobrindo muitos quilômetros, informava que havia visto minha casa em seu sonho no meio da noite, entre campos cobertos de neve que se estendiam para todos os lados. E de repente, bem ali, em pé, ombro a ombro, com os braços unidos em um círculo inquebrantável que rodeava completamente minha casa, ela vira um grupo de anjos resplandecentes. “Achei que você gostaria de saber”, ela sussurrou e desligou o telefone.
Virei-me de frente para a janela. Eles estão ali, Senhor? De verdade? Meu quarto estava muito quieto. Muito frio. Gelado, como meu coração. A luz pálida da lua cheia caía de modo frágil sobre o chão, uma lasca de raio da lua que poderia ser estilhaçada em mil respingos de cristal no momento em que meus dedos a tocassem. Eu queria – não, eu precisava – que eles estivessem ali, os meus anjos. Ali, comigo e com meus três filhos, que dormiam do outro lado do corredor. Estávamos tão sozinhos. Tão desprotegidos. Tão mal-amados. Arrastei-me até a janela, sabendo que morreria se não fosse verdade – sabendo que não poderia viver se não olhasse. Palavras sagradas rodopiavam em minha mente: “Pois o seu Criador é o seu marido […]. O Senhor chamará você de volta como se você fosse uma mulher abandonada […], uma mulher que se casou nova apenas para ser rejeitada […]. Embora os montes sejam sacudidos e as colinas sejam removidas, ainda assim a minha fidelidade para com você não será abalada” (Is 54:5-10). Apoiei a testa contra a vidraça. Promessa, Deus? Promessa?
Ergui os olhos e olhei primeiramente mais longe do que poderia mesmo ver, lá onde os campos cobertos de neve terminavam abruptamente contra o céu escuro da noite. Então, centímetro por centímetro, meu olhar se desviou da vidraça para a neve que caía contra as árvores perenes em torno do nosso quintal encharcado de luar. Meus anjos – ombro a ombro, braços unidos, faces voltadas para minha janela. “De maneira nenhuma falharei com você… tampouco deixarei você sem apoio. […] Não a deixarei indefesa, abandonada ou desapontada… [Seguramente não!]” (Hb 13:5, versão amplificada da Bíblia em inglês). E, nesses 36 anos desde então, Ele nunca me deixou.
Jeannette Busby Johnson