Era fim de ano. Em meio às comemorações e risadas, percebemos que minha mãe estava repetitiva e perdendo a memória. Após alguns exames, ela foi diagnosticada com dois aneurismas cerebrais. Intervenções foram feitas, e o tratamento foi iniciado. Não sabíamos o que poderia acontecer, mas tínhamos certeza de que Deus estava no comando como o Médico dos médicos.
Eu estava grávida de cinco meses quando minha mãe fez o segundo procedimento, uma craniotomia – uma abertura no crânio para colocarem os clipes que impediriam o sangramento. O pós-cirúrgico foi muito difícil, pois minha mãe perdeu completamente a memória recente. Teríamos que nos manter calmos, responder às suas dúvidas e ajudá-la a exercitar a memória.
Contudo, o momento mais marcante foi quando minha mãe me chamou de “mãe”. Tentei argumentar, explicar que eu não era a mãe dela. Por alguns segundos, meu coração palpitou mais forte, lágrimas correram pelo meu rosto, e me veio à mente o pensamento: “Eu quero minha mãe de volta”. Não posso perdê-la. Quem vai estar ao meu lado quando meu filho nascer? Inúmeros pensamentos de egoísmo vieram à minha mente. Mas Deus, em Sua infinita misericórdia, fez com que eu refletisse e percebesse algumas coisas.
Comecei a entender que, naquele momento, eu precisava ser a mãe dela. Eu teria a oportunidade de retribuir todo o cuidado que ela teve comigo e com minha irmã. Preparava sua comida e algumas vezes dava em sua boca, controlava seu horário de dormir, arrumava sua roupa, ajudava nos banhos, dava colo e até conselhos. Sabia que tinha muito amor envolvido e que naquele momento eu precisava estar ao seu lado mais intensamente. O tempo foi passando, e ela foi se lembrando cada dia mais dos fatos. Minha mãe estava voltando. Ao passar por tudo aquilo, entendi que o mais importante naquele momento foi poder, por meio das minhas ações, dizer muito obrigado por tudo o que ela já havia feito por mim e demonstrar o quanto ela é importante.
Ser mãe de minha mãe me fortaleceu e me preparou para o nascimento do meu filho, que nasceu depois de dois meses. E sabe quem me ajudou, quem estava ao meu lado, sendo uma vovó coruja e uma mãe cuidadosa? Sim, ela! Vera, minha mãe. Recuperada, sem nenhuma sequela mental ou física.
Deus nos diz que, ainda que a mãe se esqueça de seu filho, mesmo que seja algo tão difícil de acontecer, Ele jamais Se esquecerá de nós.
Cibele do Carmo Alves Ribeiro