Quarta-feira
29 de maio
O bem-te-vi
Como um pássaro escapamos da armadilha do caçador; a armadilha foi quebrada, e nós escapamos. Salmo 124:7

Era um dia ensolarado e bonito. Estávamos indo para o Instituto Adventista Agroindustrial, colégio situado a cerca de 80 quilômetros de Manaus, quando o veículo que ia à nossa frente foi atropelado por um objeto voador. Olhei pelo retrovisor, vi penas no ar e um pássaro caído no asfalto.

Recolhemos o passarinho desmaiado. Era um bem-te-vi. Seu coraçãozinho ainda pulsava. Minha esposa improvisou uma bolsa de gelo e o envolveu. Continuamos a viagem enquanto as crianças ajudavam a prestar os primeiros socorros à vítima. A alegria foi geral quando, depois de 15 minutos, o bem-te-vi arregalou os olhos espantados. Estacionamos, minha esposa abriu as mãos e ele voou e soltou um piado estridente como se dissesse: “Muito obrigado!”

O bem-te-vi de papo amarelo e cabeça arrepiada é um dos pássaros mais comuns em nosso país. É barulhento e sempre causa alvoroço onde chega. Vive em pequenos grupos onde reina muita camaradagem. Mas não gosta de gaviões e carcarás. Persegue-os sem medo, arremetendo no ar contra eles. É um comilão. Mastiga insetos, ovos, cobras pequenas. Rouba minhocas da boca de pintinhos e pesca em lagoas e riachos. Para comer a lagarta-de-cesto, o bem-te-vi passa horas na porta do casulo, esperando que a lagarta ponha a cabeça para fora. Quando a pobrezinha resolve olhar o mundo, ele a acerta com uma bicada no meio da testa. Era uma vez uma borboleta.

É grande o número de animais que morrem atropelados por carros. Por isso, em algumas rodovias já existem sistemas de proteção. Redes para macacos pularem por cima das estradas, túneis para sapos atravessarem por baixo e luzes refletoras que espantam cavalos e bois para longe do perigo. Quanto às aves, porém, não deu ainda para instalar semáforo nas pistas. O bem-te-vi de nossa história escapou por um fio.

No Salmo 124, Davi fala de Deus como o Salvador do Seu povo. Às vezes, podemos pensar que Jesus é bonzinho e que Deus é o cobrador de impostos. Mas Jesus não foi um substituto de Deus na cruz. “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19). Ele vem ao nosso encontro, recolhe-nos atropelados e cuida de nós. Sara nossas feridas e nos ajuda a voar outra vez.