Sexta-feira
20 de outubro
O dom da compaixão
Quanto ao mais, tenham todos o mesmo modo de pensar, sejam compassivos. 1 Pedro 3:8

Pude sentir que algo terrível havia acontecido ou estava para acontecer. Senti a urgência de sair daquela festinha de aniversário na hora do almoço e voltar para casa! Chamei Jonathan, meu filho de 3 anos, que surpreendentemente, e sem protestar, deixou seus amigos, calmamente pegou suas lembrancinhas de aniversário e sentou-se no banco do carro sozinho. Do outro lado da cidade, entrei no caminho para a garagem e vi um casal de amigos, Allan e Shirley, com o carro estacionado ali. O rosto de Shirley dizia que algo estava errado.

Sentei-me no alpendre na frente de casa, esperando que o silêncio se rompesse em meio a “Olá!” e “Como vai?” Allan foi com Jonathan em direção ao riachinho atrás de nossa casa, para criar uma distração de modo a que Shirley pudesse dar a notícia que viera trazer. “Gail”, começou ela, com lágrimas se avolumando em seus olhos, “recebemos um telefonema de seu pai hoje de manhã. Gail, é a sua mãe… sua mãe faleceu nesta manhã e…” Não entendi o restante da frase. “Gail?” Senti os braços da minha amiga ao meu redor, mas não reagi. “Venha para nossa casa – você não deve ficar sozinha.”

Dei um grito como nunca mais dei! Meu corpo tremia, o coração se agitava e minha mente disparou. Eu havia, pouco tempo antes, falado com mamãe! Era nosso costume aos domingos pela manhã; conversávamos todos os domingos! Ela morava em Nova York; e eu, em Nashville. Ela amava seus netos, Shellie e Jonathan! Lágrimas desciam por minha face e caíam na saia.

Então senti aquela mão suave, minúscula sobre o meu ombro: era Jonathan. Ele queria entender minhas lágrimas, assim como eu tantas vezes fizera por ele quando caía enquanto brincava ou então em um dia em que ouvia “não” com mais frequência do que “sim”. Ele tentava me garantir que tudo ficaria bem. “Mamãe, não chore!”, ele suplicava, repetidamente. E desapareceu dentro de casa, para logo reaparecer deixando atrás de si uma trilha de papel higiênico, desde o banheiro até a frente da casa. Não se deu ao trabalho de rasgar um pedaço do papel. Só queria consolar sua mamãe, assim como havia sido consolado tantas vezes por ela. Sua inesperada compaixão me acalmou e aquietou.

Embora hoje adulto – e um bem-sucedido produtor, compositor e artista morando na África do Sul –, o coração do meu Jonathan ainda bate com gentileza e compaixão por muitos outros. O mesmo dom da compaixão que ele revelou à sua mamãe no dia em que ela perdeu a sua.

Gail Masondo