Não importa que ele seja feio. Ele vai para a árvore de Natal todos os anos, há mais de 65 anos, como se fosse uma resposta a um impulso primitivo, uma prova das minhas tentativas de criatividade na infância. O isopor foi um novo milagre dos artesãos dos anos 50. Bolas espetaculares com lantejoulas, tranças douradas e miçangas brilhantes foram exibidas por donas de casa que se tornaram artesãs vitoriosas, usando alguns dos materiais mencionados acima e alguns alfinetes. Minha família não era menos inspirada. Minha mãe me comprou uma bola de doze centímetros de diâmetro, puramente branca e nua, e um pacote inteiro de lantejoulas douradas para eu usar como quisesse.
Meu plano era fazer uma aplicação perfeita e simétrica daquelas lantejoulas douradas, cobrindo toda a bola, para que ela brilhasse sob as luzes da árvore de Natal. Não demorou muito para que meu polegar ficasse dolorido de tanto empurrar os alfinetes curtos na bola. Alinhar as lantejoulas também não foi tão fácil quanto eu imaginava. Então, para minha desolação, depois de fazer algumas carreiras tremidas ao redor da bola, percebi que não haveria lantejoulas sufi cientes para cobrir tudo. Daí, comecei a espaçar cada vez mais as lantejoulas e, como resultado, as linhas que circulavam a bola tornaram-se ainda mais erráticas. Bastante assimétricas.
Minha mãe foi maravilhosa e não zombou dos meus esforços, levando o enfeite a assumir seu lugar em nossa árvore, como tem feito em todos os anos desde então. Meus pais faleceram há muito tempo, por isso, alguém pode se perguntar por que mantenho o enfeite desde a infância até hoje, nos meus “anos dourados”. Por que eu ia querer lembrar de meu esforço artístico fracassado todos os anos no Natal?
Bem, o enfeite me lembra que mesmo que meus planos nem sempre saiam da maneira que imaginei, posso aprender a conviver com os resultados deles. O enfeite brilha até hoje – um pouco. Além disso, ele me ajuda a lembrar que a felicidade não está diretamente ligada ao fato de as coisas estarem sempre perfeitas. E, em certo sentido, a vida não é assim também? A maioria de nós descobre, uma vez ou outra, que as coisas não funcionam exatamente como planejamos ou esperávamos. Mas nos tornamos quem somos como resultado da soma das nossas experiências de vida. O Mestre Oleiro leva em conta todas essas experiências enquanto nos molda à Sua semelhança. O lado bom e o lado ruim – e até mesmo o lado feio.
Linda Nottingham