A despeito de quase uma década de trabalho missionário na África, nunca tínhamos visto uma vila massai. Exaustos pelas despedidas emotivas antes de deixar Ruanda, tentamos passar do módulo missionário para o módulo turista durante uns poucos dias, visitando alguns lugares no Quênia em nossa viagem de retorno para os Estados Unidos. No entanto, meu coração ainda estava lá no interior. Com boas-vindas turbulentas e saltitantes, dançarinos com vestes coloridas – adultos e crianças – rodearam nosso ônibus de turismo. Os turistas desembarcaram. As máquinas fotográficas clicaram. Um homem da tribo, enfeitado com a cor ocre, aproximou-se. “Paguem antes de tirar as fotos”, ele repreendeu, gentilmente. O colar de contas e os olhos empolgados de uma pequena dançarina me chamaram a atenção, enquanto o círculo dos dançarinos se misturava com um grupo de caçadores de raridades. Espantando moscas, os turistas e os homens da tribo discutiam os preços de intrincadas joias feitas de contas. Eu me senti sozinha. Não pertencia a nenhum dos dois mundos.
Um puxãozinho na frente da minha jaqueta me assustou. Olhei para baixo. A pequena dançarina estava parada diante de mim. Estranhamente perto. Devia ter, quem sabe, 10 anos. Talvez, um ano antes da idade para a circuncisão feminina e o casamento. Seus olhos castanhos se derramavam dentro dos meus. Sentindo um golpe no coração, retribuí seu sorriso contagioso. Então, preso entre os dedos polegar e indicador, ela segurava um anel pequeno, grosseiramente feito.
Talvez feito com sobra de arame e contas jogadas fora, pensei. Ela está tentando ganhar alguns centavos. Mas, quando abri a bolsa, a criança balançou a cabeça. Pequenas mãos seguraram a minha. Na minha palma, ela colocou o anel e fechou meus dedos sobre ele. Apontou para seu coração – e depois para o meu. Seu gesto de amor me deixou sem fala. Ela acabava de me dar tudo o que tinha – de graça. “Muito obrigada!”, gaguejei, enquanto o guia turístico gritava: “É hora de ir!” Sua palestra cultural prévia havia mencionado que a expectativa de vida de uma mulher massai é de 45 anos. E que o vermelho em suas joias simboliza sangue e coragem, enquanto o branco denota paz. Meu anel de contas era vermelho e branco.
Pela janela da van – e derramando lágrimas –, acenei freneticamente agradecimentos adicionais à pequena dançarina. Com a outra mão, apertei meu círculo de contas com arame enferrujado, mas de valor inestimável.
Jesus, não posso dar a ela a coragem de que precisará para enfrentar uma vida de dor. Nem a paz. Mas Tu podes. Assim, dou graças por Teu plano, seja qual for, de fazer com que ela saiba que Teu sangue carmesim foi derramado por ela, e que uma vestidura branca a espera. Graças Te dou por Teu inestimável presente para ela. E para todos nós.
Carolyn Rathbun Sutton