Existe um antigo tratado, o Talmude, que, além de comentar sobre a ética do judaísmo, narra episódios curiosos de duas escolas rivais lideradas por Shammai e Hillel, as quais eram contemporâneas aos dias de Cristo. Em um desses relatos, é mencionado que um jovem foi até Shammai e disse: “Eu me tornarei um crente se você me ensinar toda a Torá (a Lei) enquanto eu conseguir ficar sobre um pé só.” O rabino, conhecido por seu temperamento explosivo, usou a bengala que estava em sua mão para mandar o jovem embora.
Decepcionado, mas não desanimado, o rapaz procurou Hillel com a mesma proposta. Mais calmo, ele lhe respondeu: “Não faça ao seu vizinho o que é odioso para você. Isso é toda a Torá; o resto é apenas comentário. Vá e aprenda.”
Não sabemos se Jesus alguma vez Se encontrou com esses mestres. Mas um de Seus ensinos traz um tom semelhante, com uma ênfase diferente: “Tudo o que vocês querem que os outros façam a vocês, façam também vocês a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7:12).
Observe que o ato de não fazer ao outro o que não quero que ele faça comigo é bem mais cômodo e pode levar ao descompromisso. No entanto, a ordem positiva de Cristo exige uma ação direta que não se contenta com a inatividade; ela demanda a iniciativa do bom relacionamento. Há
muitos que, ao serem confrontados com o tema do juízo, se apoiam no velho ditado: “Eu não roubo, não mato, não desejo mal a ninguém.” Ora, uma árvore também não mata, não rouba nem deseja mal a ninguém, mas isso não significa que as árvores irão para o Céu.
Embora seja a graça de Deus e não as obras que nos salvem, é importante destacar que qualquer ensino sobre salvação que não transforme nossa vida e não resulte em caridade não pode ser um ensino bíblico. As obras não são o meio nem a causa da minha salvação, mas o resultado dela. Não podemos deixar que o orgulho nos leve a ter aversão aos nossos irmãos. Assim como não é possível ser fã de Leonardo da Vinci e ridicularizar a Mona Lisa, também não é possível amar a Deus e desprezar o meu irmão.