Prontos para sair de férias, colocamos a moto para dentro de casa, no meio da sala. Antes de sairmos, meu marido disse ao vizinho: “Cuide de nossa casa”. Estávamos no último ano da faculdade no internato e íamos passar dois meses trabalhando na colportagem. Fazia apenas seis meses que o sol havia iluminado o “sim” da minha vida. Tinha sido um casamento ao ar livre, no qual cheguei de charrete e ele, de cavalo branco.
Quase no fim das férias, precisei voltar duas semanas antes, sozinha. Abri a porta da sala e não vi a moto. Cheguei a pensar: “Será que meu marido colocou em outro lugar e não me avisou?” Continuei olhando e percebi que também não estavam a TV, os CDs, a mesinha… No quarto, o guarda-roupa estava vazio e algumas peças restantes, jogadas ao chão. Foi quando entendi que tínhamos sido roubados. Levaram tudo que conseguiram carregar. Não sobrou nem uma panela, talher ou pano de prato. Para beber água precisei pedir um copo emprestado. Todos os meus presentes de casamento tinham sido levados – nas caixas.
Posteriormente ficou comprovado que o meu vizinho tinha sido o autor do furto. Sim, ele “cuidou da casa”. Enquanto estávamos fora, ele se mudou e levou nossa mudança junto. Ele não era cristão e sempre ouvíamos gritos de briga entre ele e sua companheira. Talvez por isso não levaram nossa guirlanda que dizia: “Aqui vive um casal feliz”.
Naquela noite fui dormir em estado de choque. Mesmo confusa, pude aprender duas lições do ocorrido. Felizmente, eu havia usufruído pelo menos uma vez de todos os presentes que havia ganhado. Não havia deixado nada para usar em algum momento especial. A ocasião especial era nossa vida juntos. Ela merecia ser celebrada com cada mimo recebido.
Depois refleti sobre o cuidado de Deus comigo e com meu esposo que estava tão longe de mim. Poderia ter me sentido desamparada e indagado por qual motivo Deus permitira tal coisa, enquanto fazíamos o trabalho Dele. Mas o que veio em meu coração foi que eu deveria olhar para o que eu tinha e não para o que me fora tirado. Desse modo, agradeci a Deus porque eu tinha esperança em Deus, porque estávamos com saúde, porque tínhamos um casamento feliz, porque fomos os roubados em vez de sermos os ladrões. Assim, no lugar de reclamar, encontrei motivos para agradecer. E você? Pelo que pode ser grata hoje?
Gislene Goulart Niderstrasser