Desde que me lembro, sempre gostei e estive envolvida com música. Quando adolescente, conheci as músicas “do mundo”, como se dizia na época, entre os cristãos da minha igreja. Músicas “do mundo” eram as canções seculares que tocavam nas rádios. Fiquei encantada por elas. Só queria ouvi-las, e os hinos que conheci na infância aos poucos foram perdendo o brilho. Eu olhava para os hinos com um certo deboche, achava coisa de gente velha, quadrada. No entanto, eu tinha todos eles gravados na memória, fruto da minha exposição a eles, seja em casa, seja na igreja.
Na vida adulta, voltei paulatinamente a me reaproximar dos hinos. No hospital onde trabalhei enquanto fazia faculdade, tínhamos um culto todas as manhãs. Meu chefe gostava de música também e conseguiu um teclado para eu tocar. Fiz a proposta de aprendermos a cantar todos os hinos do hinário durante o ano. Quando deixei esse emprego, havíamos cantado todos os hinos do Hinário Adventista. No entanto, a compreensão da importância dessas canções só chegou quando coloquei os pés na maturidade, já com quase 40 anos. Entendi a força daquelas palavras, daquelas melodias, a paz que se instala em quem as canta.
Certa noite sonhei com um daqueles hinos. Acordei ainda ouvindo-o em minha mente. Tudo era paz e, mesmo diante de um dia cheio de atividades, eu estava tranquila. Resgatei algumas vezes durante o dia aquelas palavras e aquela sensação de plenitude que me preencheu.
Outro dia uma amiga querida entrou em contato e contou do sofrimento dela ao enfrentar uma separação. Imediatamente me veio à mente um trecho de um antigo hino: “Nem um vale escuro de luta ou dor nós teremos quando Jesus voltar”. Então compreendi que aqueles hinos, guardados fazia tanto tempo em minha memória, vinham à minha mente quando eu precisava deles. Entendi a riqueza que eu tinha e nem havia me dado conta até então!
Hoje em dia tenho percebido uma desvalorização desses antigos hinos, a substituição deles por canções com roupagem gospel, “mais atual”, dizem alguns. “Para atrair os jovens”, dizem outros. Não sou contra as novas canções, mas não posso desmerecer a força que emana dos antigos hinos, não posso esquecer as histórias de seus compositores e apenas imagino o quanto eles foram úteis a milhares de cristãos ao redor do mundo. Quantos foram encorajados por essas palavras! Eu fui, ainda sou!
Iani Dias Lauer-Leite