Segunda-feira
10 de fevereiro
SERIA A FÉ RACIONAL?
Sem fé é impossível agradar a Deus. Hebreus 11:6

No livro Quincas Borba, Machado de Assis fala de um sujeito ingênuo chamado Rubião, que “era mais crédulo que crente; não tinha razões para atacar nem para defender nada: terra eternamente virgem para se lhe plantar qualquer coisa” (p. 52).

Essa descrição se tornou o estereótipo que muitos têm dos crentes: pessoas ingênuas que acreditam em qualquer coisa. Parte disso é resultado da persistente tentativa de isolar a igreja da crítica racionalista, em vez de prepará-la para ela.

Muitos jovens, por exemplo, entram na universidade despreparados para viver sua fé dentro do campus. O encontro com autores céticos e de grande envergadura intelectual muitas vezes resulta em um conflito de fé que os leva à descrença. Isso é agravado pela pressão de uma mídia antirreligiosa e de colegas que excluem aqueles que não seguem uma cartilha contrária aos princípios cristãos. Não é fácil, especialmente se dentro da igreja os sermões se reduzem a sistematizações do óbvio que não respondem às questões básicas do dia a dia.

Aos que escolhem Rubião para retratar os crentes, resta notar que Machado de Assis o descreve como “crédulo”, palavra que contrasta com o substantivo “crente”. Até as raízes são diferentes: crente, do latim credente, significa aquele que confia, baseando-se em evidências racionais. Por outro lado, o adjetivo “crédulo” deriva de credúlu, referindo-se ao ingênuo que crê em qualquer coisa. Portanto, Rubião não era crente, mas, sim, crédulo.

Não devemos confundir crença com crendice. A verdadeira fé não se opõe à razão. Como disse Paulo, o culto deve ser “racional” (Rm 12:1). Contudo, é essencial distinguir entre fé racional e fé racionalista. Preci-samos considerar as implicações práticas do sufixo “ismo”, pois, usado indistintamente, pode implicar uma absolutização ilegítima de conceitos humanos, como se estes dessem conta de toda a realidade.

O racionalismo, ou “razão sem a fé”, erra ao abranger como materiais realidades que são espirituais, rejeitando-as por não poder falar nada sobre elas. Por outro lado, anexar o sufixo “ismo” à fé também pode ser perigoso, resultando em um fideísmo que distorce a natureza da crença. Diante disso, qual é a razão da sua fé? Você se considera crente ou crédulo?