Reconhecer a inveja é sempre mais fácil que se livrar dela. Com esforço é até possível deixar de competir com os outros. Lá no fundo, porém, o mal-estar que a inveja provoca fica. Como, então, exorcizar esse fantasma? Primeiro, é preciso admitir que a inveja se alimenta das lembranças das vezes em que fomos ignorados, diminuídos ou atacados. Essas marcas tatuadas no coração se transformam na fome que a alma busca saciar por meio de afetos, posses, relacionamentos, aplausos ou realizações. Por isso, é preciso descobrir se o que buscamos é mero fruto do nosso desejo ou uma necessidade real, para sabermos se vale ou não a pena insistir.
O segundo passo é buscar uma forma legítima de preencher o vazio. Eliseu pediu uma “porção dobrada” do espírito de Elias. Salomão orou pela sabedoria que reconheceu não ter. Moisés desejou ter fluência em uma língua que ele já não dominava tão bem. Isaías queria dignidade e pureza. Todos tinham um calcanhar de Aquiles. Desejavam o que não possuíam. No entanto, o que Eliseu queria não era competir com Elias nem superá-lo.
E se fosse, qual seria o problema? Nenhum mestre maduro fica triste quando um discípulo o supera. Ao contrário, fica orgulhoso por ter contribuído para isso. Elias olhou com ternura para Eliseu e não reprovou sua ambição. Só disse que a resposta final viria de Deus. Jesus disse o mesmo à mãe de Tiago e João quando esta Lhe rogou, de modo insensato, que favorecesse “os meninos” dela no Seu reino. Deus nunca desdenha de nossos sonhos, ainda que alguns deles sejam imaturos, exagerados ou estejam fora de lugar (Sl 37:4).
Hoje sabemos que Eliseu foi um profeta poderoso, que Moisés cumpriu sua missão, que Salomão foi um rei sábio e que aquela mãe coruja viu os “filhos do trovão” se tornarem fiéis mensageiros do amor de Deus. Não reprima suas aspirações nem negue seus desejos. Só tenha o cuidado de retirá-los da caixa escura na qual foram concebidos e apresentá-los à luz da vontade de Deus. Só Ele pode ajudá-lo a entender o que há de válido e belo por trás daquilo que está em seu coração. E Ele não fará isso a menos que você permita. Que tal tomar tempo hoje para pedir algo “difícil” a Deus? Estou certo de que Ele está ansioso para escutar você!