Uma das primeiras lembranças que tenho da infância é a de sair da igreja após o culto carregando a pasta do meu pai. Eu fazia questão de desfilar pelo corredor da igreja, como se fosse o próprio pastor. Para aquele menino ruivo, era um privilégio ser chamado de “pastorzinho”.
Meu pai, Manoel Andrade, não teve a mesma oportunidade que eu de nascer em um lar adventista. Ele aceitou a Cristo aos 14 anos em uma igreja evangélica e, mais tarde, conheceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia, sendo batizado aos 17 anos.
Após terminar o curso de Contabilidade, sentiu no coração o desejo de ser um pastor. Mas como realizaria o seu sonho se não tinha condições financeiras? A melhor solução foi participar da colportagem (venda de livros de porta em porta), por meio da qual conseguiu metade do valor necessário para estudar no Educandário Nordestino Adventista (ENA). Comprou a passagem para Recife e ficou orando para que Deus abrisse mais uma porta.
Em uma sexta-feira, meu pai tinha apenas 10 centavos na carteira e a passagem. Como viajaria a Pernambuco sem dinheiro? Naquela noite, ele entrou no quarto e, sozinho, buscou ao Senhor em lágrimas. Sentiu Deus falando de maneira poderosa: “Não tenha medo, Eu sou contigo! O Senhor proverá!”
No sábado pela manhã, foi à igreja. Assistiu à Escola Sabatina e fez parte da plataforma no culto. Na hora do ofertório, o pastor da igreja abriu a carteira, entregou a sua oferta e, em seguida, pegou duas notas e colocou no bolso do terno do meu pai, dizendo que era para ajudar nas despesas da viagem. Após o culto, o diácono-chefe foi à frente e avisou aos irmãos que o “Manoelzinho” estava precisando de ajuda. À saída, muitos trouxeram dinheiro e colocaram nas mãos do meu pai. Aquele gesto foi uma confirmação do chamado de Deus.
Ao chegar à sua casa, Manoel entrou no quarto e contou o dinheiro doado pelos irmãos. Havia 310 cruzeiros, mais os 10 centavos que ele tinha. Com aquela quantia, pôde ir para o colégio. Se não tivesse viajado naquela noite de sábado, nunca teria sido um pastor, não teria se casado com a minha mãe (que morava próximo ao ENA) e, certamente, este devocional teria sido escrito por outra pessoa.
Qual é o seu sonho na vida? Já o colocou nas mãos de Deus?