Eu era uma aluna transferida em uma faculdade a centenas de quilômetros de casa. Um dia, na lanchonete, as pessoas fizeram muitas perguntas e sorriram quando respondi. Era muito embaraçoso para mim. Situações semelhantes se repetiam. Meus colegas pediam que eu repetisse o que acabara de dizer com muita clareza. Fiquei incomodada com as pessoas e reticente para falar. Algumas semanas foram suficientes para desenvolver um complexo. Estava cansada de desencadear a crise de gracejos maliciosos e comentários sussurrados. Exasperada, estourei com uma amiga depois do jantar, certa noite.
– Isso é simples de explicar – ela respondeu com calma. – É o seu sotaque.
– Sotaque! – respondi com incredulidade. – Que sotaque?
– O motivo é o seu sotaque do interior da região sul. As pessoas gostam de ouvir você falar.
– Mas eu não tenho sotaque! – protestei. Ironicamente, meus ouvidos estavam apreciando os sons nítidos e destacados dos meus colegas de classe. Eram eles que tinham sotaque, não eu. Sempre vivi entre aqueles que falavam como eu, e meu modo de falar nunca foi questionado.
A maioria de nós tem uma fidelidade interna ao estado ou país em que nascemos. Anexado à nossa lealdade está o sotaque. Se você acha que não tem sotaque, tente ir para o Alabama ou para a Austrália. Você descobrirá com bastante rapidez quem é o estrangeiro! Todas as pessoas em todos os lugares expressam pelo menos três sotaques: físico, verbal e espiritual. Do interior surgem os impulsos, as ações e as palavras pelas quais os outros leem nossa vida. Os mais visíveis são os sotaques físicos. Os outros detectam o tipo de pessoa que somos por nossas maneiras, conduta e aparência. “Nossas palavras, nossos atos, nosso traje, nosso procedimento, até a expressão fisionômica tem sua influência” (Parábolas de Jesus, p. 339).
Nossas expressões verbais, com sua cor e classe, perdem todo o brilho se faladas em um tom indelicado. Claro, o mais importante nesse trio de sotaques é o espiritual. À medida que as pessoas nos observam, elas são influenciadas para pensar mais – ou menos de Cristo. Em Mateus 5:16 somos incentivados: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos Céus.” O que é a luz, senão nossa expressão ou nossos sotaques positivos?
Marybeth Gessele