Entre os mais de um bilhão de habitantes da China, país mais populoso do mundo, está Liu Shengjia. Ele vive sozinho na aldeia de Xuenshanshe, no norte do país, depois que as cerca de 20 famílias do lugar resolveram partir rumo a grandes centros em busca de melhores condições de vida. Liu preferiu ficar cuidando da mãe e de um irmão menor que morreram não muito tempo depois. Nem assim ele mudou de ideia. Sai apenas para comprar alimentos, diz ter superado o medo inicial do uivo noturno de cães selvagens e que está em paz com seu estilo de vida.
Faz alguns anos, uma equipe de geólogos encontrou em uma região da Sibéria o russo Karp Lykov e alguns remanescentes de sua família, seguidores da seita dos “velhos crentes”, ramificação da Igreja Ortodoxa Russa. Lykov foi “empurrado” para as matas pela perseguição aos membros da seita, que divergia da religião oficial. A família viveu 40 anos sem manter contato com mais ninguém, reinventando-se para atender às necessidades básicas de sobrevivência.
Esses são casos extremos que talvez não encontrem seguidores espontâneos nos dias de hoje, pois não parece comum alguém querer viver em solidão. Normalmente, ela é circunstancial. Por essa razão, quando somos por ela surpreendidos, sempre buscamos alguma companhia. Por outro lado, um sinônimo pouco empregado para a solidão expressa seu significado positivo, necessário, e que devemos buscar: solitude; isto é, o momento de afastar-se do burburinho e do corre-corre, para avaliar a vida, refletir e ter comunhão com Deus. Conforme afirmou Paul Tillich, “a solidão expressa a dor de estar sozinho. A solitude expressa a glória de estar sozinho” (The Eternal Now).
Jesus nos incentivou a ter essa experiência com Seu exemplo. Antes de iniciar Seu ministério, esteve por 40 dias a sós no deserto (Mt 4:1-11). Ao escolher os discípulos, orou a sós durante uma noite (Lc 6:12). A sós orou de madrugada (Mc 1:35). Ao lado dos discípulos, tendo atendido multidões, de modo que “não tinham tempo nem para comer”, convidou-os para descansar à parte e “foram sós […] para um lugar solitário” (Mc 6:31, 32).
Tão certo como fomos criados para os relacionamentos, não nos relacionaremos de modo benéfico com os semelhantes nem com nós mesmos, a menos que, a sós, realimentemos nosso relacionamento com Deus.