Quando eu estava na oitava série, meu irmão Willard (dez meses mais novo que eu, o “Bubby” para mim) bateu fortemente a cabeça ao entrar em um carro. Cheguei a ouvir o baque. Pouco depois, ele começou a ter fortes dores de cabeça, confusão mental e palavras com pronúncia indistinta. Exames hospitalares e tomografias do cérebro não mostravam nada anormal, mas os sintomas continuavam intermitentemente. Um dia, na escola, alguém da administração me disse que Willard estava na enfermaria e não reconhecia ninguém. A enfermeira da escola estava lá e disse: “Ele vai reconhecê-la.
E sua mãe está a caminho para levar vocês dois.” Então ela puxou a cortina, atrás da qual meu irmão estava deitado na maca. Fiquei muito feliz em vê-lo. “Willard, sua irmã está aqui para ver você”, disse a enfermeira. “Willard, você sabe quem é ela?”
Meu irmão coçou a cabeça por um segundo e disse, com palavras mal pronunciadas: “Nunca a vi antes na minha vida!” Em um instante, meu sorriso se apagou, enquanto meu estômago se revolvia. Ele não me reconhecia. A enfermeira, percebendo que eu estava visivelmente agitada e lutando contra as lágrimas, juntou as coisas do meu irmão antes que saíssemos para o lado de fora, onde minha mãe já aguardava. Depois de me deixar em casa, mamãe levou meu irmão direto para o hospital. Em casa, sozinha, vieram-me as lembranças: Bubby e eu andando de bicicleta pela vizinhança, patinando no gelo no lago da escola, andando de patins com os garotos da igreja e até brigando por um livro de histórias do tio Arthur para a hora de dormir. Minha ligação com meu irmão acabara, talvez para sempre. Chorei muito. Felizmente, cerca de um ano mais tarde, a misteriosa confusão de Bubby terminou, e ele voltou a ser o mesmo outra vez.
Quando me lembro de Bubby considerando-me uma estranha naquele dia, na escola, percebo que todos nós fomos estranhos para alguém, num ou noutro momento – no supermercado, no parque, no ginásio, no trabalho e até na igreja. Por vezes, ansiamos por alguém que nos receba em seu círculo, que nos aprecie, que se importe conosco. Essas experiências podem ser frustrantes, dolorosas e tristes – exatamente como aquela pela qual passei com Bubby, no assustador dia em que ele não me reconheceu.
Você não fica feliz porque Jesus recebia estranhos quando esteve aqui na Terra? Ele Se importava genuinamente com as pessoas e provava que o amor de Deus era para todos, até para os estrangeiros. Não devemos fazer o mesmo? Caminhemos hoje a segunda milha em nossas ações e atitudes para que não nos tornemos estranhos para Cristo.
Íris L. Kitching